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III- ATIVIDADES ROTINEIRAS CONSTITUINTES DOS PROCESSOS DE

3.2 Relacionamento com pessoas: uma parte significativa na rotina dos diretores de

Para dirigir um curso de graduação o diretor precisa fazer contatos freqüentes com pessoas, pois ele tem sob sua responsabilidade direta a coordenação de atividades que são realizadas para as pessoas, tais como os professores, alunos, funcionários do apoio técnico administrativo, autoridades universitárias e outros interessados no que o curso possa oferecer, sejam pessoas do ambiente universitário ou mesmo do ambiente externo da universidade.

Embora uma parte dos processos de gestão de cursos de graduação exija algum tipo de isolamento para a execução de atividades burocráticas, para o planejamento e gerenciamento do projeto pedagógico, outra parte significativa das atribuições a serem cumpridas pelo diretor é caracterizada pelo relacionamento com pessoas. É possível que a agenda do diretor exija boa parte de seu tempo dedicado ao contato direto com pessoas para o atendimento de demandas e necessidades delas ou devido a necessidades decorrentes da vida acadêmica e institucional.

A identificação dos tipos de atividades rotineiras nos processos de gestão de cursos de graduação que pode ser observada na segunda coluna da Tabela 2 revela a quantidade significativa de ocorrências de respostas quando os diretores fazem referência àquelas que exigem o relacionamento com pessoas. Na Tabela 2, a classe de comportamento “Interagir com pessoas” apresenta 38 ocorrências de respostas, o que representa 40% do total de 94 ocorrências e é a maior quando comparada com as demais classes. São identificados cinco tipos de atividades rotineiras na classe de comportamentos referentes à interação com pessoas, a maior parte delas é caracterizada pelo verbo atender, usado no sentido de dar ou prestar atenção, considerar, acolher, receber e não com o significado de dar respostas esperadas pelos outros. Como decorrência disso, o diretor ao atender pessoas pode deixar de corresponder às expectativas e enfrentar situações de conflitos, visto que o atendimento não tem a finalidade de acatar ou agradar. Os tipos de solicitações feitas aos coordenadores

identificar a necessidade de comportamentos de ouvir o que é pedido, selecionar e atender solicitações, o que resulta no ativismo intenso na rotina do coordenador para dar respostas às necessidades dos outros.

No C1 E C2 os sujeitos apresentam nove ocorrências de respostas cada um, referentes à interação com pessoas, no C3 oito tipos e no C4 indicam 12 tipos. No C3 é possível identificar o menor número de ocorrências de respostas referentes à interação com pessoas quando são comparados os Centros entre si e ao considerar a proporção de sujeitos entrevistados. Neste Centro são identificados dois sujeitos sem ocorrências de respostas nessa classe de comportamentos e também totaliza o menor número de ocorrências quando comparado com os demais Centros. Cada Centro é composto por um conjunto de cursos e, consequentemente, de profissões que guardam similaridades entre si. Esses tipos de similaridades criam sub-culturas de profissões e podem interferir no tipo de percepção sobre o que precisa ser feito como atividades rotineiras nos cursos. Silva e Moraes (2002) verificaram que cada unidade universitária (comparável aos Centros) tem padrões culturais próprios e que isso influencia nos processos de aprendizagem dos dirigentes na organização estudada. As autoras também consideraram outros aspectos de influência como a experiência e os valores pessoais, conhecimentos e significados referentes à formação profissional. Neste sentido, um Centro que congrega cursos e profissionais da área de ciências exatas e tecnológicas parece reunir parte de seus dirigentes que não caracterizam a interação com pessoas como atividade rotineira, o que é possível observar em dois dos cinco entrevistados nesse Centro.

