• Nenhum resultado encontrado

2. O CASO DO CONSELHO DE POLÍTICA AMBIENTAL

2.1. Processo de criação e alterações no desenho institucional do COPAM

2.3.13. Definição das pautas

2.3.13.6. Relações com os poderes

O COPAM é um órgão vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, que tem atribuições legislativas e suas decisões geram obrigações com “força” judicial. Portanto, observa-se que suas relações e atribuições têm interseção com as funções típicas dos três poderes instituídos constitucionalmente: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

Como mencionado anteriormente, uma das principais atribuições do COPAM hoje se relaciona à aprovação de normas e regulamentações. Nesse sentido, deveria haver relação estreita entre o COPAM e os membros da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa.

Historicamente, verificaram-se inúmeras tentativas de consolidar essa relação, pois desde as primeiras formações do Conselho as Comissões de

Meio Ambiente da ALMG sempre constaram na relação de representantes do COPAM.

Atualmente, não é diferente. A ALMG tem assento em várias instâncias do Conselho, mas sua participação nas reuniões é inexpressiva, segundo os relatórios do COPAM. Essa inexpressividade foi consensual entre os entrevistados:

Eles nunca vão. A presença deles é muito pequena. Na verdade, eu penso que não deveriam colocar os deputados. Deveria ser um técnico parlamentar. Porque o deputado, naturalmente, não tem tempo. Eles têm tempo para quem os elege. De vez em quando vai um lá, porque na pauta alguém ligou pra ele ir lá. No Plenário do COPAM, nunca vai (E-03).

Eles participam pouquíssimas vezes. Quando vão atrapalham bastante, falam bastante besteira, defendem interesses questionáveis. Quando eles vão à CNR tem algum ponto de interesse na pauta, provavelmente, alguém pediu para eles irem lá e votarem de alguma forma. [...] A gente fica muito desapontado de ver que as pessoas que estão lá para fazer as leis são tão despreparadas, pouco confiáveis e defendem interesses tão mesquinhos (E-06).

Nesse sentido, a maioria dos entrevistados entende que os representantes eleitos do poder legislativo não têm preparo e qualificação para legislar sobre questões ambientais. Assim, o poder executivo, através do COPAM, assume papel fundamental na normatização das questões relativas ao meio ambiente, na própria elaboração ou no assessoramento à ALMG.

Se você pegar as discussões dentro da ALMG sobre questões ambientais, as discussões são pouquíssimo qualificadas, as leis totalmente equivocadas, inconstitucionais que vão contra a legislação federal. E no COPAM a discussão, por pior que seja a atuação do meio ambiente, ainda que exista desequilíbrio de forças, as pessoas que estão lá, não todas, mas a maior parte, as que monopolizam o diálogo, elas sabem do que estão falando. Assim, dentro da CNR, claro que tem alguns que estão lá só pra preencher a vaga, mas existe uma elite pensante de meio ambiente participando e acaba que isso o torna um

conselho que dita regra, sim, pro estado. Ele pauta as decisões, pauta as discussões e isso acaba influenciando até as decisões da ALMG. De alguma forma, o executivo é chamado pra participar das discussões, não que ele seja sempre ouvido, porque os deputados vão sempre defender alguns interesses eleitoreiros, então fazem o que eles acham melhor para garantir uma reeleição, mas... sem dúvida, aqui em Minas Gerais o executivo tem uma capacidade muito maior que qualquer outro para tratar da questão ambiental, em função do COPAM (E-06).

Todavia, apesar de o poder executivo possuir a adequada qualificação para normatizar a questão ambiental, isso traz à tona outra polêmica, relativa ao fato de o poder executivo estar frequentemente extrapolando suas funções típicas de administração e fazendo de suas funções atípicas, como a legislação, uma regra. Essa discussão também tem sido recorrente no âmbito federal devido ao grande número de medidas provisórias sancionadas pela Presidência da República.

Além disso, o crescente número de pequenos atos normativos vem tornando a legislação ambiental muito fragmentada, dificultando sua aplicação. Nesse sentido, faz necessário que haja esforços no âmbito do SISNAMA para o estabelecimento de normas gerais com parâmetros bem definidos, restringindo as possibilidades de interpretações e de novos instrumentos normativos por parte das demais esferas de governo. Isso agilizaria os processos de regularização de empreendimentos e atividades, como também facilitaria o controle de legalidade das novas normas por parte dos conselheiros. Ou seja:

O que acontece em meio ambiente é que a competência constitucional para legislar é concorrente, então, a União pode legislar e o estado e o município também. E, além disso, criou-se uma regra desses atos normativos pelos órgãos do SISNAMA. Então você tem a parte da legislação federal – que já é extremamente complexa e difícil de ser aplicada – e você tem o CONAMA legislando. Daí você tem diversas resoluções do CONAMA, que são atos normativos. E no nível estadual você tem diversas deliberações normativas do COPAM. Então, esse é um ponto muito crítico e tem que haver um grande cuidado (E-05).

Outro ponto que merece destaque no âmbito do COPAM refere-se ao seu poder de deliberação. Como observado, o COPAM possui atribuições normativas e deliberativas com força judicial, referentes ao julgamento de concessões de licenças e de recursos em última instância administrativa. Contudo, nada impede que as partes envolvidas no processo, ao se depararem com a negativa do pedido de licenciamento ou de reconsideração de penalidade pelo Conselho, recorram às vias judiciais. Entretanto, na prática isso não ocorre com frequência:

Não existe muita judicialização dos processos não. Até porque, na maioria das vezes, as licenças são concedidas. São raros os casos em que a licença é negada. E se não foi concedida, se houve algum impedimento, é porque o negócio está muito, muito ruim. Porque tudo o pessoal tenta dar jeito. Tudo tem como adequar, tudo tem como mitigar. Se houver um parecer para o indeferimento, é porque o empreendimento está completamente errado. Então, assim se houvesse judicialização nesse caso, acho que o próprio empreendedor não levaria à justiça, porque vai acabar não conseguindo uma decisão favorável (E-06).

Destaca-se, no entanto, que a judicialização acontece com mais frequência no sentido contrário, quando se concede licença questionável ao empreendimento, o que ocorre normalmente quando há descumprimento da lei. Assim, muitas vezes e não tão frequente, o próprio MP – a sociedade civil – propõe uma ação civil pública.