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A contribuição dos movimentos sociais para a construção da cidadania no Brasil

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GRANDE DO SUL

CARLOS ALBERTO BÓLICO

A CONTRIBUIÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS PARA A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL

Santa Rosa (RS) 2014

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CARLOS ALBERTO BÓLICO

A CONTRIBUIÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS PARA A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Luiz Paulo Zeifert

Santa Rosa (RS) 2014

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Dedico este trabalho a Deus que iluminou o meu caminho durante toda esta longa caminhada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus que iluminou a minha caminhada, também a minha família que me apoiou nós momentos difíceis, emanando força e coragem, iluminando de maneira especial meus pensamentos em busca de conhecimento.

Agradeço também a todos os professores que me acompanharam durante a graduação, em especial ao Prof. Mestre Luiz Paulo Zeifert, responsável pela realização deste trabalho.

Aos meus amigos e companheiros, pelo incentivo, amizade e pelo apoio constante, sempre de forma virtuosa e fraterna.

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“Se um homem começar com certezas, ele deverá terminar em dúvidas; mas se ele se satisfizer em começar com dúvidas, ele deverá terminar em certezas.”

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RESUMO

A contribuição dos movimentos sociais para a construção da cidadania no Brasil é uma pesquisa de conclusão de curso, voltada à análise do processo histórico evolutivo da construção social, tendo como referência o quesito da inclusão social. Aborda objetivos como conceituar a cidadania descrevendo os princípios de direito aplicáveis, tomando como referência histórica os movimentos sociais ocorridos no período e qual foi o período mais efetivo dos movimentos sociais e sua relação com a cidadania, para, a partir dela, extrair repercussões simbólicas que adentram entre os acontecimentos da época e o direito. Estuda a interferência de indivíduos conectados e o poder que adquirem nas transformações das sociedades, inserindo a necessidade de desenvolver uma resistência ao pensamento dominante se reunindo e lutando contra as formas assumidas pelo sistema contra as minorias, fazendo também uma busca de intervir no sistema político, lutando e agindo em rumo a uma construção de cidadania por meios pacíficos e legais dentro da democracia. Por fim, concluindo que o objeto da presente investigação se relaciona diretamente com a tutela dos direitos fundamentais, pois que, decorre da ideia de proteção da dignidade da pessoa humana, tal compreensão tem sua utilidade na história, analisando os fatos históricos nos damos conta de que os movimentos sociais foram propulsores na construção dos direitos fundamentais de primeira geração em busca de liberdade política e de direitos civis, nos dias de hoje os movimentos sociais buscam a terceira geração dos direitos fundamentais, a constante transformação do meio em defesa da autodeterminação dos povos, ao meio ambiente e a qualidade de vida, passando a proteger os direitos coletivos da humanidade, todos interligados em busca de uma humanidade mais livre, justa e solidaria.

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ABSTRACT

The contribution of social movements for the construction of citizenship in Brazil is a survey course completion, focused analysis of evolutionary historical process of social construction, with reference to the Question of social inclusion. Discusses how to conceptualize citizenship objectives describing the principles of law applicable , taking as reference the historical social movements during the period and what was the most effective period of social movements and their relationship to citizenship , to extract from it symbolic repercussions that enter between the events of the time and the right. Studying the interference of connected individuals who acquire power and the transformation of societies entering the need to develop a resistance to dominant thinking flocking and fighting the forms assumed by the system against minorities, also doing a search to intervene in the political system, fighting and acting towards a building citizenship through peaceful and legal means within democracy. Finally concluding that the object of this research is directly related to the protection of fundamental rights because it stems from the idea of protecting the dignity of the human person, such understanding has its uses in history , analyzing the historical facts we realize that social movements have propellers in the construction of the fundamental rights of first generation in search of political freedom and civil rights, today 's social movements seek the third generation of fundamental rights , the constant transformation of the medium in defense of self-determination of peoples, environment and quality of life , going to protect the collective rights of mankind , all interconnected in search of a more free, just and solidary humanity.

Keywords: Contributions of Social Movements. Construction of Citizenship in Brazil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 A CIDADANIA ... 10

1.1 Apontamentos históricos sobre a cidadania ... 10

1.2 A cidadania no Brasil ... 15

1.2.1 Fase colonial (1500 a 1808) ... 15

1.2.2 Fase monárquica (1808 a 1889) ... 16

1.2.3 Fase republicana (1889 aos dias atuais) ... 17

2 MOVIMENTOS SOCIAIS ... 21

2.1 O que são movimentos sociais ... 21

2.2 Movimentos sociais no Brasil ... 23

3 MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA ... 29

3.1 Relação entre movimentos sociais e cidadania ... 31

3.2 Movimentos sociais e a nova forma de construção da cidadania no Brasil 34 CONCLUSÃO ... 40

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INTRODUÇÃO

Pretende-se com a realização deste trabalho, A contribuição dos Movimentos

Sociais para a construção da Cidadania no Brasil, perscrutar alguns aspectos da

história, das organizações em coletividade, em âmbito de criação dos Movimentos Sociais frente a uma cidadania digna, independente de forças sendo assim possível lutar pela inclusão, exclusão ou transformação da sociedade. Neste aspecto os Movimentos Sociais labutam incansavelmente através dos tempos pela dignidade do ser humano, se fazendo de força coletiva e propulsora na modificação do meio universal.

Para tanto em principio foram efetuadas leituras histórico-sociais, as quais possibilitam o entendimento das novas formas de controle, e por outro lado, foram analisados fatos ocorridos na política, no direito, na sociedade em geral, buscando descrever os princípios aplicáveis a cidadania, através de pesquisas bibliográficas foi feito um levantamento acerca dos movimentos sociais ocorridos no período e o que eles trouxeram de construção para a cidadania no Brasil.

Estruturou-se o trabalho em três capítulos que respectivamente, abordam (a) a pesquisa na forma, que os movimentos sociais contribuíram efetivamente para a construção da cidadania, (b) como os movimentos sociais se organizam no espaço e no tempo, (c) as repercussões que os movimentos sociais constituíram no campo de interesse político, de direito econômico, religioso, constitucional e internacional.

A partir dessa primeira divisão geral, a pesquisa passou a ter a seguinte estrutura e objetivos específicos:

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1) no enfoque histórico sobre a cidadania (Capítulo I) a abordagem de estudo aconteceu na busca por questões como (a) o que se entende como cidadania no curso da história, (b) as características da cidadania no atual contexto brasileiro, (c) a indagação do princípio da cidadania. Além da pesquisa de conhecimento do estudo, pretendemos fazer uma história da cidadania.

2) na abordagem dos movimentos sociais (Capítulo II) se dá o enfoque: (a) buscar resgatar o que são os movimentos sociais e as lutas empreendidas por eles nas construções da sociedade, em especial nas camadas populares em torno de lides e de reivindicações ocorridas no espaço e no tempo. (b) construir um mapa dos movimentos sociais nos séculos XIX e XX, a partir de pesquisas em registros existentes.

3) no enfoque das contextualizações dos movimentos sociais e cidadania (Capítulo III), e agora já de posse da referencias dos capítulos I e II procurou-se evidenciar (a) a analises das lutas como simples revoltas, como atos de insubordinação a ordem social na luta pela cidadania. (b) as alterações que aconteceram, como a relação e os princípios articulatórios entre os movimentos sociais e as conquistas efetuadas no campo da cidadania, (c) tornamos este capítulo um resumo de uma pesquisa a ser desenvolvida em longo prazo. Para esta etapa, optou-se por expressar as principais batalhas dos movimentos sociais na construção de uma sociedade cada vez mais justa, solidária e livre.

