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1 OS INDICADORES DE GESTÃO EM SANTARÉM – PA

1.9 O Sistema Municipal de Ensino de Santarém e seus órgãos colegiados

1.9.5 Em relação às Unidades Educacionais

1.9.5.1 Conselho Escolar

Nas unidades educacionais temos os Conselhos Escolares que foram regulamentados pela Lei Nº 17.866, de 03 de novembro de 2004, que “dispõe sobre a gestão democrática do ensino público da rede municipal de ensino e dá outras providências”, posteriormente alterada pela Lei Nº 18.392 de maio de 2010.

Na lei de gestão Democrática, tanto a Lei 17.866/2004 quanto sua alteração por meio da Lei 18.392/2010 (Art. 27), mantém-se o diretor da escola como presidente do Conselho Escolar. Encontramos na Lei 18.392/2010 que “a diretoria executiva será presidida pelo diretor”, não dando chances ou facultando a outros membros o exercício da presidência do Conselho Escolar.

Este colegiado é composto por representantes da comunidade escolar e será responsável pela aprovação da prestação de contas do diretor, aprovara o plano de aplicação financeira da escola, analisar os resultados da avaliação interna e externa da escola e contribuir para a implementação das alternativas propostas para a melhoria do desempenho dos alunos.

Também encontramos o Regimento Escolar, instituído pela Resolução Nº 273 de 25 de junho de 2001, por ele se deduz, mais especificamente por causa do Capítulo II, Art. 15, inciso IV, que toda escola precisa ter seu Projeto Pedagógico de Escola e que, pelo Regimento, o diretor, necessariamente, tem de participar de sua constituição. Mesmo porque no modelo de gestão gerencial capacitado pelo Instituto Ayrton Senna, os diretores recebem “treinamentos” por meio de cursos que se coadunam com a política educacional orientada

pelo IAS, por isso que se depreende que a presença do diretor, juntamente com os técnicos pedagogos, é necessária para ajudar as concretizar nesse documento tais orientações adventícias.

1.9.5.2 Conselho de Classe

Pela legislação encontrada é possível observar que até mesmo a avaliação do processo ensino aprendizagem, tem uma regulação que extrapola a avaliação feita pelo professor que não é mais o que dá a palavra final sobre as condições de aprovação e reprovação do aluno. Estamos nos referindo ao Conselho de Classe que é tratado no Capítulo V, artigos 23 a 26. Este colegiado é composto por: I - todos os professores de uma turma ou série; II – representação dos alunos, nunca inferior ao número de professores; III – Corpo Pedagógico da Escola; e IV – Diretor ou seu representante. Quando esse colegiado está reunido, compete a ele, conforme seu Art. 25:

I – avaliar o rendimento da classe e confrontar os resultados de aprendizagem relativos aos diferentes componentes curriculares;

a) analisando os padrões de avaliação utilizados;

identificando os alunos e sua causa do aproveitamento insuficiente;

coletando e utilizando informações sobre as necessidades,interesses e aptidões dos alunos;

elaborando as atividades de recuperação, aproveitamento e compensação; II – Avaliar o comportamento da Classe;

comparando o relacionamento da Classe com diferentes professores;

identificando os alunos de ajustamento insatisfatório à situação da classe e na escola; propondo medidas que visem ao melhor ajustamento do aluno;

III – decidir sobre a promoção do aluno

determinando o conceito final no caso de discrepância entre as médias bimestrais e o resultado final conseguido pelo aluno;

homologando o conceito definitivo dos alunos submetidos a estudo de recuperação; opinando sobre os recursos relativos à verificação do rendimento escolar interposto por alunos ou seus responsáveis (Resolução Nº 273, de 25 de junho de 2001).

Aqui, verificamos, pelo que está disposto no Regimento, que a autonomia do trabalho docente fica um pouco comprometida, já que depois de trabalhar com o aluno e realizar seu processo de aferição e avaliação, o resultado desta ainda precisará passar por um referendo ou homologação do Conselho de Classe. Ou seja, todo o trabalho diário que o professor tem com

o aluno não é considerado para a validação da nota que o estudante apresentar, mas será necessária a validação disso pelo colegiado descrito na letra do Regimento. Por outro lado, esse conselho poderia funcionar também como proteção diante de qualquer arbitrariedade docente resguardando os direitos dos estudantes.

Numa entrevista que fizemos com a diretora da Escola Láurea Augusta, em 05 de novembro de 2009, obtivemos a informação que, para que essa reunião seja mais efetiva, ela conta ainda com a presença dos pais dos alunos. Nessa unidade educacional, segundo a diretora, esse encontro tem o hipocorístico de “reunião do pai, filho e espírito santo” porque de acordo com seu relato tem dado resultados.

