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Capítulo II Família, Escola e Comunidade uma relação de

2.1. A relação família, escola e comunidade

“A interacção entre os pais e os professores tem por finalidades a socialização da criança, a sua iniciação da vida em sociedade e a preparação do seu futuro, pelo que é tempo de compreender melhor a relevância das relações entre a escola e as famílias”.62

Hoje em dia, tanto a família como a escola estão muito dependentes das características da sociedade que as rodeia e, como a sociedade, está em constante transformação, exige que a família e a escola se vejam confrontadas com dilemas no que respeita à educação. Os pais, cada vez mais, sentem que a vida em família tornou-se vulnerável e muito frágil e, por vezes, delegam na escola e nos professores a função de educar. Todavia, a escola também é alvo de adversidades, sofrendo com a influência do meio, que muitas vezes, não é favorável à própria escola. Neste sentido, família e escola devem unir esforços, a fim de levar a cabo a difícil tarefa de educar e de preparar as crianças/jovens para o futuro.

A escola deve ser vista como o prolongamento da família e, ambas, devem actuar em sintonia e intervir apostando numa abordagem sistémica que assente num trabalho de parceria. No entanto, o que se verifica é que tanto a família como a escola têm critérios, normas e valores, por vezes, diferentes o que dificulta a relação e o estabelecimento de parcerias entre ambas.

No que concerne à parceria, Christenson e Sheridan (2001, cit. por Costa e Matos, 2006) referem que existe um processo para criar uma parceria entre família-escola, o processo dos “Quatro AS – abordagem, atitudes, atmosfera e

acções”.63

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DIOGO, José, Parceria Escola – Família. A caminho de uma escola participada, Porto, Porto Editora, 1998, pág. 59; 63 COSTA, Maria Emília, MATOS, Paula Mena, Abordagem Sistémica do Conflito, Lisboa, Universidade Aberta, 2007, pág. 110;

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No que respeita à abordagem os autores referem que ela assenta na questão de como promover a parceria e apresentam alguns exemplos de como ela pode ser efectuada, passando pela necessidade de ver a participação dos pais como algo essencial, em vez de algo desejável; tomar consciência de que só através de uma relação de colaboração, com uma estrutura consistente, onde são partilhadas expectativas e aprendizagens, através do apoio mútuo e confiança é que se consegue um trabalho conjunto para o desenvolvimento do aluno; promover uma harmonia entre a escola e a família respeitando as especificidades de cada um dos sistemas; e a existência de comportamentos de colaboração que desenvolvam a comunicação bidireccional.

Relativamente à atitude, os autores destacam a importância da colaboração e o facto de esta envolver igualdade (saber ouvir, respeitar e aprender com o outro) e a paridade (partilha de conhecimentos, competências e ideias) onde através de um compromisso de interdependência, tanto os pais como os professores dividem responsabilidades e direitos. Segundo Christenson e Sheridan (2001), as atitudes são as formas mais poderosas para uma parceria eficaz, no entanto torna-se fundamental que exista uma abordagem conjunta dos problemas, evitando assim juízos e conclusões precipitadas; é necessário promover uma ideia positiva acerca dos pais e dos professores, pois ambos são co-professores e co-aprendizes; é indispensável apresentar uma visão sistémica dos problemas onde a tríade pais, alunos e escola fazem parte do problema; e torna-se imprescindível estimular os pais para que tenham um envolvimento mais activo durante a idade escolar – informando-os, convidando- os e incluindo-os.

Quanto à atmosfera ela aposta na criação de um clima facilitador e no estabelecimento de uma relação de confiança entre pais e professores onde existe um código comunicacional comum que dê sentido ao quanto se é importante para a escola, podendo este expressar-se na criação de eventos ou encontros formais e informais, que sejam potenciadores de uma relação mais próxima e que dilua barreiras. O fundamental é que os pais e professores se sintam acolhidos, próximos, optimistas, respeitadores e detentores de poder na

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resolução de problemas e busquem consenso, assumindo a comunicação um papel de abertura e honestidade.

Por último, temos as acções em que os autores indicam que elas têm por base a política escolar e defendem que esta deve ser “flexível, apoiante e

securizante”64 necessitando, muitas vezes, de um mediador ou actor social, podendo caber, muitas vezes, esse papel aos interventores comunitários que têm uma visão global acerca do território. Neste sentido, torna-se fulcral constituir equipas de trabalho onde estejam presentes elementos da escola e da família; desenvolver acções potenciadoras de competências para a resolução de problemas e a parceria; desenvolver a comunicação e a relação; que os conflitos sejam identificados e abordados de forma sistémica; e por último, mas não menos importante o apoio às famílias.

