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Com relação aos grupos de fatores linguísticos e extralinguísticos que estariam condicionando a ocorrência das formas de

CAPÍTULO I – O FENÔMENO EM ESTUDO

FATORES APLIC./TOTAL PERCENTUAL RELATIVO PESO Discurso de

3. Com relação aos grupos de fatores linguísticos e extralinguísticos que estariam condicionando a ocorrência das formas de

tratamento mais frequentes nas peças de teatro florianopolitanas em cada período de 50 anos dos séculos XIX e XX, cabe, inicialmente, um esclarecimento com relação à opção metodológica a que se recorre nesta

86 pesquisa. Relações que autoras como Rumeu (2004), Machado (2006), Lopes e Duarte (2007) e Coelho e Görski (no prelo) controlaram como grupos de fatores complexos, classificadas como simétricas, assimétricas ascendentes e assimétricas descendentes, são desdobradas, aqui, em grupos de fatores socioestilísticos29 mais simples, como classe social, faixa etária, relações de intimidade, relações familiares e relações profissionais.

Especula-se que um movimento de ida e volta dos dados às variantes e às variáveis independentes seja necessário para se dizer quais das relações determinadas pelos grupos de fatores socioestilísticos30 são, de fato, simétricas ou assimétricas. Há a expectativa, com base em análises empíricas preliminares, de que as relações familiares de pai para filho e vice-versa, por exemplo, sejam mais assimétricas ao longo do século XIX; ao passo que no século XX, por conta das sucessivas mudanças por que têm passado a família e a sociedade (cf. BROWN e GILMAN, 2003 [1960]), devem se tornar mais simétricas.

Acredita-se, portanto, que não se pode estabelecer a priori que as relações familiares de pai para filho e vice-versa são assimétricas, como normalmente se faz em pesquisas cujo objeto de estudo são as formas de tratamento, porque as relações familiares, assim como as relações entre diferentes classes sociais, por exemplo, se modificaram substancialmente na virada do século XIX para o século XX, especialmente no que diz respeito às sociedades ocidentais democratizadas. Ainda assim, as hipóteses com relação aos grupos de fatores socioestilísticos levam em consideração os resultados de estudos anteriores.

Tendo feito essa observação, sobre os grupos de fatores extralinguísticos e sua relação com as formas de tratamento destacadas como mais frequentes em 4 diferentes períodos de 50 anos dos séculos XIX e XX, espera-se que:

29 A terminologia “sociestilístico” aqui adotada decorre da dificuldade, por conta da abordagem tomada como base teórica, Os pronomes de poder e solidariedade (BROWN e GILMAN, 1003 [1960]), de se estabelecerem fronteiras entre os fatores sociais e os fatores estilísticos. Nessa abordagem, a variação no indivíduo (ou seja, a variação estilística) decorre de grupos de fatores sociais aplicáveis a sua relação com o interlocutor. Ou seja, são controlados não apenas fatores sociais que estratificam o locutor e o interlocutor, mas também fatores que estratificam sua relação.

30 Os grupos de fatores socioestilísticos controlados nesta pesquisa são ‘sexo/ gênero’, ‘faixa etária’, ‘classe social’, ‘relações de intimidade’, ‘relações familiares’, ‘relações profissionais’, ‘ambiente’ e ‘audiência’. Eles serão detalhados na subseção 2.5.2.2.

87 • Nas peças de teatro florianopolitanas dos dois períodos de 50 anos que compõem o século XIX, relações simétricas e assimétricas descendentes, no que diz respeito aos grupos de fatores ‘faixa etária’, ‘classe social’, ‘relações familiares’ e ‘relações profissionais’, levem ao uso do pronome TU (cf. resultados de LOPES e DUARTE, 2003; e RUMEU, 2004; COELHO e GÖRSKI, no prelo). Com base em análises empíricas preliminares, espera-se que relações entre pessoas íntimas, relações entre pessoas do mesmo sexo/ gênero, ambientes informais e a ausência de audiência levem ao uso da forma TU;