4) Quanto aos objetivos gerais, a pesquisa será do tipo exploratória. Utilizando a coleta de informações em bibliografias disponíveis em meios físicos e virtuais. Na sua objetivação foi usado o método de abordagem hipotético-dedutivo, observando os seguintes procedimentos:

a) foi consultado para a pesquisa bibliografias referente ao problema abordado, como livros e documentos tanto físicos como virtuais, servindo os mesmos como referencial teórico na construção da resposta frente ao tema abordado;

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.

1 A CIDADANIA

Analisar o conceito de cidadania e o conteúdo jurídico do princípio da cidadania, veremos a Constituição Federal que serve como alicerce da construção da sociedade brasileira contemporânea, analisando conjuntamente as suas raízes históricas.

A República Federativa do Brasil adotou em sua Carta Magna o Estado Democrático de Direito, bem como, positivou certos princípios, cuja redação constitui a base do sistema constitucional brasileiro, como exemplo o princípio da constitucionalidade no qual o Estado Democrático de Direito se funda numa Constituição rígida, emanada da vontade popular, e o princípio democrático, objetivando a representação democrática, como a representação direta do povo, e o princípio da tripartite dos poderes, onde se expressa distinção de três funções estatais: a legislatura, a administrativa e a jurisdicional.

Não se pretende fazer uma história da cidadania, mas buscar responder questões relevantes como, por exemplo: o que se entende como cidadania no curso da história? Quais são suas características? Como se pode caracterizar a cidadania no atual contexto brasileiro? Orientando assim o pesquisador pela indagação do princípio da cidadania

Neste trabalho, pesquisa-se sobre dois conceitos: movimentos sociais e cidadania, com o objetivo de que o problema proposto restringe-se a aspectos jurídicos da cidadania, fazendo assim uma análise da história da cidadania, desde a Antiguidade Clássica até os dias atuais, inserindo o Brasil na discussão, analisando a cidadania no sistema jurídico-constitucional brasileiro atual.

1.1 Apontamentos históricos sobre a cidadania

Costuma-se apontar a Antiguidade Clássica, mais especificamente a Grécia e a Roma Antigas, como uma pré-história da cidadania, fornecendo as bases e traços iniciais para pensá-la.

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É difícil estabelecer um marco inicial exato para o nascimento da cidadania. Partindo-se da Pré-História e chegando-se à Idade Antiga, que se estendeu da invenção da escrita (cerca de 4000 a 3500 a.C), à queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C) e início da Idade Média (século V), desenvolvem-se vários povos, as Civilizações de Regadio (Egito, Mesopotâmia, China), as civilizações Clássicas (Grécia e Roma), os Persas, os Hebreus, os Fenícios, os Celtas, Etruscos, Eslavos, o que acentua a dificuldade por falta de maiores pesquisas cientificas sobre o tema.

De todo modo, a análise tomará como ponto de partida a Grécia Clássica, passando por Roma, pelas Idades Média e Moderna e para auxiliar na afirmação do juízo crítico sobre seu conceito.

O mais longínquo ascendente da cidadania é encontrado, segundo Arno Dal Ri Júnior, no mundo grego, na concepção de virtude cívica, vigente, sobretudo em Atenas e Esparta. No entanto, o termo cidadania e o seu significado não foram conhecidos pelos gregos (DAL RI JR., 2002). Aliás, os sentidos empregados na Grécia e na contemporaneidade são distintos, a exemplo de Norberto Luiz Guarinello (2003, p. 29):

A imagem que faziam da cidadania antiga [...] era idealizada e falsa. A cidadania nos Estados-nacionais contemporâneos é um fenômeno único na História. Não podemos falar de continuidade do mando antigo, de repetição de uma experiência passada e nem mesmo de um desenvolvimento progressivo que unisse o mundo contemporâneo ao antigo. São mundos diferentes com sociedades distintas, nas quais pertencimento, participação e direitos têm sentidos diversos.

Contudo, como bem ressalta Dal Ri Jr. e Oliveira. et al. (2002, p. 26), é possível reconhecer a noção de virtude cívica. A expressão grega que mais se aproximaria do conceito de cidadania seria, então, ó, polis, única forma de vida associada possível, porquanto traduzia “a ideia de homem livre, intimamente comprometido com a defesa dos interesses da Cidade-Estado.”

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se entende uma cidade autônoma e soberana, cujo quadro institucional é caracterizado por uma ou várias magistraturas, por um conselho e por uma assembleia de cidadãos (politai).

Cidadão era o homem adulto apto a defender os interesses da polis pelas armas, esta noção vai se transformando em sentimento subjetivo, então cidadão seria homem livre de grande despojamento pessoal e de participação, condição essencial à realização da comunidade política segundo Aristóteles – que contribuísse ativamente para a organização da comunidade. Não gozavam do status de cidadão as mulheres, os escravos e os metecos (estrangeiros que viviam em Atenas).

A concepção de que o reconhecimento da cidadania exigiria virtude e sabedoria tem suas bases em Platão. Em A República, Livro VI, 484a – 486c, Platão (2001, p. 179-182) sustenta que somente os filósofos reúnem as condições necessárias para governar, a pólis, haja vista serem possuidores da virtude política.

É importante salientar que esta participação ativa implicava o direito concedido aos cidadãos de, enquanto membros da pólis, participarem da magistratura, fazerem partes de tribunais, participarem das deliberações da assembleia. No âmbito judiciário eram concedidos ao cidadão alguns direitos exclusivos, como o direito de acusar em nome dos interesses da coletividade e o de levar a juízo o culpado preso em flagrante ao cometer delito para o qual a lei previa prisão imediata (DAL RI JR.; OLIVEIRA et al., 2002, p. 28).

Nada obstante, a Cidade-Estado de Roma foi mais além, e instituiu, pela primeira vez, o conceito jurídico de cidadania, intimamente relacionado ao status

civitatis, não se olvidando a forte influência grega nos primeiros séculos da história

de Roma. É a partir da comum que nasce e se desenvolve a civitas romana, registra Dal Ri Jr. (DAL RI JR.; OLIVEIRA et al., 2002, p. 30). Buscando as raízes históricas do instituto, José Cretella Jr. (1992, p. 139) expõe que:

No direito romano, civis ou civis romanus era o cidadão romano, pessoa que usufruía direitos e era submetido a obrigações ligadas à qualidade de membro de determinada cidade. Civitas tinha então, dois sentidos, sendo ou o “território que constituía a unidade política e administrativa essencial na

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organização greco-romana, e cujos habitantes eram sujeitos a um conjunto de regras jurídicas especiais”, ou “o conjunto dos direitos civis e políticos ligados ao status de cidadão, eu civis”.

É justamente na Idade Moderna, período histórico que, na Europa, estende-se da queda do Império Romano do Oriente para os turcos em 1453, à Revolução Francesa em 1789 que se realiza ao menos no que se refere aos ideais, o conceito clássico da cidadania.

Nasceram abraçados ao princípio da igualdade, do qual não se podem separar, pois fazê-lo equivaleria a desmembrá-los da razão de ser que os ampara e os estimula. (BONAVIDES, 2005, p. 564).

O desejo de retornar aos ideais da cidadania grega é marcante em todas as obras do período. Uma cidadania fundamentada na participação política, fruto da “virtude cívica”, atributo do homem livre, que possui capacidade e vontade de participar da “coisa” pública. Virtude esta que se define em oposição ao egoísmo de quem prefere e impõe a própria vontade particular ao interesse comum do inteiro corpo social. Deste modo, “virtude cívica” é vista pelos iluministas como instrumento essencial à constituição da comunidade política. Jean-Jacques Rousseau em particular, adiciona à cidadania perspectiva “horizontal” da cidadania grega, já resgatada por Hugo Grotius e por Samuel Von Pufendorf (apud DAL RI JR. et al., 2002, p. 61).

