• Nenhum resultado encontrado

Depois de uma visão panorâmica a respeito do Direito Natural, percebeu-se que na Idade Antiga a ideia sistematizada do Direito Natural surgiu com a antiga filosofia grega cosmológica e o pensamento cristão primitivo. O Direito Natural surgiu, ao distinguir entre o Direito Natural absoluto (Direito ideal) e o Direito Natural relativo (princípios adaptados à natureza humana).

Na Idade Média, a maioria dos autores concorda que o Direito Natural foi visto como uma manifestação da vontade de Deus, por isso foi considerado superior ao Direito Positivo. Somente a partir de Grócio, em 1625, o pensamento jusnaturalista não foi mais entendido dessa maneira porquanto foi vinculado à razão.

No período da Idade Moderna, a maioria dos autores concorda que a escola do Direito Natural Clássico surgiu com a intenção de emancipar o Direito das concepções da Teologia Medieval e do Feudalismo. O Direito Natural Clássico inicia-se com o advento do Protestantismo na Religião, do absolutismo na política e do mercantilismo na economia e teve como seus pensadores principais: Grócio, Hobbes e Pufendorf. No segundo momento do Direito Natural Clássico, prevaleceram as teorias de Locke e Montesquieu, quando se estabeleceu uma modificação no estado político que aderiu ao liberalismo e ao capitalismo liberal na economia e organizou os pensamentos dos direitos naturais do indivíduo, contra a exploração governamental. Foi o início do racionalismo ou do Jusnaturalismo abstrato. O terceiro momento foi caracterizado pelo pensador Rousseau que valorizou a democracia, ao confiar ao Direito Natural a decisão majoritária do povo.

O Direito Natural na Idade Moderna foi concebido no princípio de que tudo é encontrado no próprio Homem, ou seja, na própria razão humana a qual se torna a divindade absoluta. Na Idade Moderna, o Direito Natural foi visto como Direito Racional, pois se estabeleceu que na razão humana estaria a origem de todos os princípios do Direito Natural ou do Direito Justo. Na Idade Contemporânea, encontram-se o sentimento jurídico e o Direito Natural variável iniciado por Stammler.

117

Nas idades Moderna e Contemporânea, o Direito Natural foi e tem sido visto como um direito racional, com avanço para um direito natural axiológico. Dentro desse pensamento, admite-se que as regras da sociedade influenciam e sofrem influências do Direito Natural, ideia defendida por Renard, quando defendeu a teoria do Direito Natural de conteúdo progressivo. No entanto, para a maioria dos autores, essa teoria nega a doutrina do Direito Natural por se tratar de uma posição positivista, relativista e cética.

Indiscutivelmente, o Direito é uma Ciência Social aplicada que guarda relações com diversas ciências. Isso porque o Direito não pode ser compreendido plenamente sem o conhecimento de outras ciências. A Ciência do Direito se ocupa dos diversos ramos científicos vinculados ao Direito e do ordenamento Jurídico composto por leis, costumes jurídicos, jurisprudências e doutrinas. O grande objetivo do Direito é extinguir conflitos em nome da Justiça por meio de suas normas e de sua ética. O Direito tem relações bem próximas com todas as ciências, mas com algumas delas guarda relações mais estreitas, conforme é apresentado a seguir:

a) Relações do Direito com a Moral – Sem uma relação estreita do Direito com a

Moral não é possível inovação e sustentabilidade quanto aos valores estabelecidos por cada consciência. As leis naturais geram a moral, que por sua vez gera ética, e desta, nasce o Direito, o qual busca a Justiça. Dessa forma a Moral é o principal fundamento do Direito. A Moral é a ciência que estuda os valores morais, fonte inspiradora dos valores jurídicos e da justiça. Todos os ramos do Direito são beneficiados com a Moral, sem a qual não haveria convivência saudável no ambiente social. As relações entre cônjuges, familiares, entre comerciantes e consumidores, são exemplos de relações entre a Moral e o Direito.

b) Relações do Direito com a Ética – Os vínculos do Direito com a Ética são

estreitos porquanto o Direito é uma ciência normativa ética que objetiva a ordem social por meio da Justiça. A Ética é a ciência dos costumes, do modo de ser, do caráter, que investiga a natureza moral, jurídica, política e pedagógica do indivíduo e da sociedade. É a ciência geradora e controladora do Direito com propósitos claros de estabelecer a moral em suas leis e normas e em seus princípios.

