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Considerou-se a região do Jalapão como uma das três áreas prioritárias para a conservação do cerrado brasileiro, segundo documento elaborado pela Conservation International, Universidade de Brasília - UnB, Fundação Biodiversitas e Fundação Pró- natureza - Funatura. A região – ainda pouco pesquisada, sob o ponto de vista de seus recursos naturais – concentra uma das maiores extensões de Cerrado ainda bem conservado no Brasil. A região do Jalapão também é considerada um ecótono por causa da transição do ambiente entre o Cerrado e a Caatinga.113

Antes mesmo de sua criação, o parque era palco de eventos esportivos off road do país, o mais expressivo deles era o Rally dos Sertões. Os eventos corroboraram na projeção da região na rota nacional do turismo sobre quatro rodas. A aridez da paisagem mesclada por oásis de águas cristalinas atraía os adeptos do esporte, transformando-a, ao passar dos tempos, no principal destino turístico do Tocantins.

Com isso, a visitação desordenada e excessiva nos pequenos atrativos naturais, os impactos ao meio físico pela visitação e a mídia espontânea foram os principais motivos que levaram o governo do Estado a criar uma UC na área, a fim de proteger a fauna, a flora e os recursos naturais, de modo a garantir o aproveitamento sustentado do potencial turístico da região. A atitude de então revela que o enfoque de formação da área tinha fins turísticos, no intuito de garantir o usufruto às futuras gerações.

De acordo com o Plano de Manejo do Parque Estadual do Jalapão, os seus objetivos específicos são:

− Preservar a diversidade biológica e os recursos naturais contidos no mosaico de amostras do Bioma Cerrado, característicos da região do Jalapão.

− Proteger espécies da flora raras e/ou ameaçadas de extinção no âmbito nacional, a exemplo de: Pau-gonçalo Astronium fraxinifolium, Aroeira

Myracrodruon urundeuva, Palmeira-babaçu Attalea spectabilis, Caroba Jacaranda praetermissa, Abiu-do-cerrado Pouteria torta, Sucupira-branca Acosmium subelegans, Angelim Andira cordata, Visgueiro Parkia platycephala, dentre outras.

− Proteger espécies da fauna raras e/ou ameaçadas de extinção no âmbito nacional, a exemplo de: Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), Onça- pintada (Panthera onca), Suçuarana (Puma concolor), Jaguatirica (Leopardus pardalis), Tatu-Canastra (Priodontes maximus), Tamanduá– Bandeira (Myrmecophaga tridactyla), Sussuapara ou Cervo-do-pantanal (Blastocerus dicothomus), Inhambu-carapé (Taoniscus nanus), Maria- corruíra (Euscarthmus rufomarginatus), Arara-azul-grande (Anodorhynchus

hyacinthinus), Pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), os lagartos (Iguana iguana, Tupinambis duseni e Tupinambis quadrilineatus), as serpentes (Boa constrictor, Corallus hortulanus, Epicrates cenchria, Eunectes murinus), o

jacaré (Paleosuchus palpebrosus), várias espécies de peixes (Hemigrammus aff. levis, Eigenmannia cf. trilineata, Hemiodus ternetzi,

Ancistrus aguaboensis, Cynopotamus tocantinensis, Hemiodus ternetzi, Leporinus tigrinus, Steindachnerina amazônica, Tometes sp.), dentre

outras, todas atualmente presentes no PEJ.

− Proteger espécies da fauna possivelmente não descritas, a exemplo das seguintes espécies de peixes Astyanax spn, Leporinus spn1, Leporinus

spn2, Moenkhausia spn, Hyphessobrycon spn, Myleus spn1, Myleus spn2, Rineloricaria spn e Tometes spn.

Proteger espécies da flora possivelmente não descritas como Pleonotoma

sp., Ouratea sp., Esenbeckia sp. e Vernonia sp., dentre outras.

