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Relato da Visita ao Atelier Ceramicano

No documento O ensino da cerâmica em ateliers (páginas 44-60)

1.3. A Cerâmica no Brasil

2.1.2. Relato da Visita ao Atelier Ceramicano

O atelier funciona em um pavimento da residência da professora Regina29. O espaço é muito organizado, limpo, claro e arejado. Logo na entrada fica um cabideiro com vários aventais para uso dos alunos. Nas paredes e estantes, objetos de cerâmica esmaltados, como pratos e potes, oferecem um mostruário aos alunos. Outros

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Maria Regina Pimentel Souza. O atelier funciona na Rua Senador Amaral, 235, Bairro Mangabeiras.

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objetos, produzidos por alunas, aguardam a queima, que será feita no forno elétrico do atelier, a 1.000 graus (esmalte de baixa temperatura de queima), uma mesinha com pincéis e outros materiais para a execução da decoração das peças, adquiridas de terceiros no estágio de biscoito (primeira queima). Os esmaltes utilizados estão expostos em uma prateleira, identificados e acondicionados em pequenos potes. Por todo o atelier há peças de cerâmica, de variadas formas e estilos de decoração, principalmente motivos figurativos. Há também uma prateleira com potes de variados modelos e tamanhos, esperando serem escolhidos para que possam mostrar seu encanto. Regina explica que são fornecidos por um oleiro da região.

Mostruário de técnicas

Pergunto à professora como ela começou a trabalhar com cerâmica. Ela responde que foi introduzida no ofício por uma amiga, quando morou em São Paulo, em

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função do emprego do marido, há 38 anos. Esta amiga havia se matriculado em um curso de cerâmica em um atelier de cursos livres e a convidou a assitir a uma aula, e ela se encantou com a arte. A partir daí, não parou mais, pesquisando técnicas, frequentando lojas de materiais cerâmicas, onde encontrava indicações de pessoas que ensinavam as técnicas que eram apresentadas por elas, inclusive no exterior. Disse que herdou a paixão pelos trabalhos manuais da avó, que bordava e tecia. De volta a BH, começou a ensinar. Conta que foi proprietária de uma fábrica de cerâmica decorativa e utilitária que produzia através de formas de gesso, confeccionadas pela cunhada, e qual funcionou durante 12 anos, atividade que exercia paralelamente ao ensino de esmaltação em cerâmica. Pergunto a razão da escolha desta técnica, e ela diz que, de todas as técnicas de decoração, foi sempre esta a sua preferida, e a que despertou maior interesse às pessoas que a procuravam. Diz que, no início, ensinava a modelagem com argila, mas resolveu se dedicar predominantemente à esmaltação. Me mostra então peças modeladas por ela, algumas esperando a queima, outras esmaltadas, em exposição no atelier. A professora Regina diz que a maioria de seus alunos é de mulheres, raramente aparecendo algum representante do sexo masculino que, segundo ela, prefere a modelagem, principalmente no torno. Estas mulheres são donas de casa ou aposentadas, ambas em busca de uma atividade como hobby, quase nunca como atividade profissional. Poucas dão continuidade à atividade, por causa da necessidade de forno para a queima das peças. O curso é livre, sem imposição de tempo de duração, mas para uma boa apreensão das técnicas ela recomenda um ano de curso. O aluno é apresentado às técnicas, através do mostruário exposto, e escolhe o tipo de trabalho que quer executar. Ela então explica que vai orientando o aluno quanto a forma de aplicar o esmalte e quais os tipos de pinceladas são mais adequadas a cada efeito pretendido. Começa a ensinar a técnica mais fácil de executar até que o aluno adquira destreza para executar outra mais elaborada. Disse que sempre incentiva a criatividade e a imaginação dos alunos. O atelier fornece todo o material empregado para a decoração da peça e realiza a queima. Este material é elaborado por ela, com as bases e os produtos químicos comprados em São Paulo, às vezes em BH, e o aluno recebe a fórmula dos esmaltes que utilizou no atelier para a execução de seu trabalho, para que possa

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repetí-lo posteriormente. Oferece aulas de fevereiro a junho e de agosto a meados de dezembro.

