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Pró-Reitoria de Graduação Curso de Psicologia Trabalho de Conclusão de Curso

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CIA APARECIDA MARTINS DA MATA

FENÔMENOS RELIGIOSOS E PSICOLOGIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL A PARTIR DA CULTURA

Curso de Psicologia

Trabalho de Conclusão de Curso

FENÔMENOS RELIGIOSOS E PSICOLOGIA: UM DIÁLOGO

POSSÍVEL A PARTIR DA CULTURA

Autor: Crícia Aparecida Martins da Mata

Orientadora: Flávia Bascunan Timm

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CRÍCIA APARECIDA MARTINS DA MATA

FENÔMENOS RELIGIOSOS E PSICOLOGIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL A PARTIR DA CULTURA

Monografia apresentada ao curso de graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em psicologia.

Orientadora: Flávia Bascunan Timm

Brasília 2011

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Trabalho de Conclusão de Curso de autoria de Crícia Aparecida Martins da Mata, intitulado Fenômenos religiosos e psicologia: um diálogo possível a partir da cultura, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Psicologia da universidade Católica de Brasília, em (21/06/2011), defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada:

Profª. Msc. Flávia Bascunan Timm Curso de Psicologia-UCB

Profª. Msc. Shyrlene Nunes Brandão Curso de psicologia - UCB

Brasília 2011

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AGRADECIMENTO

Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição (II Tim.7,8).

Meu eterno e grato agradecimento a Deus, meu Senhor que em sua promessa e em tudo foi fiel. Te louvo, Jesus pela oportunidade de estudar e por ter vencido! Obrigada a Nossa Senhora Aparecida, minha mãe por sua intercessão e amparo. Essa vitória é tua Maria!

À minha família, pais e irmãos, a quem amo infinitamente, meu eterno agradecimento. Vocês me ajudaram a ser o que sou hoje, e é pela graça de Deus que eu sou o que sou. Amo vocês!

Meu agradecimento muito especial ao meu pai espiritual Pe. Moacir Anastácio, o senhor é de fato um pai para mim. Por sua história de vida, de determinação, bravura, coragem e principalmente por sua fé em Jesus Cristo. Por ter acreditado em mim, eu lhe sou muito grata. Deus o abençoe.

Aos professores, que tanto me ensinaram e orientaram com suas experiências e conhecimento. A professora Shyrlene que se dispôs a estar comigo na finalização do trabalho, obrigada. Agradeço especialmente a minha orientadora Flávia por tudo que me ensinou durante o trabalho, por sua paciência, compreensão e dedicação. Muito Obrigada!

Aos meus amigos, Ana Carolina, Cida, Larissa Naira, Nerphetite, Jozely, Daniela, Luciana, Sibéria, Rosângela e Taline. Aos que colaboraram direta e indiretamente com meus estudos.

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RESUMO

Este trabalho tem como finalidade abordar os Fenômenos Religiosos e a Psicologia: um diálogo possível a partir da cultura, evidenciando como este fenômeno que é histórico e cultural se realiza na sociedade e no sujeito. A psicologia visa compreender as manifestações e os comportamentos emergidos da interação social do ser humano, com o mundo e com os outros e é por meio dos códigos culturais que este constitui a subjetividade e forma as singularidades. A relação do indivíduo com a religiosidade se faz possível pelos códigos compartilhados socialmente e, quando internalizados, promovem, para quem o vivencia, uma relação íntima e transformadora a partir do contato com o transcendente, como será apresentado no relato de caso.

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ABSTRACT

This works has the finality to approach the Religious Phenomena and Psychology: a possible dialogue from the culture highlighting how this phenomenon that is historic and cultural happens in the society and in the subject. Psychology seeks to understand the manifestations and the emerged behaviors of the social interaction of the human being, with the world and with the others and is through cultural codes that this constitutes subjectivity and form the singularities. The relationship of the person with the religiosity is only possible by the shared codes socially, and when internalized, promote for whom it experience a intimate and transformative relationship from the contact with the transcedent, as will be presented in the case reported.

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SUMÁRIO

Introdução 8

Capítulo I- Metodologia Qualitativa 11

Revisão de Literatura 17

Capítulo II- Cultura e Fenômeno Religioso 17

Capítulo III - Constituição do Sujeito/Subjetividade e a Importância da Linguagem 23

Capítulo IV - Psicologia e Psicologia da Religião 26

Capítulo V - A Religião Cristã no Contexto Histórico Ocidental 32

Capítulo VI- Deus - Objeto de Desejo e Promoção da Saúde_______________________40

Capítulo VII- Relato de Caso 44

Notas Conclusivas 47

(8)

INTRODUÇÃO

Ao longo da história, verifica-se uma inquietação da pessoa humana, por uma busca de sentido para existência. Esse fenômeno ocorre dentro do contexto histórico, social e cultural do indivíduo. Constata-se que a constituição do sujeito e de sua subjetividade1 se dá na cultura. É por meio da linguagem que o ser humano vai se firmando como sujeito, nesse processo de aprendizado, e reconstrução de si mesmo e do mundo, dando significado à sua existência. Lane (2006), afirma que essa constituição ocorre através das características particulares de cada pessoa e do seu relacionamento com os outros. É da troca de experiências sociais, dos papéis singulares de cada elemento do grupo, que se revela sua identidade. A experiência religiosa está condicionada às necessidades do indivíduo dentro de seu contexto histórico cultural, dessa forma, constitui-se sua subjetividade no âmbito da sua cultura, influenciada pelos valores nela estabelecidos. De acordo com Figueira (2007), os fenômenos religiosos ocorrem na relação desse sujeito com o objeto transcendental.

Segundo Valle (1998), a pessoa humana manifesta o desejo de comunicar-se com algo que lhe confira sentido próprio, algo transcendente que lhe revele o Divino. Observa-se que esse desejo do sagrado está presente no espírito humano. É esse desejo que justifica o fenômeno religioso na vida do homem e da mulher. O ser humano sente necessidade psicológica de realizar seus anseios mais profundos. Afirma Almeida (2008), que o envolvimento do ser humano com o “sagrado” 2 implica uma boa qualidade de vida e de bem estar psicológico, essa experiência profunda aponta para a dimensão da fé3 que transcende a lógica e a linguagem comum. Adentra-se no campo da “revelação”, onde ocorre a experiência singular do sujeito.

1

Entende-se subjetividade como uma dimensão complexa, sistêmica, dialógica e dialética, definida como espaço ontológico (GONZALEZ, 2004).

2

A palavra "sagrado" provém do latim sacrum, que se referia aos deuses ou a alguma coisa em seu poder -, deriva-se os termos: augusto, venerando, inviolável, respeitável, purificador (WIkIPÉDIA, 2011).

3

Fé religiosa – adesão total do ser humano a um ser transcendente, experiência singular e intransferível, vivida e experienciada pelo próprio individuo CALMAN, (1998. p.83).

(9)

De acordo com Rudolf Otto (2007), é no encontro com o “numinoso” 4, o “totalmente outro”, que se define esse caráter revelacional.

A psicologia estuda a forma de como o discurso religioso adentra na sociedade e analisa o processo de internalização dos “símbolos religiosos”, criando as zonas de sentidos e de significação. Vergote (2001), afirma que a psicologia estuda os fatores, as representações, e os conflitos que compõem o desejo em relação ao divino, o estudo do fenômeno religioso pode ser compreendido dentro da sua própria cultura, e a experiência particular do indivíduo transcende a própria linguagem. Um dos desafios metodológicos da psicologia da religião é perseguir o conhecimento, delineando formas de estudo que respeitem a especificidade do saber psicológico, e da singularidade das tradições religiosas (LOPEZ, 2002).

A psicologia da religião, como ciência humana, estuda a origem e a natureza dos fenômenos religiosos ocorridos na “psique” do indivíduo, não sendo sua tarefa definir o que é o “fenômeno” e sim o porquê e como estes fenômenos ocorrem no mundo interno da estrutura psicológica do sujeito. A psicologia da religião e a antropologia têm como objeto próprio, respectivamente, a estrutura e a dinâmica social e antropológica da religião, sendo tarefa das mesmas descrever e explicar psicologicamente a estrutura e a dinâmica do agir religioso do ser humano (VALE 1998).