A liberdade passa a ser vista não mais como um fim absoluto, mas simplesmente como possibilidade do indivíduo ser tutelado em caso de indevidamente obstaculizado. Deveria equacionar-se à coexistência na comunidade política e à segurança necessária à mesma. A igualdade viria limitada pela propriedade, que mesmo gerando desigualdade, deveria ser tutelada como elemento vivificador da existência humana e estimulador da previdência. Passaria assim, a ser invocada não para contestar as diferenças, mas para recordar a igual proteção oferecida pela lei (DAL RI JR et al., 2002, p. 75).

Opera-se, definitivamente, a associação da cidadania à nacionalidade, inclusive com a perda de seu caráter constitucional, pois a aquisição, posse, perda e reaquisição da condição de francês, passaram a ser disciplinado pelo Código Civil,

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cujos efeitos se fizeram sentir na maioria dos códigos europeus do Século XIX. O princípio da nacionalidade passa a ser o elemento ou a ideologia unificadora. O povo esclarece Dal Ri Jr. “à nação, dotada de própria individualidade, passa a ser o sujeito político” (DAL RI JR. et al., 2002, p. 76).

Neste contexto, e com olhar voltado à Inglaterra dos séculos XVIII, XIX e XX, é que Thomas Humprey Marshall (1963), em sua clássica obra Cidadania, Classe Social e Status, investiga a experiência britânica de cidadania, fundando sua construção teórica na difusão do ideal de igualdade jurídica expandindo para as esferas política e econômica. Relaciona, igualmente, o desenvolvimento da cidadania ao surgimento dos direitos civis, políticos e sociais, relatando a contribuição para a garantia destes últimos.

Segundo Marshal (1963, p. 64), o princípio da igualdade dos cidadãos, próprio da cidadania, contrasta com o da desigualdade de classes.

Marshall (1963, p. 64) explica:

Enquanto historicamente, principalmente a partir da Idade Média, a cidadania tornou-se arcabouço da desigualdade social legitimada, o desenvolvimento dos direitos civis, no século XVIII, certo dos direitos políticos no século XIX, e dos direitos sociais no século XX, formou o substrato necessário à igualdade dos cidadãos, ao menos no que diz respeito aos direitos, agora dotados de uma universalidade imanente. Ora, Quando a liberdade se tornou universal, a cidadania se transformou de uma instituição local numa nacional.

De todo modo, é com propriedade que Marshall infunde a ideia de que só é possível falar em cidadania quando há garantia efetiva de liberdade, o que se evidencia ao longo de sua obra. Todavia, há outra categoria fundamental: a educação pressuposta essencial da liberdade. Para Marshall (1963, p. 73), a educação é um pré-requisito necessário da liberdade civil:

[...] Tornou-se cada vez mais notório, com o passar do século XIX, que a democracia política necessitava de um eleitorado educado e de que a produção cientifica se ressentia de técnicos e trabalhadores qualificados. O dever de autoaperfeiçoamento e de autocivilização é, portanto, um dever social e não somente individual porque o bom funcionamento de uma sociedade depende da educação de seus membros. É uma comunidade

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que exige o cumprimento dessa obrigação começou a ter consciência de que sua cultura é uma unidade orgânica e sua civilização uma herança nacional. Depreende-se disto que o desenvolvimento da educação primaria publica durante o século XIX constituiu o primeiro passo decisivo em prol do restabelecimento da cidadania no século XX.

Assim, definidos os apontamentos históricos sobre a cidadania, passa-se a verificar a cidadania no Brasil.

1.2 A cidadania no Brasil

No Brasil, a análise da evolução da cidadania revela a possibilidade de se identificarem alguns traços semelhantes às experiências histórico-culturais anteriormente descritas não se olvidando, são claro, as características próprias de nossa sociedade e de nossa história.

Nessa linha de raciocínio, Carvalho (2003, p. 11-12) esclarece que:

[...] houve no Brasil pelo menos duas diferenças importantes. A primeira refere-se à maior ênfase em um dos direitos, o social, em relação aos outros. A segunda refere-se à alteração na sequência em que os direitos foram adquiridos entre nós, o social precedeu os outros. Como havia lógica na sequencia inglesa, uma alteração dessa lógica afeta a natureza da cidadania. Quando falamos de um cidadão inglês, ou norte-americano, e de um cidadão brasileiro, não estamos falando exatamente da mesma coisa.

Não obstante a diversidade de classificações é possível a análise da evolução político-constitucional brasileira, distinguindo três grandes fases, a Colonial, a monárquica e a Republicana (SILVA, 2005, p. 69-90) que marcam os períodos: primeiro, em que o Brasil se encontrava sob a autoridade de Portugal; segundo; com a mudança de status colonial devido à chegada de Dom João VI ao Brasil em 1808, assinalando a marcha rumo à independência; terceiro; a Proclamação da República com seus desdobramentos, até os dias atuais.

1.2.1 Fase colonial (1500 a 1808)

Essa estrutura evoluiu, na busca de segurança e equilíbrio nas relações primitivas, surgiu o Estado como o centralizador do poder de polícia, cabendo

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somente a ele exercer a violência para fins de controle social. A sociedade é submetida ao poder do Estado, que se torna o responsável pela segurança e a organização social.

O Brasil-Colônia, como não poderia deixar de ser, pois se encontrava vinculado ao Reino de Portugal, não possuía Constituição própria. A organização colonial, a despeito de um período inicial dotado de certa unidade, com um sistema de governadores-gerais, viria a fragmentar-se e, portanto, dispersar-se, com o rompimento, em 1572, do sistema unitário instituído em 1549, com Tomé de Sousa, criando-se o dual, que retornaria cinco anos depois para, em seguida, dar lugar novamente ao modelo dual, havendo ocasião de se dividir, em 1621, a Colônia em dois Estados – o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão -, e que passaria, ainda, por novas e sucessivas fragmentações, com o surgimento de novos centros autônomos. Desencadear-se-ia, ainda, um processo de múltiplos rompimentos, em que o Governo-Geral se divide em governos regionais, estes em Capitanias Gerais, a que se subordinavam capitanias secundárias, e cada capitania se dividia em comarcas, distritos e termos, os centros de autoridade local (SILVA, 2005, p. 70-71).

Como é elementar, inexistia, à época, legislação nacional que tratasse da cidadania, direta ou indiretamente. Aliás, a sociedade brasileira, predominante e quase inteiramente rural, ou melhor, definido, os povos que aqui viviam e os recém-chegados viviam à base de uma agricultura simples, da caça, pesca e coleta. Como fins eminentemente de subsistência, como bem registra Mércio Pereira Gomes (PINSKY et al., p. 420-421).

1.2.2 Fase monárquica (1808 a 1889)

No período monárquico se formara uma nobreza brasileira, “assentada sobre a base dos grandes latifúndios, numerosa, rica, orgulhosa, esclarecida pelas ideias novas, que revolucionaram os centros cultos do Rio e de Pernambuco”, e uma “aristocracia intelectual, graduada na sua maioria pelas universidades europeias, especialmente a Universidade de Coimbra.” (SILVA, 2005, p. 73).

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Com efeito, conquanto a Constituição política do Império do Brasil tenha assegurado direitos civis e políticos, como também proibido várias práticas aviltantes ao ser humano, ao abolir as penas cruéis, não pode afirmar, com vistas aos caracteres da sociedade da época, que o seu texto tenha irrompido o plano da efetividade, dotando-se de ampla eficácia social.

Justifica Cretella Jr. (1992, p. 7) que a Constituição do Império assegurou:

[...] a inviobilidade dos direitos civis e políticos do cidadão brasileiro, pondo em evidência o princípio da legalidade, firmando o princípio da irretroatividade da lei, abolindo os privilégios que não fossem essencial e inteiramente ligados aos cargos por utilidade pública, outorgando plena liberdade de consciência, crença e culto, ninguém podendo ser perseguido por motivo de religião desde que esta não ofendesse a moral pública e fosse respeitada a religião oficial do Estado. Foram abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente e todas as demais penas cruéis.

