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Relação entre movimentos sociais e cidadania

No atual momento de transição paradigmática, muitos são os sinais a apontarem para uma preocupação generalizada com a crescente perda dos espaços públicos de cidadania. Em termos econômicos, cresce a sensação de insegurança quanto à sobrevivência digna. A instabilidade das relações econômicas no jogo do mercado vai afetando não só as camadas pobres da população, mas também significativos segmentos da classe média. Generaliza-se cada vez mais um sentimento de perda, não só no que se refere às condições materiais de uma existência digna, mas também no tocante de uma sociedade mais justa. Tal sentimento de perda estende-se igualmente à questão das identidades pessoais (CORRÊA, 2003, p. 48).

No bojo do processo de globalização esvaem-se valores e certezas, até pouco tidos como fundamentais. Numa sociedade essencialmente competitiva e consumista, razões substantivas como debates públicos, solidariedades coletivas e dignidade humana vão cedendo espaço para uma razão meramente operacional, cujo critério maior é ser eficiente no sistema. A razão pragmática, moldada pelos interesses dos que controlam o processo social em seu próprio favor, vai gradativamente minando as referências (CORRÊA, 2003, p. 48).

Vivemos em um momento no qual a mais-valia e a especulação tornam cada vez mais claras as misérias sociais e porque não dizer humana, escondendo atrás do capital a exclusão social das massas. Os meios de comunicação repetem imagens de assassinato, doença, drogas, mas não vem a se reportar o que inicia o ponto de partida deste reflexo caótico da sociedade. Qual o interesse existente nesta forma de comunicação de massas, de quem é o interesse nesta mais-valia ou

excedente capitalista, das massas ou dos detentores do excedente, fica a reflexão o efeito disso tudo e que foi criado uma cultura da descrença dos meios políticos e democráticos.

No contexto da globalização acentuam-se de forma cada vez mais clara os sinais identificadores da perda das identidades e das raízes dos cidadãos. À medida que os espaços públicos da decisão e de debate deslocam-se dos territórios locais para as instâncias transnacionalizadas das elites globais, o cidadão comum vê-se perplexo e desamparado diante de um mundo de relações que lhe foge do alcance (CORRÊA, 2003, p. 48).

É o paradoxo de ser cidadão do mundo de uma realidade isolada, que lhe escapa de controle, conforme explica Corrêa (2002, p. 21):

O homem renuncia à sua consciência de sujeito capaz de julgar o mundo, para se render a um novo conformismo: o de admitir a mudança social, mas uma mudança que foge da alçada do homem. Importa ao sistema um sujeito padronizado, capaz de adaptar-se sem provocar conflito. Mas esse mundo contemporâneo fragmentado gera angustia, num império de signos sem significados, sendo o dinheiro o ultimo signo, o denominador comum.

Vivemos em um mundo confuso, onde ficamos conformados com a política em face de uma ética onde o comando ditatorial é imposto através da visão, ou seja, da mídia falada, escrita, onde a ordem diz que é proibido ser diferente, gerando reflexos e confusão a própria individualidade, onde nos submetemos a papeis ditatoriais das elites mundiais, classistas, gerando um abismo na construção da cidadania pela descrença da política.

Essa procura das origens da identidade comunitária e da solidariedade pessoal é a marca central da idade em que vivemos atingindo de maneira drástica, as formas de fazer política, as grandes construções universais vão cedendo espaços ao confinamento comunitário, a lógica dos princípios e das soluções abrangentes é substituída pela lógica dos procedimentos, das ações meramente operacionais com base na contingência e na mobilidade do jogo sempre provisório dos interesses particulares. Este jogo não obedece mais as leis da política clássica. Como fim da certeza da racionalidade moderna, das soluções fáceis para a construção da

solidariedade coletivas, a nossa idade das redes e sua dimensão relacional de sistemas abertos aponta para a necessidade de se buscar um novo modo de fazer política (CORRÊA, 2003, p. 81).

Os esforços emancipatórios na luta por uma sociedade melhor, em que os espaços públicos de cidadania estejam acessíveis a todos, segundo Corrêa (2003, p. 50):

está a exigir uma nova normatividade, calçada no chão das lutas sociais, a ser efetivada pela participação plural ou multicultural dos agentes sociais. Então a produção de novos sentidos, sinalizaram novos espaços emancipatórios, ensejará o surgimento de redes de solidariedade de irradiação translocal em favor de uma ética de inclusão social capaz de alijar do meio social a lógica da descartabilidade do ser humano.

O novo Leviatã anglo-americano, com tentáculos bem mais sofisticados e perversos, escancara a falência da concepção moderna de cidadania, ou seja, os seres humanos, individualmente considerados construindo conjuntamente as solidariedades coletivas. Os “cidadãos” do novo império passam a ser as poucas, mas grandes, corporações que traçam os rumos da economia mundial em seu próprio favor, alijando sempre mais dos espaços de cidadania a esmagadora maioria dos que povoam as periferias do sistema (CORRÊA, 2003, p. 81).

Cabe, portanto, à cidadania, enquanto processo de construção de espaços públicos, formular um novo contrato social de cunho emancipatório, e tendo como princípios fundantes a ecologia, a solidariedade participativa e a inclusão social. Espaços públicos de vida digna constroem-se paulatinamente por meio de frentes comuns de combatividade solidária, aptos a transformarem as lutas locais e regionais em momentos de um processo maior, tendo como horizonte de sentido a partilha dos espaços sociais de que os cidadãos necessitam para a realização coletiva de suas identidades e diferenças (CORRÊA, 2003, p. 81).

Um movimento social pressupõe a existência de um processo de organização coletiva e se caracteriza pela consistência dos laços, identidades compartilhadas, certa durabilidade e clareza não só no uso de táticas mobilizadoras, comunicativas, mas também nas estratégias, como aquelas envolvendo um projeto amplo da

sociedade, ou pelo menos propostas de programas para determinados setores. Os movimentos de mulheres, por exemplo, têm muito claras a metas a serem alcançadas a médio e longo prazo: igualdade de gênero e a conquista de todos os direitos de cidadania (PERUZZO, 2013, p. 81).

Os movimentos se caracterizam por categorias a partir de fatores que o motivem sua razão de ser, segundo Peruzzo (2013, p. 163):

movimentos vinculados a melhoria das condições de trabalho e de remuneração, os que defendem os direitos humanos relativos a segmentos sociais a partir de determinadas características de natureza humana, aqueles voltados a resolver problemas decorrentes das desigualdades que afetam grandes contingentes populacionais.

Com base no pensamento dos autores constatamos que a cidadania em uma questão política, maculada por um imperialismo onde interesses sobre o petróleo e o poderio militar estão acima da dignidade humana, os movimentos sociais vem com um novo conceito, fugindo de conceitos que antes pregavam os movimentos por ideologias em função da mudança da ordem, hoje eles ocorrem em protestos por melhorias no ordenamento, modificando parcialmente, não necessariamente toda ordem imposta e podem acontecer a qualquer momento ocasionando um novo fenômeno sociológico

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