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RELAÇÃO ENTRE A VIOLÊNCIA E A FRAGILIDADE NA PESSOA IDOSA

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.5 RELAÇÃO ENTRE A VIOLÊNCIA E A FRAGILIDADE NA PESSOA IDOSA

Na presente seção apresenta-se sucintamente os resultados provenientes de uma revisão integrativa antecedente da dissertação que buscou responder a pergunta norteadora: a presença da fragilidade na pessoa idosa, a torna mais vulnerável ao risco de violência?

Desenvolveu-se um protocolo de revisão integrativa e a coleta foi realizada nas bases de dados: CINAHL (Cumulative Index to NursingandAllied Health Literature), PUBMED (National Library of Medicine and Nattional Institutes of Health), SCOPUS, LILACS, SciELO

(Scientific Eletronic Library Online) e Web Of Sience. Utilizou-se os descritores:

violência/violence e idoso fragilizado/frail elderly cruzados através do operador booleano “and” entre eles nas bases de dados selecionadas. Ao término na busca amostra total foi de 10 manuscritos apresentados no quadro 2 a seguir.

Quadro 2 – Apresentação da amostra de acordo com o ano, país, título e objetivo do estudo.

Código Pais e Ano Título Objetivo

A1 2008 A concept analysis examining the vulnerability of older people Desenvolver uma análise de conceito sobre a vulnerabildiade na pessoa idosa.

A2 Lima/Peru 2010

Violencia hacia el adulto mayor: Centros Emergencia Mujer del Ministerio de la Mujer y Desarrollo Social. Lima-Perú, 2009.

Descrever as características sociodemodráficas do agressor adulto e vítima idosa de casos tratados no Centro de Emergência das Mulheres de Lima no período de Janeiro- Setembro de 2009 e espaços contextuais que tal violência ocorre.

A3 Tóquio/Japão 2007

An assessment of the attitudes of potential caregivers toward the abuse of elderly persons with and without dementia

Examinar o efeito da presença de demência no idoso em atitudes em relação ao abuso.

A4 Texas/EUA 2007

Self-NeglectAmongtheElderly: A ModelBasedon More Than 500 PatientsSeenby a Geriatric Medicine Team

Identificar os fatores funcionais, cognitivos e sociais associado à auto-negligência entre os idosos.

A5 Detroit/Michigan 2015

Urban Social and Built environments and Trajectories of Decline in Social Engagement in Vulnerable Elders: Findings From Detroit’s Medicaid Home and Community-Based Waiver Population

Examinar a associação entre ambientes urbanos sociais e construídos e as trajetórias de declínio no engajamento social ao longo de um período de 36 meses em uma população idosa socioeconômica e fisicamente vulnerável que vive no centro de Detroit.

A6 Gifu/Japão 2003

Elder abuse and neglect: social problems revealed from 15 autopsy cases

Examinar os casos de abuso de idosos ocorridos na Prefeitura de Gifu, Japão entre 1990 e 2000

A7 Michigan 2003

Identifying Older People at Risk of Abuse During Routine Screening Practices

Examinar a associação entre várias características de pessoas idosas baseadas na comunidade e uma medida construída de abuso de idosos em potencial. A8 Carolina do Norte

2014

The Vulnerability for Elder Abuse Among a Sample of Custodial Grandfathers: An Exploratory Study

Apresentar dados para domínios de maus tratos em avós de custódia e desenvolver uma lista de advertências

A9 Suécia

2007

Violence in nursing homes: perceptions of female caregivers

Compreender como as cuidadoras femininas na casa de repouso percebem a violência

A10 Israel 2004

Elder Abuse and Neglect– A PilotIncidenceStudy in Israel

Informar sobre a incidência da violência em idosos e negligência por em Israel; Caracterizar as vítimas e seus perpetradores em termos de características

funcional e Relatar os principais

problemas familiares patológicos diagnosticados na

vítima. Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Ao considerar-se a relação da fragilidade como fator de maior vulnerabilidade para a pessoa idosa ser vítima de violência doméstica, observou-se que em apenas três dos manuscritos encontrados, os autores apontaram essa relação direta. Os demais o fizeram de forma indireta, pois relacionaram a vulnerabilidade a violência com algumas características definidoras de fragilidade.