Cidadania e nacionalidade se confundem na Constituição de 1824.

1.2.3 Fase republicana (1889 aos dias atuais)

Com a proclamação da República, assume a presidência do governo provisório o Marechal Deodoro da Fonseca que, por meio do Decreto n-29, de 3 de dezembro de 1889, nomeia comissão para elaborar a nova Constituição, formada por cinco membros – Saldanha Marinho (Presidente), Américo Brasiliense de Almeida Mello (Vice-Presidente), Antônio Luiz dos Santos Werneck, Rangel Pestana e Magalhães Castro (CRETELLA JR., 1992, p. 12).

A segunda Constituição do Estado é promulgada aos 24 de fevereiro de 1891. O modelo quadrífido é substituído pela estrutura tripartite de Montesquieu, e pelo presidencialismo. As bases de sua elaboração foram fornecidas pela Constituição norte-americana, sob a influência de Rui Barbosa e das Constituições da Suíça e da Argentina.

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Por orientação de Rui Barbosa, nossa primeira Constituição Republicana tomou por modelo a Constituição Norte-americana cujos princípios fundamentais foram adotados pelos Constituintes pátrios.

Na Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 1934, há maior precisão no uso dos termos nacionalidade e eleitor, identificando-se corretamente as realidades que correspondem.

O tempo de vigência da Carta de 1934 foi, porém, curto. Já aos 10 de novembro de 1937, foi instituída a Polaca, como ficou conhecida a Constituição de 1937, como fruto do golpe de Estado comandado por Getúlio Vargas era o início do Estado Novo, estagio marcado por profundas contradições. Sob o título “Da Nacionalidade e da Cidadania” (Arts. 115 a 121), a Polaca tratava dos direitos políticos, com regras semelhantes às anteriores. Os muitos contrastes e contradições que marcaram esse período culminaram, no pós-guerra, na eclosão de movimentos a favor da redemocratização do país e em 29 de outubro de 1945, na deposição de Getúlio Vargas, pelos ministros militares (CRETELLA JR., 1992, p. 39).

Instalada a Assembleia Constituinte, foi promulgada, no dia 18 de setembro de 1946, a Constituição da Republica dos Estados Unidos do Brasil, cujo paradigma de elaboração foi o modelo delineado pela primeira Constituição Republicana, mas conjugada com a orientação da Constituição de 1934, como bem ressalta Cretella Jr. (1992, p.32).

Muito embora tenha cumprido a sua tarefa de redemocratizar o país, novamente não se pode falar em eficácia social, porquanto sua fonte, ao revés da sociedade brasileira, fora, como dito, a Constituição de 1891, tendo mesmo quem afirmasse que “nasceu de costas para o futuro, fitando saudosamente os regimes anteriores.” (SILVA, 2005, p. 73).

A Constituição do Brasil de 1967 assimilou as características básicas da Carta de 1937, preocupando-se, fundamentalmente, com a segurança nacional. Houve forte retrocesso quanto às conquistas democráticas obtidas até então a despeito de o Texto Constitucional prescrever em seu art.143, que “O Sufrágio é universal e voto

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é direto e secreto, salvo nos casos previstos nesta Constituição, fica assegurada a representação proporcional de partidos políticos, na forma que a lei estabelecer.”

De todo modo, sua sistemática é precisa, de modo a distinguir, perfeitamente, cidadania e nacionalidade.

O Texto Constitucional sofreu ampla reformulação com a EC-1, de 30 de outubro de 1969 alterando-se até mesmo a denominação: a Constituição do Brasil passou a chamar-se Constituição da República Federativa do Brasil. As alterações foram tão profundas, que muitos constitucionalistas a qualificaram como nova Constituição, por exemplo, José Afonso da Silva (2005, p.87).

Contraditoriamente, talvez esse tenha sido para a cidadania brasileira, o período mais sombrio e, ao mesmo tempo mais luminoso, ante o engajamento político jamais visto no país, com o clamor das mais diversas classes e segmentos da sociedade brasileira pela democracia. Diretas Já foi o slogan do movimento, cujo auge foi a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição de 1988.

É imperativo, pois, reconhecer que o fenômeno da cidadania é complexo e historicamente definido, de modo que o ideal de cidadania plena desenvolvido no ocidente, a reunir liberdade, participação e igualdade de todos, seja talvez inatingível. “Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento da qualidade da cidadania em cada país e em cada momento histórico”, afirma José Murilo de Carvalho (2003, p. 9).

Na introdução à obra, Jaime Pinsky, ao se perguntar “Afinal, o que é ser cidadão?”, responde:

Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais. (PINSKY et al., 2003, p. 9).

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Assevera Norberto Luiz Guarinello (apud PINSKY et al., 2003, p. 46) que:

A essência da cidadania, se pudéssemos defini-la, residiria precisamente nesse caráter público, impessoal, nesse meio neutro no qual se confrontam, nos limites de uma comunidade, situações sociais, aspirações, desejos e interesses conflitantes. Há certamente, na história, comunidades sem cidadania, mas só há cidadania efetiva no seio de uma comunidade concreta, que pode ser definida de diferentes maneiras, mas que é sempre um espaço privilegiado para a ação coletiva e para a construção de projetos para o futuro.

Destarte, encerra-se este capítulo, enfatizando-se a importância da Constituição de 1988 em relação à cidadania por eleger em sua Carta Magna como um de seus fundamentos e podemos interpretar seu conteúdo normativo no inciso II do Art.1. Da CF/1988.

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2 MOVIMENTOS SOCIAIS

Na visão geral dos movimentos sociais pretende-se trazer algumas informações sobre as características dos movimentos, apesar de não existirem muitas teorias codificadas a respeito. Parte se deve a universalidade de pesquisas sobre o que são os movimentos sociais, em um mundo sem fronteiras, muitos autores veem que o conflito social se transformou nos dias de hoje, das esferas da produção capitalista, para a esfera dos conflitos da cultura, das informações, gerando movimentos sociais que hoje discutem questões de raça, gênero e nacionalidade.

Os movimentos sociais têm como modelo de análise, segundo Maria da Glória Gohn (2000, p. 11-40), destaca a importância da cultura na construção da identidade de um movimento social, mas concebe os movimentos segundo um cenário pontuado por lutas, conflitos e contradições, cuja origem está nos problemas da sociedade dividida em classes com interesses, visões, valores, ideologias e projetos de vida diferenciados. Entendemos que a análise sobre os movimentos sociais não pode ser separada da análise de classe social, mas também não pode resumir os movimentos a algo determinado pelas classes.

2.1 O que são movimentos sociais

Para definir movimentos sociais vamos compartilhar alguns detalhes, como os interesses e os movimentos, para se ter uma ação, o grupo tem que possuir interesses mútuos, mas somente isto não basta, tem que existir uma conexão em comum, um nexo de atração entre as pessoas como ser mulher, negro, defensor da natureza, objetivando a defesa de uma causa em comum. Para que isso ocorra, é necessária a conexão do grupo, que acontece através de experiências em comum entre eles, seja de esfera cultural, econômica ou qualquer outra ação em comum que vislumbre os atores, a partir deste momento criam e modificam a sociedade com novas perspectivas no campo de ideias e valores.

Deste entendimento deduz-se que os movimentos sociais marcam a ação cronológica dos seres humanos na esfera de tempo e espaço da história, nesta

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construção de práticas sociais através da ação, e por meio de ideias os seus fundamentos.