− Contribuir para a proteção de sítios de reprodução e alimentação do Pato- mergulhão (Mergus octosetaceus), espécie rara e ameaçada de extinção. − Contribuir para a proteção e o conhecimento sobre o uso sustentável dos

recursos naturais como os mananciais hídricos e o capim dourado (Syngonanthus nitens) para o desenvolvimento da região.

− Assegurar a proteção das características relevantes de natureza geológica e geomorfológica da serra do Espírito Santo, do Porco, da Jalapinha e da região do Jalapão como um todo.

− Proteger as nascentes de tributários do rio do Sono e contribuir para a proteção dos recursos hídricos do ribeirão Brejão, dos córregos Formiga e Carrapato e dos situados à margem esquerda do rio Soninho e à margem direita dos rios Preto e Novo.

− Favorecer e/ou promover a proteção e conservação ambiental e a restauração de ecossistemas degradados, por meio de pesquisas e do desenvolvimento tecnológico.

− Proporcionar os meios e incentivos para implementar as atividades de turismo, educação ambiental, pesquisa científica e monitoramento ambiental.

− Favorecer as condições para a monitoria, o controle e a promoção de atividades turísticas e recreativas.

− Valorizar e direcionar o conhecimento e as atividades tradicionais das comunidades locais (como o artesanato do capim dourado e o uso do fogo), transformando-os em ações de educação e sensibilização ambiental.

− Prezar pelo adequado desenvolvimento em bases ambientalmente

sustentáveis das comunidades e dos empreendimentos situados na Zona de Amortecimento do PEJ.

− Contribuir e compartilhar com ações de manejo inseridas no contexto do mosaico de UCs regionais e do corredor ecológico Jalapão/Mangabeiras em acordo com as bases estabelecidas no SNUC.

Pelo exposto, conclui-se que a relevância ambiental da área se insere na preocupação de preservação do Cerrado Brasileiro, a qual não se apresenta degradada pelas atividades agropecuárias e pela ocupação urbana excessiva, e de preservação desse bioma para a prática do turismo sustentável.

De início, para garantir sua proteção no seu Plano de Manejo, deveria ter sido feito um marco lógico das condições físicas da área e propostas, a partir de um zoneamento, às medidas de proteção para cada zona. Por haver discórdia dos órgãos ambientais (estadual e federal) e de instituições de pesquisa quanto à validade das informações do meio físico no Plano de Manejo, abordar-se-á a caracterização ambiental da área114 feita por Silva (2007), Adorno (2008) e um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins.

Portanto, de acordo com os autores, o Parque Estadual do Jalapão possui as seguintes características ambiental:115116

114 Na caracterização ambiental será utilizada a feita por SILVA (2007) que utilizou diferentes classificações, sendo:

geologia – projeto Radan Brasil (NUNES; FILHO; LIMA, 1973); geomorfologia e solos – EMBRAPA (1981, apud Tocantins, 2003); cobertura vegetal – Ribeiro e Walter (1998, p. 149); clima MMA (Brasil, 2007) e Atlas do Tocantins (TOCANTINS, 2005).

115 SILVA, Keury Juliana N. Caracterização ambiental de atrativos turísticos no parque estadual do jalapão,

município de MATEIROS – TO. Monografia apresentada à Universidade Federal do Tocantins – Campus de Porto Nacional. Porto Nacional: UFT, 2007, pp. 24-26.

