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Com o intuito de sintetizar algumas informações, elaborou- se a Tabela 2, que apresenta os principais objetivos, abordagens e avaliações listados pelos professores entrevistados.

Tabela 2 - Síntese dos objetivos, abordagens e avaliações conduzidos pelos professores.

Sujeito de pesquisa

Objetivos Abordagens Avaliações

P1 - Física para lidar com problemas do dia-a-dia; - Perceber a relação entre os fenômenos. - Aula expositiva - Utilização de vídeos - Simulação - Prova - Trabalho - Observação (nota de participação) P2 - Desenvolver a criatividade, racionalidade e a memória - Elementos virtuais - Simulação - Experimentação - Documentários - Histórico-cultural - Produção de textos - Relatório de experimentos - Relatório sobre vídeos - Apresentação de trabalho P3 - Aplicação no cotidiano - Aula expositiva - Simulação - Prova escrita - Teste oral (não é atribuída nota ou conceito) P4 - Aplicação no cotidiano - Aula expositiva - Experimentação - Simulação - Prova - Apresentação de trabalho (eventual) P5 -Entender a natureza - Aula expositiva - Experimentação - Prova - Apresentação de trabalho (eventual) Fonte: elaborada pelo autor (2017).

Os objetivos elencados pelos professores estão enquadrados nas categorias definidas por Gleiser (2000) e Fernandes e Filgueira (2009) com relação ao porquê estudar Física. Prepondera a ideia de integração com a natureza, ou seja, “o conhecimento em Física permite aos indivíduos compreender e explicar fenômenos naturais presentes ou não no seu dia-a-dia bem como o funcionamento de máquinas e aparelhos elétricos”:

45 “Eu procuro sempre pensar que as pessoas precisam às vezes de conhecimentos assim básicos para lidar com os problemas do, do dia assim, do dia-a-dia assim.” (P1) “Porque [...]se não tem uma aplicação prática para eles ver, então acho que não vale a pena nem entrar no assunto. Eu sempre tento buscar, a pergunta inicial é sempre usando alguma coisa que eles usam no dia-a- dia, por exemplo, a última aula que eu tive com o segundo ano foi troca de calor, daí eu usei as aplicações, tipo a geladeira, as caixas de isopor, porque que usa caixa de isopor e não caixa de metal, sabe? Tentar uma aplicação para a vida deles.” (P3)

“É que uma coisa muito mecânica e aí tu acaba esquecendo com o tempo se tu não acaba vendo aplicação naquilo.” (P4)

Outra categoria que aparece, mas somente com um dos sujeitos de pesquisa, é a ideia do desenvolvimento do raciocínio:

“Então eu trabalho numa linha transdisciplinar, ou seja, a Física é apenas um instrumento, né, como eu considero todas as demais disciplinas como instrumentos, para desenvolver esses três aspectos principais da intelectualidade humana, da inteligência humana, que é a memorização, a criatividade e a racionalidade. No caso da Física, mais a racionalidade, no aspecto teórico, né, experimental, e como é um ensino médio público, né, a criatividade é menos enfatizada, que seria uma Física mais aplicada e voltada para a tecnologia.” (P2)

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Com relação à abordagem, com exceção do sujeito de pesquisa P2, é possível concluir que prevalece o emprego da aula expositiva. Observa-se, no entanto, uma procura pela diversificação das abordagens empregadas em sala de aula:

“Eu tenho assim cada vez mais tentando variar mais/um pouco mais assim as aulas, assim. É:: que só as aulas expositivas assim…. É:: Então eu trago vídeos, agora eu estou trazendo.” (P1)

“Eu uso/eu sou bem, como é que posso dizer, tradicional. [..] Só que eu sempre tento buscar, a pergunta inicial é sempre usando alguma coisa que eles usam no dia-a-dia.” (P3)

Essa procura pela diversificação da abordagem já foi apontada no trabalho de Rezende e Oestermann (2005), todavia, os professores enfrentam algumas dificuldades para mudança, tal como falta de tempo para planejamento, falta de conhecimento ou insegurança.