Pretende-se nessa pesquisa analisar como o fenômeno religioso pode interferir na subjetividade humana, destacando, para esta análise, os aspectos culturais que favorecem a fé/crença e como lugar em que ocorrem tais experiências vividas pelo indivíduo, no meio do seu grupo. Será utilizado como metodologia para a realização desse trabalho, a pesquisa bibliográfica qualitativa5, com enfoque fenomenológico6. A seguir, elencamos alguns autores que oferecem

4 Numinoso, segundo Rudolf Otto, aplica-se ao estado religioso da alma inspirado pelas qualidades transcendentais

da divindade.

5

Esta metodologia qualitativa é utilizada nas ciências humanas e visa pesquisar, explicar e compreender os fenômenos subjetivos da vida humana

6

Enfoque fenomenológico – trata-se de perceber o fenômeno tal como ele se apresenta – visa compreender o fenômeno religioso por meio da subjetividade da experiência humana que ocorre na vida deste ou daquele indivíduo (HUSSERL).

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subsídio para argumentação e fundamentação deste trabalho: Laraia (2009), antropólogo, cuja obra utilizada neste estudo é intitulada Cultura. Mircea Eliade, cientista das religiões, autor de várias obras, dentre as quais se destaca: História das idéias e crenças religiosas v. I e II, que tratam das questões históricas das religiões em várias culturas. Croatto (2010), cientista das religiões, por oferecer uma hermenêutica sobre a linguagem religiosa de forma clara e profunda. O mesmo é autor da obra: As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à fenomenologia da religião. Edênio Valle (1998), Psicólogo da Religião, escreveu sobre a Psicologia e experiência religiosa, apresentando como a mesma se dá, de forma geral, com destaque para o Brasil, como lócus de sua experiência empírica. Rudolf Otto (1998), outro estudioso do fenômeno religioso, cuja obra de destaque é O Sagrado, onde ele articula o “Sagrado” com o “Numinoso” e ao ”totalmente outro”. Utilizou-se neste trabalho outras fontes, tais como: artigos, periódicos, revistas, internet e outros, que foram considerados relevantes para este estudo.

O primeiro capítulo trata da metodologia qualitativa para o estudo da essência do fenômeno religioso que se realiza na subjetividade humana. No segundo capítulo refere-se ao estudo sobre a cultura e sua relação com o fenômeno religioso. Dentro dessa análise a cultura é vista à luz do pensamento de Laraia, processo histórico da construção da cultura. Destacando-se as interações do sujeito com os códigos culturais, bem como a forma com que a experiência do fenômeno religioso se desenvolve no contexto cultural. No terceiro capítulo discutir-se-á constituição do sujeito da sua subjetividade e da linguagem. O quarto capítulo se propõe a uma visão da Psicologia e Psicologia da Religião em relação ao fenômeno religioso. O quinto capítulo apresentará a religião no contexto histórico ocidental, que além de abordar uma definição sobre religião em geral, destaca o cristianismo bem como seu processo de formação. No sexto capítulo observa-se “Deus” como objeto de desejo e promovedor de saúde para o sujeito. Dando continuidade à pesquisa, no último capítulo será evidenciado um relato de caso para ajudar a ilustrar o fenômeno religioso. No geral, pretende-se, neste trabalho bibliográfico evidenciar que o fenômeno religioso e a busca do transcendente oferecem ao ser humano um sentido existencial, que o motiva a viver individualmente e coletivamente.

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1. METODOLOGIA QUALITATIVA

A metodologia qualitativa, utilizada nas ciências humanas, visa pesquisar, explicar e compreender os fenômenos subjetivos que fazem parte da vida humana (ANDRADE e HOLANDA, 2010). Esta metodologia favorece o conhecimento dos complexos processos de constituição da subjetividade. Conforme Gil (2002, p.23), “a pesquisa qualitativa descreve a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisando a interação de certas variáveis, compreendendo e classificando os processos dinâmicos e experimentados por um indivíduo ou grupos sociais.” No estudo do fenômeno religioso esta perspectiva ajuda a compreender a experiência que o ser humano apresenta em sua particularidade, e que somente ele é capaz de revelá-la ao pesquisador que interpretará os comportamentos ou atitudes individuais estabelecidos em uma série de correlações, inferindo o seu ponto de vista, aquilo que captou do fenômeno.

Para Martins e Bicudo em Andrade e Holanda (2010), a pesquisa qualitativa busca a “compreensão particular daquilo que estuda”, de modo que o pesquisador focalize a sua atenção para o que é característica do indivíduo, almejando compreender os fenômenos quando estes são estabelecidos, observando o conteúdo que o fenômeno religioso dispensa no contato do sujeito com o transcendente. Neste sentido, o estudo do fenômeno religioso se dá na experiência religiosa do individuo, que poderá acontecer dentro da cultura em meio a sua crença e os valores por ele adquiridos.

Para entender melhor o fenômeno religioso se faz necessário o uso desta metodologia, pois a mesma permite o acesso aos conteúdos da psique humana, e também uma interpretação profunda, já que possibilita acessar a essência do fenômeno religioso do ponto de vista do próprio sujeito. Os métodos qualitativos são métodos das ciências humanas que pesquisam, explicitam, e analisam fenômenos que se manifestam ou aqueles que estão ocultos. Esses fenômenos, por essência, não são passiveis de serem medidos como a crença. O estudo desses acontecimentos humanos se realiza com as técnicas de pesquisa e análise que, escapando a toda codificação e programação sistemáticas, repousam essencialmente sobre a presença humana e a capacidade de

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empatia, de uma parte, e sobre a inteligência indutiva e generalizante, de outra parte (HOLANDA, 1999).

Para Martins e Bicudo em Coltro (2000) nas abordagens qualitativas, o termo pesquisa ganha novo significado, passando a ser concebido como uma trajetória circular em torno do que se deseja compreender, não se preocupando única e/ou aprioristicamente com princípios, leis e generalizações, mas voltando olhar à qualidade, aos elementos que sejam significativos para serem estudados. Desta forma, este método visa apresentar o que se mostra dos próprios fatos observados, ou seja, o que se apresenta por si mesmo ao pesquisador, partindo da compreensão da vivência e dos significados percebidos no contato do sujeito com o Divino, quando este realiza na vida humana mudanças no seu comportamento e no sentido da vida, que poderão ser analisados por meio da interpretação e do estudo centrado nesta vivência.

Esta perspectiva permite, o uso da intuição como instrumento de conhecimento porque a intencionalidade é entendida por Hurssel como algo que pretende alguma coisa, ou ter intenção de fazer algo. A mente é o lugar onde se realiza as ações do conhecimento, os atos humanos, pois todo pensamento tende para um determinado objeto e tem uma finalidade. A intencionalidade distingue a qualidade do fenômeno mental por estar direcionada a um objeto da realidade ou do mundo imaginário, logo, as crenças, o pensamento e o desejo são sempre por alguma coisa, ou seja, o sujeito faz alguma coisa com algum propósito e o pesquisador interpretará o fenômeno com base no relato do sujeito, visando o significado desta experiência (MARTINS E BICUDO EM COLTRO, 2000, p. 39).

A pesquisa foi feita por meio de um estudo metodológico bibliográfico, que está focado na relação entre fenômenos religiosos, cultura e psicologia e no relato de caso. Este último buscou articular os conceitos teóricos desenvolvidos ao longo dos capítulos com o relato de experiência publicado em um livro. De acordo com Ruiz (1996 p. 54), o relato de caso é “um conjunto de dados que descrevem uma fase ou a totalidade do processo social de uma unidade, em suas várias relações internas e nas suas fixações culturais”.

