• Nenhum resultado encontrado

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.2 Relacionamentos Interorganizacionais e Raio de Confiança

Tanto em Franca quanto em São Joaquim da Barra foram verificados relacionamentos interorganizacionais no setor calçadista, mas com tipos, intensidade e variedade diferentes. Dentre as formas básicas de relacionamentos interorganizacionais, verificou-se em Franca a existência de interações em pequenas redes e por meio de agência focal, diferentemente de São Joaquim da Barra, onde foram verificados apenas relacionamentos em pequenas redes de empresas amigas. Verificou-se, também, que os relacionamentos interorganizacionais em Franca são mais freqüentes do que em São Joaquim da Barra. Atribui-se essa diferença na freqüência à simples presença de mais de uma dezena de organizações de apoio à atividade calçadista em Franca, enquanto em São Joaquim da Barra não houve identificação de organizações de apoio. Entretanto, no âmbito horizontal, ou seja, envolvendo apenas fabricantes de calçados, os relacionamentos são limitados pela desconfiança em ambos municípios, principalmente por haver receios relacionados à cópia de modelos.

Quanto aos tipos de relacionamentos, foi identificada em Franca a existência de relacionamentos em rede, associações e interligações entre diretorias. Em São Joaquim da Barra também foram identificados relacionamentos em rede e interligações entre diretorias, além da possibilidade de relações em associação no futuro, com a expectativa de ações por parte da associação comercial local. Os relacionamentos identificados em Franca se dão tanto formalmente, como no caso do apoio da Prefeitura à construção do depósito de lixo, quanto informalmente, como nos empréstimos praticados entre empresários. Já em São Joaquim da Barra, os relacionamentos interorganizacionais são sempre informais. Registra-se que, para a identificação dos relacionamentos, foram utilizadas respostas ligadas ao apoio para o desenvolvimento da indústria e ações cooperativas, não havendo referências às relações comerciais, as quais estima-se que sejam predominantemente formais nos dois municípios pesquisados.

Com referência às interações, foi constatado que sua intensidade nos municípios pesquisados está limitada por deficiências no capital social. De acordo com Fukuyama (2000), todas as sociedades possuem algum capital social e a diferença reside no raio de confiança, cujas bases estão em normas cooperativas como honestidade e reciprocidade.

Em ambos contextos pesquisados, concluiu-se que o raio de confiança é bastante restrito, assim como a participação cívica. De acordo com Putnam (2005), a participação cívica fortalece as possibilidades de cooperação em benefício mútuo. O autor também diz que a cooperação e a confiança se reforçam mutuamente. No entanto, os níveis de cooperação e confiança na indústria pesquisada foram considerados bastante limitados, prejudicando a incorporação de economias de aglomeração, escala e escopo pelas empresas.

As limitações quanto à cooperação e confiança podem estar ligadas aos níveis de participação cívica identificados, os quais apresentam vantagens para Franca. Os entrevistados do município participam de grupos sociais como clubes e outras organizações com maior freqüência que seus pares de São Joaquim da Barra, assim como têm o hábito de acompanhar notícias sobre o município em jornais locais. De outro lado, tanto em Franca quanto em São Joaquim da Barra, a participação em eleições e referendos, bem como a preocupação com as externalidades de suas ações para os demais fabricantes de seus municípios é pouco expressiva.

Especificamente com relação à diferença no hábito de acompanhar notícias em jornais locais, acredita-se que possa ser explicada através de duas variáveis. A primeira diz respeito aos conteúdos dos jornais, considerando que os disponíveis em Franca abordam matérias em nível local e nacional, enquanto os de São Joaquim da Barra dedicam-se basicamente às notícias do município. A segunda variável diz respeito à escolaridade dos entrevistados. Dos empresários entrevistados em Franca, 11% declararam ter cursado apenas o nível fundamental, 44% disseram ter concluído o ensino médio e outros 45% manifestaram-se concluintes do nível superior. Já em São Joaquim da Barra esses números foram respectivamente 31%, 46% e 23[jjm6]%.