Esmaltes e pigmentos do atelier

Segundo a professora Regina, seus alunos participam de feiras, exposições e bazares, sendo orientados e encentivados a isto. O atelier procura, também, cumprir seu papel social, e todo final de ano participa de alguma ação para isso. Neste ano vai arrecadar doações para a compra de suplemento alimentar para as crianças com câncer da Fundação Sara.

A professora Regina disse que adora ensinar, e mesmo não tendo formação acadêmica, desempenha bem sua tarefa de professora.

Apesar das semelhanças encontradas em todos os ateliers de cerâmica que eu já tive oportunidade de conhecer, algumas particularidades caracterizam cada um. Quando me propus a fazer as entrevistas, procurei escolher estabelecimentos bem diferenciados, tanto no conteúdo que era ensinado aos alunos quanto no envolvimento artístico proporcionado. Em alguns prevalecem as técnicas, noutros o desenvolvimento da sensibilidade. Enquanto uns são mais próximos do artesanato,

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outros visam o prazer estético. Mas, em qualquer um dos casos, a satisfação de quem procura se realizar através da Cerâmica é evidente, seja um estudante, uma dona de casa, pobre ou rica, um arquiteto, um aposentado, etc. Em ambos os casos a confraternização entre os praticantes é grande, promovendo a formação de grupos sociais que muitas vezes permanece durante toda a vida de seus integrantes.

49 CAPÍTULO 3

3.1. Relato de Atuação em Oficina de Cerâmica

Quando fui convidada a ensinar cerâmica para os internos de uma instituição de recuperação de dependentes químicos30, fiquei, durante algum tempo, indecisa se devia aceitar ou não, pois tinha uma idéia preconcebida a respeito destas pessoas. Achava que iria encontrar seres agressivos e revoltados por estarem ali, mas eu estava equivocada. Encontrei pessoas comuns, que passariam despercebidas se encontradas em outras circunstâncias, e em outros ambientes. O que as diferenciavam, olhando-as mais atentamente, eram os olhos angustiados ou tristes. Aceitei a tarefa, incentivada pelo colega que trabalha com teatro e desenvolveria dinâmicas de grupo com eles, e propôs que inicialmente fôssemos no mesmo horário, intercalando suas atividades com a minha. Ele já contava com bastante experiência como professor em oficinas de teatro.

Logo no primeiro dia, minha resistência caiu. Senti que poderia desenvolver um trabalho satisfatório para eles e enriquecedor para mim, eu que estava precisando de uma maneira de começar a ensinar. Não tinha como objetivo ajudar no tratamento diretamente, pois não era minha função como professora de Arte, nem formar artistas, porém proporcionar momentos de experienciação em Arte.

Ficamos, meu colega e eu, desenvolvendo as duas atividades paralelamente durante dois meses. Eu observava a desenvoltura dele ao trabalhar com as dinâmicas de grupo, e peguei um pouco de jeito, também devido à colaboração dos alunos, muito receptivos, ávidos por atividades que tornassem seu tempo menos entediante. Eles se interessaram, de verdade, pelas novidades apresentadas, visto que apenas um entre os doze já havia experimentada um pouco do fazer artístico. Às vezes, fico imaginando quantas obras de arte poderiam ser criadas se houvesse oportunidade para isso, nesta terra de tanto talento para a criação em outras áreas, como por exemplo, nos vídeos postados na internet. Mas, para que isso venha a

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Clínica CEMAP – Centro Mineiro de Assistência Psicossocial, localizada no Bairro Lagoa dos Mares, em Confins, MG.

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acontecer, precisaria de uma maior eficiência das escolas formais neste conteúdo, através de maiores investimentos na formação de professores e sua manutenção na função, através de melhores salários e condições de trabalho.

Nossa primeira atividade em comum envolveu a confecção de máscaras, que poderia contemplar a atividade teatral e a criação com a materialidade. Fundimos no gesso o rosto de todos em dois dias de aula, com todos participando ativa e coletivamente. Para isso, utilizamos faixas gessadas, compradas em farmácia, molhadas e colocadas sobre o rosto, besuntado de vaselina, para copiar sua forma. Tivemos algumas situações divertidas, como, por exemplo, de um dos alunos cochilando durante o processo, roncando ruidosamente (com o movimento da bochecha por causa do ronco, sua máscara ficou com uma deformação em um dos lados). Depois da fundição dos rostos, trabalhamos com argila sobre eles, acrescentando verrugas, chifres, deformações e outros elementos estranhos, dando forma às máscaras, e fizemos novamente as formas para que fossem confeccionadas. Produzimos máscaras empapeladas e em cerâmica. As máscaras empapeladas foram confeccionadas com papel craft e cola branca, com as imperfeições corrigidas com massa acrílica e massa corrida, e pintadas com tinta acrílica de paredes branca pigmentada com corante líquido.