O que se percebe por parte dos docentes é uma sobrecarga em relação a seu trabalho e uma cobrança demasiada pela aprovação dos estudantes, pois em Santarém, como se trabalha com os chamados “indicadores de eficiência”, trazidos pelo Instituto Ayrton Senna e pela filosofia da “pedagogia do sucesso”, onde se imputa ao professor a responsabilidade pela reprovação dos seus alunos, criou-se uma cultura, nesses quinze anos de presença e disseminação dessas ideias no meio escolar, que a aprovação é praticamente uma obrigação do professor. Não importa se os estudantes atendidos pelas escolas possam apresentar problemas de qualquer natureza, o que parece importar é não haver alunos reprovados ou que esse valor seja pequeno, para estar de acordo com as metas estabelecidas para o município, não importando se os alunos assimilaram ou não os conteúdos que os habilitem a passar à série seguinte. Essa assertiva está baseada nas informações que obtivemos sobre os resultados das “provas diagnósticas”, a que são submetidos os alunos ao chegarem no 6º ano em algumas escolas. Por meio delas, percebe-se que muitos alunos chegam a esse ano sem saberem escrever, interpretar o que leem, sendo que de acordo com os profissionais da educação com quem tivemos contato, muitos deles não possuem conteúdos de aluno que acabou de concluir o 5º ano.

1.9.5.3 O Projeto Político Pedagógico – PPP

Trata-se de um importante documento que deve ser produzido pela comunidade escolar cujas funções sejam capazes de abarcar tanto dimensões pedagógicas quanto as de cunho organizacional e administrativo. De acordo com Santos (2002):

É uma proposta de intervenção organizada, que deve ser planejada dentro da escola, devendo refletir-se nela como um todo. Suas possibilidades de estimular a mudança estão na medida de sua construção, pois só o corpo escolar tende a ser capaz de atribuir-lhes uma identidade, condição fundamental para a construção de sua organização e rumos, sem descuidar do apoio do Sistema de Ensino, com vistas a manter a governabilidade do processo. Não é tarefa simples, porque a escola é um micro-mundo onde se reproduzem e ajudam a reproduzir a sociedade, com suas contradições e disputas de poder. Participar ainda é um processo novo não só para os atores escolares como para grande parte dos cidadãos brasileiros. Além disso, é preciso considerar-se que o projeto pedagógico só adquire capilaridade pelas ações do dia-a-dia da escola, o que exige mudanças subjetivas e objetivas, com a necessidade de comprometimento com a proposta.

Nas três escolas de nossa amostragem empírica, duas delas possuem PPP: as escolas municipais de ensino fundamental Aeroporto Diamantina e Láurea Augusta. Já na escola Anexa do Planalto inexiste esse documento. Esta última é uma escola anexa e como tal, apesar de haver servidores de apoio, professores, alunos e pais de alunos, não possuem tal documento, pois as escolas anexas são consideradas como “salas externas”.

Na escola Aeroporto Diamantina (EAD), encontramos um PPP, com o nome de “Proposta Pedagógica” cujo “marco de referência” foi a “Rede Vencer” e, por isso, nela estão descritas ações que possuem muita afinidade com a lógica gerencial voltada para o mercado. Já na escola Láurea Augusta (ELA), esse documento nos pareceu, do ponto de vista de sua elaboração, afinado teoricamente aos ideais mais nobres que uma escola poderia contemplar, pois seu texto é todo voltado para a formação do cidadão. O problema é que essa escola tem sido considerada, por quase quinze anos, como modelo de gestão no município, onde foram colocadas em execução exemplarmente as técnicas gerenciais, oriundas da iniciativa privada, trazidas pelo Instituto Ayrton Senna, por meio da parceria público-privada celebrada com a Prefeitura de Santarém. De modo que a prática do dia a dia da escola parece destoar das linhas que foram grafadas no seu PPP. O que pode ser um indicativo de que esse projeto pedagógico pode não estar sendo seguido como deveria. Um discussão semelhante é feita por Santos (2002) quando trata sobre PPP:

É necessário muito mais [do que apenas ter um PPP bem formulado], o que significa, por exemplo, colocar o planejamento como ferramenta permanente de organização do trabalho da escola. É abolir de vez aquela prática arraigada em grande parte de nossas escolas, de fazer-se do planejamento um momento, geralmente no início do ano letivo, que se esgota na elaboração de um plano ou outro qualquer documento que se esteriliza nos arquivos. É uma tradição que talvez advenha da organização política da própria sociedade, de vez que os governantes, em geral, apresentam seus Planos de governo, para dar satisfação à sociedade e não os seguem na execução e acompanhamento (SANTOS, 2002).

O que percebemos no caso dessa escola, é que há duas diretrizes: uma mais formal que contempla os objetivos da escola, do ponto de vista teórico, que é apresentada no projeto político pedagógico – que é um dos documentos necessários para se efetuar a regularização da situação de uma escola; e outra diretriz que parece ser mais voltada para orientar o funcionamento do cotidiano escolar, que é a emanada a partir da parceria público-privada, por meio da implantação e seguimento das ações do Programa Gestão Nota 10, do Instituto Ayrton Senna – que trataremos de modo mais detalhado no capítulo III. As ações da segunda parecem sobrepujar a intenção da primeira.

Aprofundaremos essa discussão sobre os PPPs quando estivermos evidenciando os dados dessas escolas no capítulo III. Entretanto, podemos adiantar que, a análise desses documentos nos permitiu perceber uma sobreposição das diretrizes de mercado às concepções mais voltadas para a formação da cidadania e a democratização do poder nas unidades educacionais.

1.10 RELAÇÕES ENTRE AS UNIDADES EDUCACIONAIS E OS ÓRGÃOS DO