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Relatório de atividades de Claric

3 EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NO BRASIL

8 ANÁLISES DOS RELATÓRIOS DE ATIVIDADES

8.3 Relatório de atividades de Claric

A professora Clarici leciona em uma turma multisseriada com alunos do 2º e 3º ano do Ensino Fundamental, na aldeia Pé de Serra. Além de entregar o relatório descrevendo o desenvolvimento metodológico para o Ensino de estatística, a professora anexou também o

planejamento de aula, fotografias, o modelo de questionário utilizado na pesquisa estatística e as atividades produzidas pelos estudantes.

No plano de aula, a professora descreve a temática, o conteúdo trabalhado e a metodologia proposta. De acordo com seu planejamento, ela trabalhou a temática dos Recursos Hídricos, dando enfoque ao tratamento da água para o consumo humano.

Para trabalhar a Educação Estatística, a docente propôs uma metodologia que aborda o ciclo investigativo, envolvendo atividades que faziam relação direta com a realidade dos estudantes.

No planejamento de Clarici foi possível observar que a professora, antes de introduzir as explicações sobre o tratamento da água para o consumo humano, planejou uma didática que iniciava com um momento de oração, seguida da realização de uma dinâmica - que não foi especificada no seu relato oral e escrito -, seguida de uma palestra com o agente de saneamento e distribuição de água – AISAM, o qual também acompanhou os estudantes na pesquisa de campo.

A docente propôs que os estudantes produzissem uma pesquisa estatística realizando entrevistas com os moradores da aldeia Pé de Serra e que os mesmos, ao final das atividades, realizassem uma produção textual, desenhos e apresentação em slides. As Figuras 25 e 26 mostram o trabalho dos estudantes nestas atividades.

Figura 25 - Roteiro de entrevista elaborado pelos estudantes da professora Clarici.

Figura 26 - Pesquisa de campo dos alunos da professora Clarici.

Fonte: Relatório de Clarici (2015).

Na descrição do relatório, Clarici apresenta algumas reflexões sobre o desenvolvimento das atividades com sua turma. Ela faz inicialmente menção para a importância da temática, no sentido dos estudantes aprenderem a valorizá-la, conforme o extrato de fala que segue.

As aulas desenvolvidas foram muito importantes para o conhecimento dos estudantes em relação aos cuidados que devemos ter com a água para o consumo humano. Na pesquisa na comunidade eles aprenderam na prática os cuidados essenciais para tratar da água com carrinho e cuidado e só assim evitar diversas doenças transmitida pela água contaminada, também puderam observar com mais atenção à riqueza que temos de água na nossa comunidade (Clarici).

Com relação à Educação Estatística, Clarici relata que através do trabalho interdisciplinar envolvendo a pesquisa de campo, os estudantes se beneficiaram fortalecendo sua identidade enquanto indígenas, valorizando o espaço que vivem e ampliando o conhecimento sobre a Matemática.

Aprenderam um pouco de matemática sem perder o foco do conteúdo estudado, entendendo e conhecendo um pouco sobre estatística no nosso cotidiano. Fortaleceram a sua identidade enquanto indígenas em valorizar o espaço em que vivem (Clarici).

De acordo com Cazorla e Santana (2010), uma das potencialidades do trabalho com a pesquisa estatística se refere a possibilidade de propiciar aos estudantes a participação ativa em todas as etapas da pesquisa, de modo que eles desenvolvam uma postura investigativa, tornando-se agentes ativos nos seus processo de aprendizagem.

Quanto à participação dos estudantes nas etapas da pesquisa, a professora Clarici esclarece que “na explicação de cada atividade os estudantes prestaram bastante atenção, de tal forma que se envolveram fazendo perguntas sobre o assunto abordado e dando seu depoimento sobre o que vivenciam em casa”.

Como mencionado e mostrado na figura 25, um dos instrumentos de pesquisa utilizado pela turma da professora foi a entrevista com os moradores da comunidade. A esse respeito, Clarici aponta em seu relatório que a participação dos estudantes, nesta etapa, foi de fundamental importância, pois os ajudou a compreender os resultados da investigação. Ela forneceu imagens desses momentos, conforme nos mostra a Figura 27.

Figura 27- Alunos da professora Clarici realizando entrevista com os moradores da comunidade.

Fonte: Relatório de Clarici (2015).

A respeito do desenvolvimento dessa atividade de entrevista, a professora Clarici ainda destaca que:

Os estudantes perceberam que a pesquisa com a entrevista na comunidade foi um instrumento essencial para se chegar ao conhecimento do número de famílias que tratam adequadamente da água para o consumo humano (Clarici).