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Antes de executar a pintura nas máscaras, utilizamos um dia de aula para ensinar um pouco da teoria das cores, e eles tiveram oportunidade de aprender sua magia, misturado as tintas primárias para conseguir as outras cores. Esta aula foi muito interessante. Os alunos ficaram encantados com as faixas coloridas pintadas com as cores preparadas por eles, considerando-as verdadeiras obras de arte.

Quando trabalhamos com as máscaras em cerâmica eu já estava atuando em dias diferentes do meu colega do teatro, já tendo ensinado algumas técnicas de modelagem aos alunos.

Para executar as máscaras em cerâmica utilizamos a técnica de placas, estendendo-as sobre a forma com a ajuda de uma bucha de espuma, molhada, e também a técnica de rolinhos, usando engobe para a decoração. Os alunos aprenderam a preparar os engobes utilizando argila da própria região. Os engobes verde, azul, preto e marrom foram feitos com corantes minerais comprados. Como a clínica não possui forno para a queima da cerâmica, eu as queimei em meu forno.

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A esta altura eu já havia passado aos alunos os principais fundamentos da cerâmica. Trabalhamos com as técnicas de rolinhos, placas, blocos esculpidos e depois ocados, a utilização das estecas e seus recursos para efeitos de decoração, como ranhuras, texturas, incisões, etc., e também a utilização de palitos, gravetos, talheres e outros objetos, explorando suas possibilidades também para imprimir texturas pressionando-se sobre a superfície da argila. Às vezes algum aluno tenta resolver o assunto abordado de forma simplista ou negligente, e, então, dificulto o trabalho, para que ele se esforce mais, exercitando sua imaginação e raciocínio. Este artifício usado por eles pode ser devido à sua doença, quando falta firmeza nas mãos, ou elas tremem. Alguns têm dificuldades de manter informações recentes, esquecendo rapidamente as orientações, tendo que ser repetidas várias vezes em pouco espaço de tempo. Sentem uma grande necessidade de aprovação, ficando orgulhosos com suas realizações.

Apesar da dificuldade motora e neurológica de alguns alunos, o resultado tem sido satisfatório, com uma produção razoável de trabalhados. Mesmo um determinado paciente, portador de Alzeheimer, que conseguia somente amassar a argila nas mãos, mostra satisfação em participar das aulas, também pelo fato de acompanhar os colegas até o local das atividades.

O tempo de internação é variável, de acordo com a condição do paciente e sua resposta ao tratamento prescrito. Por isso, é necessário ir adaptando as tarefas de acordo com o andamento do tratamento. Quando o paciente tem um tempo maior de internação, é possível desenvolver um programa bem amplo. Cada vez que chega novo aluno, este recebe as orientações básicas sobre as técnicas. Agora, temos também duas mulheres na turma, o que está fazendo bem ao grupo, pois proporciona uma dinâmica diferente, mas leve e mais alegre. Elas mostram uma grande intimidade com a argila, remetendo-me ao fato de ser das mulheres a tarefa da produção da cerâmica em muitas culturas primitivas.

Com a evolução das atividades, percebi que precisava sempre planejar tarefas alternativas, para o caso de algum aluno desenvolver sua tarefa antes dos outros e ficar ocioso, pois isso dispersa os outros.

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Algumas atividades podem ser retomadas depois de certo período, quando todos que a desenvolveram já tiveram alta médica, geralmente seis meses depois. Outras podem ser retomadas sob outro contexto, como no exemplo da confecção de máscaras. Depois da primeira atividade, retomamos ao assunto com o uso das formas de gesso para o estudo da técnica de placas e rolinhos em cerâmica.

