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Relações entre a forma e a dinâmica da partícula

2.2 Características físicas

2.2.2 Forma e tamanho

2.2.2.1 Relações entre a forma e a dinâmica da partícula

Costuma-se definir formas de produtos agrícolas por semelhança com formas geométricas conhecidas. São muitos os métodos utilizados para caracterizar um produto quanto a sua forma, e os métodos descritivos, que apenas nomeiam os produtos, conforme diagrama padrão, ajudam na escolha de equações adequadas para se fazer aproximações de volume, área superficial, área projetada e demais características relativas à forma. Entretanto, os métodos de maior utilidade nos projetos de processamento, transformação e conservação de produtos são aqueles que fornecem um fator de forma na maioria dos processos e são usados como fatores de correção do processo segundo um modelo empregado, funcionando como incremento de equações para uma melhor aproximação

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do fenômeno estudado. Como exemplo, pode-se citar o caso de transporte de partículas sólidas em um fluido (DUARTE et al. 2006).

Uma partícula não esférica pode ter planos e eixos de simetria, mas não pode possuir ponto de simetrias iguais a de uma esfera, por apresentar problemas mais complexos do que os problemas que surgem para esferas. De acordo com Clift, Grace e Weber (1978), partículas axissimétricas incluem corpos gerados da rotação de uma curva fechada ao redor de um eixo, já as partículas esferoidais, também chamadas de elipsóides de revolução, são de interesse particular, pois elas correspondem às formas adotadas por muitas bolhas e para algumas partículas sólidas.

Um esferoide é um elipsoide de revolução, gerado da rotação de uma elipse sobre um de seus eixos principais. Se este é o eixo menor, o corpo é oblato, caso contrário o esferoide é prolato. Formas axissimétricas são descritas pela relação de aspecto E, definida como a relação do comprimento projetado no eixo de simetria ao diâmetro máximo normal ao eixo. Dessa forma, E é a relação de semieixos para um esferoide, com E<1 para um esferoide oblato e E >1 para um esferoide prolato. Uma partícula ortotrópica tem três planos de simetria mutuamente perpendiculares. Partículas axissimétricas são simétricas em todos os planos que contém seu eixo e é ortotrópica se um de seus planos de simetria é normal ao eixo. Cilindros circulares, discos e esferóides são partículas axissimétricas e ortotrópicas; cones são partículas axissimétricas, mas não são ortotrópicas; paralelepípedos são partículas ortotrópicas (CLIFT, GRACE e WEBER, 1978 citado por GONZAGA et al, 2007).

O movimento de esferas caindo através de fluidos é um problema clássico na mecânica de fluidos com muitas aplicações práticas, onde qualquer partícula que caia em um fluido tem um período de aceleração ou desaceleração. O período de aceleração de uma partícula é frequentemente negligenciado, e a velocidade de queda é assumida como sendo sua velocidade terminal. Em laboratórios hidráulicos, por exemplo, a análise do tamanho de partículas de sedimento é frequentemente conduzida em um tubo de sedimentação onde se supõe que todas as partículas caiam em suas velocidades terminais. Semelhantemente, esses pressupostos são feitos também para partículas se estabelecendo em engenharia ambiental, química ou biomédica (GUO, 2011).

A dificuldade se origina do arrasto fluido não proporcional à velocidade para pequenos números de Reynolds (lei de Stokes), mas proporcional à velocidade ao quadrado para grandes números de Reynolds (lei de Newton). Esferas caindo através de fluidos foram estudadas extensivamente ao longo dos tempos. Galileu mostrou

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experimentalmente que, se o arraste fluido é negligenciado, o movimento de queda de uma esfera é independente de sua massa, a velocidade de queda é proporcional ao tempo e a distância de queda é proporcional ao tempo ao quadrado. Em 1687, Newton desenvolveu a teoria de Galileu, considerando o arrasto fluido e fundando a segunda lei de Newton, formando o conhecimento moderno dos fluxos de esfera em termos de coeficiente de arrasto. Newton afirmou que o CD é uma constante experimental (GUO,

2011).