Deste modo, o método fenomenológico auxiliará a interpretação e articulação do conteúdo descrito no relato de caso porque trará à luz de modo específico o que se revela dos próprios fatos observados, o que é apresentado ao pesquisador, permitindo relacionar o fenômeno religioso e

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sua essência, por meio da interpretação e reflexão, o que tornará explicita o conteúdo e significado implícito da experiência humana (CRESWEL,2007).

A fenomenologia trata o fenômeno tal como ele se apresenta, seja ele visível ou oculto, visando compreendê-lo por meio da subjetividade, das experiências humanas relatadas. Ter-se-á acesso ao fenômeno religioso por meio da descrição da experiência, ou seja, através da forma como o sujeito narra a sua experiência com o transcendente.

Segundo Andrade e Holanda (2010) a compreensão do fenômeno, por sua vez, não está ligada estritamente ao racional, mas é tida como uma capacidade própria do ser humano, imerso num contexto que constrói e do qual é parte ativa. Ele compreende porque interroga as coisas com as quais convive. Estando atento o ser humano percebe e conhece as coisas do mundo que lhes são dadas à consciência, porque ele é humano e vive no mundo. Nesse processo o ser humano constrói e transforma o mundo. A consciência então é a percepção que o sujeito proporciona a alguma coisa, ou seja, é a consciência de alguma coisa, de algo que dá sentido às coisas, pois as coisas em si não têm significado, por esta razão a consciência está sempre direcionada para um objeto, e este objeto é intencional. O fenômeno religioso como objeto de estudo é acessado pelo pesquisador por meio da descrição do sujeito. Ao voltar sua atenção para a vivência do sujeito o pesquisador perceberá o seu sentido, a sua essência.

Ao mesmo tempo em que este enfoque revela a experiência individual do fenômeno religioso também critica a suposta neutralidade do pesquisador em relação à pesquisa, e a forma pela qual irá conhecer e explorar o mundo, atribuindo significados e selecionando o que deseja e quer conhecer, sendo possível a interação do sujeito com o conhecido e a transmissão do mesmo. Também não haverá “conclusões”, mas uma “construção de resultados”, já que compreensões não podem ser captadas e nunca tidas como definitivas e fechadas. Logo, a neutralidade do pesquisador não será possível porque este também faz parte do mundo e tem consciência do mesmo, e já que existe a intenção ou uma finalidade (GARNICA, 1997).

Há uma relação direta entre fenômenos religiosos, subjetividade e a busca do ser humano pelo transcendente, uma vez que um dos significados da explicação da vida e da morte é dada pelas religiões. Por esta razão muitas das procuras podem vir associadas de processos de sofrimento e dor, no qual procuram na religião um sentido para a sua existência. Desta forma

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uma das características do método qualitativo no modelo fenomenológico para González Rey (1999), é perceber o “caráter oculto da evidência.” A qualidade dos fenômenos não aparece imediatamente à experiência. A abordagem qualitativa propõe-se, então, a elucidar e conhecer os complexos processos de constituição da subjetividade, diferentemente dos pressupostos “quantitativos” de predição, descrição e controle. É dentro dessa perspectiva qualitativa, sob a ótica fenomenológica, que este trabalho se desenvolveu.

Segundo Gomes (2008, apud Bruns e Holanda 2001), a psicologia fenomenológica então é este conjunto de procedimentos de apreensão e compreensão, que auxiliarão na exploração da consciência imediata, tal como e apresenta a consciência, e também da experiência concreta. A psicologia fenomenológica é descritiva, eidética, empírica e intencional. É eidética e empírica por fazer uma reflexão sobre a generalidade das vivências e também porque identifica através da descrição as essências pré-existentes. O fenômeno religioso é percebido em sua essência, quando o ser humano relata a sua experiência transcendental e o impacto que este causou em sua vida, no seu psiquismo, e para que o pesquisador tenha acesso a este fenômeno é necessária uma redução do fenômeno.

Para Coltro (2000), a redução eidética é caracterizada pela busca do fenômeno na sua essência, sendo puro sem a influência de elementos da cultura e pessoais, fazendo-se uso da epoché, que diz respeito ao pesquisador suspender o uso de seus valores e crenças, para alcançar a essência do fenômeno, o que possibilitará uma visão do eidos, ou seja, da essência do individuo. Para que esta redução eidética seja possível é necessário que o pesquisador siga alguns procedimentos: assumir um objetivo frente ao fenômeno; excluir teorias já conhecidas, aprofundar na experiência do indivíduo para construir novos conhecimentos, presentes neste novo fenômeno; suspender seus valores pré-estabelecidos; ver os dados como um todo e não como partes; descrever os objetos, analisando todas as partes.

Holanda e Andrade (2010), afirmam que o acesso a experiência religiosa, vivenciada pelo sujeito só poderá ocorrer pelo próprio sujeito, de forma imediata, pois o sentido que este dará àquela experiência é particular e subjetivo. É esta visão de mundo que o pesquisador deverá perceber e descrever e não interpretar ou julgar. Deste modo que, por meio da descrição, poderá resgatar a experiência com base no retorno da percepção imediata.

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Segundo Holanda (2006), a psicologia fenomenológica será empírica quando envolver “um retorno à experiência com intuito de obter descrições compreensivas que darão base para uma análise estrutural reflexiva criando um retrato da essência da experiência”. Obtêm-se a descrição de depoimentos, relatos ou entrevistas a respeito das experiências vividas em relação a um fenômeno em busca do sentido do todo, uma leitura geral, compreendendo a linguagem da pessoa que descreve este fenômeno, identifica-se as unidades significativas e em seguida faz-se a discriminação das mesmas, tendo por base a perspectiva psicológica, focando-se no fenômeno que se deseja pesquisar. O passo seguinte é o de transformar as expressões cotidianas do sujeito em linguagem psicológica. Por último se faz a síntese dessas unidades significativas, “transformando-as em uma declaração consistente da estrutura do aprendizado”, que trará uma declaração consistente da significação psicológica dos fenômenos observados na experiência religiosa do sujeito.

Andrade e Holanda (2010) discorrem que a psicologia fenomenológica é intencional porque revela a consciência como é organizada a experiência. Essa intencionalidade caracteriza a essência da própria consciência para se compreender qualquer fenômeno, sem ela não é possível a identificação do mesmo. Portanto, o estudo do fenômeno significa a busca pela essência da experiência, ou a essência da experiência religiosa e do fenômeno religioso (ANDRADE E HOLANDA, 2010).

De acordo com Creswel (2007, apud Holanda 2006), a perspectiva qualitativa fenomenológica procura descrever como o fenômeno religioso se apresenta e o que representa para o sujeito, bem como o impacto do mesmo na vida do ser humano. Tal perspectiva corresponde à análise de todas as possíveis formas de uma coisa ser dada à consciência (percebida, pensada, recordada, simbolizada, desejada, etc.).

Para este estudo do fenômeno religioso esta metodologia é adequada porque alcança todos os tipos de sentido, significado e validade, que podem ser reconhecidas como objetos da consciência. A fenomenologia constitui-se como ciência eidética porque pode compreender a essência da consciência, ao substituir os fatos ou as coisas naturais pela intuição das essências (redução eidética). Então, o fenômeno religioso na fenomenologia não é visto como estudo das

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“aparências”, mas como a observação da “manifestação da coisa, ou da experiência mesma, do ser em si” (XAUSA, 1988, p. 63).

Deste modo, a fenomenologia ajudará na compreensão do fenômeno religioso porque dará abertura para o estudo da manifestação desta realidade transcendente, imediata, experimentada pelo sujeito, pois, esta visa “captar” seu modo de existir e a maneira de “ser no mundo como transcendência” (XAUSA, 1988, p.64). Os métodos qualitativos são utilizados nas ciências humanas para analisar o fenômeno, e vinculado à fenomenologia procura compreender a experiência do ser humano, tal como ela se apresenta a ele, uma experiência única e que somente aquele que a viveu poderá relatá-la e, ao mostrar para o pesquisador estes acontecimentos, possibilita o estudo do fenômeno religioso.

