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2.2 Relações Socioeconômicas e Ambientais da Fumicultura

2.2.2 Relações ambientais da fumicultura

[...] vale destacar que a atividade fumageira do Recôncavo baiano inscreve-se em contextos de crises e apogeus, continua presente até hoje, porém sem muito destaque, na Bahia, a produção agrícola de fumo consolidou-se nos séculos XVII e XVIII, Contudo, no mesmo ambiente estão presentes outras forças de trabalho. A referida atividade não ocupa lugar de destaque atualmente em relação a outros estados brasileiros com podemos destacar o Rio Grande do Sul e Alagoas, Contudo o resgate e a preservação da cultura fumageira na região sobrevive através de indústrias que permanecem no contexto atual e contribuem para o desenvolvimento social e cultural da região (MELO, 2011, p.8).

Sergipe está localizado na região Nordeste do Brasil, cuja base econômica está voltada principalmente para a agricultura familiar, a pecuária e o extrativismo, durante muitos anos a economia sergipana fundamentou-se na produção da cana-de-açúcar, e somente a partir do século XVI a XVII, a economia retornou para a base fumageira, seguindo os passos do Estado baiano (RODRIGUES; SANTOS, 2014).

Lagarto é um dos municípios sergipanos em evidência na produção do fumo. Atrelado ao município está o Povoado Colônia Treze, que também se destacou de forma expressiva na produção de fumo, sendo a sua base econômica por muito tempo, no entanto, atualmente essa produção vem declinando. Como aponta Rodrigues e Santos (2014), atribui-se o declínio na produtividade fumageira a diferentes fatores, a saber: [...] a urbanização, a expansão do comércio, o desenvolvimento da região e as campanhas do governo contra o tabagismo contribuíram para que essa cultura fosse entrando em decadência, sendo que atualmente são poucos os que trabalham com o fumo na região (RODRIGUES; SANTOS, 2014, p.31).

Apesar da redução da área agrícola destinada à produção fumageira, seu cultivo na Colônia Treze representa impactos na geração de emprego e renda do agricultor familiar, sendo responsável pelo sustento das famílias locais (RODRIGUES; SANTOS, 2014). Por conseguinte, é importante ressaltar que embora em algumas regiões do Brasil venham enfrentando decadência na produção do fumo, a cultura fumageira carece de estudos que analisem a sua participação e importância no desenvolvimento econômico da agricultura familiar brasileira.

2.2.2 Relações ambientais da fumicultura

O homem é um dos principais responsáveis pelas transformações que vêm ocorrendo no meio ambiente nos dias atuais. Por isso, é importante relacionar as ações antrópicas com as causas/consequências impostas ao meio natural e social. Assim, Quincas (2006) afirma:

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[...] que meio natural e meio social são faces de uma mesma moeda e assim, indissociáveis. Na medida em que o ser humano é parte integrante da natureza, e ao mesmo tempo ser social e, por consequência, detentor de conhecimentos e valores socialmente produzidos ao longo do processo histórico [...] (QUINCAS, 2006, p. 20).

Meyer (1991) entende como fato primordial a extinção da visão de se delimitar meio ambiente apenas à natureza, ressaltando que sua compreensão abrange muito mais que isso, na medida em que o ser humano é parte integrante do processo, no qual procura compreender o social, o ambiental e o econômico. Dessa forma, o homem pode ser considerado como um agente modificador e transformador dos processos naturais.

Os agricultores familiares produtores do fumo destacam-se como agentes modificadores do espaço agrícola na Colônia Treze, na medida em que envolvem os aspectos socioeconômicos e ambientais. Quanto ao aspecto ambiental, nota-se que a cultura fumageira causa profundas implicações para o meio ambiente, enfatizando a utilização inadequada de insumos químicos, que trazem contaminação aos compartimentos ambientais, a saber: água, solo e ar, bem como consequências danosas à saúde dos fumicultores (SCHOENHALS; FOLLADOR; SILVA, 2009, p. 17).

Segundo o relatório do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o cultivo agrícola do fumo leva cerca de 10 meses, desde a preparação dos canteiros de mudas até a colheita e posterior secagem das folhas, neste período são usados vários tipos de agrotóxicos, tais como: inseticidas, herbicidas e fungicidas, no qual muitos defensivos são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como sendo extremamente tóxicos (Classe I e II) e altamente tóxicos (1).

Sobre a temática, Bombardi (2017, p. 60) enfatiza: “No nível da aparência, o uso massivo de agrotóxicos dá suporte a uma agricultura que, feita de forma intensiva e através de monoculturas, demanda um pacto agroquímico”. Para a autora supracitada, o Estado possui papel atuante na subvenção dos agroquímicos. Segundo ela: “[...] há no Brasil, por enquanto, redução de 60% do ICMS e isenção total, tanto do PIS/COFINS, quanto do IPI para produção e comércio de agrotóxicos” (BOMBARDI, 2017, p. 61).

[...] a terra no Brasil, ao invés de ter sido fertilizada, por meio do trabalho camponês, com práticas agroecológicas, por exemplo, tem sido literalmente violentada com práticas agrícolas que permitem a reprodução do capital, mas que, no limite, proíbem a existência humana, na medida em que começam por adoentar a terra (solo) e, terminam por adoentar o ambiente, os agricultores e, mais amplamente, a população como todo (BOMBARDI, 2017, p. 62).

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É notório, portanto, que as consequências da utilização de agrotóxicos na agricultura são elevadas. E, embora o modelo de agricultura vigente no Brasil possua dependência dos insumos químicos, atualmente algumas medidas estão sendo tomadas para reduzir os impactos negativos provocados pela aplicação demasiada desses produtos ao meio ambiente.

No plantio do fumo, empresas rurais têm procurado diminuir os impactos causados pelos defensivos químicos no cultivo, mediante o desenvolvimento de mudas em placas de isopor, em substituição ao brometo de metila, na lavagem e no encaminhamento das embalagens de agrotóxicos para fábricas de reciclagem e na troca da adubação química pela adubação verde, tendo como benefício o fortalecimento do solo e redução da erosão (SCHOENHALS; FOLLADOR; SILVA, 2009).

Portanto, entende-se que o cultivo agrícola do fumo faz uso de níveis altos de defensivos químicos, porém há alternativas viáveis e sustentáveis para o seu manejo, a exemplo dos cultivos de bases agroecológicas. Ressalta-se, ainda, que a fumicultura pode ser considerada como alternativa para muitos agricultores familiares, sendo capaz de proporcionar desenvolvimento, rendimento e empregos no meio rural.