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2.5 Alfabetização e Consciência Fonológica

2.5.3 Relação entre a Consciência Fonológica e a Alfabetização

Segundo Bryant & Goswami (1987, p. 439) apud Cardoso-Martins (1995, p. 7)

“A descoberta de uma relação entre a consciência fonológica, isto é, a consciência dos sons que compõem a fala e a aprendizagem da leitura e da escrita em uma ortografia alfabética tem sido descrita como "um dos grandes sucessos da psicologia moderna". Portanto, “A evidência de uma relação estreita entre a consciência fonológica e a alfabetização é, de fato, extraordinária, tendo sido encontrada em diversas ortografias alfabéticas” (Ibidem, p. 7). Apesar disso, a autora alerta que “uma série de questões sobre a estrutura da consciência fonológica e sobre a natureza exata de sua relação com a aprendizagem da leitura e da escrita permanecem controvertidas” (Ibidem, p. 7).

O amplo conjunto de habilidades metafonológicas enfocados nos estudos científicos e empregados por alfabetizadores em sala de aula tem sido denominado, na literatura especializada, de consciência fonológica (MORAIS, 2012, p. 84).

Apesar de, há muito, sabermos que meninos e meninas gostam de brincar repetindo parlendas, parodiando músicas e quadrinhas (nas quais trocam as rimas), ou que gostam de brincar da "língua do pê", só na década de 1970 começamos a pensar sobre as relações entre consciência fonológica e alfabetização. Nessas quatro décadas, muito foi descoberto e outras questões permanecem em aberto ou continuam sendo objeto de controvérsia (MORAIS, op. cit., p. 84).

E conclui: “Hoje, existe um relativo consenso de que aquilo que chamamos

"consciência fonológica" é, na realidade, um grande conjunto ou uma "grande constelação" de habilidades de refletir sobre os segmentos sonoros das palavras”

(Ibidem, p. 84).

Segundo Vernon e Ferreiro (2013, p. 192) “Nos últimos trinta anos foi publicada uma quantidade impressionante de estudos sobre consciência fonológica, principalmente em inglês (phonological awareness)”. E acrescenta: “Estas pesquisas abordaram as habilidades em consciência fonológica e sua relação com a aprendizagem de leitura” (Ibidem, p. 192).

O fato científico mais importante produzido pela ciência cognitiva da leitura, nos últimos 30 anos, refere-se ao estabelecimento do valor preditivo de dois conjuntos de competências a consciência fonêmica e o domínio do princípio alfabético. (ADAMS, 1990 apud CAPOVILLA, 2005, p. 35).

Portanto, a consciência fonêmica – e esta está contida na consciência fonológica – pode ser caracterizada como referindo-se ao:

Entendimento de que cada palavra é constituída de uma série de fonemas.

Essa consciência é a chave para a compreensão do princípio alfabético, pois os fonemas são as unidades de som representadas pelas letras, e, consequentemente, para entender a lógica da decodificação. (SNOW, 2001;

SNOW, BURNS & GRIFFIN, 1998, 1999, 2000 apud CAPOVILLA, op. cit., p.

36).

Ademais, Capovilla (2005, p. 36) afirma que existem “fatos científicos bem estabelecidos referentes à importância da consciência fonêmica e do domínio do princípio alfabético”:

Existe uma correlação forte e positiva entre cada uma dessas habilidades e o desempenho posterior dos alunos em leitura de palavras e compreensão de leitura” [...] “essa evidência se aplica a diversas ortografias alfabéticas e a crianças provenientes de diferentes culturas e níveis sócio-econômicos (Ibidem, p. 36).

Segundo Vernon e Ferreiro (2013, p. 192) “A consciência fonológica foi descrita como a capacidade de identificar a estrutura sonora das palavras (ou mesmo pseudopalavras)”. Liberman, Shankweiler e Liberman (1992, p. 1) apud Vernon e Ferreiro (2013, p. 192) destacam que "dita consciência não é uma consequência automática da capacidade de falar uma língua, porque a especialização biológica para falar regula a produção e a percepção dessas estruturas por baixo do nível da consciência".

Sendo assim, ainda citando Vernon e Ferreiro (2013, p. 192):

As crianças aprendem, em contextos comunicativos, a distinguir as palavras que se diferenciam em um só fonema (o par malo/palo [mau/pau] pode aparecer em contextos de uso como "es malo el palo que te pegó", bem como outros pares similares). No entanto, este "reconhecimento em ação" entre duas palavras muito similares do ponto de vista do som (mas muito diferentes em significado) não implica que a criança tenha a capacidade de pensar na pauta sonora como tal, o que permitiria isolar os sons elementares.

Além do mais, segundo Vernon e Ferreiro (2013, p. 192) “As discussões a propósito dos achados das pesquisas sobre consciência fonológica são importantes tanto para a teoria da leitura como para o ensino”. E acrescenta: “Com relação ao ensino, foi suscitado um debate importante em torno dos seguintes temas” (Ibidem, p.

192), temas estes que registro, na íntegra, a seguir (Ibidem, p. 192-93):

a) É necessário o reconhecimento prévio dos fonemas nas produções orais para reconhecer os mesmos fonemas em um texto escrito?

b) A consciência fonológica é uma precondição para se alfabetizar ou é uma consequência da aprendizagem da leitura e da exposição a materiais escritos?

c) Mesmo que não fosse uma precondição, as crianças se beneficiam com os treinamentos em consciência fonológica em contextos pré-escolares?

Vernon e Ferreiro (2013, p. 193) finaliza ao dizer que “As respostas a estas perguntas acima estão, sem dúvida, vinculadas ao planejamento de atividades educativas nos níveis iniciais de alfabetização”.

Segundo Stampa (2009, p. 83) “A terminação Consciência Fonológica tem sido definida pelos linguistas como sendo a consciência de que as palavras são constituídas por diversos sons”.

Afirmam que esta tomada de consciência é um dos fatores mais importantes no processo de aprendizagem da leitura e da escrita, já que aprender a ler e a escrever ordena que o aprendiz compreenda o sistema da escrita alfabética, ou seja, o aprendiz deve perceber e compreender que tanto na fala quanto na escrita existe uma sequência, e qualquer alteração nessa sequência produzirá uma palavra diferente (STAMPA, op. cit., p. 83).

Morais (1997) apud Stampa (2009, p. 83-84) “afirma que a aprendizagem do sistema alfabético de leitura e escrita pressupõe a habilidade de decompor e compor os sons da fala”. “É um tema que envolve várias unidades linguísticas e se refere a diferentes níveis de processamento. Na língua portuguesa, no sistema alfabético, cada som emitido oralmente tem um correspondente gráfico: as letras”, finaliza Stampa (Ibidem, p. 84).

Concluo que consciência fonológica é o conjunto de habilidades por meio da percepção acústica (sonora) da fala que possibilita a manipulação e a diversidade de possibilidades das unidades silábicas e fonêmicas, sendo, portanto, a consciência fonológica um pré-requisito para construção da leitura e da linguagem escrita.