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Relatório geral e experiências obtidas com a instalação do projeto-

3 O TRATAMENTO DOS CASOS DE SUPERENDIVIDAMENTO PELO PODER

3.1 Estudo do projeto-piloto instalado nas comarcas de Charqueadas e Sapucaia do Sul

3.1.4 Relatório geral e experiências obtidas com a instalação do projeto-

A análise de dados produzidos e a experiência obtida através do projeto-piloto sobre os casos de superendividamento é de fundamental importância. Os estudos aqui relatados ocorreram durante a execução do projeto nos anos de 2007 e 2008. Nesse período, mais de 3.000 pessoas receberam atendimento pelo projeto inovador, dentre as quais, em torno de 1.000 eram consumidores superendividados (LIMA; BERTONCELLO, 2010 b).

Durante esse período, o projeto foi desenvolvido em quatro Comarcas gaúchas: inicialmente nas Comarcas de Charqueadas e Sapucaia do Sul, e, com a consequente expansão do projeto, tiveram a implementação do projeto as Comarcas de Sapiranga e de Porto Alegre

(LIMA; BERTONCELLO, 2010 b).

período. Outro resultado de muita importância, é que os casos tiveram resolução no prazo máximo de 30 dias, contados desde a data de preenchimento do formulário-padrão, pelo consumidor superendividado, até o acordo na audiência de renegociação, demonstrando, dessa forma, a agilidade do procedimento estudado (LIMA; BERTONCELLO, 2010 b).

O estudo das juízas Lima e Bertoncello (2010 b), também revelou que as pessoas mais acometidas pelo fenômeno do superendividamento são os jovens, os idosos e as pessoas de baixa renda. O consumidor jovem está em busca de sua colocação no mercado de trabalho, não dispondo de muita renda, além das despesas com estudo, aquisição de veículo, imóvel, etc.

Os idosos, por sua vez, também são muito freqüentes entre as pessoas em situação de superendividamento. E as pessoas que dispõe de uma renda familiar mensal de até três salários mínimos, lideraram os indicadores do estudo.

Outro aspecto relevante do estudo demonstra que “[...] os núcleos familiares estão superendividados” (LIMA; BERTONCELLO, 2010, p. 317 b). Nesse contexto, as pessoas casadas e em união estável respondem pela maioria dos casos de sobreendividamento consumerista. Quanto às consequências desse demonstrativo, esclarece Lima e Bertoncello (2010, p. 317 b):

As potenciais consequências geradas com a submissão ao superendividamento familiar podem ser identificadas pela repercussão nos procedimentos de violência doméstica, pelos procedimentos de apuração de ato infracional e até mesmo nas dificuldades em solucionar a partilha de bens da separação/divórcio do casal, dada a ausência de distribuição de ativos patrimoniais e a presença de excesso de dívidas contraídas no curso da união.

Quanto às causas propulsoras do endividamento dos consumidores analisados pelo projeto-piloto, a redução de renda, o acometimento de doenças e morte na família, foram os fatores mais citados pelos indivíduos atendidos. Além disso, a maioria esmagadora dos consumidores auxiliados pelo projeto-piloto a honrarem com suas obrigações contraídas estavam com o nome negativado, perante os cadastros de inadimplentes.

Dessa perspectiva, é possível completar que

de trabalho, uma vez que os empregadores tem recorrido à consulta prévia destes cadastros quando da seleção dos candidatos. [...] este dado revela as inúmeras situações de crédito pendente e ausência de processo judicial de cobrança, em virtude do alto custo a ser enfrentado pelos credores,, que preferem manter os dados do superendividado nestes cadastros negativos, como forma de coação ao pagamento (LIMA; BERTONCELLO, 2010, p. 321 b).

O projeto-piloto, sobretudo, auxilia de maneira ímpar os consumidores atingidos por todos esses fatores que não condizem com uma vida digna, tornando-os livre de sentimentos de culpa e de vergonha, por que os indivíduos sofrem nessas situações.

Ainda, nessa linha de raciocínio, o projeto é abordado com a finalidade de possibilitar o acesso à justiça, especialmente, às pessoas menos favorecidas economicamente, contribuindo, portanto, com uma sociedade mais cidadã e igualitária.

CONCLUSÃO

O consumo repercute na qualidade de vida das pessoas proporcionando grandes benefícios à sociedade. Da mesma forma, o crédito apresenta-se como ferramenta imprescindível para o capitalismo, ao ponto que propicia uma maior circulação de mercadorias entre as pessoas, e, influenciando, diretamente, na qualidade de vida dos cidadãos.

No entanto, é indispensável a proliferação de uma cultura que preze pelo consumo consciente, caso contrário, estaremos, com maior frequência, diante de situações nas quais as dívidas contraídas podem representar um montante insuportável diante dos rendimentos mensais auferidos pelo consumidor, resultando, dessa forma, no superendividamento do indivíduo afetado.

O fornecedor precisa ofertar o crédito de forma responsável, observando requisitos básicos e a situação financeira do consumidor interessado. Por outro lado, o consumidor deve fornecer informações capazes de externar a sua condição econômica. Ou seja, é dever de ambas as partes colaborarem para a prevenção do superendividamento.

Além disso, é necessário ações que venham a contribuir para o estudo aprofundado e ideias que aprimorem o tratamento diferenciado das situações de sobreendividamento, bem como, a presença de uma legislação que regule as relações de consumo, especialmente, no que tange ao fornecimento de créditos ao consumo, a fim de impedir o assolamento desse fenômeno social.

Não obstante, o projeto-piloto analisado no presente trabalho, mostrou-se bastante eficaz e contributivo à sociedade, especialmente, verificada a maneira de como foram

procedidos os atendimentos aos consumidores, observando as particularidades de cada caso, além de evitar o litígio entre as partes e garantir ao consumidor superendividado o mínimo existencial necessário para sua subsistência.

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