118

c) Relações do Direito com a Política – As relações do Direito com a Política são

íntimas, amplas e profundas porquanto trata das relações de poder, das ideologias, dos costumes políticos, do governo e do Estado. Para Oliveira, “a Política deve ser encarada como o saber e a arte de se trabalhar desinteressadamente para a consecução do bem comum. (...) Qualquer mudança na Política dominante importa numa mudança proporcional e correspondente na ordem jurídica em vigor. Direito e Política estão sempre em simbiose e alimentam-se mutuamente273”.

d) Relações do Direito com a Pedagogia – O professor tem papel fundamental para

causar avanços no estudo do Direito. Sem a Pedagogia não há Direito, não há quem esclareça a respeito dos liames doutrinários e legais do ambiente jurídico. Todas as ciências estão relacionadas com a Pedagogia, sem a qual não é possível estabelecer um vínculo social entre o ensino e a aprendizagem. No entanto, o bacharel em Direito não se prepara para o magistério. Não uma disciplina pedagógica, por exemplo, Didática, que possa preparar o futuro professor de Direito para enfrentar os desafios pedagógicos encontrados dentro e fora de uma sala de aula. O Direito necessita de operadores do Direito: juízes, e promotores, advogados, delegados, procuradores, diplomatas e bacharéis, que tenham uma orientação pedagógica que lhe possibilitem ensinar e educar o graduando com motivação, conhecimento, boa vontade e simplicidade.

Os profissionais no magistério do Direito devem seguir as orientações de Freire quando esclarece os educadores que ensinar exige, não somente a aplicação do conteúdo, mas também, rigorosidade no método de ensino utilizado; respeito aos saberes e conhecimentos inerentes aos educandos; autocrítica; muita pesquisa; ilustração das palavras com o próprio exemplo; correr risco em busca daquilo que se acredita, sempre em prol do bem-estar do discente; aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de preconceito, discriminação; bom-senso; humildade; tolerância e luta em defesa dos direitos dos colegas educadores; alegria diante do que se propõe a fazer; esperança em dias melhores; curiosidade em conhecer a pessoa do educando, a fim de proporcionar-lhe melhor aproveitamento no processo ensino-

273

OLIVEIRA, Nelci Silvério de. Introdução ao Estudo do Direito. 2.ed rev. e atual. Goiânia: AB Editora, 2004, p. 20.

119

aprendizagem; querer bem aos educandos; saber escutar com liberdade e autoridade; sempre com o pensamento no coletivo274.

e) Relações do Direito com a Filosofia – A Filosofia tem relações com o Direito por

meio da Filosofia do Direito, a qual questiona o critério de Justiça aplicado pelo ordenamento jurídico e pesquisa os princípios morais, éticos, lógicos, estéticos, históricos, sociais e culturais do Direito. A Filosofia leva o indivíduo a conhecer a natureza das leis e as interações sociais organizadas pelo Estado. Sem a Filosofia, não há como investigar os valores jurídicos e as instituições jurídicas, nem estabelecer uma harmonia entre o Estado e a sociedade. O conhecimento filosófico do Direito possibilita uma visão geral das causas e efeitos dos fenômenos jurídicos. Também pesquisa a respeito das influências de outras ciências no Direito. O conhecimento científico do Direito é caracterizado por um aprofundamento sistemático da ordem jurídica enquanto o conhecimento filosófico associa esses conhecimentos com os objetivos humanos.

f) Relações do Direito com a Economia – O Direito também tem relações bem

próximas com a Economia, também denominada Ciência da Riqueza que estuda metodologicamente a produção, a circulação e o consumo de bens e de serviços. Afinal, um dos objetivos maiores do Direito é o de proteger o patrimônio, classificar os bens, estabelecer uma ordem jurídica que faça justiça, tendo em vista a ordem e a liberdade econômica, o bem-estar social e os desenvolvimentos do Estado e da sociedade. Direito guarda estreitos vínculos com a Economia por meio dos seguintes ramos do Direito: Direito Econômico, Direito Tributário, Direito Financeiro, Direito Bancário, Direito Administrativo, Direito das Sucessões, Direito das Obrigações, Direito do Trabalho, Direito Empresarial, Direito Agrário.

