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A relação de contra-argumento é bastante freqüente nos textos do gênero artigo de opinião, visto que se trata de um gênero em que prevalece o tipo argumentativo. Quando se propõe uma discussão acerca de determinada idéia, é comum que os autores apresentem argumentos e contra-argumentos que buscam a persuasão/adesão dos leitores.

Exemplo 28

(17) Nesse quesito, (18) o Brasil ainda deixa muito a desejar, (19) dado que nossa escolaridade média equivale a de um trabalhador italiano da década de 70! (20) Evidentemente que esse número não retrata a qualidade do ensino, (21) mas basta ver os indicadores sobre o ensino (22) para se constatar as razões pelas quais o aluno brasileiro não ocupa posição de destaque nas comparações internacionais. (A2-EM)

As17 Nesse quesito,

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Ap18 o Brasil ainda deixa muito a desejar,

Is Ip

arg As19 dado que nossa escolaridade média equivale a de um trabalhador italiano (...)!

Ip arg

As20 Evidentemente que esse número não retrata, a qualidade do ensino,

Is

com

Ap21 mas basta ver os indicadores sobre o ensino

Ip

c-arg

As22 para se constatar as razões pelas quais o aluno brasileiro não ocupa arg posição de destaque nas comparações internacionais.

O trecho representado nessa figura é formado pelo ato subordinado (17) e pela intervenção (18-22). Esses dois constituintes são hierarquicamente dependentes, e se encontram ligados por uma relação textual de topicalização. Dentro dessa intervenção, tem-se ainda duas intervenções encaixadas, a Ip (18-19) e a Is (20-22), que se encontram ligadas por uma relação interativa de contra-argumento, marcada, sobretudo, pela presença do conector mas, que introduz o ato principal (21).

Na intervenção (18-19), os atos que a constituem são hierarquicamente dependentes, e mantêm entre si uma relação de argumento, marcada pela presença da expressão dado que. Nesse trecho, o autor propõe que, em relação à educação, o Brasil deixa muito a desejar, já a média de escolaridade de um brasileiro equivale à de um trabalhador italiano da década de 70.

Na intervenção (20-22), tem-se o ato subordinado (20), no qual o autor diz que esse número não retrata a qualidade do ensino. A partir da leitura dessa informação, o leitor pode chegar à conclusão de que o Brasil apresenta uma boa média de nível de escolaridade. Entretanto, essa conclusão não é mantida quando se procede à leitura da intervenção que liga a esse ato, pois na Ip (21-22), o autor afirma que basta que se

vejam os indicadores sobre o ensino para se constatar as razões pelas quais o aluno brasileiro não ocupa lugar de destaque nas comparações internacionais.

Exemplo 29

(46) Divulgação de relatórios e pesquisas pode ser um fato corriqueiro, (47) mas podem também esconder grandes verdades. (A2-EM)

As46 Divulgação de relatórios e pesquisas pode ser um fato corriqueiro,

I

Ap47 mas podem também esconder grandes verdades. c-arg

A estrutura hierárquica representada acima é pelos atos (46) e (47). O ato (47), introduzido pelo conector mas se liga ao ato (46) através de uma relação de contra- argumento. No ato (46), o autor afirma que a divulgação de relatórios e pesquisas pode ser um fato corriqueiro.

Seguindo a descrição do de Anscombre e Ducrot acerca do conector mas, Rossari (2002), assinala que, em uma construção do tipo X mas Y, o mas opera sobre uma proposição r inferida a partir de X, que corresponde à uma conclusão argumentativa em direção à qual X é orientado e indica que r é mais fraco que não-r, conclusão que é retirada por inferência de Y.

No exemplo 29, a leitura do ato (46), que representaria X, na descrição de Rossari (op. cit.) pode fazer com que o leitor chegue à conclusão de que relatórios e pesquisas são bastante comuns e que, por isso, não apresentam nenhum tipo de problema (conclusão r). No ato (47), que corresponde a Y, o autor afirma que tais relatórios e pesquisas podem esconder grandes verdades. A leitura desse ato faz com

que as inferências produzidas pela leitura do ato (46) ou X sejam anuladas, em função do novo contexto construído a partir das informações que são apresentadas no ato (47), correspondente a não-r.

Exemplo 30

(20) O risco da carbonatação é sua irreversibilidade. (21) Não é possível, de forma natural, devolver à estrutura de concreto armado atacada pela “doença”, suas condições originais. (22) Pode-se reduzir ou até interromper a evolução da doença (23) por meio de processos de impermeabilização. (24) Contudo, para devolver a estrutura às condições originais do projeto (25) é necessário, no mínimo, demolir o concreto, substituir os vergalhões de aço corroídos, reconcretar a área afetada e re- impermeabilizar a superfície. (26) Uma simples pintura não resolve, (27) apenas esconde o problema por alguns meses. (A4-SN)

Ap21 Não é possível, de forma natural, devolver à estrutura de concreto aramado atacado pela “doença, suas

Is condições originais.

arg Ap22 Pode-se reduzir ou até interromper a evolução da doença

Is

Is As23 por meio de processos de processos de impermeabilização.

arg

As24 Contudo, para devolver a estrutura às condições originais do projeto

arg

Ip Ip

c-arg Ap25 é necessário, no mínimo, demolir o concreto, substituir os vergalhões de aço

corroídos, (...)

Ap26 Uma simples pintura não resolve

Is

com As27 apenas esconde o problema por alguns meses.

arg

Essa estrutura hierárquica pode ser descrita da seguinte maneira: o ato principal (21) está ligado à intervenção subordinada através de uma relação interativa de argumento. Ns Is (22-27), tem-se duas intervenções dependentes: a Is (22-23) e a Ip (24-

27), as quais são ligadas através de uma relação textual interativa de contra-argumento, marcada pela presença do conector contudo, que introduz o ato (24). Nessa configuração, o conector contudo tem por função marcar uma relação que porta sobre uma intervenção e não apenas sobre o ato precedente. Seu emprego pode ser concebido como o de um conector contra-argumentativo que contém instruções sobre a retomada da informação X anterior, presente na intervenção precedente. Nessa seqüência, o autor diz que é possível reduzir ou até interromper a evolução da doença por meio de processos de impermeabilização. Entretanto, ele aponta que para devolver a estrutura às condições originais do projeto é necessário que sejam tomadas outras medidas, como demolir o concreto, substituir os vergalhões de aço corroídos, reconcretar a área afetada, dentre outras.