Para resolver um problema de interação fluido-esfera, FD é definida por:

FD= CD 2 ρ Vt 2A (05) Em que: FD → força de arrasto, N CD → coeficiente de arrasto

ρ → massa específica do fluido, kg.m-3

Vt → velocidade terminal, m/s

A → a área da seção transversal perpendicular à direção da queda, m2.

CD= α (06)

Segundo Guo (2011), experiências de Lapple e Shepherd (1940), Preukschat (1962) e Donley (1991) indicam que a Equação 6 é válida apenas para números grandes de Reynolds = wD / ν 1000, em que D é o diâmetro da esfera e ν a viscosidade do fluido cinemático; e α ≅ 0,44 ± 0,06 conforme a Figura 2.3. Para ≤ 1000, o coeficiente de arrasto diminui com o aumento dos números de Reynolds.

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Figura 2.3 - Comparação das leis de arrasto com dados de experimentos de esfera. Fonte: White, (2011).

De acordo com Guo (2011), para pequenos números de Reynolds, Stokes negligenciou a inércia (termo não-linear) provando que, se uma esfera cair lentamente em um fluido, o arrasto é linearmente proporcional à velocidade, conforme os dados experimentais dispostos na Figura 2.4. Isso implica que a inércia não pode ser negligenciada nas equações de Navier-Stokes ao resolver números maiores de Reynolds:

CD=

24 R

(07)

A inércia foi considerada por Oseen (1927), que linearizou o termo de inércia nas equações de Navier-Stokes, usando o campo de velocidade longe da esfera como:

CD= 24 R 1+ 3 16R = 24 R + 4.5 (08)

Apesar de existirem diversos trabalhos na literatura para pequenos números de Reynolds, com o conhecimento atual, o coeficiente de arrasto para números intermediários e grandes de Reynolds só pode ser aproximado empiricamente. Rubey's (1933) utilizou a equação 9, que é semelhante à lei de Oseen, mas os valores de α e β foram determinados empiricamente. Para ser consistente com as Equações 6 e 7, este estudo recomenda para esferas (GUO, 2011):

19 CD= β R+ α (09) Sendo: α = 0,44 ±0,06 e β = 24

A comparação da Equação 9 com os dados da Figura 2.4 mostra um acordo razoável se Re ≤ 2 × 10 5, embora C

D para 1 < Re <1000 é um pouco subestimado. A

simplicidade da Equação 9 favorece nos fluxos subcríticos. De acordo com Guo (2011), essa comparação da Equação 9 com dados de sedimentos naturais, se α = 1,5 e β = 28, podem ser vistos na Figura 2.4, que, segundo o autor, servem para encontrar uma solução de forma fechada para esferas que caem através de fluidos.

Figura 2.4 - Comparação da lei de arrasto de Rubey’s com dados de sedimentos naturais. Fonte: Guo (2011).

Gonzaga et al. (2007), em um estudo sobre características físicas e hidrodinâmicas de chuchu minimamente processados, observou, através dos resultados obtidos experimentalmente, que a velocidade terminal das partículas geométricas de chuchu, independente da forma geométrica, tende a aumentar à medida que se aumenta o tubo de queda, exceto para os discos com 10 mm de diâmetro, e ainda referente à forma geométrica, para um mesmo diâmetro de tubo, houve um aumento da velocidade terminal com o aumento da massa da partícula transportada.

Nascimento, Duarte e Almeida (2012), em um estudo sobre o transporte hidráulico de batata, observaram que a velocidade terminal em cilindro contendo água é fortemente influenciada pelas características físicas de forma e tamanho, uma vez que as velocidades

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terminais em queda livre para placas planas circulares cilindros e cubos de batata doce ocorrem em tubos com diâmetros maiores que 50 mm e que a maior velocidade terminal em água foi alcançada pelas peças de forma cilíndrica e a menor por cubos de batata doce.

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