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De forma análoga se diz a Aliança que se estabeleceu entre o Espírito Santo e a Virgem Maria e se concretizou no Mistério da Encarnação, modelo da união nupcial do Amor de Deus com a Humanidade426. Mais ainda, é fonte e fundamento da Maternidade universal de Maria427, da relação indissolúvel, primeiro, de Maria com Cristo no momento da Encarnação e, segundo, do permanente vínculo materno que se estabeleceu entre Maria e a Igreja no momento do nascimento da Igreja no Cenáculo de Jerusalém428.

422

Cf. Y. CONGAR, El Espíritu Santo, 415. 423

Esta cristologia em nada contradiz à cristologia clássica do dogma de Calcedónia e se baseia em duas premissas: 1º não podemos separar a cristologia da soteriologia e 2º a obra de Deus é histórica, acontece no tempo. Cf. Y. CONGAR, El Espíritu Santo, 598-607; COMISIÓN TEOLÓGICA INTERNCIONAL,

Cuestiones selectas de Cristología, in Documenta (1969-1985), 254 – 306; A. ARANDA, Estudíos de pneumatología.

424

Cf. C. IZQUIERDO, El Espíritu Santo en la Historia. Dimensiones de la teología fundamental, in J. JOSÉ ALVIAR (ed. lit.), El tiempo del Espíritu: hacia una teología pneumatológica (Pamplona: Ediciones Universidad de Navarra 2006) 73.

425

JOÃO PAULO II, Audiência Geral de 28 de março de 1990, 778. 426

Cf. L. MATEO-SECO, Juan Pablo II: Una lección de Pneumatología, 202. 427

Cf. I. VARANDA, Legado mariano de João Paulo II. A maternidade universal de Maria, in Ciclo

de estudos sobre O Legado do Pensamento de João Paulo II (Coimbra: Editora Gráfica de Coimbra 2006)

199-220. 428

Cf. JOÃO PAULO II, Carta Apostólica A Concílio Constantinopolitano I (25 de março de 1981) 8, in AAS 73 (1981) 523.

Com esta visão de fé da Maternidade de Maria e da Epifania de Deus, com esta estrutura e coerência interna entre a consideração do Espírito Santo em Si e da Sua ação na História salvífica, a Pneumatologia magisterial de S. João Paulo II ilustra bem não só os dois Mistérios altamente significativos e intimamente ligados por obra do Espírito Santo429. Além disso, oferece-nos uma visão personalista e trinitária da Revelação e impulsiona-nos a olhar e compreender, por um lado, o Mistério da Encarnação como o encontro entre o Céu e Terra, a Aliança entre o Amor divino e o amor humano, segundo a qual se dá a “troca admirável” entre o Criador e a criatura, o prelúdio da divinização do homem e da mulher430

. Por outro, impulsiona-nos a olhar e a não restringir, reduzir a Maternidade de Maria somente ao Mistério da Encarnação, ao contexto dogmático, mas a alargá-la ao próprio horizonte do Mistério da Redenção, pois, de outra forma, por mais sublime que seja a dignidade da maternidade divina de Maria como Mãe de Deus (Theotókos), a relação puramente pessoal e particular de Maria com Cristo, essa relação nada teria a ver connosco431. Aliás, a união íntima do Espírito Santo com Maria, ajuda-nos a compreender que a Maternidade humana de Maria na Encarnação se prolonga em Maternidade espiritual na Redenção, o que significa Maternidade no Espírito Santo, visto que no sim da Encarnação, Maria, Mãe de Deus, dá Cristo ao Mundo e no sim da Paixão, no Calvário, Cristo dá à Igreja e ao Mundo Maria como Mãe. Com efeito, esta Aliança «Espírito Santo / Maria» ajuda-nos a compreender que «nunca devemos separar aquilo que Deus uniu: «Maria e o Espírito Santo»432. Pois acolher Maria significa abrirmo-nos ao Espírito Santo, reconhecer que cabe-nos a nós abrir, na fé, o nosso coração ao divino artífice da Encarnação. É necessário dar mais espaço e uma expressão mais digna ao culto do Espírito Santo a fim de construir a civilização do amor, superando divisões e tendências, as tentações de vingança e ódio e o fascínio perverso da violência.

A Pneumatologia magisterial de S. João Paulo II não conduz de modo nenhum à rejeição do culto, da religiosidade popular e da espiritualidade mariana. Mas, pelo contrário, esclarece a sua natureza e apresenta a experiência mariana da Igreja precisamente como um dos meios privilegiados através dos quais o Espírito Santo pode guiar os corações ao encontro de Cristo. De facto, só o Espírito Santo pode revelar, estimular, e conduzir o Povo de Deus, sob a orientação de seus pastores, a conhecer, a amar e a entrar na «escola

429

Cf. I. VARANDA, Legado mariano de João Paulo II. A maternidade universal de Maria, 206-212. 430

Cf. L. J. SUENENS, O cristão no limiar dos novos tempos (Lisboa: Editora Paulinas 1998) 64-73. 431

Cf. I. VARANDA, Legado mariano de João Paulo II. A maternidade universal de Maria, 212. 432

de Maria»433, a aprender a ler os sinais de Deus na História e a adquirir a sabedoria que faz que cada homem e cada mulher sejam construtores da nova humanidade434. Deste modo, a Pneumatologia magisterial de S. João Paulo II não só está muito atenta à teologia ortodoxa, para a qual a constante referência à pessoa e à função de Maria na Obra da Salvação é fulcral, mas também às vozes dos protestantes que questionam se não se estará a usurpar o lugar do Espírito Santo na vida cristã, a substituir o Espírito por Maria na Igreja Católica435, como inclusive, ao diálogo ecuménico, abrindo uma porta por donde podem entrar todos os cristãos436. As catequeses pneumatológicas ajudam-nos a situar corretamente a Mãe de Deus no plano histórico-salvífico da Santíssima Trindade. Consequentemente ajuda-nos a conhecer a eleição-vocação de todo cristão à santidade, a conservar o caráter central do Mistério de Cristo, a descobrir a figura e o rosto feminino e materno da ação eclesial e do papel da mulher na sociedade e na Igreja, bem como contemplar a amplitude, a profundidade e a fecundidade da mediação e da cooperação da Maternidade espiritual e universal de Maria na peregrinação da fé em ordem ao novo nascimento de Cristo no Mundo437.

4.5. A relação do Espírito Santo com o tempo da