Relativo à avaliação, é possível perceber que a prova ainda é o instrumento de avaliação mais utilizado pelos professores, conforme pôde ser constatado também no trabalho de Raposo e Freire (2008), Rosa, Darroz e Marcante (2012) e Silva et al. (2016). Os motivos elencados pelos professores para essa realidade estão relacionados a exigências das escolas e concursos:

“A coisa mais absurda que existe na educação brasileira, que vai contra toda a educação no mundo inteiro, é a prova sem consulta e o argumento chulo de que os concursos públicos não têm consulta.” (P2)

“Prova é um requisito obrigatório, né, uma prova escrita. A escola obriga a gente a fazer uma prova escrita” (P3).

47 “Eu não gosto muito das tradicionais, eu tento variar um pouco delas. Mas tem algumas delas sim, tanto por causa que o vestibular cobra elas então têm que/tento remeter um pouco da realidade para o vestibular, por causa que, querendo ou não, o foco deles é o vestibular, direta ou indiretamente”. (P4)

“É mais a prova, porque pela legislação a gente tem que usar prova, avaliação.” (P5)

Assim como observado por Silva et al. (2016), apesar de os professores descreverem outros instrumentos avaliativos, percebe-se a valorização prioritária das provas e trabalhos, principalmente com relação à composição da nota do aluno, exigida pelo sistema:

“Seria uma/seria uma/tipo a nota de participação que a gente chama né. A nota de participação na aula essa questão da observação. Então daí eu penso assim, ah o/ele questionou, ele perguntava, ele.. então. Por exemplo o estudante que ficava no celular, rindo, brincando, esse não ganha, né” (P1) “Mas eu sempre consigo avaliar eles com um teste oral, tipo, não necessariamente uma prova valendo nota oral, mas na hora que eu pergunto alguma coisa e ele sabe responder, eu vejo que está no ponto certo: tá, ensinei legal então. Mais uma prova oral do que uma prova escrita.” (P3)

Quer seja prova ou outros instrumentos avaliativos, uma análise que pode ser realizada é a forma como o mesmo é empregado, ou seja, se ele está em consonância com os objetivos e as abordagens utilizadas pelo professor. Para avaliar isso, é necessário um aprofundamento nas respostas dadas pelos professores.

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Com relação aos objetivos, a Tabela 3 relaciona os objetivos citados e a descrição das avaliações pelos entrevistados. A última coluna da tabela indica se o docente costuma estabelecer essa relação ou não.

Com relação à abordagem, a Tabela 4 relaciona as abordagens citadas e a descrição das avaliações pelos entrevistados.

49 Tabela 3 - Relação entre objetivos e avaliação.

Descrição dos objetivos Descrição da avaliação Relação Porque se não (ele) também

não faz essas continhas, não faz nada, mas, para mim, eu foco mais nas habilidades deles assim, do que..., (na habilidade) no sentido mais amplo assim de lidar com esse pensamento do que que é a Física assim (P1)

Duas para fazer continhas, duas para eles pensar em alguma coisa que/sugerir uma solução de um problema, nesse sentido assim. (P1)

Sim

Desenvolver os três aspectos principais da formação intelectual humana, que é a criatividade, a racionalidade e a memória (P2)

Sempre eu primo pela maiêutica, ou seja, nunca dar a resposta, deixar que eles busquem as respostas. Quando se trata de um exercício do livro, por exemplo, do mesmo assunto, a questão do pensamento do Newton, por exemplo, e do Einstein, tem um texto no livro, eles leem o texto, relacionam com os conteúdos do livro que já foram passados virtualmente, e tentam responder àquelas questões sempre consultando, ou o caderno, onde eles tem os registros, algumas sínteses do registro visual, e o livro, para eles mesmos tentarem concluir sem a minha indução. (P2)

Sim

O objetivo que eu sempre busco é contextualizar porque que a gente está vendo isso, onde que a gente aplica na vida, tipo no dia-a- dia assim. (P3)

Até as questões das avaliações eu costumo usar um exemplo do cotidiano, da prática assim. (P3)