Trata-se de umas práxis, portanto. Confirmando esse entendimento, afirma Gohn (2000, p. 13):

As lutas sociais conferem aos movimentos um caráter cíclico. Eles são como as ondas e as marés, vão e voltam segundo a dinâmica do conflito social, da luta social, da busca do novo ou da reposição conservação do velho. Esses fatores conferem as ações dos movimentos caráter reativo, ativo ou passivo. Não bastam as carências para haver um movimento. Elas têm que se traduzir em demandas que por sua vez poderão se transformar em reivindicações, através de uma ação coletiva. O conjunto deste processo e parte constitutiva da formação de um movimento social.

A partir das considerações acima se formula uma definição ampla para o conceito de movimentos sociais, a saber: movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento a partir de interesses comuns. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo (GOHN, 2000, p. 13-14).

Os movimentos sociais modificam uma série de fatores seja de cunho político, público ou econômico, participando direta ou indiretamente na peleja pelo desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidaria.

Os movimentos se organizam em hierarquia, se constituindo de lideranças e associativamente de modo oculto ou transparente com igrejas, ONGs, sindicatos, partidos políticos, universidades, e se articulam também em redes sociais tanto virtuais como pessoais fazendo essa conexão tanto nacionalmente como internacionalmente em modo de fortalecer a organização e a força do movimento.

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É necessário destacar que a temática da solidariedade não significa que os movimentos sejam internamente harmoniosos ou homogêneos. Ao contrário, o usual é a existência de conflitos e tendências internas. Mas as formas como eles se apresentam no espaço público, o discurso que elaboram as práticas que articulam nos eventos externos, cria um imaginário social da unicidade, uma visão de totalidade (GOHN, 2000, p. 13-14).

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A solidariedade e o princípio que costura as diferenças internas, nas palavras de Gohn (2000, p. 14-15), fazendo como que:

A representação simbólica construída e projetada para outro não movimento seja coerente e articulada em propostas que encobrem essas diferenças, apresentando-se, usualmente, de forma clara e objetiva. Para tal e preciso que se observem os códigos políticos culturais expressos nas reivindicações dos movimentos [apresentados na linguagem de seus discursos e falas e nos documentos que constroem]. São estes códigos que sistemizam as demandas e criam e representações sobre elas. A forma como as demandas são codificadas varia segundo a cultura política local, ou seja, segundo o repertorio das tradições culturais e as forças sócio- políticas de uma dada conjuntura histórica onde o movimento está ocorrendo.

Têm-se movimentos diversos e a ação desencadeada pelos mesmos mostrara a virtude do movimento, alguns são reformistas, outros humanistas podendo ser transformadores, mas todos se movem como resposta a estímulos externos da sociedade.

2.2 Movimentos sociais no Brasil

Desde os tempos do Brasil Colônia, a sociedade brasileira e pontilhada de lutas e movimentos sociais contra a dominação, a exploração econômica e, mais recentemente, contra a exclusão social. A memória histórica registra lutas de índios, negros, brancos e mestiços pobres que viviam nos vilarejos e brancos pertencentes às camadas médias influenciadas pelas ideologias libertarias, contra a opressão dos colonizadores europeus (SILVEIRA, 1995, p. 77).

O movimento na colônia brasileira tinha ação engenhada por negros e excluídos da sociedade havia distinção na época, em forma de triangulo, na parte

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superior, senhores do engenho, militares e funcionários graduados e o clero, seguido por mercadores, artesãos, os pobres livres, e por último os negros.

Eis uma lista das lutas mais famosas no Brasil Colônia e na fase do Império: Zumbi dos Palmares (1630-1695), Inconfidência Mineira (1789), Conspiração dos Alfaiates (Minas, 1798), Revolução Pernambucana (1817), Balaiada (Maranhão, 1830-1841), Revolta dos Malés (Bahia, 1835), Cabanagem (Pará, 1835), Revolução Praieira (Pernambuco, 1847-1849), Revolta de Ibicaba (Estado de São Paulo, 1851), Revolta de Vassouras (Estado do Rio, 1858), Quebra-Quilos (Pernambuco, 1873), Revolta Muckers (Rio Grande do Sul, 1874), Revolta do Vintém (Rio de Janeiro, 1880), Canudos (Bahia, 1847-1897, massacrada pelas forças da Republica). Estes são alguns dos exemplos mais conhecidos até o século XX (GOHN, 2000, p. 15).

Com o adentrar do novo século ocorreu uma mudança no Brasil, como não havia mais escravos, graças aos movimentos ocorridos no período passado, o país importou mão de obra externa, que começaram a receber salários para o trabalho efetuado, como eram provenientes da Europa, com uma cultura mais avançada os mesmos se organizaram, fazendo assim uma união entre eles, lutando e resistindo contra o sistema imposto.

Nas duas primeiras décadas do século ocorreram revoltas da população, nas palavras de Gohn (2000, p. 16), reivindicando:

Serviços urbanos ou protestando contra políticas locais como a Revolta da Vacina (Rio de Janeiro, 1905), Revolta da Chibata (Rio de Janeiro, 1910), Revolta do Contestado (Paraná, 1912), ligas contra o analfabetismo (1915), ligas nacionalistas pelo voto secreto e expansão da educação (1917), revoltas contra o preço do pão, por feira livre, atos contra a inspeção de bagagens nas estações de trens, contra a colocação de trilhos para os bondes (que retiravam o emprego dos carroceiros e quebravam os cascos das patas de seus cavalos), atos contra o desemprego e carestia em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Nos anos 20 surgem várias lutas e movimento das camadas media da população urbana e revoltas de militares, bem como movimentos messiânicos e de cangaceiros no sertão nordestino do país, como o liderado pelo Padre Cícero no Ceará (1926) e por Lampião na Bahia (1925-1938) (GOHN, 2000, p. 15).

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No ano de trinta, ocorre a Revolução dos Burgueses (elite), o movimento organizado fica marcado na história, como a internacionalização dos bens de produção primaria e de consumo, se cria uma construção de uma nova classe no Brasil, a classe industrial, de reflexo destes acontecimentos a um reflexo na classe operaria, deixam de vir da Europa, para se locomover internamente, do campo para a cidade na busca de melhores rendas, o Estado se organiza e regula o sistema através da codificação, exemplo a própria legislação trabalhista e se volta pela primeira vez para a questão social de forma organizada.

Vários movimentos sociais ocorreram no período de 1930-1937, entre os quais o movimento dos pioneiros da educação (1931), a marcha contra a fome (1931), a Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932), a revolta do caldeirão no Ceará (1935), a Criação da Aliança Libertadora Nacional (1935), o Movimento Pau de Colher (ocupação de terras na Bahia, em 1935, revoltas militares. O golpe do Estado Novo em 1937, impetrado pelo ex-presidente Getúlio Vargas, amorteceu os conflitos sociais pelo controle via repressão (GOHN, 2000, p. 17).

A partir de 1937 até os anos de 1964 foi marcada como período político populista. São criados neste período, fabricas multinacionais, cria-se a Petrobras, se constrói Brasília, alianças internacionais entre a burguesia são pactuadas, no abc, nasce o movimento dos metalúrgicos devido a fabricação de automóveis se instalam no interior paulista, nos anos de 1961 a 1964, na região sul do país se inicia dois movimentos sociais fortes conhecidos como Ligas Camponesas do Nordeste e o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), neste período os ânimos se acirram devido a conflitos entre metalúrgicos e capitalistas devido a proteção trabalhistas, e direitos buscados pela classe.