No ano de 2003 nos EUA, foi desenvolvido uma pesquisa quantitativa cujo o objetivo foi examinar a associação entre as características de pessoas idosas baseadas na comunidade e uma medida construída de abuso de idosos em potencial. Para estadiamento da violência, os autores utilizaram a escala Minimum Data Set for Home Care (MDS-HC), já validada, que incorpora vários marcadores clínicos para comprovação de um provável caso de abuso (SHUGRMAN, et al., 2003).

O citado estudo identificou nos casos de abuso que 39,4% dos idosos tinham pouca higiene, 24,4% apresentavam indicadores de medo de algum familiar, 21,1% pareciam ser negligenciados ou maltratados, 15,2% eram fisicamente dependentes e 6,1% apresentaram lesões sem explicações. Tais achados, os levaram a concluir que a VCPI pode estar relacionada ao aumento da fragilidade e o declínio cognitivo da pessoa idosa. Destaca-se ainda que os autores utilizarem uma escala para detecção de casos de violência, embora para a fragilidade, os mesmos autores não fizeram referência ao uso de escala de validação para a definição de graus de fragilidade na pessoa idosa (SHUGRMAN, et al., 2003).

Iecovich, Iankri e Drori (2004), desenvolveram uma pesquisa em Israel com o objetivo de informar sobre a incidência da violência em idosos por negligência, para caracterizar as vítimas e seus perpetradores em termos de características sociodemográficas e estado funcional e relatar os principais problemas familiares e patológicos diagnosticados na vítima. Os resultados indicaram que 36,8% dos participantes eram fisicamente frágeis, enquanto outros 2,6%, eram mentalmente frágeis; e estes haviam vivenciado todas as formas de violência, ressaltando que as mulheres solteiras, frágeis, deficientes, e que viviam com outras pessoas apresentam maior risco para todos os tipos de abuso e negligência.

E os entrevistados com comprovação de violência, responderam um questionário na primeira fase e, no momento subsequente, as respostas foram avaliadas por um assistente social

e classificada como casos de violência física, mental, econômica, sexual e negligência (IECOVICH; LANKRI; DRORI, 2004). Apesar da utilização da escala para definição da VCPI, o estudo não utilizou escalas para estadiamento propriamente dito da fragilidade.

Bullock e Thomas (2007), desenvolveram um estudo de caráter qualitativo, com a finalidade de apresentar dados para domínios de maus tratos em avós de custódia. Todos os participantes do estudo relataram que negligenciavam seus próprios cuidados em detrimento do cuidado aos seus filhos de custódia, outros relaram sentirem-se rejeitados por parte da família e metade dos avós de custódia da amostra, desenvolveu ansiedade após a responsabilidade que passou a exercer e/ou associada a rejeição dos parentes e familiares.

De acordo com o Minayo (2013), a violência psicológica é classificada como qualquer tipo de depreciação, desrespeito, discriminação, punição humilhante e rejeição utilizada contra uma pessoa, que resulte em algum dano a seu desenvolvimento, autoestima ou identidade. O contexto no qual a pesquisa supracitada foi desenvolvida, demonstra a vivencia da violência psicológica considerando que a rejeição da família lhes resultou em episódios de ansiedade.

Contrapondo-se aos resultados anteriores, outro estudo analisado, os avós de custódia não relataram sentirem-se frágeis, nem relacionaram a fragilidade a possibilidade de ser vítima de violência (BULLOCK; THOMAS, 2007). Tal relato pode estar associado a dificuldade do gênero masculino em assumirem a condição de “ser frágil” ou “estar frágil”.

Já nos resultados apresentados pelo estudo de análise de conceito, com enfoque na vulnerabilidade da pessoa idosa, observa-se que esta condição apresenta-se relacionada a pessoas frágeis, e idosos que vivenciam o processo de exclusão social do ambiente de trabalho, e são mais susceptíveis as marginalizações sociais e discriminatórias, e portanto mais vulneráveis a violência (BROCKLEHURST; LAURENSON, 2008).

A vulnerabilidade social em que o idoso frágil apresenta-se exposto está vinculado a exclusão social que a pessoa idosa vivencia com o avançar da idade, esta, por sua vez, os expõem ao risco de ser vítima de violência.