Sim

Eles tem que saber o mínimo sobre o assunto sobre aquilo de lá de forma que eles consigam trazer para a realidade deles (P4)

Eu não gosto muito das tradicionais, eu tento variar um pouco delas. Mas tem algumas delas sim, tanto por causa que o vestibular cobra elas então tem que/tento remeter um pouco da realidade para o vestibular, por causa que, querendo ou não, o foco deles é o vestibular, direta ou indiretamente.(P4)

Não

Entender a natureza, entender qual é o impacto que a natureza tem sobre a vida de cada um. (P5)

(Questões) bem parecida com o livro didático (P5).

Não

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Tabela 4 - Relação entre abordagens e avaliação. Descrição das abordagens Descrição da avaliação

É... Eu tenho assim cada vez mais tentando variar mais/um pouco mais assim as aulas assim. É... que só as aulas expositivas assim. É... Então eu trago vídeos, agora eu estou trazendo. (P1)

Então eu trago vídeo, tipo eu trago simulação, trago exercícios (P1)

No vídeo acho que é mais/a intenção é buscar nos vídeos, é... vídeos assim que é para introduzir os assuntos e tentar despertar pergunta neles, curiosidade, do que se trata o assunto assim, nesse sentido assim. Falo para eles assim: "Ó, vocês prestem atenção no vídeo e anotem as perguntas e as curiosidades que vocês pensarem, pode ser qualquer coisa, vale qualquer coisa" (P1)

Ah! Sim, sim. Uhum. (sobre colocar na prova

algum ponto que foi discutido no vídeo) (P1)

A minha metodologia, ela é eclética. Ela é essencialmente virtual, eu faço bastante experimentos na tela, né, na forma de projeção, laboratórios, experimentações, simulações, passo bastante documentários específico, né, dos maiores físicos do mundo, que saíram da sala de aula para apresentar uma Física diferente. Trabalho com livro também, algumas vezes, mas focando sempre a parte conceitual. É... mas histórico-cultural do que físico-matemática, na medida em que eles têm bastante dificuldade e uma formação deficiente na área de cálculo. (P2)

Produção de textos, relatórios de

experimentos, as avaliações são sempre com consulta, né, visando, na verdade, o entendimento deles, não aquilo que eu julgo que eles tenham entendido, mas aquilo que eles realmente entenderam e que eles tentam passar para mim através dessas avaliações, seja um texto, seja relatórios de vídeos, de documentários, de experimentos

laboratoriais. (P2)

Eu uso/eu sou bem, como é que posso dizer, tradicional. Tipo, eu não sou contra o uso de simulação, eu até gosto de usar simulação, só que eu sempre tento buscar, a pergunta inicial é sempre usando alguma coisa que eles usam no dia-a-dia (P3)

Até as questões das avaliações eu costumo usar um exemplo do cotidiano, da prática assim. (P3)

Não necessariamente. As outras vezes que eu usei a simulação em sala foi para

complementar o que eu estava falando e para ter uma imagem, para eles conseguirem visualizar de uma maneira mais abstrata. (P3)

Algumas expositiva, expositiva mais tradicional, mas faço algumas simulações, experimentação também faço em sala de aula. (P4)

Eu tento colocar. Eu tento, tento... Não... Ele pode não ser o foco, mas ele vai estar ali.

(sobre colocar na prova questões sobre o experimento realizado) (P4)

Sempre quando tem oportunidade, e eu vejo que é necessário fazer algum experimento, eu utilizo. Mas a maior parte é aula expositiva. (P5)

Geralmente quando eu realizo o experimento, eu peço algum relatório, as impressões que tiveram sobre o experimento. Então não é usar o experimento em si só por nada. Tem um objetivo. (P5)

51 A relação que os professores estabelecem entre objetivos e avaliação é mais direta do que entre abordagens e avaliação. Isso ocorre em função da ampla utilização da abordagem tradicional. Quando se utiliza um elemento diferenciado, a incorporação na avaliação é superficial e está mais ligada ao fato de o estudante precisar reconhecer sua importância.

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