A clínica funciona em uma casa adaptada, em uma grande área verde, que vai da rua até a margem de uma das lagoas do município. Antes da clínica, este sítio era alugado para fins de semana. O local é muito agradável e inspirador, onde a natureza está presente. Por todo lado, árvores enormes, frutíferas e nativas. Vários animais silvestres frequentam o local, como micos, esquilos e gambás, além de uma grande variedade de pássaros, como tucanos, bem-te-vis, sabiás, todos cantores, além de uma arara azul, pássaro abandonado por um antigo morador da casa e que se tornou mascote dos atuais ocupantes. E muitas borboletas. A oficina de cerâmica funciona, provisoriamente, em um quiosque de sapé e madeira, com algumas mesas e bancos de pedra ardósia, ao lado de uma pequena piscina, com a lagoa ao fundo, depois de um campinho de futebol. Nossos materiais e ferramentas ficam guardados em um anexo onde eram guardadas coisas sem utilidade.

É no contato com este ambiente e no perfil dos alunos que procuro temas para desenvolver em cerâmica. Produzimos cinzeiros, lamentando a necessidade de seu uso por eles. Produzimos objetos que remetiam a recordações agradáveis de suas vidas, surgindo animais domésticos, poço de água com balde, a corda e a manivela, bolas de futebol, tigelas, potes, canecas e outros utensílios domésticos. A lagoa e a piscina deram origem a uma série de peixes, confeccionados com a intenção de decorar o murinho que separa a piscina do quintal. Escolhemos o tema e empregamos a técnica de modelagem mais adequada a sua execução. Para os peixes utilizamos placas, inicialmente planas, criando peixes de formatos e tamanhos variados, e depois abauladas, conseguidas moldando-as sobre jornal embolado. Os peixes foram decorados com incisões e texturas, explorando os vários formatos das estecas e outros instrumentos disponíveis e pintados com engobe de várias cores. A partir desta tarefa desenvolvemos uma série de criaturas imaginadas como peixes submarinos de alta profundidade, depois que um aluno criou um objeto

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fantástico, dizendo que não conseguia fazer peixe algum. O que seria motivo de frustração do aluno, ironizado carinhosamente pelos colegas, acabou sendo um ótimo tema. O resultado foi muito bom, principalmente pelo clima de camaradagem e cooperação que gerado na turma, tocada pela falta de habilidade do colega. Agora estamos nos preparando para começar a série de pássaros, que colocaremos nos galhos das árvores mais próximas ao nosso espaço. Pretendemos fazer instrumentos de sopro para tentar imitar seu canto.

Uma atividade interessante, também, foi a confecção de peças para bijuterias. Eu precisava de pequenos objetos para demonstrar a queima de cerâmica utilizando serragem de madeira, procedimento que poderia ser realizado na própria instituição, resultando em um produto executado totalmente lá. Fizemos bolinhas de diferentes tamanhos e pingentes variados, como cruzes, plaquinhas arredondadas carimbadas com santinhos e crucifixos, flores, estrelas, medalhões, etc. Esta técnica de queima utiliza uma lata de embalagem de tinta para parede de 18 litros, com um furo para entrada do fogo e outro para a saída da fumaça, usando a serragem como combustível. O resultado foi muito legal. Fizemos a montagem de colares, e todo mundo gostou.

Meus alunos têm idades entre dezenove e setenta anos, tentando submergir do mundo obscuro da dependência química. Causa-me muita pena o desperdício de vida dessa gente, alguns de sensibilidade incomum, talvez devido ao seu sofrimento ou à consciência do sofrimento causado às famílias, que não desistiram deles, pois comentam de suas visitas aos fins de semana. A coordenação da instituição diz que a atividade artística está contribuindo para seu tratamento, e eu fico satisfeita com isso, mesmo sabendo que meu compromisso com eles é de envolvimento com a Arte, esta atividade capaz de proporcionar momentos de comunhão do indivíduo consigo mesmo, até mesmo fazendo-o se desligar das outras coisas ao seu redor. Às vezes proponho reflexões acerca de algum tema surgido ao acaso, não no sentido moralista, mas como possibilidade de projeção em suas obras, que espero que tenham algum significado para eles, mesmo que outros não consigam enxergar. Comove-me vê-los concentrados, às vezes não conseguindo alcançar o resultado imaginado devido à falta de prática, mas quando dá certo é compensador ver a

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satisfação e o orgulho com que exibem o resultado a todos. Quase sempre dizem que presentearão alguém da família com o objeto.