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REVISÃO DA LITERATURA

2. CULTURA E O FENÔMENO RELIGIOSO

Para este trabalho é de extrema importância discorrer sobre a cultura e o conceito da mesma, e também sobre o fenômeno religioso, pois se entende que o ser humano é o único dos seres vivos que tem a cultura como via de regra para sua vivência e convivência com o outro e a organização social se dá por meio de diferentes instituições, pela família, escola, igreja, trabalho, entre outras.

Segundo Laraia (2009, p.45), o ser humano é resultado do meio em que vive, no qual foi socializado, e, portanto, herda aprendizados e experiências já disponibilizadas e compartilhadas durante todo seu tempo de existência. A convivência com o meio e com outros seres humanos fez com que ele sobrevivesse, adaptando-se a este processo de evolução das espécies humanas.

Laraia (2009, p. 25-26), relata que no final do século XVIII a kultur (cultura) simbolizava todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto que civilization (civilização) referia-se principalmente a conquistas materiais de um povo. Tylor (apud LARAIA, 2009, p.25) define a cultura como um “todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. E esta definição abrange todas as possibilidades de realização humana e também marca o caráter de aprendizado da cultura opondo-se a idéia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos.

O processo de aprendizagem e aquisição da cultura é contínuo e ilimitado, e é intitulado como endoculturação. A cultura desenvolve-se constantemente ao longo da história e está sempre em processo de construção. E é no decorrer deste processo que se vão agregando outros elementos à mesma e trazendo subsídios essenciais para uma melhor compreensão do ser humano, entendendo que este é um ser cultural, e que esta atua sobre ele. Para Laraia (2008, p. 26), a cultura se diferencia em cada contexto cultural, o que vale dizer que a mesma se difere de uma cultura para outra. Conforme afirma Mattos (2001.p.10), a cultura não é vista como um mero

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reflexo de forças estruturais da sociedade, mas como um sistema de significados mediadores entre as estruturas sociais e a ação humana. Ela também introduz o homem como ator social, participando ativa e dinamicamente nas modificações estruturais sociais revelando as relações e interações ocorridas com a mesma.

Segundo Kroeber (apud LARAIA, 2009, p.48), a cultura determina o comportamento humano e justifica suas realizações, pois este sujeito age de acordo com seus próprios padrões culturais, e ao mesmo tempo vai se adaptando a ela. Todavia, Cliford Gerttz (apud AQUINO, 2009) ressalta que o ser humano por ser capaz de interpretar o mundo em que vive, sente necessidade de dar sentido à sua existência. Essa explicação corrobora com a explicação da busca do ser humano por entender-se a si mesmo e entender o mundo no qual vive, e por isso ele dentro de sua cultura e com os ensinamentos adquiridos da mesma, busca o transcendente, por meio do fenômeno religioso.

O fenômeno religioso é “uma experiência individual com sentido comunitário” e o ser humano que é cultural e também religioso sente necessidade de transmiti-la aos membros do grupo a que pertence, naquilo que em termos weberianos se denomina de “comunicação do carisma”, para que estes também participem de sua emoção e da revelação que recebeu. Portanto, o sujeito que experimentou o transcendente ao partilhar com o grupo sua experiência poderá também transformar as estruturas sociais e estas estruturas sociais do mesmo modo, poderá condicionar a experiência individual do sujeito, ao estabelecer formas adequadas para que este se insira no grupo (PIAZZA, 1976, p.33).

Compreende-se que o fenômeno religioso é primeiramente experimentado na individualidade do ser humano e depois é compartilhado na cultura daquele grupo social. Quando esta experiência passa a ser cultural. Deste modo, o ser humano se torna um ser religioso histórico e cultural. Este fato é observado desde culturas mais primitivas, nas quais os povos primitivos apresentavam uma cultura primitiva.

O contato do ser humano com o fenômeno religioso é, portanto um fenômeno comum à História da humanidade e é marcado pela cultura e suas transformações históricas, porque as religiões influenciam a maneira pela qual o sujeito irá sentir perceber e viver no mundo e também são experimentados como de alivio de suas angústias Conforme Gerttz (2009), em todas as

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culturas, a religião promove significados relevantes e faz com que o ser humano interprete sua experiência e dirija sua conduta, os símbolos corroboram da internalização dos significados influenciando aquele que crê, a forma como vêem o mundo e como devem se comportar. Desta forma, o ser humano que acredita no transcendente vê nos símbolos as normas das quais devem ser seguidas, como forma de conduta e de valores sociais, de atitudes relacionadas com o que as pessoas pensam, sentem e como elas devem se comportar frente ao objeto transcendental (GERTTZ apud AQUINO, 2009).

Eliade (1970, p. 25) afirma que na cultura a figura do transcendente é percebida em situações históricas relatadas em livros ou documentos, onde até mesmo experiências místicas mais pessoais e transcendentais sofreram influência do momento histórico. Portanto, com base em documentos históricos, como a Bíblia dos cristãos, evidenciam-se os relatos e as experiências místicas de pessoas que de alguma forma experimentaram o transcendente em sua vida e, assim, o fenômeno religioso se torna histórico e cultural. Nestas culturas religiosas percebe-se que o ser humano fundamenta sua existência em costumes e valores relativos a Deus ou, na busca de um relacionamento de respeito com o outro.

Segundo Lévi-Strauss (apud LARAIA, 2009, p.54), a cultura teve início no instante em que o ser humano convencionou a primeira regra, fundamentada na lei do incesto, algo que está relacionado ao padrão de comportamento aceitável ou não em todas as sociedades humanas, como proibição da relação sexual entre pai e filha e vice versa.

É por meio de regras e símbolos que o ser humano em meio a sua cultura vai sendo conduzido em sua maneira de ser, e logo se confirma a teoria de Geertz (apud BRITO, 2003), de que a cultura é um sistema, transmitido historicamente, de significações encarnadas nos símbolos, de concepções recebidas em heranças e expressas sob formas simbólicas graças às quais as pessoas comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento da vida e suas atitudes em relação a ela.

O símbolo é como instrumento que o ser humano emprega anteriormente para dar significado às coisas e à experiência religiosa ou fenômeno religioso em meio a sua cultura. Segundo Croatto (2010, p. 81,85), o símbolo é a chave da linguagem da experiência religiosa, ele é a linguagem originária e “fundante” desta experiência, a primeira que alimenta as demais. Ele refere-se à união das coisas, o que significa “pôr junto”, ou seja, o símbolo, junto as partes,

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mesmo que uma parte remeta à outra. Há no símbolo dois elementos, o que é visto como objeto e o que ele objeto significa para determinada cultura. Ambos se inter-relacionam e tem um sentido de ser.

O símbolo pode “atravessar” o sentido primeiro, por exemplo, a pedra (uma pedra é uma pedra. Este é o seu primeiro significado), e ao atravessá-lo vê-se um segundo sentido, aquele vindo de uma experiência do fenômeno. No fenômeno religioso a cruz é um tipo de signo, para quem expressa um determinado tipo de fé, e esta cruz por remeter a conteúdos cristãos, tem significado de algo que é transcendente, através dela os seres humanos relatam suas experiências transcendentais, gerando o segundo sentido, fazendo com que esta cruz tenha um significado, que é profundo e gerador de mudanças. Este sentido é o ato transcendente em sua vida (CROATTO, 2010, p.118).

Segundo Valle (1998, p.114) a psicologia deve estar atenta ao fenômeno religioso, e a compreensão de aspectos fundamentais deste fenômeno. É na coletividade que o ser humano toma consciência de seu modo histórico e cultural e específico de ser-no-mundo. Por meio dos processos grupais, é possível se observar as manipulações e reinterpretações que tanto o indivíduo quanto o grupo oferece aos outros membros da sociedade.

A linguagem, o rito, o mito e o simbolismo são recursos culturais que o sujeito tem para expressar sua religiosidade, sendo que há a necessidade de se compreender psicologicamente este sujeito, ou seja, é preciso colocar em evidencia os conflitos psíquicos que ocorrem no sistema social, entendendo também a estrutura e a dinâmica do comportamento social (VALLE, 1998, p.120). A psicologia tem como papel, entender o fenômeno religioso, por meio deste conjunto de elementos representativos da religiosidade que a cultura apresenta (símbolos) e compreender a atuação deste fenômeno na subjetividade do ser humano, bem como os benefícios que este adquire na experiência religiosa.

