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O sujeito do relato de caso tem 48 anos de idade, é padre, nasceu no Ceará, teve vinte e seis irmãos (o pai se casou duas vezes, na primeira ficou viúvo). Sua infância foi marcada pela seca e pela fome do nordeste, seu primeiro emprego foi aos oito anos de idade, nas chamadas “frentes de trabalho”, composta por homens adultos e meninos com idade de aproximadamente dez anos, que tentavam sustentar suas famílias carentes de toda necessidades básicas de sobrevivência. Este sujeito era analfabeto até os seus vinte e dois anos. Ao completar dezesseis anos, Moacir resolve sair de sua terra natal, abandonando sua família,e foi em busca de melhores condições para a sua vida e sua família.

Em Brasília ele passou por momentos difíceis, desemprego, solidão, e desesperança permearam sua vida na capital. Por indicação de um amigo conseguiu o seu primeiro emprego, onde aprendeu sobre a vida e trabalho, mas ao mesmo tempo em que trabalhava, envolveu-se com pessoas de um mundo diferente daquele que estava acostumado no nordeste e entrou “no mundo dos vícios”. Alcoolismo, drogas e prostituição compuseram seus dias. Nesta fase da sua vida começou a vivenciar um processo depressivo, de muita angústia e até a experimentar um sentimento de uma vida sem sentido. Neste momento, tentou suicídio algumas vezes. Moacir permaneceu nesta situação por alguns anos até chegar ao “fundo do poço” e dali só sairia depois de passar pela experiência que transformou a sua vida no dia doze de junho de 1983, em uma igreja católica. Atualmente Moacir é padre de uma pequena paróquia em Brasília (pequena se dimensionarmos a questão territorial, mas em quantidade de adeptos é a maior de Brasília) onde realiza celebrações semanais de cura e libertação. Os seus cultos têm uma particularidade justamente por sua história de vida e o contato com o transcendente. Neste caso, refiro-me como transcendente “o Deus” do cristianismo católico. Padre Moacir realiza um grande evento denominado de “Semana de Pentecostes”, que atrai cerca de milhões de fiéis. O relato de caso a seguir está descrito em seu livro “A força que vem da cruz”:

Era o dia doze de junho de 1983, dia dos namorados e Moacir estava retornando ao trabalho, após ter passado a noite em uma festa e ter bebido bastante. Durante o período de

trabalho sentia que aquele dia seria diferente de todos os outros de sua vida, mas mesmo assim cumpriu com suas tarefas de mensageiro no hotel.

Ao sair do trabalho às 15h30min, se propôs ir ao cinema. Ao deixar o seu local de trabalho Moacir sentiu que alguém o acompanhava cada vez mais. Impressionado com essa percepção, achou que estava enlouquecendo ou tendo alucinações, em virtude da bebedeira da noite anterior, mas continuou seu percurso, rumo ao cinema. Moacir relata em seu livro autobiográfico que de repente, sem que houvesse uma explicação lógica se deparou subindo uma escada da qual não lhe era familiar, em um local desconhecido, e logo a sua frente viu uma enorme porta, que se abriu sem que ele ou outra pessoa a tocasse, e quando entrou, a mesma se fechou.

Moacir se percebeu em uma Igreja denominada, Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A Igreja estava vazia, somente ele estava ali. Surpreso com os acontecimentos, ele começou a olhar aquele lugar, e logo se deparou com a imagem de um homem crucificado no centro da Igreja e uma força estranha o aproximou daquela imagem.

Ao vê-la de perto, caiu prostrado de joelhos e um fogo forte aqueceu o seu coração. Sentiu então, seu corpo queimado. Uma mistura de sensações e emoções o envolveu e começou a tremer. Não se conteve e chorou prostrado com o rosto na terra, e dizia para aquele homem da Cruz: “Sei que você existe e está aqui, sei que pode me ajudar! Pode me abençoar, me transformar, cuidar de mim! Senhor da cruz, não compreendo como cheguei neste lugar, mas estou aqui aos seus pés! Não sei como cheguei neste lugar, mas estou aqui, aos seus pés!” (CARVALHO, 2005, p.42). Ao dizer estas palavras sentiu-se aliviado, algo de ruim havia saído dele, estava imerso numa paz de espírito, como nunca havia sentido antes. Sentiu-se acolhido e amado, justamente naquele dia 12 de Junho, dia dos namorados.

Moacir descreveu em seu livro que naquele momento havia encontrado uma companhia e que não estava mais sozinho, tinha alguém que o amava de verdade. Escutou uma voz que dizia: Sê bem “vindo! Tu chegaste. Eu venci; estás aqui! Confiança, Eu te salvei, morri na cruz por ti. Eu te Amei!”. Depois destas palavras ouviu também outra voz que lhe perturbou: “Você vai morrer”. (CARVALHO, 2005, p. 43). Apesar disso a primeira voz lhe soava mais forte, pois lhe falara do amor e por isso Moacir se apossou desta.

Depois daquele momento inexplicável, mais profundo, Moacir sentiu-se perdoado e amado por aquele homem crucificado e levantou-se convicto de que a sua vida tinha se transformado, porque um sentimento de amor o invadiu e agora estava apaixonado pelo homem da cruz.

Quando estava saindo daquela igreja, depois desta experiência, percebeu que estava sendo conduzido para outro lugar, e por uma mão que não conseguia ver, mas sabia que esta o estava direcionando para algum lugar. Chegou ao subsolo da igreja. Lá viu um salão com muitos jovens felizes, mas alguém o avisou que não era ali que ele deveria ficar, e o conduziram para outro local onde se encontrou algumas senhoras que o olhava. Moacir no seu relato autobiográfico, afirma que elas estavam rezando o terço. E descreve que durante a oração de perdão uma daquelas senhoras começou a ler uma história bíblica, na qual era narrada a passagem do “filho pródigo”. Essa história é a história de um jovem que pede ao pai a sua parte da herança. Depois sair de casa começou a gastar sua fortuna, com bebidas, mulheres, jogos e amigos. E quando já não tinha mais nada, tendo perdido o seu dinheiro, passou a cuidar de porcos para saciar sua fome com os restos que estes deixavam. Frente a sua solidão sem amigos e sem dinheiro, voltou para a casa do pai e pediu perdão por tudo o que fez, por todos os seus pecados. O pai o perdoou e o acolheu de volta em sua casa com grande festa.

Após o relato desta história Moacir percebeu que aquela história é bem parecida com a sua história de vida, e que aquele filho pródigo se tratava na verdade dele mesmo. Tomou consciência de que existe um Deus que o amava e que podia salvá-lo, seja qual for à situação ou dificuldade. Daquele momento em diante Moacir mudou sua vida radicalmente, acolheu a fé católica como sua fé, deixou o seu trabalho e foi para um seminário, onde deu inicio aos estudos. Diante de muitas dificuldades conseguiu fazer o primeiro e o segundo grau, e, mais tarde se formou em teologia, tornando-se sacerdote da igreja católica.

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