O golpe militar de 1964 pôs fim a um ciclo de mobilização e organização popular. Entre 1964 e 1969 os movimentos de resistência foram poucos. No meio industrial ficaram famosas as greves de Contagem (MG) e Osasco (SP). Os estudantes influenciados pela conjuntura nacional e internacional principalmente o maio de 68 na França e a política cultural maoísta na China, entraram para a história como novos atores em cena, naquele período. O Estado redefiniu suas leis e criou

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novos aparelhos burocráticos de controle. O Ato Institucional nº 5, de dezembro de

1968, cassando e punindo pessoas e estabelecendo severas restrições aos direitos sociopolíticos dos cidadãos, foi o ponto culminante de uma era de medo, por regimes militares que se espalhariam por toda América Latina (GOHN, 2000, p. 18).

Neste momento negro de nossa história, os movimentos partiram para a ação em forma de organização paramilitar, como forma de combater o Estado através de guerrilhas, seus líderes da época foram mortos, extraditado ou simplesmente sumiram no espaço de suas ideologias, foram anos de árdua luta em defesa dos direitos coletivos, e de imensa escuridão manchando nossa própria história recente em busca de uma sociedade mais justa.

A partir de 1974, com a crise internacional do petróleo, nas palavras de Gohn (2000, p. 19), o chamado.

Milagre brasileiro entra em crise. A resistência ao regime militar começa a se articular. Os movimentos sociais emergem das cinzas. Nas cidades, as comunidades Eclesiais de Base (CEBs), embaladas pela Teologia da Libertação, organizam milhares de pessoas e deram origem a movimentos populares vigorosos como Custo de Vida. Grande parte desses movimentos servia de base de apoio às greves, que se espalham pelo país entre 1978-1979). Surge a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

No ano de 1984, foi desconstituído o regime militar, neste período de 1984 á 1988 o Brasil iniciou a positivação em códigos das muitas reivindicações feitas pelos movimentos sociais, labutadas desde o final da década de 1970, na luta pela criação de uma nova carta constitucional, aonde vêm a ser protegidos e reconhecidos os índios as mulheres, menores, passam a se tornar atores, com direitos expressos na nova Carta Constitucional.

Mas a crise internacional do capitalismo globalizado já havia se espalhado pelo planeta e atingiu o Brasil nos anos 90. Desemprego, reformas, restruturações no mercado de trabalho, flexibilização dos contratos, passaram a ser a tônica do novo cenário. Os sindicatos dos trabalhadores se enfraqueceram, o número de pessoas a atuar na economia informal multiplicava-se centenas de vezes. Os sindicatos passam a lutar contra as políticas de exclusão social do governo, muda-se

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a pauta das reivindicações dos trabalhadores: a luta é para manter o emprego e não por melhores salários ou condições de trabalho, como na fase anterior. Os movimentos sociais populares urbanos se desarticulam. A luta social no campo recrudesce e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criado nos anos 80, ganha as manchetes da mídia e torna-se o agente do principal conflito social no país. Os movimentos de resistência às reformas na Constituição nacional foram tímidos e não conseguiram alterar o quadro de correlação de forças (GOHN, 1997, p. 77).

O Plano Real fomentou as expectativas de mudanças, já que existia um equilíbrio com a moeda americana, trazendo esperanças, para a classe média nacional, mas crises vindas ao final de 1999, levando a classe média à recessão, uma crise de desemprego, nascendo novos movimentos sociais focados não mais em cidadania e direitos sociais, mas sim preocupados com a exclusão que este sistema gera e tão rapidamente por se tratar de atores internacionais e estar todos dependentes uns dos outros sistemas, procurando, interagindo em forma de pressão no meio como forma de incluir novamente dentro do sistema os próprios atores.

O ano de 2000 marca o retorno dos movimentos sociais à cena política nacional. Apesar de quase uma década de desmobilização dos movimentos populares urbanos, eles iniciam lenta retomada, em outras bases, incorporando a experiência, adquirida via a participação nos conselhos, fóruns e outras formas mais ou menos institucionalizadas de participação. Entretanto outros movimentos sociais ganham as manchetes da mídia, como o dos índios. Eles se reorganizaram em função da luta pela demarcação de suas terras, realizam marchas e caminhadas e aproveitam a conjuntura política, para protestar e exigir seus direitos. Foram reprimidos pelas forças policiais e ganharam a simpatia e o apoio de governos e organismos internacionais que se manifestaram contra a violência cometida. O MST ganha novo fôlego e se alastra por todo o Brasil. Os estudantes voltaram as ruas, não mais como cara pintadas, voltaram politizados em luta contra o desemprego, corrupção, altas tarifas de ônibus, por mais hospitais. E outras categorias passam a se organizar e a protestar, como os caminhoneiros nas estradas contra as taxas de pedágio e suas péssimas condições de trabalho (GOHN, 2000, p. 18).

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No ano de 2012, aconteceu o Fórum Social Temático, na cidade de Porto Alegre (RS), trazendo como bandeira dos movimentos, o tema da desigualdade, da crise ambiental, e a democracia no cenário político, foi constatado que o poder do capital financeiro é muito maior que a capacidade do Estado Brasileiro, a produção real é bem abaixo da moeda que circula no mundo, o problema constatado é uma crise estrutural, parecida com a que assolou o período vivenciado entre as guerras mundiais, hoje como agravo, temos que visualizar de uma maneira global os reflexos desta crise, principalmente na área ambiental e alimentação, para isso e necessário resgatar os movimentos e lideranças já constituídos, como apoiar os novos movimentos, acreditamos que estes novos movimentos sociais, que tanto chamam a atenção de pesquisadores novamente nas academias, tanto no Brasil como no mundo, é o fato de conseguirem fazer uma forma de política, saindo do paternalismo ligado a partidos e associações e se organizando sem bandeira, mas objetivados em um mundo melhor, revolucionários e reformadores da sociedade, trabalham arduamente no combate a desigualdade piramidal, contribuindo para uma comunidade mais igualitária, ou seja, equilibrada.

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3 MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA

A questão da cidadania e da construção dos espaços públicos deve ser inicialmente contextualizada na complexidade das relações sociais contemporâneas, seja em nível nacional ou internacional, uma vez que as condições socioeconômicas necessárias para a materialização de uma existência digna dos seres humanos são indispensáveis para o exercício da cidadania. A busca de novos espaços de vida e a reconstrução de espaços públicos já consolidados tem como pressupostos a tomada de consciência da problemática que envolve o nosso ser – no – mundo, uma vez que a compreensão da realidade antecede, com certeza, sua transformação inclusiva. Nesta perspectiva, importa ressaltar os principais problemas econômicos e sociais próprios do terceiro milênio, a crise da política no que concerne a construção dos espaços públicos, bem como, a problematização ética nas sociedades atuais (CORRÊA, 2003, p. 40).

Nas palavras de Darcísio Corrêa (2003, p. 40), a questão excludente da cidadania é que

Alardeia-se hoje que somos cidadãos do mundo. Quanto à dimensão jurídica da cidadania, no entanto, esta afirmação, por mais rica que seja não é real. O planeta Terra está hoje loteado, geográfica e politicamente em Estado nação pela qual as condições de cidadania permanecem necessariamente atreladas a um destes espaços geopolíticos, caracterizados como soberanos e independentes. A garantia dos direitos de cidadania depende diretamente do ordenamento jurídico-político de um deste Estado-nação.

Nesse sentido, Corrêa (2003, p. 44) reforça que

O dilema da cidadania consiste justamente no fato de que suas condições jurídicas-politicas dependem de um determinado Estado territorial, enquanto as condições econômicas, das quais resultam os meios necessários para uma vida digna, se desterritorializam, sobrepondo-se às fronteiras dos Estados nacionais. As políticas públicas estabelecidas pelos governantes do país devem voltar-se para as demandas sociais de seus cidadãos. Os recursos financeiros, no entanto, controlados pelas elites globais, não se submetem a tais políticas, o que gera a grave crise por que passamos os Estados nacionais, especialmente no Terceiro Mundo.