A escala mais complexa de classificação e estadiamento de fragilidade é a Escala de Fragilidade de Edmonton (EFE), ela é composta por nove domínios que auxiliam o examinador a evidenciar com maior nitidez a ocorrência da fragilidade, são: cognição, estado geral de saúde, independência funcional, suporte social, uso de medicamentos, nutrição, humor, continência e desempenho funcional (LANA; SCHNEIDER, 2014).

Essa escala foi desenvolvida por um grupo de estudos do Canadá, que buscam avaliar a fragilidade por meio da relação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais, uma vez que

esta condição clínica apresenta-se de forma variada e multifacetada entre pessoas idosas (ROLFESON, et al, 2006).

Dessa forma, observou-se a relação entre a fragilidade e a vulnerabilidade a violência na pessoa idosa no estudo desenvolvido no Japão por Akazaa et al, (2003), que objetivou examinar os casos de violência na pessoa idosa na cidade Gifu entre os anos 1990 e 2000, em seus achados afirmam que casos de negligência são mais comuns em idosos que viviam sozinhos, assim como aqueles que apresentaram um estado geral de saúde mais comprometido, de forma mais generalista, o risco para violência esteve relacionado a idosos com comprometimento do estado geral de saúde física.

A demência também aparece como um fator de vulnerabilidade para a violência na pessoa idosa. Matsuda (2007), em seu estudo elege que o portador de alguma patologia que resulte em demência torna o indivíduo em maior risco de sofrer abuso. Essa relação também descrita no estudo de Dyeret al (2007), foi possível identificar em idosos que realizaram a violência autoprovocada (autonegligência), ser maior em pessoas portadoras de doenças mentais como a demência, depressão e o delirium.

Outra interface da violência e sua relação com a fragilidade marcada pela presença de alguma comorbidade mental na pessoa idosa, foi descrito na pesquisa qualitativa de Isaksson, et al, (2007), com cuidadoras de idosos, cujo objetivo foi compreender como as cuidadoras femininas na casa de repouso percebiam a violência. Nos resultados, os autores perceberam que quando os idosos são os agressores de alguma violência física, esta é tolerada e vista como um ato inconsciente por estes apresentarem alguma doença de caráter mental.

A idade avançada, condições sociais e econômicas desfavoráveis, baixo nível de escolaridade e a ausência de apoio social são condições clínicas elencadas como fatores de risco ao desenvolvimento da síndrome da fragilidade na pessoa idosa (BRASIL, 2007b). Tais características estão relacionadas no estudo de Martina, et al (2010), que busca descrever as características sociodemodráficas do agressor adulto e da vítima idosa, no Japão. Em seus dados, mulheres mais idosas, com baixa escolaridade, sem renda própria e que vivem com o agressor, apresentaram os maiores indicadores de violência.

Já os resultados apresentados no estudo de Kim e Clarke (2015), apontam para o isolamento social vivenciados por idosos na cidade de Detroit (EUA), consideraram ser resultantes da violência social instalada. O isolamento social, evidenciado pela mudança de hábitos, rotinas e hobbies, passa a ser observado então como um fator predisponente a sentimentos de angustia e tristeza, sendo estes sentimentos inclusos nos eixos de definição da fragilidade, elencados anteriormente.

O produto de presente busca evidenciou existir uma relação de aproximação entre a fragilidade da pessoa idosa, e a vulnerabilidade para o risco de sofrer violência. Diante dos resultados provenientes da amostra, foi possível identificar, que a violência contra a pessoa idosa, é um fenômeno atual e bastante comum em alguns contextos familiares, vulneráveis aos riscos contra a pessoa idosa.

Porém, ao mesmo tempo, reconhece-se que há necessidade de mais estudos possam evidenciar a problemática e, através da aplicação de escalas de medidas que apresentem resultados mais completos e que apontem significância estatística entre os dados quantitativos.

Ressalta-se, a importância que as condições de saúde e/ou variáveis como a presença de demência, o sexo, idade avançada, grau de dependência, e as condições socioeconômicas, possam ser considerados no estadiamento e como indicadores de risco para VCPI.

Espera-se também, que os resultados originários dos estudos nacionais/internacionais, aqui analisados possam influenciar outros pesquisadores da área, para buscar a comprovação necessária da relação entre o risco do idoso está sendo vítima de violência e o seu grau de instalação da síndrome da fragilidade, devido a tal afirmativa, já ser presente na literatura especializada.

4 MÉTODOS

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