Atender alunos e professores são tipos de atividades rotineiras com o maior número de ocorrências quando comparados aos demais tipos na classe de comportamento referente à interação com pessoas. O atendimento a alunos apresenta o maior número de ocorrências, com 12 respostas, e é indicada por 12 dos 14 sujeitos. Os alunos compõem o grupo com maior quantidade de pessoas em um curso. É possível identificar que para a maioria dos diretores os alunos são os primeiros a serem lembrados quando iniciam seu relato sobre atividades rotineiras e utilizam o verbo “atender” com uma conotação muito geral, sem que seja possível identificar responsabilidades mais delimitadas na relação do diretor com os

alunos. Quando as atribuições não estão bem definidas, dependendo do acesso ao diretor ou das facilidades que ele dá para a aproximação dos alunos, é possível que receba os mais diferentes tipos de solicitações, inclusive aquelas que poderiam ser resolvidas por outras instâncias ou setores. Em conseqüência disso, o atendimento ao aluno pode tomar um tempo excessivo na sua agenda, invadindo a rotina do diretor. Piazza (1997, p. 48), ao descrever o que encontrou como resultado por pesquisar o que os coordenadores dizem ser seu papel em relação aos alunos, chama a atenção para a constatação de que 47,62% dos sujeitos consideram o trabalho de coordenação em relação aos alunos como sendo a maior responsabilidade do coordenador. É possível que essa idéia também esteja presente nos sujeitos desta pesquisa o que leva a ocorrências significativas de respostas em relação ao atendimento de alunos como parte da rotina dos diretores. Identificar responsabilidades dos diretores com relação aos alunos é relevante, sejam elas caracterizadas por ações rotineiras ou por excepcionalidades, sem que sejam criados manuais ou definições rígidas do que deve ou pode ser feito.

Atender alunos direta e pessoalmente sem uma triagem é uma atividade que pode ocupar o tempo do diretor e dispersá-lo de outras atividades que poderiam repercutir para o benefício de um número muito maior de alunos. Existem casos em que o atendimento direto é indispensável, mas é preciso que para isso o diretor possa contar com assessoria técnica e administrativa, capaz de discriminar tal necessidade e evitar que o seu gabinete possa representar um local para lamentações, queixas e busca de soluções para todos os tipos de impasses ou dificuldades que encontra em sua vida acadêmica ou até mesmo na sua vida pessoal, o que já ocorre segundo o relato de quatro sujeitos. Esse tipo de comportamento pode resultar na formação de uma legião de dependentes e não na organização de uma formação comprometida com a cidadania e a independência. Piazza (1997, p. 59) destaca que é importante ter presente que o que define o papel do administrador não é a atuação direta, a atividade operacional. Acrescenta que o administrador precisa ter uma atuação multiplicadora, capaz de gerar condições para outros atuarem numa extensão, quantidade e profundidade muito superiores àquela que um indivíduo consegue fazer sozinho. Dirigir, avaliar e monitorar o que ocorre no curso é

(1997). É preciso conhecer e avaliar as diretrizes da organização de ensino superior referente à interação com os alunos, pois não é possível agir com a ingenuidade de que tais indicações existam e não interfiram na forma de trabalho do coordenador com seus alunos.

O atendimento a professores apresenta 11 ocorrências de respostas, uma para cada sujeito, o que corresponde ao segundo tipo de atividade com o maior número de ocorrências na classe de comportamentos referente à interação com pessoas. Em três Centros (C1, C2 e C4), aparecem ocorrências de respostas referentes à interação dos coordenadores com os professores. No C3, três dos sujeitos não apresentam ocorrências de respostas referentes a esse tipo de atividade como sendo parte de sua rotina. Eles fazem referência aos professores, porém não no sentido de atendê-los. O sujeito F, por exemplo, faz referência aos professores quando diz que “designa professores” como parte de sua responsabilidade na organização de horários e alega que precisa resolver “conflitos entre professores e alunos” e “dos professores entre eles”. O sujeito I não faz qualquer referência aos professores ao descrever suas atividades rotineiras e o sujeito J faz uma única referência aos professores quando diz que precisa “administrar os conflitos entre alunos e professores”.

