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Relação entre Educação Integral e o enfrentamento das Desigualdades

RA I Plano Piloto

Categoria 3: Relação entre Educação Integral e o enfrentamento das Desigualdades

No capítulo 1 dessa dissertação tivemos a possibilidade de explorar os conceitos relacionados às desigualdades sociais, destacando: a pobreza; a justiça social e a vulnerabilidade. De posse da compreensão desses conceitos e analisando os documentos orientadores dos programas analisados, é possível perceber, que enquanto formulação, todos os programas apontam a relevância da relação entre a educação integral e o enfrentamento das desigualdades, na medida em que consideram que a ampliação do tempo escolar; a diversificação de oportunidades no processo de construção dos currículos ampliados, e a perspectiva de articulação intersetorial, enquanto pressupostos da educação integral, favorecem a busca de justiça social, possibilitando que as classes menos favorecidas possam ter acesso a uma educação pública de qualidade, e que a escola seja espaço de empoderamento e inclusão social. Assim como, tais pressupostos, dialogam com a possibilidade de rompimento com o ciclo da pobreza, levando em conta o papel da educação no processo de enfrentamento das desigualdades. E por fim, como apresentado no tópico anterior, os 3 programas analisados apontam a população em situação de vulnerabilidade como prioridade na seleção de seus participantes.

Contudo, como nosso objetivo de pesquisa é analisar o distanciamento entre a formulação e a implementação de Políticas Públicas de Educação Integral no enfrentamento das desigualdades na experiência do Distrito Federal/DF, precisamos,

176 considerar os dados coletados para categoria de análise para respondermos aos problemas de pesquisa, confirmar ou negar a hipótese inicialmente levantada, levando em conta, não apenas os dados previstos nos documentos oficiais que traduzem a intencionalidade na formulação das políticas quanto a essa relação, mas, se faz ímpar dialogar com a compreensão e olhar sobre esse tema pelos que atuam diretamente nela, e assim, compreender a implementação dos programas.

Dessa forma, traremos a seguir a sistematização de dados coletados nas entrevistas, questionários e nas reuniões realizadas com gestores e profissionais das escolas:

Professores.

Enquanto dois professores apenas responderam que sim, e um considera que a Educação Integral contribui apenas parcialmente com o enfrentamento das desigualdades; destaca-se que um professor, considera que existe muito a ser feito além da Educação Integral para enfrentar a desigualdade. Apresentaremos abaixo os relatos de 4 professores que justificaram a resposta sim, ou seja, acreditam que a Educação Integral tem um papel importante no enfrentamento das desigualdades:

[...] contribui, porém, a seleção adequada dos alunos seria mais proveitosa, dando prioridade às mães que não tem parceiro, muitos filhos e trabalho. Atender a quem precisa mais (Professor 1 Ceilândia).

[...] a escola direciona energias dos seus educandos, isto é, seu tempo e vida diurna, para atividades de socialização, consciência e aprendizado e desenvolvimento de várias habilidades, competências cognitivas e humanas que estimulam sua integração à sociedade de forma mais efetiva e exitosa (Professor 2 Ceilândia).

[...] mais oportunidades de tempo e flexibilidade de currículo para trabalhar valores humanos e cidadania, conhecer as dificuldades pessoais dos alunos que refletem em seu rendimento escolar e poder intervir para ajudá-los (Professor 3 Ceilândia).

Diretores.

O Diretor da escola de Ceilândia, considera que a Educação Integral contribuiu no enfrentamento das desigualdades, mas, não comentou sua posição.

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ESV e Monitores.

Os ESV e os Monitores, estão divididos sobre esse tema, um deles considera que há uma relação parcial entre a EI e o enfrentamento das desigualdades, para outros, essa relação existe na medida em que o aluno passa grande parte de seu dia no ambiente escolar com diversas atividades e alimentação, o que para muitos não seria possível em sua casa; enquanto, um dos monitores foi enfático em dizer que não há relação, e que existem formas mais eficazes para o enfrentamento das desigualdades, conforme podemos ver nos relatos abaixo:

[...] parcialmente, pois, ela não acaba com os problemas, mas, de certa maneira pode fazer com que as crianças e os adolescentes que poderiam, estar pelas ruas, correndo riscos, estejam nas escolas, onde podem aprender a ser pessoas melhores (ESV. Ceilândia).

[...] sim, pois aluno passa 10h de seu dia em um ambiente escolar no qual o aluno tem várias opções de atividades extracurriculares (Monitor 1. Ceilândia).

[...] não, pois há outras formas mais eficazes para mudar o atual Quadro de desigualdade (Monitor 2. Ceilândia).

Coordenadores.

