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Capítulo II Família, Escola e Comunidade uma relação de

2.2. O Envolvimento e a Participação dos Pais na vida da Escola

2.2.2. Tipologias do envolvimento e participação dos pais

“As escolas devem ser promotoras de políticas/estratégias que possibilitem um maior envolvimento das famílias na vida escolar do filho. Os pais podem ser envolvidos de diferentes formas, cabe à escola proporcionar uma diversidade de modalidades de envolvimento parental na escola”.77

Joyce Epstein (1997) desenvolveu uma tipologia de colaboração escola- família-comunidade, composta por seis tipos de envolvimento, que pretende ajudar as escolas e as famílias a levar a cabo as suas responsabilidades partilhadas de educação e desenvolvimento da criança/jovem. Esta metodologia é considerada um importante instrumento de reflexão e acção para auxiliar professores, escolas e os agrupamentos a desenvolverem programas de envolvimento parental composto por desafios, desafios em que os resultados da colaboração estabelecida são diferentes para os alunos, os pais e a escola. No entanto, torna-se importante analisar em que medida a escola proporciona o envolvimento em cada uma das modalidades e reflectir se estas estão de acordo com as necessidades da escola e das famílias.

Segundo Marques (1994) os tipos de envolvimento parental defendidos por Epstein são:

76 Ibidem, pág. 134-135; 77 Ibidem, idem, pág. 148;

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“Tipo 1 – Ajuda da escola às famílias; Tipo 2 – Comunicação escola-família; Tipo 3 - Ajuda da família à escola;

Tipo 4 – Envolvimento da família em actividades de aprendizagem em casa; Tipo 5 – Participação na tomada de decisões e na direcção da escola; Tipo 6 – Colaboração e intercâmbio com a comunidade”.78

Ajuda da escola às famílias: compreende as funções parentais e tem como finalidade ajudar as famílias a estabelecer as condições (alimentação, saúde, segurança...) que são requisitos básicos para a aprendizagem, a desenvolver práticas educativas adequadas às necessidades das crianças e a compreender o desenvolvimento e as necessidades das crianças e adolescentes em cada período do desenvolvimento. Estas acções podem ser concretizadas através de acções de formação/informação para pais, do aconselhamento individual aos pais, de informação escrita e na prossecução de processos de encaminhamento para outros técnicos e instituições da comunidade.

Comunicação escola-família: diz respeito à comunicação estabelecida entre escola-família e vice-versa e traduz-se na troca de informações relativas aos programas escolares, à situação escolar dos alunos e às actividades desenvolvidas pela escola. Os canais de comunicação podem ser diversos e englobam as reuniões de pais, reuniões individuais com a família, contactos telefónicos, caderneta do aluno, boletins da escola e, mais recentemente, o envio de emails.

Ajuda da família à escola: engloba o envolvimento da família em actividades de voluntariado na escola. Estas acções contribuem para facilitar o contacto entre pais, professores e alunos, promovendo um melhor conhecimento entre todos. Algumas das actividades possíveis a ser realizadas para e com os pais passam pela organização e participação em acontecimentos festivos, colaboração em visitas de estudo, supervisão de recreios, no apoio à biblioteca e sala de estudo, dinamizar actividades de acordo com as suas profissões e os seus talentos, organização da ocupação educativa dos tempos livres e pela angariação de equipamentos, meios humanos e financeiros para a escola.

78 MARQUES, Ramiro, “Colaboração Família-Escola em Escolas Portuguesas: Um Estudo de Caso”, Inovação, Volume 7, Nº. 3, 1994, pág. 374;

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Envolvimento da família em actividades de aprendizagem em casa: compreende actividades em que a escola ajuda os pais a melhorar as suas competências de acompanhamento ao estudo dos filhos, aprendendo a monitorizar e a apoiar o seu trabalho escolar. Neste tipo de envolvimento a escola pode colaborar falando sobre a organização do local de estudo e factores de distracção a eliminar, além de ajudar a organizar um horário de trabalho/estudo, explicando as regras a que deve obedecer. Por sua vez, os trabalhos de casa e a realização dos mesmos devem incentivar os alunos a discutir e a interagir com a família sobre o que estão a aprender, mantendo as famílias informadas sobre as aprendizagens que os filhos vão realizando.

