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Capítulo III Apresentação e discussão dos resultados

3. Análise Global dos Resultados das Entrevistas dos Estudantes com NEE/Docentes

3.3. Relações sociais

As relações sociais são outra categoria correspondente à adaptação ao ensino superior, mas desta vez na vertente social, onde se tenta perceber como se sentem, relativamente aos seus colegas e professores. Posto isto submergem três subcategorias: relações entre pares, relações com os docentes e relações com diretores de curso.

Tabela V - Categoria de Análise da Inclusão das Relações Sociais dos Estudantes com NEE

Categorias Subcategorias Indicadores

Relações sociais dos ENEE

1.1.Relações entre pares Relação ENEE/turma Relação ENEE/docentes

Relação ENEE/diretores de curso 1.2. Relações com os docentes

1.3. Relações com os diretores de curso

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Numa altura em que as universidades portuguesas estão a abrir portas para “novos estudantes” importa repensar, de forma minuciosa, a inclusão dos estudantes NEE no ES. Torna-se fulcral fazê-lo não só para melhorar o acesso e a igualdade de oportunidades para todos, mas também para que se possa flexibilizar a inclusão destes estudantes no ES.

No campo das relações sociais, destaca-se um clima de reciprocidade e de convívio entre os estudantes com NEE e os seus pares. Desta forma, no que respeita à subcategoria – Relação entre pares, consideramos que os estudantes NEE mantêm, no geral, uma boa relação com a turma. Apesar de algumas diferenças, afirmam estabelecer relações positivas e de entreajuda entre todos os colegas. No geral, alegam que os colegas são prestáveis e simpáticos, nomeadamente no que diz respeito a fornecimento de materiais, como fotocópias e apontamentos.

Neste sentido, o António revela que se vive um sentimento de igualdade quanto à forma de tratamento existente entre estudantes tradicionais e estudantes NEE: “nunca houve discriminação, nem tão pouco nunca fui posto de parte”. Considera que o objetivo a que se propôs, no que diz respeito término da sua licenciatura é exatamente igual ao restantes estudantes que ingressaram no ES.

Relativamente à opinião geral do corpo docente, o clima de entreajuda que se vive entre os estudantes com NEE e os seus pares é um aspeto crucial no processo de aprendizagem. A Professora Joaquina relata o caso de um estudante com NEE e evidencia: que

“foi uma integração espetacular e ele era impecável, muito simpático e, e teve uma relação excecional com toda a gente. Portanto, eu acho que a escola tem dado resposta digamos assim”.

No que concerne às tarefas académicas, principalmente, nos trabalhos de grupo, os alunos acabam por criar afinidades dentro da própria turma, mas revelam que por vezes preferem trabalhar sozinhos, embora este tipo de trabalhos decorram de uma forma muito positiva. Esta opção pode ser explicada talvez por não se identificarem com alguns alunos, ou no caso do Tiago sentir uma certa dificuldade em se integrar e comunicar.

Com base nas entrevistas percecionámos que apesar de existir uma relação muito positiva com os seus pares, a maior parte dos estudantes NEE não participam em atividades extracurriculares organizadas dentro da Universidade, mais precisamente em jantares de curso, semana académica, praxes, entre outras.

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Este facto poderá estar relacionado com outros fatores limitativos, de ordem familiar e geográfico, ou seja, por vezes por morarem longe da Universidade e não terem transporte para regressarem a casa, por exemplo, o António refere que “ eu até gostava de ir aos jantares, eles convidam-me sempre, mas como moro em Quarteira e não tenho transporte é difícil, porque o último autocarro é às 20h”.

Embora a universidade seja o ponto de partida para a criação de novas amizades e convívios, existem algumas barreiras que impedem os estudantes com NEE de se adaptarem verdadeiramente ao mundo universitário, o que é de extrema importância para o reforço da sua autoestima e evitar o abandono do curso.

Neste sentido Correia & Mesquita (2011, p.23) vem reforçar esta ideia afirmando que, “os estudantes não tradicionais necessitam de uma forte base de apoio na criação de uma atmosfera de aprendizagem ideal, essencialmente comunicativa e com base em relacionamentos pessoais.”

De facto, quando os alunos com NEE chegam à Universidade, não existe qualquer tipo de “guião” para que se possa garantir o seu sucesso académico, contudo, na opinião dos docentes há que ter uma grande sensibilidade, nomeadamente, no que respeita a avaliação “logo desde do início temos que dar mais apoio em termos do estudo, em termos do acompanhamento para que possam acompanhar, mais tempo no término das tarefas, por exemplo”, refere o Professor Gonçalo.

Na opinião dos estudantes seria muito positivo que houvesse uma “orientação tutorial” pois confessam que necessitam de mais apoio individualizado, ou seja, que lhes fosse permitido o esclarecimento de dúvidas sobre os conteúdos lecionados.

Relativamente aos diretores de curso, a opinião é que muitos alunos, nomeadamente com problemáticas derivadas de dislexia, não entram em contacto com os seus diretores para falarem acerca do seu problema e muitas vezes os docentes não têm conhecimento das suas limitações. Ora, como já foi referido, esta falta de comunicação prende-se com o facto de os estudantes com NEE não quererem ser tratados de uma forma diferenciada, ou por outro lado, não terem conhecimento dos apoios a que têm direito. Relativamente aos casos que estão identificados o Professor Américo revela que “são poucos alunos e funcionam muito bem, estão bem integrados, acho que se deve louvar a atitude dos colegas e também dos professores e de todas as pessoas…”

O ES representa, assim, um espaço social onde é favorecida a comunicação. Para além do espaço familiar, as universidades contribuem para a criação de novos laços de amizades. Este

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convívio entre colegas deverá servir como uma oportunidade para os estudantes tradicionais se consciencializarem e se sensibilizarem para o tema da deficiência, permitindo uma maior inclusão com vista ao sucesso académico dos alunos ENEE.

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