Croatto (2010, p. 90) ainda discorre sobre “o símbolo dá em transparência”, pois o transcendente é “inobjetivável”, não se pode vê-lo fisicamente como um objeto visível, em função de sua própria essência. Por isso, ao se falar de fenômeno religioso, não se pode usar uma linguagem objetiva, nem uma metáfora, mas um símbolo que remete a transcendência por ele

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poder experimentar Deus religiosamente. Baseado nisso, o símbolo ajuda a visualizar o sagrado de muitas formas, dentro da cultura que contém grande variedade de elementos simbólicos

Segundo Massenzio (2005, p.51) na cultura encontramos particularidades que nos levam a compreender e dar sentido ao fenômeno religioso e que a simbologia religiosa tem seus próprios símbolos, o que a difere de outra cultura não religiosa. Os símbolos são mediadores do fenômeno religioso e que dentro da cultura que sofre alterações e transformações. Conseqüentemente, Laraia (2008, p.95), afirma que qualquer sistema cultural é continuamente modificado, e que há dois tipos de mudanças culturais, uma que é interna, que é resultado do próprio sistema cultural, e outra que resulta do contato de um sistema com outro. Sendo este processo denominado de interferência e/ou influência social que é chamado de aculturação e foi responsável pela colonização cristã dos indígenas.

Na aculturação, os índios brasileiros foram os que mais sofreram transformações em suas aldeias por causa da cultura cristã, que impôs a estes, desde sua vestimenta até mesmo as questões religiosas, uma adequação ao caráter dinâmico da cultura cristã católica. Deste modo, tanto a cultura indígena quanto a cristã católica, passaram por mudanças no decorrer da história, onde alguns padrões tradicionais foram alterados, e estas mudanças por menores que tenham sido, desencadearam conflitos a estes grupos, que sofreram alterações em suas religiosidades, em suas essências e valores, mas essas transformações não foram fortes o suficiente para retirar elementos fundamentais de identificação que cada cultura tem como seu ritual, sua simbologia e sua crença (LARAIA,2009, p.99).

Por isto é que no decorrer da história se percebeu a cultura como um processo acumulativo, resultante de toda experiência histórica das gerações anteriores, o ser humano aprendeu sobre cultura e a ser cultural com seus semelhantes através da convivência, da linguagem oral e escrita, pois foi através do aprendizado e experiências passadas que ser humano recebeu informações sobre vivencias vividas anteriormente em sua cultura. Essa transmissão ocorre por meio da comunicação e é a partir dela que o ser humano não desenvolve cultura (LARAIA, 2009, p. 51).

O ser humano desenvolveu um conjunto de valores que deram sentido e significado à sua vida, sentido esse que está na cultura daquele grupo, onde os elementos subjetivos e sociais são expressos por um sistema de símbolos, e que por isso a antropologia procura entender o ser

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humano analisando o simbolismo, o mito, o rito e a doutrina a que pertence. No próximo capítulo será abordado o processo de constituição do sujeito e sua subjetividade tendo por instrumento a linguagem que permitiu ao ser humano entender sua existência e a sua relação com ele próprio, com o outro e com o mundo.

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3. CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO/SUBJETIVIDADE E A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM

A constituição do sujeito e sua subjetividade são elementos constitutivos da cultura, e é por meio da linguagem, que o processo de aprendizado e reconstrução de si e de mundo, dá significado à sua existência e experiência. Segundo Lane (2006, p.20) esta constituição ocorre através das características particulares de cada pessoa e de como ela se relaciona com outros sujeitos, nas características que foram adquiridas no contato com o outro nos grupos familiares e de amigos, ao desempenhar papeis distintos. Nestas diferenças é que o indivíduo se descobre como outro, diferente de todos, pois obteve suas próprias características, e é ao confrontar o outro, que as identidades sociais são constituídas, e isto é o que diferencia cada sujeito, do ponto de vista da alteridade, onde o sujeito ao se colocar no lugar do outro se identifica e se diferencia ao mesmo tempo. Na experiência religiosa também ocorre essas trocas de papéis, que no âmbito da cultura são experimentadas na relação do sujeito consigo mesmo e com o outro, e nos valores que o grupo determina a ser seguido.

Conforme Figueira (2007), a experiência religiosa humana é condicionada por sua forma de ser e pelo seu contexto histórico cultural, assim também o sujeito constitui sua subjetividade em meio a sua cultura e os valores que esta determina ser seguida por ele, porque a experiência do fenômeno religioso ocorre na relação deste com o objeto transcendental e com os outros sujeitos que estão no mesmo grupo, isto ocorre também no grupo religioso Também para Figueira (2007), a religião oferece ao ser humano sentido e fonte de informações, o modelo pelo qual o sujeito agirá e se definirá. A religião tem a total confiança do crente porque responde a questões imprescindíveis a sua sobrevivência, em relação às ameaças que o sujeito sofre na sua condição humana, questões essas que podem ser a ignorância (ausência do saber), a injustiça (a opressão por parte de quem detém o saber e, portanto o poder) e o sofrimento (angústias, que poderá ser visto como correção de erros cometidos). Assim sendo, o ser humano se constitui dentro de regras e normas estabelecidas por seus grupos, em um sistema relacional.

Gonzalez-Rey (apud GONÇALVES, 2004), afirma que a subjetividade é um sistema complexo que foi afetado pelo curso da sociedade e pelas pessoas que estão nesse sistema, que é

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dinâmico. A subjetividade é “uma dimensão complexa, sistêmica, dialógica e dialética, definida como espaço ontológico”. Isso evidencia o quanto o ser humano possui capacidade ilimitada de criação para produzir sentidos subjetivos.

Entende-se que submerso em sistemas complexos e diferentes, o sujeito atua de forma subjetiva e conseqüentemente define sua existência individual e social, experimentando e atuando nesta realidade, sendo que esta convivência é necessária para a sobrevivência da humanidade, e que esta cultura tenha significado e sentido para ele. Contudo, para que o homem sobrevivesse em sociedade, ele teve que desenvolver uma identidade social apropriada ao papel que desempenha no grupo, bem como o sentido que o seu papel e o papel do outro tem para ele.

Lúria (apud MUNHOZ, ZANELLA, 2008) descreve que com o passar do tempo o ser humano criou a escrita e também desenvolveu processos psicológicos, tais como a linguagem e a cognição necessários para seu desenvolvimento. Para o uso da escrita é preciso o “domínio consciente de todos os meios de expressão escrital”. A linguagem constitui o sujeito, e é a forma que o sujeito tem para comunicar a sua maneira de ser, de pensar, de sentir e de agir, e permite ao ser humano o acesso aos conteúdos que transcendem a sua existência humana, como fenômeno religioso e a comunicação do sujeito com o transcendente. Tanto a linguagem escrita quanto a verbal, contém elementos do simbólico que representam alguma coisa para o sujeito e por isso ao ler e escrever ele pode produzir novos conhecimentos, apropriando-se de sentidos sociais de como acontece sua participação, e apreendendo certas atividades, e no diálogo com o outro, vai produzindo sentido, quando o sujeito se apropria da sua cultura, ele também produz cultura. É desta forma que o ser humano consegue inscrever e reler ao longo do tempo a sua própria história, por meio da linguagem ele consegue dar novo significado ao seu passado o presente e pensa o futuro (MUNHOZ, ZANELLA, 2008).

No século II, Santo Irineu, escritor eclesiástico, referiu a escrita como “uma legitimação da oralidade”. Assim, a linguagem escrita adquiriu lugar de verdade absoluta, pois se trata da oralidade do sujeito, daquele que a escreveu, portanto, diz sobre ele, tem suas inferências no texto. A subjetividade de quem escreve e lê está impregnada nos mesmos. Então, a escrita foi “legalizada”, o que para a sociedade é importante, porque ajuda na mediação do sujeito com ele

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mesmo, com o outro e com o mundo, conduzindo os sentidos construídos culturalmente e que são compartilhados e na produção de novos sentidos e na internalização dos códigos da cultura esteú ultimo traz os signos e símbolos que estão relacionados com a cultura. Por isso, o ser humano faz parte de uma cultura grafocêntrica, a escrita assume papel importante frente às diferentes formas de linguagem que ele pode desenvolver (MUNHOZ, ZANELLA, 2008 p. 288).

