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Relações entre a formação centrada nas escolas e as atividades de

137 Analisando estas ações de formação desenvolvidas nas escolas e as promovidas pela SME, SRE e outras instituições, as entrevistadas ressaltaram elementos interessantes que mostram que a coexistência dessas instâncias de formação é algo desejável e viabiliza contribuições distintas que por vezes se complementam, possibilitando a construção/apropriação de diferentes tipos de conhecimentos.

Como vimos anteriormente, as atividades de formação centradas na escola são efetivadas por meio de reuniões coordenadas pela supervisora, nas quais os/as professores/as discutem problemas de sua prática e buscam soluções para os mesmos. Observa-se que, no caso pesquisado, essas práticas apresentam reduzido relacionamento dos problemas levantados pelas professoras com referenciais teóricos atualizados que poderiam oferecer suporte para uma análise mais profunda sobre tais questões. Estas atividades de formação ainda apresentam-se em um nível bastante inicial de organização, enfrentando diferentes dificuldades.

Embora uma formação mais intensa na escola seja vista como uma necessidade pelas professoras, o reduzido tempo destinado às reuniões de planejamento coletivo é insuficiente para uma reflexão mais aprofundada sobre a prática no sentido de construir novas alternativas de trabalho. Este fato nos leva a repensar a necessidade de projetos específicos de formação continuada de professores/as na escola, o que demandaria, como já discutimos, além da participação do pedagogo como elemento chave na coordenação desse processo, o envolvimento e apoio institucional necessários à concretização do mesmo. No caso do PROCAP parece haver subsídios teóricos para a discussão da prática, mas por se tratar de uma proposta única para todas as escolas do

138 Estado de Minas Gerais, tal curso apresenta aspectos gerais que não dão conta de atender as especificidades de cada realidade escolar. Como as discussões baseiam-se principalmente na reflexão dos problemas apresentados no curso, nem sempre é possível às professoras estabelecer ligações com a prática concreta vivenciada nas escolas, o que dificulta um trabalho mais crítico sobre a própria prática.

A formação efetivada por meio de cursos fora da escola, promovidos geralmente pela SME e SRE, conforme foi visto no início deste capítulo viabilizam a apropriação de diferentes tipos de conhecimentos, a troca de experiências com professores/as de outras escolas e o conhecimento de realidades diferentes de trabalho. Isto de certa forma, mostra a importância deste tipo de formação através de cursos variados, coexistindo com a formação nas escolas. Segundo as professoras, a formação nas escolas é necessária, mas se o trabalho de formação ficasse restrito ao âmbito da escola os conhecimentos ficariam muito limitados, voltados somente para os problemas internos de cada escola. De acordo com as professoras, os cursos promovidos pela SME, SRE ou outras instituições são mais gerais e, apesar de serem mais teóricos e em alguns casos distantes da realidade da escola, trazem conhecimentos de conteúdos e novas metodologias de ensino, possibilitando o acompanhamento de mudanças que ocorrem na educação. Além disso, proporcionam a troca de conhecimentos entre escolas diferentes. Os depoimentos a seguir sintetizam esta percepção:

“Eu acho que os cursos que são promovidos pela SME e SRE trazem muito mais conteúdo. E nesses cursos temos esta oportunidade de encontrar com pessoas de outras escolas, de outras cidades... tem essa troca maior. Dentro da escola só ficamos sabendo o que está acontecendo aqui em volta da gente. Agora em algum curso, vem professores de outras

139 escolas, de outras cidades, aí tem outras experiências, outros conhecimentos.” (Rosa)

“Quando o curso parte de dentro da escola você parte exatamente daquilo que a escola está precisando, que você está vivenciando. Por outro lado, a escola não tem condições de manter o mesmo nível dos cursos promovidos pela SME ou pela SRE.” (Supervisora, Escola C)

Essas análises confirmam também o que foi constatado por ANDRÉ (1998) em uma pesquisa realizada com professoras de primeira série em São Paulo. Segundo esta autora:

“Embora se tenha clareza que o verdadeiro locus da formação deva ser a escola, o encontro de professoras de diferentes escolas, confrontando experiências diversificadas também parece ter papel positivo, formador, nada desprezível, já que propicia alargar o campo das percepções e situar as reflexões num patamar mais abrangente. Assim, mais do que a exclusividade de uma instância formadora, a diversidade parece ser desejável desde que, nesse caso, haja um esforço deliberado de comunicação entre as instâncias, para estabelecimento de metas comuns e para busca de confluências de projetos”. (p. 262)

Esta articulação entre a formação continuada promovida por diferentes instituições por meio de cursos, encontros, oficinas pedagógicas, com a formação que ocorre no interior das escolas vem mostrar portanto que é possível e até desejável que este intercâmbio possa se fortalecer, uma vez que os resultados positivos decorrentes dessa ligação poderão se traduzir em alternativas de ação para os/as professores/as no seu trabalho diário.

Concluindo, podemos afirmar que, para as professoras entrevistadas, as diferentes ações de formação continuada apresentam aspectos positivos e negativos. De acordo com as professoras, a influência dessas ações de formação em sua prática é limitada por aspectos inerentes ao próprio processo de mudanças, que é lento e demanda reflexões. É desse processo de mudanças que trataremos no capítulo seguinte.

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CAPÍTULO 4

O PROCESSO DE MUDANÇAS NA PRÁTICA DOCENTE

Como as propostas de formação continuada, principalmente aquelas sistematizadas e planejadas com o objetivo de possibilitar a implementação de novas propostas de ensino sempre se baseiam em mudanças nas práticas correntes na escola, considerei relevante conhecer os posicionamentos das professoras e das outras entrevistadas em relação às mudanças que ocorrem na prática docente. Este interesse pelo tema deve-se também ao fato de termos consciência de que o processo de mudanças é lento e enfrenta diversas dificuldades para sua efetivação na escola.

Este capítulo foi construído tendo por base as questões das entrevistas que versavam sobre as relações entre a formação continuada e as mudanças na prática docente. Seu objetivo central é, portanto, discutir estas relações, conforme percebidas pelas professoras, diretoras e supervisoras, bem como pelas representantes da SME e SRE. Para isso, ele foi organizado da seguinte forma: inicialmente, procuro identificar os fatores que contribuem para desencadear mudanças na prática pedagógica. Em seguida analiso as posições das professoras e das outras profissionais entrevistadas sobre as causas da resistência às mudanças na escola, procurando verificar a relação entre esses fatores e a formação continuada.