Nesses casos as referências aos professores não correspondem ao atendimento a eles, tendo em vista que não fica caracterizado que os professores procuram o diretor para solicitar algum tipo de intervenção e nem de que maneira o diretor toma conhecimento dos conflitos que precisa administrar. Os diretores também são professores e precisam efetivar interações com os seus pares. Além disso, eles retornam para suas atividades docentes ao concluírem o tempo de mandato, tendo que enfrentar as reações decorrentes de suas decisões em relação aos seus pares quando exerciam a função de gestão. Os tipos de intervenções que realizam junto aos professores podem levar a resultados positivos e que contribuem para aumentar a credibilidade do gestor. Por outro lado, os resultados podem levar a críticas e contraposições e, em decorrência, são criados novos problemas ou conflitos para administrar. Os tipos de encaminhamentos às solicitações dos professores somados às percepções, às expectativas e aos sentimentos para com os diretores podem contribuir para o estabelecimento de um ambiente de trabalho equilibrado, que valoriza as

diferenças como parte de um contexto em que convivem tantas pessoas em prol de objetivos mais ou menos comuns. O oposto também pode ocorrer e resultar em dificuldades de relacionamento. Marra e Melo (2003), ao estudarem as práticas de gestão dos chefes de departamento e coordenadores de cursos em uma universidade federal, descobrem que 50% dos entrevistados considerava os professores, seus pares, como o grupo de mais difícil relacionamento.

O contato com o público externo é um tipo de atividade rotineira indicada pela metade dos sujeitos, totalizando nove ocorrências de respostas. No C2 os dois sujeitos indicam mais de uma vez atividades que caracterizam esse tipo de atendimento e dirigem cursos em que a interação constante com pessoas e com a comunidade faz parte das características das profissões que representam.

Participar de reuniões é um tipo de atividade rotineira com quatro ocorrências de respostas e indicada por quatro dos 14 sujeitos. A referência feita a reuniões limita-se ao verbo “participar”, o que caracteriza uma ação mais passiva e distante de planejar, dirigir, mediar ou administrar reuniões, comportamentos mais compatíveis com a direção de um curso superior. Reunir pessoas exige planejamento, com delimitação de objetivos e metas a serem alcançadas, o que difere de encontros casuais em que os temas são aleatórios e norteados pelos interesses e situações momentâneos.

Atender pais de alunos é indicado como um tipo de atividade rotineira para dois sujeitos, cada um com uma ocorrência de resposta. O sujeito A relata que os pais têm procurado a coordenação mais recentemente com preocupações referentes à formação ou a respeito da freqüência dos filhos nas aulas. O sujeito N não detalha tipos de assuntos que trata com os pais de alunos, mas cita essa categoria de pessoas como parte do “caminhão de pessoas” que atende diariamente.

A interação dos sujeitos com seus pares (outros diretores), com os funcionários e com chefias hierarquicamente superiores não aparecem como parte da rotina. Parece que os

fazem parte diretamente do curso que dirigem. Será que a delimitação de interações em um campo tão restrito leva a comportamentos de gestão caracterizados por estilos personalizados e diferenciados, criando mais uma outra sub-cultura que define características que contribuem para a maneira como cada curso de graduação é administrado?

A interação com pessoas é uma classe de comportamento que representou uma parcela significativa da rotina da maior parte dos diretores de cursos. O atendimento de alunos e professores é o que mais ocorreu ao comparar com os outros tipos de interação. É possível observar que a interação com pessoas está bem caracterizada como uma atribuição do diretor e que exige o atendimento de demandas e necessidades dos outros. O caráter do imediatismo, a solução de urgências e emergências fica mais uma vez destacado como um aspecto marcante na rotina dos diretores.

Atividades rotineiras que exigem o relacionamento com pessoas para o seu cumprimento precisam ser bem estabelecidas e melhor analisadas para descobrir os assuntos que levam a necessidade do relacionamento com o diretor. É possível que esse contato mais direto com o diretor seja uma decorrência de seu comportamento no processo de gestão do curso ou, ainda como parte das características culturais da organização de ensino. Como uma parcela de resultado dessa investigação é possível identificar que o relacionamento com pessoas, especialmente alunos e professores, é parte significativa da rotina dos diretores de cursos de graduação.

3.3 Resolução de problemas e atividades caracterizadas por repetição e burocracia são

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