Participação na tomada de decisões e na direcção da escola: engloba as actividades em que os elementos das famílias não agem apenas relativamente aos seus educandos, mas como representantes dos pais, como acontece com as associações de pais ou os representantes dos encarregados de educação de uma turma. Nesta linha de pensamento Barros, Pereira e Goes (2008) indicam que:

“As famílias devem ser envolvidas nos processos de tomada de decisão, quer através da representação dos pais nos organismos da escola em que esta representação já está prevista, quer em grupos de trabalho criados para a resolução de problemas que visem a melhoria da escola. Isto pode ser concretizado se as escolas ajudarem na formação e manutenção das Associações de Pais (facilitando espaço físico, dando informações sobre os procedimentos necessários à sua formação, alertando para a sua importância, promovendo reuniões de coordenação com a direcção da escola, divulgando a sua existência), se procurarem cativar pais de todas os níveis socioeconómicos, etnias e diferentes grupos profissionais presentes na escola a fazerem parte das Associações e criarem grupos de reflexão sobre problemáticas-chave (por exemplo, problemas de falta de recursos, problemas de indisciplina, etc.), onde incluam representantes dos pais e também dos alunos.”79

Colaboração e intercâmbio com a comunidade: está relacionada o envolvimento da comunidade, assim é fundamental que a escola procure partilhar as suas responsabilidades e recursos com diferentes instituições e organismos locais (Câmara Municipal, Junta de Freguesia, Centro de Saúde, Instituições de Solidariedade Social e Associações recreativas e culturais), com o intuito de estabelecer parcerias. Para Barros, Pereira e Goes (2008) é importante manter as famílias e os alunos informados acerca das actividades e

79 BARROS, Luísa, PEREIRA, Ana Isabel e GOES, Ana Rita, Educar com Sucesso – manual para técnicos e pais, Lisboa, Texto Editores e EPIS – Empresários Pela Inclusão Social, 2008, pág. 157;

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recursos que podem encontrar junto da comunidade, como actividades de tempos livres, actividades culturais e recreativas, serviços sociais e de saúde; colaborar com diferentes entidades de forma a promover actividades de formação/sensibilização aos pais e aos alunos; desenvolver programas de ajuda comunitária; e promover a integração e transição dos alunos para outras instituições de ensino ou trabalho.

Face ao envolvimento e participação dos pais na escola, importa sublinhar que os programas de envolvimento parental devem iniciar pelo fortalecimento de laços comunicacionais. Alguns estudos comprovam que quando escola e família comunicam de forma eficaz:

“os pais têm mais probabilidades de estabelecer uma relação de confiança e um clima de cooperação com o professor e com a escola, as interacções entre a escola e a família aumentam, os pais percepcionam a escola e os seus profissionais de forma mais positiva, entendem melhor as políticas da escola e a acção dos professores, acompanham melhor os progressos da criança”.80

Carneiro (2001) sustenta que os pais devem ter uma participação mais activa na escola, só que:

“Não há fórmulas mágicas para mobilizar os pais para as questões que dizem respeito à educação e ao ensino e aumentar a sua participação em quantidade e qualidade na vida da escola. o direito de participação, como qualquer outro direito, acarreta um dever, o dever de participar. A democracia participativa não é algo para «os outros», mas para cada cidadão, ainda que seja «incómoda» para o próprio e possa «incomodar» terceiros”.81

Face ao exposto, o autor apresenta algumas iniciativas promotoras de uma maior participação e envolvimento dos pais na escola, destacando: desenvolvimento de espaços para que as autoridades ligadas à educação reconheçam a contribuição dos pais na escola, através de legislação apropriada, de referências públicas continuadas na comunicação social e de consideração pelo papel dos representantes das associações; concertação entre os pais e a escola no que se refere aos horários que melhor se adeqúem à participação de um maior número de pais; presença dos pais como parceiros, desde o primeiro momento, seja na elaboração do projecto educativo da escola, seja nas acções destinadas à sua concretização; assunção de

80 CANAVARRO, José Manuel de Albuquerque Portocarrero, “Envolvimento Parental na Escola e Ajustamento

Emocional e Académico – um estudo longitudinal com crianças do ensino básico”, Projecto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian – Projectos de Pesquisa Educativa no País – 2002, http://www.ese- jdeus.edu.pt/projectoepe/sug/sugestoes.html, 16 de Junho de 2011;

81 CARNEIRO, Roberto (dir.), “Aprender a Participar”, Educar Hoje – Enciclopédia dos Pais, Volume III, Janeiro de 2001, pág. 61;

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responsabilidades pelos pais, com valorização do seu contributo; divulgação das boas notícias sobre o comportamento escolar ou educativo; colaboração para resolver situações menos agradáveis em relação aos filhos e à disciplina escolar; contribuição nas diversas áreas da sua actividade sócio-económica, cultural e política e testemunho sobre as suas vivências e perspectivas; e a deslocação à escola, a fim de apreciarem os trabalhos ou representações dos seu filhos (peças de teatro, exposições, torneios desportivos, convívios em dias festivos), sendo desejável e eficaz o envolvimento dos próprios pais nessas actividades, ao lado dos filhos.

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