A docente relata que após a realização da entrevista, trabalhou com os estudantes aspectos da organização e sistematização dos resultados através da construção de gráficos. A Figura 28 mostra os alunos durante o processo de construção dos gráficos.

Figura 28 - Alunos da professora Clarici construindo gráficos.

Fonte: Relatório de Clarici (2015).

No que se refere à produção dos estudantes, a imagem nos mostra que o trabalho em grupo foi um procedimento metodológico utilizado pela professora. A Figura 29 mostra os gráficos produzidos pelos estudantes.

Figura 29 - Gráficos de Setor produzidos pelos estudantes da professora Clarici.

Fonte: Relatório de Clarici (2015).

Observa-se que tanto no gráfico A como no B (Figura 29) os estudantes não apresentam informações consideradas importantes na apresentação da informação por meio

de gráficos, como é o caso do título e nomeação das variáveis. A ausência desses indicadores possibilita conjecturas voltadas para o entendimento de que o processo de sistematização das informações por meio de gráficos de setores constitui em fonte de dificuldade para os alunos. No entanto, presumimos que estes estudantes do 2º e 3º ano do Ensino Fundamental, talvez ainda não tenham trabalhado em sala de aula com os conceitos necessários para a elaboração de gráfico de setor.

Apesar dos estudantes não terem construído os gráficos de setores de forma convencional, a professora discute a importância do trabalho no âmbito da pesquisa estatística para uma aprendizagem significativa. Um dos pontos citados por ela que propiciou aos alunos uma melhor compreensão dos dados durante a interpretação dos gráficos, foi o fato de ter desenvolvido atividades colaborativas baseadas na realidade de vida da comunidade indígena, conforme seu extrato de fala explicita:

O gráfico produzido com o assunto foi de fácil compreensão para os estudantes porque o assunto abordado tem relação direta com a vida diária de cada um, sendo que foi com os dados coletados com a entrevista em comunidade que chegamos a organizar o gráfico usando a estatística (Clarici).

As ideias apontadas pela professora Clarici se relacionam com as discussões de Guimarães e Gitirana (2013), as quais destacam que, ao realizar a coleta de dados, os alunos tem mais facilidade para compreender os dados da pesquisa, revelando maior propriedade em analisar e interpretar os resultados.

Em seu relatório, Clarici refere ainda que realizou uma atividade de ditado contendo palavras relacionadas com o tema água. Também complementou o trabalho solicitando que os alunos elaborassem um texto e produzissem desenhos mostrando onde se localizam os recursos hídricos da aldeia. As Figuras 30 e 31 exibem as produções dos estudantes em relação a essas atividades.

Figura 30 - Exemplos de ditado de palavras realizado pelos alunos da professora Clarici.

Fonte: Relatório de Clarici (2015).

Figura 31 - Alguns desenhos realizados pelos estudantes da professora Clarici.

Fonte: Relatório de Clarici (2015).

É possível observar, a partir da Figura 31, que os estudantes realizam os desenhos retratando como a água potável chega a suas casas e incluem em suas produções características ambientais, como rios e a vegetação típica da região na qual a aldeia se localiza, assim como a forma como ela é armazenada em suas casas.

Consideramos que a professora propiciou situações que contribuíram para o fortalecimento da identidade indígena dos estudantes, oportunizando a ampliação do conhecimento estatístico a partir da vivência das etapas da pesquisa estatística, como a identificação do problema, coleta e tratamento dos dados. A esse respeito, a professora conclui em seu relatório:

Portanto as aulas foram gratificantes para o fortalecimento do ensino aprendizagem, aconteceu a troca de conhecimentos entre estudantes e professor, valorizamos a nossa convivência em comunidade o gosto de cuidar da água para o consumo. Compreendemos que a estatística é muito importante para conhecermos e identificar um determinado problema em comunidade. É também fruto de uma pesquisa e coleta de dados em determinado problema existente no meio social, que pode ser realizado por pessoas que vivem o problema ou não (Clarici).

Guimarães e Ferreira (2013) discutem a importância de se trabalhar a estatística em todos os níveis da Educação Básica e enfatizam a pesquisa estatística como eixo estruturador dos processos de ensino. De acordo com essas autoras uma das potencialidades da vivência com o ciclo investigativo é o desenvolvimento do pensamento estatístico, no qual os estudantes, durante o transcurso da investigação, compreendem a função de cada conceito.