A escrita e a leitura se tornaram “símbolo de distinção social”, pois o ser humano adquiriu ferramentas que lhe são importantes para uma melhor visão de si e do mundo, que também lhe proporcionou diversos sentidos e através da linguagem o ser humano estabelece o diálogo com outras pessoas de diferentes tempos e espaços. Este diálogo só é possível por causa da significação, ou seja, quando produz sentidos, os atos humanos tornam-se práticas significativas, o que permite ao sujeito a apropriação de sua cultura, “constituindo-se como ser cultural” ao mesmo tempo em que produz cultura (PINO, SIRGADO, ZANELLA em ZANELLA, 2008 p. 289).

Não obstante, a linguagem que está no sujeito e é própria dele, vai se construindo e sendo construída paralelamente, à medida que o sujeito a adquire. Munhoz e Zanella (2008 p. 288), afirmam que “a linguagem não é somente uma ferramenta técnica que intercede às relações humanas, mas também é uma ferramenta semiótica e constitutiva do sujeito”. Por isso a linguagem, seja escrita, oral ou simbólica é cultural porque veicula sentidos culturalmente construídos e compartilhados e pode por outro lado produzir novos sentidos para o sujeito, quando ele assume uma condição nova no contexto do qual esteja envolvido e a psicologia poderá acessar os conteúdos do fenômeno religioso.

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4.

PSICOLOGIA E PSICOLOGIA DA RELIGIÃO

Este trabalho pretende analisar o fenômeno religioso como uma manifestação que integra cultura e indivíduo, logo, interfere na experiência subjetiva e na relação do indivíduo com o mundo. A Religião também se apresenta como uma forma de conhecimento sobre o ser humano e esse saber está profundamente enraizado na cultura ocidental, que criou práticas sociais intimamente relacionadas com a explicação do divino. A Psicologia pode estudar a forma como o discurso cristão se difunde na sociedade, o processo de internalização dos símbolos religiosos e cristãos nos sujeitos, como são criadas zonas de sentido e significação na vida cotidiana e, por fim, como a crença religiosa, chamada de fé, altera a realidade material e psíquica de seus seguidores (as).

Conforme Lane (2006), a psicologia tem por objeto de estudo o ser humano e seu comportamento, que se caracteriza no estudo de toda e qualquer ação entre psicologia e a fisiologia, ou seja, comportamentos considerados conscientes os quais envolvem experiências, pensamentos e ações intencionais, e também os que são observáveis diretamente, como inconsciente que neste estudo diz respeito à experiência do ser humano com o fenômeno religioso. Essa experiência se dá no nível social (quando todos se encontram num culto, por exemplo), e individual (como experiência mística). No campo da individualidade, tais experiências são tradadas pela psicologia social que analisa os comportamentos que individualizam o ser humano, observando seus ambientes, estímulos e aprendizados que motivaram tais comportamentos.

Infere-se que a religiosidade interfere na forma em que o individuo se identifica socialmente, já que a religião é um fenômeno cultural, e no que o ser humano faz, uma vez que seu comportamento é também afetado pela suas crenças. De qualquer forma, nem a Psicologia, com suas diferentes correntes teóricas, nem mesmo a Psicologia da Religião, conseguem explicar sozinhas um fenômeno religioso, emocional ou de outra natureza, uma vez que a complexidade humana transcende qualquer linearidade ou causalidade única. A intersecção com outras áreas do conhecimento é imprescindível para subverter a lógica reducionista da experiência humana e a cultura é o elemento primordial dessa análise, uma vez que os ensinamentos dessa religiosidade são repassados pela sociedade em que se está inserido (a). Na cultura ocidental, a religião cristã

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teve maior impacto na vida da sociedade interferindo na sua forma de pensar e de agir, ocasionando mudanças da antiga religião judaica e o nascimento do cristianismo.

Santo Agostinho (1984, p. 19) afirma que a angústia faz o ser humano procurar o “divino” e que também é no divino que se encontra o sentido para a sua existência e o seu fim ultimo, Poe ele o Divino é a salvação da alma que sofre e é limitada. Vergote (2001, p. 43) descreve que: a Psicologia estuda os fatores, as representações, os conflitos que compõem o desejo em relação ao divino, aos deuses, na religião cristã em relação a Deus. Percebe-se deste modo que o estudo do fenômeno religioso pode ser compreendido dentro de sua cultura, pois é nela que se pode observar o ser humano, sua subjetividade, as relações que mantém com outros e também a experiência religiosa. Segundo Paiva (2009): a Psicologia da Religião consiste no estudo do comportamento religioso, comportamento este que se refere a um objeto transcendente, o qual se denomina como “Deus” na cultura ocidental, este comportamento pode ser de aceitação ou rejeição do objeto transcendente, e esse, por sua vez, pode receber outras denominações, além da predominante na cultura ocidental.

O objeto transcendental poderá ser evidenciado no comportamento humano de formas diversas em outras culturas, onde a subjetividade humana estará inferida diferentemente daquela da cultura ocidental. Lopez (2002), afirma que: a Psicologia da Religião estuda os fenômenos religiosos como fenômenos da cultura, constituintes do ser humano. Nesse sentido, examina, entre outros temas, as práticas, crenças e experiências religiosas. Um dos desafios metodológicos da Psicologia da religião é perseguir o conhecimento, traçando formas de trabalho que respeitem a especificidade do saber psicológico e a singularidade das tradições religiosas.

Segundo Vergote (apud VALLE, 1998, p. 42), “o ser humano tem desejo e necessidade de religião e também a religião é por excelência um fenômeno propriamente humano”. Na religião existem pessoas com sentimentos, atos e experiências humanas, que em meio a sua solidão, sente necessidade de uma relação com o que ele considera divino para que possa viver o fenômeno religioso, dando significado a sua vida, e a relação do ser humano com o divino possibilita uma resposta para estes anseios e produz significado e razão para suas vidas (JAMES apud VALLE, 1998, p. 42).

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Verbit (apud VALLE, 1998, p.42), discorre sobre a relação entre psicologia e a religião: “a religião é a relação do ser humano com qualquer coisa que ele conceba como sendo a realidade última adotada de significado”. Este desejo e significado podem ser percebido no instante em que o ser humano se depara com um objeto, um signo que lhe revele um significado, ou que lhe comunique algo que preencha os seus anseios.

Valle (1998) afirma que o fenômeno religioso para a psicologia da religião tem seu fundamento na experiência do ser humano com o transcendente dotado de significado, e na transformação que este transcendente realiza no ser humano produzindo sentido em sua existência. Para Wulff (apud VALLE, 1998, p.48), a religião “sintetiza no mais alto grau possível todas as capacidades humanas fundamentais, com a experiência religiosa, onde existe abundância das experiências e relações religiosas uma unidade que é diferente de todos os seus componentes”, mas pode ser compreendido.

Valle (1998, p. 50), afirma que a psicologia da religião no âmbito das ciências humanas estuda: “a origem e a natureza da mente religiosa humana. Ela não procura definir o que a conduta religiosa é, e sim por que e como alguns fenômenos religiosos se dão no interno da estrutura psicológica de um sujeito”. A psicologia da religião e a antropologia têm como seu objeto próprio, respectivamente, a estrutura e a dinâmica social e antropológica da religião, tendo como sua tarefa descrever e “explicar” psicologicamente a estrutura e a dinâmica do agir religioso do ser humano.