g) Relações do Direito com a Sociologia – A Sociologia guarda relações com o

Direito por meio da Sociologia do Direito e da Sociologia Criminal. Sendo o Direito uma ciência social, estabelece relações com a Sociologia porque pesquisa os fenômenos das ações e reações humanas tanto no ambiente jurídico quanto no ambiente social. A Sociologia ainda verifica a relação entre as normas jurídicas e

274

120

os fatos sociais. Numa petição inicial, por exemplo, não há como pensar numa fundamentação jurídica desprovida de uma fundamentação sociológica. Isso porque a sentença deve estabelecer critérios de justiça segundo a adequação do ordenamento jurídico ao fato social. Por meio da Sociologia Criminal, a Sociologia estuda todos os aspectos ambientais e sociais vinculados ao delito, demonstrando os fatores sociais vinculados às características individuais do infrator.

h) Relações do Direito com a História – A História estabelece vínculos bem

estreitos com o Direito por meio dos fatos históricos que caracterizam uma nação e marcam o regime jurídico, por exemplo, a Revolução Francesa. Também por meio da História do Direito, o Direito acompanha as evoluções do ordenamento jurídico e do Estado. A História das civilizações dá um suporte cultural relevante para a construção de um ordenamento jurídico mais humano, mais condizente com a expectativa social. Quem não conhece a história das civilizações e a história do Direito não há como afirmar que conhece o Direito porquanto o conhecimento das Ciências Jurídicas depende do estudo dos institutos jurídicos do passado, os erros e acertos dos legisladores do passado em diversas culturas e meios sociais. Quando se conhece, por exemplo, o Direito Romano, por meio de suas leis, compreende a evolução histórica do Direito no mundo ocidental. Além das fontes jurídicas, a História do Direito investiga as fontes não jurídicas tais quais documentos e livros raros.

i) Relações do Direito com a Psicologia – A Psicologia Judiciária (ou Psicologia

Jurídica) e a Psicologia Criminal são ramos da Psicologia que auxiliam o Direito por meio dos estudos psicoemocionais dos envolvidos num conflito e até num processo judicial. A Psicologia Judiciária examina as motivações psicológicas do infrator, das testemunhas, das decisões judiciais e por aí em diante. A Psicologia Criminal se utiliza da Psicanálise Criminal, da Psiquiatria para conhecer as motivações conscientes e subconscientes do infrator para a delinquência. Também busca identificar as neuroses, as psicoses e outros transtornos psicológicos que forma a personalidade doentia do envolvido na prática do delito.

j) Relações do Direito com as Artes – O Direito não é indiferente ao belo, à

121

contrário, o Direito mantém relações bem próximas com a eficiência, ou seja, a arte de fazer bem feito, com a estética jurídica fazer bem feito de forma mais harmônica, coerente e atraente possível. Nesse sentido, Oliveira informa que “muitos já puseram em dúvida a cientificidade do Direito, mas nem mesmo estes deixaram de considerá-lo como uma arte275”.

k) Relações do Direito com a Lógica – Direito e Lógica têm vínculos tão próximos

que não se pode conceber a existência das Ciências Jurídicas sem a Lógica, especialmente a Lógica Jurídica, e sem as ciências que a tem como fundamento, por exemplos, a Hermenêutica Jurídica, a Retórica e a Argumentação Jurídica. Os inúmeros tipos de interpretações jurídicas necessitam da Lógica para o fundamento coerente de seus princípios.

l) Relações do Direito com a Matemática – O Direito trabalha com dados

matemáticos desde operações mais simples até cálculos estatísticos e judiciais complexos para tratar conjuntos de dados. A Matemática é a linguagem natural de todas as ciências que trabalham quantitativas, mas a Filosofia da Matemática une a quantificação com a qualidade dos seus princípios e resultados. Todos os ramos do Direito necessitam da Matemática para operacionalidade dos seus resultados, especialmente os Direitos: Econômico, Tributário, Previdenciário, Empresarial, Bancário, do Trabalho e Penal, sempre apontando soluções viáveis para integralizar o jurista no mercado do Trabalho.