Quanto à criação e manutenção do capital social, verificou-se tanto em Franca quanto em São Joaquim da Barra que são prejudicadas pela limitação do raio de confiança, que faz com que as redes de empresas de menor porte contem com a participação de poucos integrantes. Com isso, conclui-se que a restrição do raio de confiança a pequenos grupos faz com que os ganhos trazidos pela proximidade física para a trajetória do capital social fiquem limitados.

Outro ponto comum nos municípios pesquisados foi a geração e utilização de três formas de capital social, quais sejam as obrigações e expectativas, potencial informacional e normas e sanções. Ficou clara durante as entrevistas a existência de trocas freqüentes de favores entre os empresários, dentre os quais estão incluídos empréstimos de materiais, máquinas e equipamentos, participação conjunta em feiras e trocas de informações entre outros. Entretanto, apenas em Franca foi possível verificar a utilização do capital social como um bem coletivo.

Com respeito às normas e sanções, a evidência ficou por conta da restrição para que os empresários considerados não confiáveis tenham acesso ao capital social. Esses empresários são tidos à margem dos pequenos grupos de empresas e não se beneficiam dos empréstimos de equipamentos e trocas de favores, por exemplo.

Os principais aspectos identificados nas relações interorganizacionais e capital social são apresentados na figura a seguir:

Franca SJB Fo rm a s Bási ca s

Redes e agência focal Redes

Ti

po

s

Redes, associações e interligações entre diretorias

Redes e interligações entre diretorias

At

o

re

s

Fabricantes e organizações de apoio Fabricantes

For m a li za ç ã

o Relacionamentos formais e informais Relacionamentos informais

Lim

it

a

dor

e

s Desconfiança entre os fabricantes Desconfiança entre os fabricantes

Ra io d e C onf ia

a Restrito a poucos fabricantes Restrito a poucos fabricantes

P a rt ic ipa ç ã o C ívi ca

Maioria participa de grupos sociais e lê jornais

locais/Maioria tem pouca preocupação com eleições e consequências de suas decisões sobre demais fabricantes

Minoria participa de grupos sociais e lê

jornais locais/Maioria tem pouca

preocupação com eleições e consequências de suas decisões sobre demais fabricantes

C ria ç ã o /M a nu te ã

o Limitada pelo raio de confiança restrito Limitada pelo raio de confiança restrito

Fo

rm

a

s Obrigações e expectativas, potencial

informacional e normas e sanções

Obrigações e expectativas, potencial informacional e normas e sanções

Fi n a lid a de da Util iza ç ã

o Individual e coletiva Individual

Rel aci o n amen to s I n te ro rg an iz aci o n ai s Cap it a l So ci al

FIGURA 6: Aspectos das Relações Interorganizacionais e Capital Social

Fonte: Elaboração do autor.

Considerando os aspectos identificados, conclui-se que Franca está em um estágio mais avançado que São Joaquim da Barra no sentido de aprofundar o aproveitamento das vantagens de aglomeração por meio das relações interorganizacionais e do capital social local. A vantagem de Franca estaria nos avanços que conseguiu promover em termos estruturais, contando com a presença de diversas organizações de apoio, incluindo associações de classe como é o caso

do Sindifranca. No entanto, ambos municípios pesquisados apresentam como limitador de seu avanço a restrição no raio de confiança, a qual não permite a formação de redes de empresas mais amplas e que cooperem entre si, independentemente de laços prévios de amizade ou parentesco.

Conclui-se ainda que em termos de capital social, os dois municípios apresentam características socioculturais bastante parecidas, embora os empresários de Franca apresentem um nível educacional maior dos de S.J. da Barra.. As maiores diferenças detectadas foram nos aspectos estruturais do capital social, com Franca apresentando maior desenvolvimento de mecanismos coletivos e maior utilização de recursos por finalidades coletivas.