Para Croatto (2010, p. 19), “a psicologia da religião parte do pressuposto de que o sentimento religioso é uma elaboração do Eros básico do ser humano”. O Eros seria o impulso inicial e fundamental ligado ao desejo e suas frustrações ou decepções. Os acontecimentos religiosos são o reflexo da sociedade e também o espelho da psique humana, pois a religião é uma vivência pessoal, que comunica “Deus” ao sujeito, que por sua vez compartilha ao grupo a experiência religiosa, que só é possível com sua participação, tendo em vista que é na subjetividade e no grupo que ocorre o fenômeno religioso, e a psicologia estuda este fenômeno a partir da relação do ser humano com o divino, na experiência que vive.

Dentre as correntes da psicologia da Religião que estudam a experiência religiosa, temos uma defendida por Sigmund Freud (1856-1939) e por seus seguidores, onde a interpretação da

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experiência religiosa se mostra como um produto (subproduto negativo) de conflitos ancestrais (algo equivalente à infância da humanidade, em comparação à do indivíduo), elementos, ou seja, conflitos que estão presentes na cultura do ser humano. Para Freud, o fenômeno religioso tem sua origem na ilusão ou no delírio, quando o sujeito acessa o fenômeno religioso, por meio do imaginário busca no ser transcendental um sentido para questões dos conflitos que este experimenta, sendo, no entanto, a religião é onde o sujeito encontra alivio para seus conflitos psíquicos (CROATTO, 2010, p. 20).

Freud (apud CROATTO, 2010, p. 20), faz uma ilustração de como estudar essas experiências religiosas, por meio dos conflitos dos sujeitos e neste caso tem-se o Complexo de Èdipo, o qual tem início na sublimação do originário pai assassinado, um mecanismo de defesa do ser humano e que desta maneira cria leis para impedi-lo de se comportar de maneira indesejável socialmente, leis como o incesto. Uma forma que o ser humano encontrou para resolver seus conflitos, ao sublimar a imagem do pai na figura do totem e na festa totêmica (repetição e ritual libertadora do assassinato do pai). Os estudos de Freud revelam que a origem da religião estaria no imaginário por excelência, na ilusão. Deus ocuparia o lugar de um imaginário “pai onipotente”, para dar conta de resolver este conflito.

Para Lima (2007), Freud explica que ao mesmo tempo em que o ser humano percebe a importância da proibição do incesto, ele também deseja cometê-lo, mas este é reprimido por se tratar do proibido. Com o fenômeno religioso ocorre de maneira semelhante, pois o sujeito ao vivenciar uma religiosidade se compromete a agir de acordo com as regras estabelecidas pela mesma. Apesar dos tabus terem vindo de tempos antigos, de culturas nas quais esta proibição era importante para a manutenção daquele grupo. Desde criança e ainda inconsciente, o sujeito tem fixações incestuosas. Ocorre a ambivalência no sentido de que se proíbe algo para o indivíduo do qual ele tem desejo, mesmo que inconsciente, o toteísmo consiste em duas leis básicas da humanidade; a primeira é a de não matar o pai ou a mãe, e a segunda é a de, não ter relação sexual com os mesmos. Além disso, o tabu é entendido como o “sagrado” e o “proibido”, uma vez que traz risco à vida do sujeito, que sente medo de entrar em contato com o mesmo (LIMA, 2007).

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Os povos antigos agiam de forma semelhante à sociedade atual. Freud ao estudar a subjetividade destes povos, observou que estes se assemelhavam ao modo de funcionamento da mente dos neuróticos, especialmente a neurose obsessiva, relacionadas a questões de proibições sem fundamento. Se o sujeito toca este objeto de desejo, ele mesmo se torna o tabu, e elegerá para si seus próprios tabus. Por outro lado, os indivíduos criam cerimoniais e rituais para se manterem afastados da violação do desejo. Os tabus têm características próprias que são: o animismo (objetos que são animados por espíritos ou demônios), idéia de que existe alma e magia (ligadas aos rituais e maneira pela qual os sujeitos resolvem seus tabus), estes elementos estão relacionados com o narcisismo e são percebidos na cultura. Para Freud esta seria a religião totêmica, que surgiu a partir do momento que o ser humano sentiu culpa por desejar algo que é proibido, e encontrando na religião a figura do pai ideal (LIMA, 2007).

Tavares e Andrade (2009) acentuam que: a importância da religião, que tem como essência “a relação homem-Deus, homem-homem e homem-mundo”, é uma experiência em que o homem vivencia a privação e busca incessantemente o apoio religioso, com sua capacidade de dar nomes aos entes presentes e simbolizar o que está ausente. A religião, como instituição, por meio dos símbolos, apresenta-se como uma fala daquilo que está ausente, como a resposta para a sua existência ou para o alivio de seus sofrimentos.

Do ponto de vista da psicologia Social não se vê a experiência religiosa somente como uma busca por preencher a “solidão” da “alma” do ser humano, de saúde ou doença, como Freud percebia, mas ela, a experiência religiosa, se dá em várias dimensões. Glock (apud VALLE, 1998, p.63) definiu quatro dimensões para a religiosidade: dimensão experiencial, ritualística, ideológica e conseqüencial.

Segundo Neto (1997), a dimensão experiencial ocorre normalmente quando o sujeito fala da sua experiência religiosa, esta dimensão é idiossincrática (peculiar), com forte conteúdo emocional e intransferível, e porque foram atribuídos valores a ela, as religiões esperam que o sujeito preserve a sua essência. Esta dimensão poderá ocorrer no sujeito, por meio do batismo no Espírito Santo ou pela conversão a qualquer que seja a religião.

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A dimensão ritual implica as práticas religiosas peculiares e distintas de cada grupo. Quando o sujeito, por exemplo, faz parte de uma determinada religião ou igreja, participa daqueles sacramentos estabelecidos pela mesma. A dimensão ideológica, se refere às crenças e convicções doutrinárias, que poderá ser cristã ou outras denominações.

A dimensão conseqüencial refere-se às condutas morais e de comportamentos que são propostas quando se adere a um determinado grupo, podendo ser observadas, por exemplo, nas recompensas, que podem ser de cura, e nas responsabilidades, onde o sujeito deverá cumprir com os ensinamentos impostos pela religião.

As dimensões presentes no fenômeno religioso estão voltadas essencialmente para “vetores que sustentam e dinamizam a estrutura social ao perpassarem a sociedade, atingindo os indivíduos em sua identidade existencial e biográfica”, isso porque ocorreram várias mediações socioculturais, que foram sendo institucionalizadas no grupo (VALLE, 1998, p. 64).

Estas dimensões podem ser observadas em todos os grupos religiosos no estudo da cultura, e das religiões, dentre as quais no cristianismo, na qual se percebe que o fenômeno religioso impulsiona o indivíduo e sua subjetividade, causando mudanças individuais e sociais, em sua psique ajudando-o a superar conflitos.

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5.

A

RELIGIÃO

CRISTÃ

NO

CONTEXTO

HISTÓRICO

OCIDENTAL

Há tempos, o ser humano deseja e se interessa por assuntos referentes ao transcendente, e demonstra isso por meio de rituais e celebrações, em diferentes denominações religiosas. O estudo das religiões e dos seus ritos é bastante investigado pela antropologia e sociologia, nas representações sociais, que podem explicar idéias e crenças, que o ser humano percebe no mundo e as situações que vivencia em sua cultura (Franco, 2004 p. 170)

No decorrer da história da humanidade, o ser humano buscou preencher a sua necessidade de busca de sentido. Devido a isso, a religiosidade está presente nos seres humanos e exerce um papel importante na sociedade. Foi da Grécia e de Roma Antigas que vieram os primeiros relatos sobre religião, culto e deuses. Os povos dessas civilizações criaram diferentes práticas religiosas, que estavam normalmente associadas às suas culturas. Roma era constituída por pessoas que acreditavam em muitos deuses. Tratava-se de uma fé politeísta. Com o passar dos séculos, os romanos assimilaram novas denominações religiosas, como o islamismo, o judaísmo, o hinduísmo e o cristianismo. Por meio das transformações e misturas de diversas etnias e povos e, ao agregar esses novos conteúdos culturais, as religiões sofreram mudanças, o que resultou no desenvolvimento de outras denominações religiosas.