Dentre o entendimento sobre cidadania expresso, nota-se que se deve encontrar amparo nas soluções coletivas do Estado e na sociedade civil para se

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construir uma cidadania de fato, mas o que encontramos é uma dependência de capital da massa, ficando no controle os grupos da elite piramidal, pouco interessados na palavra cidadania.

Uma primeira aproximação a ser feita é sobre o que são movimentos sociais. À primeira vista, esta indignação parece ser desnecessária uma vez que os conceitos sobre os mesmos são de domínio público. Desse modo diriam: movimentos sociais são articulações da sociedade civil constituídas por segmentos da população que se reconhecem como portadores de direitos e que se organizam para reivindicá-los. No entanto, a pergunta pode levar a outras respostas quando se quer conhecer mais a fundo o fenômeno – dos movimentos sociais – que pode assumir diversas configurações dependendo de suas motivações, do lugar, do tempo histórico e da conjuntura em que se movem. Resulta que não convém confundir coletivos, organizações não governamentais, grupos, associação etc; ou mesmo qualquer forma de manifestação coletiva, com movimento social ou movimento popular, no sentido rigoroso da expressão. Por outro lado, há diferenciação entre movimento social – mais amplo – de movimento popular, aquele orgânico às classes populares, melhor dizendo subalternas, e que portam conteúdos emancipadores. Nessa perspectiva, protestos, motins, revoltas, entre outros, não necessariamente se constituem em movimento social ou popular (PERUZZO, 2013, p. 73 - 93).

Nas palavras de Cicilia M. Krohling Peruzzo (2013, p. 74), por exemplo:

Black Bloc, cujos componentes em geral agem em conjunto e usam máscaras negras, têm sido apontados como autores de ações violentas que culminaram em depredações do patrimônio público e privado. O Black Bloc é uma tática, não uma organização ou movimento social. O bloco forma-se ocasional e temporariamente, articula-se a partir de redes sociais virtuais, pelo que se tem visto até o momento, seus membros aproveitam a ocorrência públicas de movimentos sociais para as referidas ações de protesto. Uma manifestação pode ter, por exemplo, mais de um grupo Black Bloc. Atuam na base da ação direta, uma tática do protesto violento contra o capitalismo, o Estado e forças de organização e estruturas do poder. Podem desaparecer tão rápido quanto surgem. Depende do contexto político.

Segundo relatos de ativistas, os Black Bloc não contam com o apoio de nenhum movimento social, já que os mesmos são pacíficos, lutam pela paz e

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abominam a violência, tem como forma de ataque o diálogo, no Brasil aconteceu recuos de movimentos organizados por conta da violência gerada por tais grupos.

A ação direta desse tipo começou na Alemanha nos anos de 1980 em defesa de manifestantes nas lutas contra riscos ambientais pelas usinas nucleares (PERUZZO, 2013, p. 76).

3.1 Relação entre movimentos sociais e cidadania

No atual momento de transição paradigmática, muitos são os sinais a apontarem para uma preocupação generalizada com a crescente perda dos espaços públicos de cidadania. Em termos econômicos, cresce a sensação de insegurança quanto à sobrevivência digna. A instabilidade das relações econômicas no jogo do mercado vai afetando não só as camadas pobres da população, mas também significativos segmentos da classe média. Generaliza-se cada vez mais um sentimento de perda, não só no que se refere às condições materiais de uma existência digna, mas também no tocante de uma sociedade mais justa. Tal sentimento de perda estende-se igualmente à questão das identidades pessoais (CORRÊA, 2003, p. 48).

No bojo do processo de globalização esvaem-se valores e certezas, até pouco tidos como fundamentais. Numa sociedade essencialmente competitiva e consumista, razões substantivas como debates públicos, solidariedades coletivas e dignidade humana vão cedendo espaço para uma razão meramente operacional, cujo critério maior é ser eficiente no sistema. A razão pragmática, moldada pelos interesses dos que controlam o processo social em seu próprio favor, vai gradativamente minando as referências (CORRÊA, 2003, p. 48).

Vivemos em um momento no qual a mais-valia e a especulação tornam cada vez mais claras as misérias sociais e porque não dizer humana, escondendo atrás do capital a exclusão social das massas. Os meios de comunicação repetem imagens de assassinato, doença, drogas, mas não vem a se reportar o que inicia o ponto de partida deste reflexo caótico da sociedade. Qual o interesse existente nesta forma de comunicação de massas, de quem é o interesse nesta mais-valia ou

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excedente capitalista, das massas ou dos detentores do excedente, fica a reflexão o efeito disso tudo e que foi criado uma cultura da descrença dos meios políticos e democráticos.

No contexto da globalização acentuam-se de forma cada vez mais clara os sinais identificadores da perda das identidades e das raízes dos cidadãos. À medida que os espaços públicos da decisão e de debate deslocam-se dos territórios locais para as instâncias transnacionalizadas das elites globais, o cidadão comum vê-se perplexo e desamparado diante de um mundo de relações que lhe foge do alcance (CORRÊA, 2003, p. 48).

É o paradoxo de ser cidadão do mundo de uma realidade isolada, que lhe escapa de controle, conforme explica Corrêa (2002, p. 21):

O homem renuncia à sua consciência de sujeito capaz de julgar o mundo, para se render a um novo conformismo: o de admitir a mudança social, mas uma mudança que foge da alçada do homem. Importa ao sistema um sujeito padronizado, capaz de adaptar-se sem provocar conflito. Mas esse mundo contemporâneo fragmentado gera angustia, num império de signos sem significados, sendo o dinheiro o ultimo signo, o denominador comum.

Vivemos em um mundo confuso, onde ficamos conformados com a política em face de uma ética onde o comando ditatorial é imposto através da visão, ou seja, da mídia falada, escrita, onde a ordem diz que é proibido ser diferente, gerando reflexos e confusão a própria individualidade, onde nos submetemos a papeis ditatoriais das elites mundiais, classistas, gerando um abismo na construção da cidadania pela descrença da política.

Essa procura das origens da identidade comunitária e da solidariedade pessoal é a marca central da idade em que vivemos atingindo de maneira drástica, as formas de fazer política, as grandes construções universais vão cedendo espaços ao confinamento comunitário, a lógica dos princípios e das soluções abrangentes é substituída pela lógica dos procedimentos, das ações meramente operacionais com base na contingência e na mobilidade do jogo sempre provisório dos interesses particulares. Este jogo não obedece mais as leis da política clássica. Como fim da certeza da racionalidade moderna, das soluções fáceis para a construção da

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solidariedade coletivas, a nossa idade das redes e sua dimensão relacional de sistemas abertos aponta para a necessidade de se buscar um novo modo de fazer política (CORRÊA, 2003, p. 81).

Os esforços emancipatórios na luta por uma sociedade melhor, em que os espaços públicos de cidadania estejam acessíveis a todos, segundo Corrêa (2003, p. 50):

está a exigir uma nova normatividade, calçada no chão das lutas sociais, a ser efetivada pela participação plural ou multicultural dos agentes sociais. Então a produção de novos sentidos, sinalizaram novos espaços emancipatórios, ensejará o surgimento de redes de solidariedade de irradiação translocal em favor de uma ética de inclusão social capaz de alijar do meio social a lógica da descartabilidade do ser humano.

O novo Leviatã anglo-americano, com tentáculos bem mais sofisticados e perversos, escancara a falência da concepção moderna de cidadania, ou seja, os seres humanos, individualmente considerados construindo conjuntamente as solidariedades coletivas. Os “cidadãos” do novo império passam a ser as poucas, mas grandes, corporações que traçam os rumos da economia mundial em seu próprio favor, alijando sempre mais dos espaços de cidadania a esmagadora maioria dos que povoam as periferias do sistema (CORRÊA, 2003, p. 81).

