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A fim de acompanhar o desenvolvimento da infiltração, a Lei 12.850/13, em duas ocasiões, determina que sejam elaborados relatórios, dando conta das atividades do agente, bem como de toda a diligência.

A elaboração do relatório é um momento processual relevantíssimo para que se verifique a legalidade de toda a operação.213 Tem razão IsabelOneto ao afirmar que “o relato não é a observação de uma mera formalidade, mas uma peça processual crucial”.214 A gravidade da medida e os riscos infligidos ao agente impõem um rigoroso controle judicial a fim de que tanto o juiz, quanto o Ministério Público sejam informados do seu andamento.

Neste sentido, a infiltração é uma operação restritiva de direitos e garantias dos investigados e de terceiros que não estão sob investigação. Assim sendo, ela precisa ser cuidadosamente acompanhada pela autoridade policial responsável pelo agente, pelo representante do Parquet e pelo magistrado que a autorizou.

O delegado responsável pelo agente, bem como o Ministério Público, serão informados para que tenham conhecimento do andamento da infiltração e possam avaliar seu desenvolvimento técnico. Irão verificar se a operação está seguindo a estratégia inicial, quais os passos futuros, quais as provas que já foram colhidas. E diante das provas obtidas podem avaliar quais serão os passos seguintes da operação. O relatório deverá ser apresentado para a autoridade policial regularmente, ainda que a lei não estabeleça um prazo.

O magistrado não acompanhará a parte operacional e técnica da operação. Ele fiscalizará a legalidade da operação, deverá ser informado de eventuais irregularidades e crimes que o agente venha a cometer. Ao magistrado é vedado

213 ONETO, Isabel. O agente infiltrado: contributo para a compreensão do regime jurídico das acções encobertas. Coimbra: Coimbra Editora, 2005. p. 188

determinar os rumos da investigação, ou sugerir provas a serem produzidas. A partir das informações recebidas pode o juiz fixar outros limites para a investigação: poderá autorizar outras condutas, fixar limites mais estreitos ou mais amplos para a atuação do policial, entre outros. A autorização proferida pelo magistrado tem natureza rebus sic stantibus podendo ser modificada ao longo da infiltração. 215

A lei estipula dois momentos para que sejam apresentados os relatórios: ao final da operação, o “relatório circunstanciado” será apresentado ao juiz competente que imediatamente cientificará o Ministério Público. E, no curso do inquérito, o delegado de polícia poderá determinar aos seus agentes e o Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo, “relatório da atividade de infiltração”.216

Pode-se depreender que são duas as espécies de relatório: a) “relatório da atividade da infiltração policial”; e b) “relatório circunstanciado” da infiltração policial.

O relatório da atividade da infiltração policial será elaborado pelo agente infiltrado e será endereçado à autoridade policial responsável pela operação. Ainda que seja requisitado pelo Ministério Público, o agente deverá encaminhá-lo ao seu superior que depois de revisá-lo encaminhará ao órgão ministerial.217

É por meio destes relatórios que o infiltrado informará a autoridade policial, bem como sua equipe de apoio o que efetivamente investigou acerca da organização criminosa a que está integrado.

A periodicidade do relatório será fixada pela autoridade policial, no plano da operação, e deve levar em conta a possibilidade de o agente apresentá-lo. Pode também ser fixada pelo magistrado no mandado de infiltração. Poderá ser diário, semanal, quinzenal, mensal, tudo a depender das peculiaridades da operação.

Estes relatórios não têm uma forma específica, vez que em razão de eventuais dificuldades de comunicação entre o policial e sua equipe, o relatório será

215 Esta é a opinião de Vicente Greco Filho: “A instrução do requerimento ou da representação é, evidentemente, rebus sic stantibus, ou seja, pelo que o delegado ou o Ministério Público dispõem no momento e em face delas o juiz definirá os limites da infiltração. Novas informações podem ser aditadas com o correr do procedimento e novos limites podem vir a ser fixados. Isso pode ocorrer a qualquer tempo ou por ocasião do pedido de renovação do prazo. (GRECO FILHO, Vicente. Comentários à lei de organização criminosa: Lei n. 12850/13. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 59)

216 Artigo 10, parágrafos 4º e 5º, da Lei 12.850/13.

217 Sobre o tema confira-se CARLOS, André; FRIEDE, Reis. Aspectos jurídico-operacionais do agente infiltrado. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2014, p. 51/54.

produzido como for possível. Deste modo, pode ser por carta, e-mail, mensagem de texto, bilhete, telefone.

Além do relatório que é elaborado pelo agente durante a infiltração, também será produzido um relatório quando a operação for encerrada e o agente não mais integrar a organização criminosa. Neste relatório, o policial deverá dar conta da sua investigação. Deve reportar-se à prova produzida que demonstre os crimes praticados pela organização criminosa investigada, deverá relatar se os fins planejados pela operação foram alcançados, deverá reportar eventuais crimes cometidos, estejam eles nos limites da autorização ou não.218 E deverá, o agente,

relatar se a sua atuação guardou a devida proporcionalidade com a finalidade da investigação, considerando a sua opinião. É lógico que a análise da proporcionalidade da medida será realizada também pelo magistrado que autorizou a infiltração e ao longo do processo penal será novamente analisada a proporcionalidade sob as luzes do contraditório judicial. Este, diferente do relatório parcial, deverá ser elaborado de forma escrita.219

O “relatório circunstanciado” da infiltração policial referido no artigo 10, § 4º, da lei 12.850/13 deverá ser elaborado pelo delegado de polícia, ao final da infiltração e será encaminhado ao juiz competente que imediatamente cientificará o Ministério Público.

A partir de todas as informações obtidas pelo policial infiltrado, bem como toda a prova produzida pela equipe de apoio ao longo da infiltração, o delegado de polícia elaborará o relatório circunstanciado que será encaminhado ao juiz competente. O “relatório circunstanciado” é bem mais amplo que o relatório da atividade de infiltração, pois reúne todas as provas coletadas pelo agente ao longo da infiltração, e também as provas produzidas a partir daquelas.

Será a partir dos relatórios elaborados que o juiz analisará a legalidade da medida, se a infiltração respeitou os limites judiciais fixados, bem como os limites legais.

Estes relatórios, assim como os autos da infiltração de agentes não tramitarão pelos cartórios e secretarias, devendo ser levados pessoalmente ao juiz e ao

218 CARLOS, André; FRIEDE, Reis. Aspectos jurídico-operacionais do agente infiltrado. Rio de

Janeiro: Freitas Bastos, 2014, p. 53.

membro do Parquet, de forma a que as informações lá constantes permaneçam sob sigilo, como é da natureza da operação. É preciso repisar que todos os documentos relativos à infiltração devem cuidar para que não se revele a identidade do policial infiltrado. A vida do agente depende deste sigilo.

No documento Ana Victoria de Paula Souza de Mathis (páginas 94-97)