Foi no ocidente que o cristianismo surgiu como uma religião influente difundida por diversos países e povos, que tinha sua crença em um só Deus. A doutrina cristã surgiu no Império Romano, quando este se expandia e tinha como imperador uma figura religiosa máxima e, por isso, não permitia que outras seitas ou religiões se disseminassem em seu império. Por ter nascido no judaísmo, o cristianismo era tido como uma seita judaica, que não negava esta fé primeira, mas, no cristianismo, se tem a pessoa de Jesus Cristo – o messias – como representação divina, com base nas escrituras bíblicas. Mas os judeus não acreditaram que esse fosse o Deus esperado para aquele povo escolhido e o renegaram. Desse modo, os cristãos eram tidos como uma nova seita, porque tiveram que abandonar sua antiga religião, de costumes baseados na história do judaísmo.

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Collins e Price (1999, p. 32) afirmam que o cristianismo, no ocidente, foi difundido por Paulo de Tarso, um judeu que perseguia os cristãos, pois os tinha como adeptos de uma seita que ofendia o judaísmo. Segundo consta nas escrituras sagradas, Paulo de Tarso teve uma experiência religiosa, uma visão sobrenatural, em que um homem lhe pedia que fosse à Macedônia, no continente europeu, para disseminar o cristianismo. Já no ocidente, Paulo propagava a nova doutrina como único meio de salvação e, com isso, converteu muitos adeptos que o auxiliaram com a pregação da fé cristã.

No final do século I, chegou ao fim à era apostólica, primeiro período cristão. O cristianismo foi sendo difundido de forma verbal e escrita, com o anúncio do Evangelho, rompendo com antigas tradições, com costumes religiosos de uma cultura politeísta e, então, se firmando como cristianismo, monoteísta. Paulo influenciou a consolidação do cristianismo no ocidente e a figura de Jesus Cristo como único salvador. Houve, então, um crescimento da Igreja primitiva, que se estabeleceu como uma instituição hierárquica, nomeando bispos, presbíteros e diáconos, a exemplo dos apóstolos, a fim de organizar e coordenar as comunidades cristãs (COLINS e PRINCE, 1999 p. 32).

Em 1378, ocorreu uma crise religiosa na Igreja Católica, em que dois papas reclamaram para si o título de sucessor do apóstolo Pedro, o Grande Cisma, ocorreu mais precisamente quando foi eleito o papa italiano Urbano VI, deposto em função de seu autoritarismo. Esse conflito fez com que os cristãos desconfiassem da veracidade do papado e, por conseqüência, incidiu na diminuição de adeptos cristãos. No entanto, esse acontecimento não conseguiu abalar a fé cristã, que se manteve erguida e se consolidou ainda mais com a eleição de um novo papa.

No século XVI, a Igreja Católica sofreria uma segunda cisão (a primeira se deu com a separação com a Igreja Ortodoxa, no século XI), quando Martinho Lutero ousou desafiar a hierarquia da Igreja de Roma, o que obrigou o Papa Paulo III, a convocar o Concílio de Trento (1545-1563) para se redefinir e dar nova ênfase aos ensinamentos tradicionais do cristianismo, que tinha como objetivo estreitar a união da Igreja e reprimir os abusos cometidos pelos rebeldes da fé. Começava ali um novo movimento que nas três últimas décadas do século XX mudaria completamente o campo religioso mundial: o protestantismo, que teve como principais líderes fundantes Martinho Lutero e João Calvino.

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Com o surgimento e consequente expansão do protestantismo, profundas modificações atingiram a Igreja Católica. Uma reação à Contra-reforma buscou combater a expansão da Reforma Protestante. Além da reorganização de várias comunidades religiosas já existentes, outras foram criadas, dentre as quais a Companhia de Jesus ou Ordem dos Jesuítas, tendo como fundador Santo Inácio de Loyola.

O processo da consolidação do cristianismo no Brasil se deu no início do Império, em 1549, por meio do catolicismo, que chegara com os padres jesuítas – os únicos que tinham permissão para realizar cultos em público ou nas casas. Assim, o cristianismo foi imposto em terras indígenas, em uma aliança entre a Casa Real Portuguesa e o Vaticano. A partir desse acordo, o Império legitimou seus interesses materiais e a sua maneira de atuação, com o pretexto de salvar almas e difundir a fé e a cultura cristã. Foi nesse período que o ocorreu o que se denominou “catolicismo guerreiro”, que, no fundo, tinha a intenção de conquistar e preservar terras (NEGRÃO, 2008).

Desta forma, o Império controlava a Igreja colonial, cobrando dízimos e nomeações de novos padres e bispos. Assim, o cristianismo ficou dependente da Coroa Real e distante dos ideais de Roma. Nesse tempo, ocorreram muitas desordens com o cristianismo, envolvido com questões de política e economia. Fato é que esses missionários tinham pouco conhecimento intelectual e de preparo teológico e, portanto, pouco ou nada fizeram pela evangelização. Havia, também, nesse período, um grupo que se mantinha fiel às determinações de Roma – os jesuítas – que tentavam preservar a ortodoxia do culto católico e o controle da vida dos fiéis, mas viviam em aldeias isoladas e visavam à conversão dos índios (NEGRÃO, 2008).

Negrão (2008) declara que foi desse modo que surgiram denominações para diferentes tipos de catolicismo nessa época: ritualístico e formal, patriarcal e outro como catolicismo popular, como afirmava Hoornaert, em Negrão (2008). Assim, essa religião era imposta, todos os que nasceram no Brasil aceitavam essa imposição, exceto os indígenas, motivo de extermínio de muitos. Os que não eram brasileiros teriam que adotar tal religião, assim, os negros escravizados e os judeus, para não morrerem, aderiam ao cristianismo católico. Os negros continuaram a invocar seus deuses, através dos santos católicos. Dessa forma, o catolicismo se tornou uma religião de aparências e não internalizada.

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Só após a vinda da corte portuguesa para o Brasil é que o protestantismo começou a ser permitido, com a condição de que não colocasse o povo contra o governante – D. João VI – nem contra a religião oficial (catolicismo). Mas os missionários protestantes não conseguiram deixar traço no sistema religioso da sociedade daquela época (RIBEIRO, em NEGRÃO, 2008). A hegemonia e o poderio da Igreja Católica foram abalados, tendo, nesse instante, o Brasil que compartilhar espaço com outras religiões. Deu-se, então, início à liberdade de expressão religiosa e, por consequência do impacto desses novos movimentos religiosos, surgiram críticas de modo a levar outras religiões a ganhar ainda mais espaço.

Para Ribeiro (2011), a manifestação do fenômeno religioso ocorre por meio de símbolos e mitos, na cultura, e foram modificados ou sofreram acréscimos devido a essa abertura para novas expressões religiosas, bem como ocorreu com a linguagem. Essas formas de expressões constituem a identidade da religião, pois falam e comunicam a experiência religiosa e a realidade do transcendente. O poder do simbólico está em entrar na psique, na consciência humana, na afetividade, em suas emoções e transformar o ser humano, promovendo um novo sentido de ser no mundo (RIBEIRO, 2011, p.14).

Com a separação entre a Igreja Católica e o Estado, o sistema padroado termina, abrindo espaço para a implantação no Brasil de um catolicismo de base tridentina, cujo movimento havia sido iniciado ainda no Brasil Império, denominado de Romanização. Com isso, os padres brasileiros se reaproximaram da ortodoxia vaticana. Isso se constituiu num ambiente propício para uma formação seminarística mais cuidadosa e, por isso, foram integrados a grupos de ordens religiosas européias e começaram a administrar os santuários e os outros serviços religiosos, realizando, assim, uma devoção mais cristocêntrica7, embora a herança do catolicismo lusitano, do período colonial e imperial tenha sido, de alguma forma, preservada, mesmo tendo passado por reformas republicanas. Muitas pessoas, por exemplo, se declararam católicas, mas não participavam das missas. Os negros e os índios também seguiram seus costumes e suas religiões

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