Exposição dos trabalhos dos alunos

O local utilizado para o ensino da cerâmica ainda é improvisado. Não temos nem onde guardar com segurança as peças modeladas, e já aconteceu de perdermos algumas antes da queima, mas a coordenação da instituição tem intenção de nos proporcionar uma estrutura melhor, inclusive adquirindo equipamentos, como um pequeno forno e um torno, além de fazer as instalações adequadas a um atelier de cerâmica.

56 REFLEXÕES FINAIS

A indústria cerâmica hoje conta com equipamentos (fornos, marombas e tornos) e insumos aprimorados a cada geração de ceramistas, com profissionais especializados em cada etapa do processo, como engenheiros mecânicos e químicos, atuando em indústrias modernas e eficientes. Porém, o ensino e as técnicas de fabricação da cerâmica artesanal conservam características dos empregados na antiguidade e na Idade Média, em seus mosteiros e corporações de ofício.

Na maioria dos que eu já visitei (em outras ocasiões que não estas citadas neste trabalho) existem as figuras do professor (mestre), de seus ajudantes (oficiais) e dos alunos (aprendizes). Nestes ateliers o professor produz sua arte, auxiliado por profissionais treinados, pessoas habilidosas que buscaram na cerâmica seu emprego, executando as tarefas corriqueiras da produção. A diferença é quanto aos aprendizes, que antigamente aprendiam o ofício em troca de serviço prestado ao mestre, visando o emprego nas corporações, e hoje o aluno frequenta o atelier mediante pagamento de mensalidades para aprender determinadas técnicas, visando trabalhar em seu próprio atelier ou apenas como passatempo.

Um fato que observei em ateliers de cerâmica que se dedicam também ao ensino é que o professor também se realiza com a obra do aluno, mantendo uma relação de comunhão com a mesma. Com meus alunos também sinto isto. Às vezes, quando uma peça está sendo elaborada, imagino um caminho, porém o aluno imagina outro, às vezes surpreendente, de muita sensibilidade, e eu vejo, então, que do seu jeito foi melhor resolvido. E eu vejo que cada pessoa é única, capaz de encontrar resoluções diferentes de outra pessoa, e que não podemos menosprezar a capacidade de ninguém.

Acredito que todo ceramista tem um respeito muito grande pela natureza. É dela que vem nossa matéria prima, sendo necessários todos os quatro elementos para sua existência: a terra, o ar, a água e o fogo. A terra atravessa todos os outros até se

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tornar independente e se tornar Arte. Bebe a água, voa e se abriga no fogo. E bela, ressurge das cinzas para reinar imponente. Já não é deste mundo.

Uma frase que achei muito bonita, retirada do livro de Márcia Norie Seo31, professora e ceramista em BH, impressionada diante de uma obra modelada pela também ceramista Silmara Watari, define bem a arte da cerâmica:

De material informe, mediante a ação do artista, a argila passa a ser um objeto que tem existência em nossa realidade e que pode ser contemplado por qualquer pessoa. Agora, perceptível no mundo físico, esse objeto visualizado pode ser comparado a uma poesia expressa numa linguagem não verbal. A cerâmica representa, assim, a passagem do estado de natureza ao de cultura, do inanimado ao vivo.

A Arte da cerâmica continua despertando o interesse e provocando admiração, sendo a arte mais democrática entre todas, pois é praticada tanto por uma comunidade pobre, produzindo peças somente biscoitadas32, perdida no sertão nordestino, como por pessoas de classes mais favorecidas, em uma capital, usando todos os recursos disponíveis da tecnologia em suas obras.

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- SEO, Márcia Norie. A Arte que Virou Poesia: A Arte da Cerâmica em Toshiko Ishii. 1. ed. Belo Horizonte: Editora C/Arte. 2.015.

58 REFERÊNCIAS:

- AVELO, Adriano Cegueira; SCHMITT, Denise Verbes. Por uma História Moldada na Argila: O uso de Oficina de Cerâmica parta Conhecer Diferentes Culturas. Revista Latino-Americana de História. Vol.

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