• Nas peças de teatro florianopolitanas dos dois períodos de 50 anos que compõem o século XIX, relações assimétricas descendentes, no que diz respeito aos grupos de fatores’, ‘faixa etária’, ‘classe social’, ‘relações familiares’ e ‘relações profissionais’, levem ao uso das formas VOSSA EXCELÊNCIA e VOSSA SENHORIA (cf. resultados de LOPES e DUARTE, 2003; RUMEU, 2004; e LOPES e DUARTE, 2007). Com base em análises empíricas preliminares, espera-se que relações entre pessoas não íntimas, entre pessoas de sexos/ gêneros diferentes, ambientes formais e a presença de audiência levem ao uso dos tratamentos VOSSA EXCELÊNCIA e VOSSA SENHORIA;

• Nas peças de teatro florianopolitanas da primeira metade do século XX, relações simétricas e assimétricas descendentes, no que diz respeito aos grupos de fatores ‘faixa etária’, ‘classe social’, ‘relações familiares’ e ‘relações profissionais’, levem ao uso dos pronomes TU e VOCÊ (cf. resultados de MACHADO, 2006; e COELHO e GÖRSKI, no prelo). Com base em análises empíricas preliminares, espera-se que relações entre pessoas íntimas, entre pessoas do mesmo sexo/ gênero, ambientes informais e a ausência de audiência levem ao uso das formas TU e VOCÊ;

• Nas peças de teatro florianopolitanas da primeira metade do século XX, relações assimétricas ascendentes, no que diz respeito aos grupos de fatores ‘faixa etária’, ‘classe social’, ‘relações familiares’ e ‘relações profissionais’, levem ao uso da forma de tratamento O SENHOR (cf. resultados de MACHADO, 2006). Com base em análises empíricas preliminares, espera-se que relações entre pessoas não íntimas, entre pessoas de sexos/ gêneros diferentes, ambientes formais e a presença de audiência levem ao uso da forma O SENHOR.

• Nas peças de teatro florianopolitanas da segunda metade do século XX, relações simétricas e assimétricas descendentes, no que diz respeito aos grupos de fatores ‘faixa etária’, ‘classe social’, ‘relações

88 familiares’ e ‘relações profissionais’, levem ao uso do pronome VOCÊ (cf. resultados de MACHADO, 2006; e COELHO e GÖRSKI, no prelo). Com base em análises empíricas preliminares, espera-se que relações entre pessoas íntimas, entre pessoas do mesmo sexo/ gênero, ambientes informais e a ausência de audiência levem ao uso da forma VOCÊ;

• Nas peças de teatro florianopolitanas da segunda metade do século XX, relações assimétricas ascendentes, no que diz respeito aos grupos de fatores ‘faixa etária’, ‘classe social’, ‘relações familiares’ e ‘relações profissionais’, levem ao uso da forma de tratamento O SENHOR (cf. resultados e análises de RAMOS, 1989; MACHADO, 2006). Com base em análises empíricas preliminares, espera-se que relações entre pessoas não íntimas, entre pessoas de sexos/ gêneros diferentes, ambientes formais e a presença de audiência levem ao uso da forma O SENHOR.

• Nas peças de teatro florianopolitanas da segunda metade do século XX, espera-se que o tratamento ZERO apareça em todos os tipos de relações.

Com relação aos grupos de fatores linguísticos, espera-se que em todos os períodos o preenchimento do sujeito seja maior com formas de tratamento que carregam consigo uma forma verbal não marcada, como as FORMAS NOMINAIS, O SENHOR e a forma VOCÊ; diferentemente do que deve acontecer com o pronome TU, que deve apresentar mais ocorrências de sujeito nulo, já que sua forma verbal carrega desinência própria e o preenchimento do sujeito seria, portanto, uma redundância de marcas linguísticas. Com relação à concordância verbal, não se espera encontrar ocorrências, em nenhum dos períodos, de não concordância com as formas VOCÊ, ZERO, O SENHOR, VOSSA EXCELÊNCIA, VOSSA SENHORIA e FORMAS NOMINAIS, pois elas não têm marca verbal exclusiva. Já com a forma TU, espera-se que, se houver dados de não concordância, que eles ocorram a partir da primeira metade do século XX, quando o pronome TU começa a “competir” com a forma VOCÊ pela segunda pessoa do singular e os falantes possam “misturar” formas relativas a um ou outro pronome.

4. Com relação aos elementos sociais que constituiriam as