Cabe, portanto, à cidadania, enquanto processo de construção de espaços públicos, formular um novo contrato social de cunho emancipatório, e tendo como princípios fundantes a ecologia, a solidariedade participativa e a inclusão social. Espaços públicos de vida digna constroem-se paulatinamente por meio de frentes comuns de combatividade solidária, aptos a transformarem as lutas locais e regionais em momentos de um processo maior, tendo como horizonte de sentido a partilha dos espaços sociais de que os cidadãos necessitam para a realização coletiva de suas identidades e diferenças (CORRÊA, 2003, p. 81).

Um movimento social pressupõe a existência de um processo de organização coletiva e se caracteriza pela consistência dos laços, identidades compartilhadas, certa durabilidade e clareza não só no uso de táticas mobilizadoras, comunicativas, mas também nas estratégias, como aquelas envolvendo um projeto amplo da

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sociedade, ou pelo menos propostas de programas para determinados setores. Os movimentos de mulheres, por exemplo, têm muito claras a metas a serem alcançadas a médio e longo prazo: igualdade de gênero e a conquista de todos os direitos de cidadania (PERUZZO, 2013, p. 81).

Os movimentos se caracterizam por categorias a partir de fatores que o motivem sua razão de ser, segundo Peruzzo (2013, p. 163):

movimentos vinculados a melhoria das condições de trabalho e de remuneração, os que defendem os direitos humanos relativos a segmentos sociais a partir de determinadas características de natureza humana, aqueles voltados a resolver problemas decorrentes das desigualdades que afetam grandes contingentes populacionais.

Com base no pensamento dos autores constatamos que a cidadania em uma questão política, maculada por um imperialismo onde interesses sobre o petróleo e o poderio militar estão acima da dignidade humana, os movimentos sociais vem com um novo conceito, fugindo de conceitos que antes pregavam os movimentos por ideologias em função da mudança da ordem, hoje eles ocorrem em protestos por melhorias no ordenamento, modificando parcialmente, não necessariamente toda ordem imposta e podem acontecer a qualquer momento ocasionando um novo fenômeno sociológico

3.2 Movimentos sociais e a nova forma de construção da cidadania no Brasil

Manifestações que coloriram vários países, do mundo árabe à Europa e aos Estados Unidos, demoraram em eclodir no Brasil, mas, finalmente, chegaram com o outono de 2013 para mudar as cores da política por meio de uma espécie de democracia direta: nós por nós mesmos. É a população que vai às grandes avenidas em passeatas, sem lideres ou organizações que pudessem assumir o protagonismo. O conformismo parecia ser mais profundo do que se imaginava possível, dado o histórico de um País que desde antes do fim da ditadura militar mobilizava-se e se organizava nas entranhas das bocas e vielas, na cidade e no campo, e soube até provocar o impeachment de um presidente da República. Contudo tais manifestações não foram convocadas nem lideradas pelas forças tradicionais de representação política como sindicatos e partidos políticos (PERUZZO, 2013, p. 77).

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As grandes manifestações públicas recentes no Brasil mostram-se políticas, no sentido amplo, pois se expressam em forma de protestos e de reivindicações por mudança em áreas nevrálgicas da vida nacional e por políticas públicas de interesse social. Multidões somaram-se em mais de um milhão de pessoas num único dia, o 20 de junho. As forças de segurança do Estado agiram com violenta repressão, demonstrando, em certos momentos, inabilidade em lidar com esse tipo de manifestação popular. Em meio a palavras de ordem, como sem violência, esta violência marcou as manifestações, num primeiro momento pacificas, e provinha tanto da força policial quanto dos grupos manifestantes (PERUZZO, 2013, p. 73-93).

Para compreender essas manifestações, nos ensina Peruzzo (2013, p. 74-94),

os novos movimentos expressam, entre outras, também lutas antigas dos movimentos sociais populares e, por outro, não anulam os demais, como os movimentos comunitários, os de mulheres, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), e assim por diante. No conjunto houve uma mescla de segmentos de classe e tendências político-ideológicas: de esquerda, liberais, conservadores, grupos com conotação, gente que quer mudar o Brasil. Outro aspecto dessa diversidade é a forte presença da juventude, uma juventude que ajudou a convocar e aderiu às manifestações pelas cidades brasileiras e que manifestou sua indignação e se comunicou de diferentes maneiras, do celular à internet [milhões de acessos e “curtir” no Facebook, Twitter, YouTube], dos símbolos usados [a máscara pop de Guy Fawkes do flime V de vingança] aos cartazes escritos à mão. São diferentes formas de participar, difundir mensagens e de ganhar visibilidade também na televisão convencional e demais meios de comunicação.

Os sentidos das mobilizações que tomaram conta do espaço público urbano, grossos modos confluíram-se diante das condições de sofrimento e carências que afetam grandes contingentes da população brasileira. Representam um grito por mudanças, a partir das difíceis condições de vida cotidiana das classes pobres, do desencanto com a política e com os governos e sutilmente (e não de forma majoritária) com o próprio modo de produção capitalista. Uma mistura de motivações surgiu em cartazes em falas de indivíduos com a denúncia sobre o alto preço do aluguel, a corrupção, a necessidade da reforma política, a melhoria no atendimento à saúde pública, contra a PEC 37 (Proposta de Emenda Constitucional que retirava os poderes de investigação criminal do Ministério Público), contra a FIFA pelos custos e os impactos causados com as obras em função da Copa do Mundo de

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2014, contra o aumento do preço do transporte coletivo em São Paulo, contra figuras de políticos então em destaque, contra a discriminação da homossexualidade, contra os meios de comunicação, entre outras (PERUZZO, 2013, p. 80).

Os gritos de guerra: Sem violência; Olha que legal, Brasil parou e nem é

carnaval e Copa do mundo eu abro mão, quero dinheiro prá saúde e educação

foram repetidos em coro. Tudo isso em meio à demanda pela redução do valor da passagem (em R$ 0,20 – vinte centavos) e do passe livre que foram as bandeiras que motivaram o início das manifestações, levantadas pelo Movimento Passe Livre, no início do mês, mas que tardou a ceder a visibilidade para as outras, como as já mencionadas. Contudo convém frisar que nos anos de 2006, 2010, 2011, também ocorreram denúncias e protestos no mesmo sentido, convocados pelo referido movimento, mas que primeiro a adesão foi restrita – como o foi também no primeiro momento deste junho – segundo, não houve vitória nos anos anteriores quanto à anulação do aumento da tarifa como ocorreu em 2013 (PERUZZO, 2013, p. 81).

O movimento social do outono brasileiro colocou em xeque os governos, os serviços públicos, a política, os meios de comunicação, e num segundo momento e por vias transversais, o próprio capitalismo. A primeira reação dos representantes dos governos, da política partidária e dos meios de comunicação não foi a de reconhecer as demandas como legítima, mas sim a de desqualificar o movimento. A violência policial consentida e justificada pelo Estado, as coberturas noticiosas e a edição de conteúdos para enfatizar o lado grotesco ou para avaliá-lo segundo viés conservador e autoritário ou, no mínimo mal informado, irritaram os manifestantes. Mas as ruas também deram um recado insistindo no direito de manifestação, e mostrou a mídia seu descontentamento por meio do incêndio de um carro de reportagem de uma rede de televisão (no dia 18 de junho), além de críticas a jornalistas e impedimentos de filmagens no meio de passeatas (PERUZZO, 2013, p. 82).

A reação em decorrência da pressão de multidões nas ruas foi de atendimento às reivindicações, com a anulação do aumento da tarifa do transporte, no poder público as respostas vieram, com a promessa de convocar uma reforma política (o que foi minado pelas forças partidárias de oposição ao governo federal e

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