m) Relações do Direito com a Biologia – As relações do Direito com as Ciências

Biológicas marcam visivelmente a evolução do Direito por meio do Direito Ambiental, da Bioética, do Biodireito e dos elementos que integram os estudos a respeito da capacidade jurídica. As Ciências Biológicas esclarecem temas jurídicos de relevância, por exemplos: A Vida, A morte, A Sexualidade, A reprodução humana, Tecnologias conceptivas, Eutanásia, Aborto, Transplante de órgãos e tecidos, Direito ao Nascimento, A filiação, Meio ambiente, Clonagem, Proteção à vida humana, Genoma humano, Mudança de sexo, Direitos do embrião e do nascituro, Maternidade e paternidade responsável e planejamento familiar,

275

122

Esterilização humana artificial, Saúde física e mental, A AIDS, Transfusão de sangue, Direito à morte digna, Experiência científica em seres humanos, As novas técnicas científicas de reprodução humana assistida para demonstrar a importância da Bioética e do Biodireito para o desenvolvimento social da pessoa humana, Diniz elucida: “A bioética e o biodireito deverão contribuir para um desenvolvimento controlado das ciências da vida, garantindo o respeito à dignidade da pessoa humana na transformação das condições da existência, constituindo o núcleo de um projeto de formação para ética das ciências e o componente essencial da cultura geral do século XXI276”.

n) Relações do Direito com a Química – Os elementos da Química estão em todas

as coisas. O Direito depende da Química para a solução de conflitos nas áreas do Direito: Civil, Penal, Trabalhista, Administrativo, Medicina Legal, Biodireito dentre outros. A Química é de fundamental importância para o Direito no sent ido de inspirar e fundamentar leis que direcionem programas governamentais que gerem bem-estar social. Programas vinculados à indústria, ao comércio, à agricultura, às condições de trabalho, aos programas de preservação do meio ambiente, aos estudos do efeito estufa, da reciclagem do lixo, do desmatamento e por aí em diante.

o) Relações do Direito com a Medicina – A Medicina mantém estreitos vínculos

com o Direito por meio da Medicina Legal, da Medicina do Trabalho e da Medicina Social. Para demonstrar a estreita relação entre o Direito e a Medicina, o professor Hélio Gomes define a Medicina Legal “como conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a servir ao Direito, cooperando na elaboração, auxiliando a interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais atinentes ao seu campo de ação de Medicina aplicada277”. Inúmeras questões determinam a relação da Medicina com o Direito, por exemplos: questões relativas à consanguinidade, à investigação da paternidade, à gravidez, ao nascimento, à morte, aos crimes sexuais, às lesões corporais, ao aborto criminoso, ao infanticídio, ao homicídio, à embriaguez, à emoção, à paixão, às perícias médico-legais, à proteção da infância e da maternidade, relação

276

DINIZ, Maria Helena. O estado atual do Biodireito. 4. ed. Ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 811.

277

123

médico-paciente, Tortura médica, Erro médico, Direitos do Paciente, e por aí em diante.

p) Relações do Direito com outras Ciências - O Direito mantém vínculos com todas

as Ciências e ainda mantém vínculos próximos com as seguintes ciências: Administração, Ciências Contábeis, Informática, Retórica, Teologia, Antropologia, Antropologia Criminal, dentre outras. O que demonstra as importâncias dos seguintes ramos do Direito: do Direito Administrativo e dos princípios da Administração para a organização do Estado e da Sociedade; das normas contábeis, como fonte de estabilidade para todas as áreas do Direito; do Direito Digital que organiza os relacionamentos entre o Homem e mundo virtual; da arte de falar e de convencer por meio da eloquência; dos fundamentos religiosos inspiradores da Moral, da Ética e do Ordenamento Jurídico; das provas históricas dos diversos ambientes sociais e dos processos evolutivos da Humanidade, respectivamente.