Para que haja uma interacção entre o sistema familiar e escolar é fundamental que se promova a comunicação. Por sua vez, o que prevalece em muitas das escolas é que os pais só são chamados quando os filhos têm mau comportamento. A escola deve comunicar com os pais e pô-los ocorrentes de tudo o que se passa, quer no contexto escolar quer com os seus filhos, pois só assim é que os pais sentir-se-ão como elementos integrantes da orgânica escolar. Neste contexto, Perrenoud (2001) defende que “família e escola são

duas instituições condenadas a cooperar numa sociedade escolarizada”.65

A escola não deve substituir a família, mas a família também não pode demitir-se das suas funções e fazer da escola um local de “depósito” ou “armazém”. O fundamental é que se promova hábitos de interacção e cooperação entre os dois agentes educativos. Para Dourém (1996, cit. por Antunes, 2009):

“a escola é, hoje, chamada a cumprir a sua missão em estreita colaboração com os pais, com vista a facilitar o processo de inserção social dos filhos. De facto, quando a escola valoriza a criança, valoriza ao mesmo tempo, o trabalho empreendido, de início pelos pais. Isto mostra como é importante o papel de reforço desempenhado pela escola perante práticas familiares em educação: a escola consagra ou elimina o sentido profundo da obra empreendida no seio da família. Daqui resulta que as competências de uns e de outros, pais e professores

64

Ibidem, pág. 112; 65

PERRENOUD, Philippe, (2001). Entre a Família e a Escola, a Criança Mensageira e Mensagem – O go-between, in Montadon, Cléopâtre & Perrenoud, Philippe. Entre pais e professores, um diálogo impossível?, Oeiras, Celta Editora, 2001, pág. 30;

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devem ser reexaminadas enquanto forças a mobilizar no sentido de uma cooperação activa”.66

As relações estabelecidas entre a escola e a família assumem características muito diversas que podem variar de acordo com os grupos sócio-culturais que frequentam a escola, como também pelo tipo de posição que os professores e a escola assumem no âmbito das suas acções. A relação pais/escola é fundamental e a colaboração entre ambos os contextos não pode estar confinada a contactos pontuais ou a aspectos negativos da relação, aqui supõem-se a partilha de responsabilidades educativas, numa relação de carácter sistémico que tem que ser interiorizada. Segundo Antunes (2009), a relação entre pais/escola e vice-versa deve “ser autêntica, exigente, que

corresponda a uma acção educativa comum dos pais e da escola em todas as dimensões da pessoa. Aos pais não compete apenas ouvir e informar, cumpre- lhes decidir em comum com os outros actores educativos sobre o presente e o futuro da educação”.67

2.1.1. Família e Escola – Contextos Facilitadores do

Desenvolvimento Saudável

Em cada etapa do desenvolvimento da criança e do adolescente existem especificidades que englobam a necessidade de adaptação por parte dos pais. Por sua vez, desta adaptação surge a interacção entre pais e filhos e a interacção destes com o meio físico e social, sendo exemplo a escola.

Segundo Barros, Pereira e Goes (2008), a família e a escola são contextos facilitadores do desenvolvimento saudável durante a infância e adolescência, havendo entre eles características que “aplicam-se tanto à família, como

principal contexto de desenvolvimento, como à escola, um contexto central durante a idade escolar e adolescência, que deve complementar a família e, quando necessário, compensar algumas das lacunas e vulnerabilidades da família”.68

66

ANTUNES, Lara Carmélia de Sousa, A Família e a Escola – Dissertação de Mestrado em Sociologia da Infância, Braga, Universidade do Minho, 2009, pág. 41;

67

Ibidem, pág. 42;

68 BARROS, Luísa, PEREIRA, Ana Isabel e GOES, Ana Rita, Educar com Sucesso – manual para técnicos e pais, Lisboa, Texto Editores e EPIS – Empresários Pela Inclusão Social, 2008, pág. 85;

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Face ao exposto, apresentamos no quadro que se segue as características inerentes aos contextos facilitadores do desenvolvimento saudável, segundo Eccles e Gootman (2001, cit. por Barros, Pereira e Goes, 2008:85-86):

Quadro 1 - Características dos contextos facilitadores do desenvolvimento saudável

Característica Descrição

Segurança física e psicológica

Instalações seguras e promotoras de saúde, práticas que encorajam a interacção segura com os pares e diminuem interacções inseguras ou agressivas.

Estrutura apropriada

Estabelecimento de limites, regras e expectativas claras e consistentes, controlo e continuidade, limites claros e monitorização adequada à idade.

Relações de apoio

Calor, proximidade, sentido de pertença, boa comunicação, afecto, apoio, orientação, vinculação segura e responsividade.

Experiência de relações de

pertença

Oportunidades para a inclusão significativa, tais como a inclusão social, integração e compromisso social; oportunidades para a formação da identidade social.

Normas sociais positivas

Regras de comportamento, expectativas, injunções, modos de fazer, valores morais e obrigação de prestar algum serviço a outros (família, comunidade).

Promoção da auto-eficácia

Práticas que apoiam a autonomia e permitem “ser levado a sério”: atribuir responsabilidade e criar desafios adequados, práticas avaliativas centradas no aperfeiçoamento e não em níveis fixos de realização.

Desenvolvimento de competências

Oportunidades para aprender competências físicas, intelectuais, psicológicas, emocionais e sociais; exposição a experiências intencionais de aprendizagem; oportunidades para adquirir competências de comunicação, literacia cultural e proficiência no uso dos media e das novas tecnologias e preparação profissional.

Integração dos esforços da família, escola e

comunidade

Concordância, coordenação e sinergias entre família, escola e comunidade.

Fonte: in Eccles e Gootman (2001, cit. por Barros, Pereira e Goes, 2008:85-86), “Educar com Sucesso – manual para técnicos e pais”.

2.2. O Envolvimento e a Participação dos Pais na vida

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