O relatos dos coordenadores sobre a relação entre a EI e o enfrentamento das desigualdades, foram similares, para dois deles a relação existe, na medida em que o tempo ampliado, aumenta as oportunidades dos alunos, e facilita os processos de ensino aprendizagem, enquanto, para o outro essa relação é parcial, pois, é necessário ampliar os investimentos na estrutura e ampliar os profissionais e a capacitação deles para trabalhar na EI:

[...] sim, com a permanência dos alunos mais tempo nas escolas a possibilidade de trabalhar temas assuntos variados que envolvam como enfrentar as desigualdades fica mais fácil ensinar e vivenciar (Coordenador 1. Ceilândia). [...] parcialmente, pois, é preciso maior investimento na estrutura da escola e mais profissionais capacitados para trabalhar com essa modalidade de ensino (Coordenador 2. Ceilândia).

[...] sim, porque intensifica e diversifica (Coordenador 3. Ceilândia).

Os referenciais teóricos, bem como, relatórios de gestão sobre a desigualdades, e mesmo, os documentos orientadores e os pressupostos das Políticas de Educação

178 Integral, tanto o Mais Educação, como o Novo Mais Educação, como o PROEIT, apontam impactos da EI no enfrentamento das Desigualdades, como podemos ver nos destaques abaixo.

No caso do PME, no Documento “Educação Integral – texto referência para o debate nacional”, publicado em 2009, aponta o desafio de enfrentamento das desigualdades e afirmação do direito às diferenças, como destacado no trecho a seguir:

[...] universalizar o acesso, a permanência e a aprendizagem na escola pública, a construção participativa de uma proposta de Educação Integral – por meio da ação articulada entre os entes federados e/ou também das organizações da sociedade civil e dos atores dos processos educativos1 – aponta para esse enfrentamento, sobretudo para a superação das desigualdades e da afirmação do direito às diferenças. Nesse contexto, propõe-se um desenho de Educação Integral que intensifique os processos de territorialização das políticas sociais, articuladas a partir dos espaços escolares, por meio do diálogo intragovernamental e com as comunidades locais, para a construção de uma prática pedagógica que afirme a educação como direito de todos e de cada um (BRASIL, 2009, p.9).

O texto aponta ainda que a Educação Integral se relaciona aos esforços do Estado para ofertar políticas redistributivas de combate à pobreza. Nessa perspectiva, faz-se necessário um quadro conceitual mais amplo para que a pactuação de uma agenda pela qualidade da educação, considere o valor das diferenças, segundo o pertencimento étnico, a consciência de gênero, a orientação sexual, as idades e as origens geográficas. E revela as diferentes variáveis das desigualdades que abordamos no decorrer dessa dissertação, na medida em que:

[...] revela profundas desigualdades nas condições de acesso, permanência e aprendizagem na educação escolar, refletindo a complexidade de um processo em que se entrelaçam diversos fatores relativos tanto à estruturação social, política e econômica da sociedade brasileira, quanto ao trabalho pedagógico realizado no cotidiano por professores e demais profissionais nas escolas públicas. É importante assumir que a situação de vulnerabilidade e risco social, embora não seja determinante, pode contribuir para o baixo rendimento escolar, para a defasagem idade/série e, em última instância, para a reprovação e a evasão escolares. Há estudos que permitem identificar forte correlação entre situação de pobreza, distorção idade/série e dificuldades para a permanência na escola, violência e risco social, o que acaba contribuindo para a perpetuação de ciclos intergeracionais de pobreza (HENRIQUES, 2001). Não se trata aqui de criminalizar ou patologizar a pobreza, mas de construir soluções políticas e pedagógicas criativas e consequentes para o combate às desigualdades sociais e para a promoção da inclusão educacional (BRASIL, 2009, p.11-12).

179 Dessa forma, importa ressaltar que para o PME, tanto nesse documento supracitado, como nos demais já citados no decorrer dessa dissertação, a relação entre a educação integral e o enfrentamento das desigualdades foi sempre pautada com destaque.

Contudo, com a substituição pelo PNME, esse enfrentamento é mitigado, na medida em que, essa referência saí dos documentos orientadores, permanecendo apenas a vulnerabilidade social como um dos critérios de seleção dos alunos a serem contemplados na oferta de educação integral.

Essa mudança nas orientações da Política Nacional no período em que o PNME é implantando nacionalmente, gera reflexos nas políticas locais, e assim, percebemos no PROEITI que o enfrentamento as desigualdades torna-se apenas um dos critérios de seleção dos alunos e/ou escolas a serem contempladas, quer seja via parceria com a União, quer seja na implementação direta e restrita do programa local.

Porém, a limitação de estudos e pesquisas que sistematizem os impactos da implementação desses programas, foi comum nas 3 experiências, talvez pela fragilidade metodológica de mensuração de dados sobre os impactos dos referidos programas no efetivo enfrentamento das desigualdades. Tais limites são muito comuns nos processos de avaliação de políticas sociais de maneira geral, muitas vezes em função das dificuldades de isolar as variáveis para confirmar se determinada evolução de uma situação problema se deu, ou não, pelo acesso a uma determinada política, nesse caso específico, estamos falando do acesso à educação integral.