Geologia - Segundo o levantamento do Projeto Radam (NUNES; FILHO; LIMA, 1973), a geologia da área é do período Cretáceo Superior, com a formação Itapecuru (mesma Urucuia), constituída quase que exclusivamente por arenitos finos de cores diversas, predominando o cinza, róseo e vermelho, argilosos, com estratificação cruzada e silicificações, principalmente no topo. Intercalam-se leitos de siltitos, folhelhos cinza- esverdeados e avermelhados. (Mapa 8)

Geomorfologia - A morfoestrutura pertence à Bacia Sedimentar do São Francisco. A morfoescultura se divide em: dissecado em colinas e ravinas, planície fluvial, dunas e escarpa. Na morfologia encontram-se formas erosiva, acumulativa e erosivo-acumulativa. (Mapa 8)

Solos - Os solos encontrados foram: na superfície da escarpa (serra do Espírito Santo), o Latossolo Amarelo (LA1 – LATOSSOLO AMARELO DISTRÓFICO textura média relevo plano e suave ondulado); nas paredes da escarpa o solo Litólico (R2 - associação de solos litólicos pedregosos e concrecionários textura média + LATOSSOLO VERMELHOAMARELO textura média + AREIAS QUARTZOSAS todos DISTRÓFICOS relevo suave ondulado a forte ondulado), e nas demais áreas têm-se Areias Quartzosas (AQ6 – associação de AREIAS QUARTZOSAS relevo suave ondulado + AREAIS QUARTZOSAS HIFROMÓRFICAS relevo plano + GLEI POUCO HÚMICO Tb textura média e argilosa relevo plano, todos distróficos – inclusão “solo ALUVIAL DISTRÓFICO Tb textura indiscriminada”). (Mapa 8)

Cobertura Vegetal – Considerou-se a área desta de acordo com a classificação da chave de identificação dos tipos fitofisionômicos do bioma Cerrado, desenvolvidos por Ribeiro e Walter (1998), cujo domínio pertence ao bioma Cerrado. As tipologias dizem respeito às seguintes formações: florestal, savânica e campestre. As fitofisionomias, identificadas nos pontos de atrativos turísticos, foram: (Mapa 8)

− Mata de galeria inundável – mata onde o lençol freático está próximo ou sobre a superfície do terreno na maior parte dos trechos o ano todo, mesmo na estação seca. Apresenta trechos longos com a topografia plana, e uns poucos locais acidentados. Possui drenagem deficiente. Presença de poucas espécies de leguminosas arbóreas.

116 Adorno, Lúcio Flavo M. Turismo no Parque Estadual do Jalapão: identificação dos usos e proposição de medidas

de controle e monitoramento. Núcleo de Estudos Estratégicos de Avaliação Ambiental em Turismo Sustentável. UFT. 2008. pp. 13-18.

− Cerrado Sentido Restrito, subtipo Cerrado denso – Terrenos bem drenados. Flora arbórea composta por diversas espécies, principalmente dicotiledôneas. Cobertura arbórea de 50 a 70%. Altura média do estrato arbóreo de 5 a 8 metros. Pode formar faixas com dossel contínuo. Estrato arbóreo com indivíduos eretos e tortuosos.

− Cerrado Sentido Restrito, subtipo Cerrado típico – Forma dossel contínuo. Terrenos bem drenados. Cobertura arbórea de 20 a 50%. Estrato arbóreo destacado. Altura média do estrato arbóreo de 3 a 6 metros.

− Palmeiral (“buritizal”) – Os buritis formam um dossel descontínuo e crescem espalhados sobre um campo graminoso. Cobertura arbórea de 40 a 70%. Os buritis distribuem-se pelo terreno onde não existem linhas de drenagem definidas.

− Campo rupestre - Arbustos crescem diretamente nas fendas de

afloramentos de rocha, em trechos com pouco ou nenhum solo. Flora característica com muitos endemismos.

− Campo sujo seco – estrutura de campo. Flora predominantemente

herbáceoarbustiva. Cobertura arbórea ausente ou sem destaque. Com arbustos ou umas poucas arvoretas isoladas. Arbustos crescem em áreas com algum solo e não em afloramentos de rocha. Flora com elementos do Cerrado (sentido restrito), somente em terrenos bem drenados.

− Campo limpo seco - estrutura de campo. Flora predominantemente

herbáceoarbustiva. Cobertura arbórea ausente ou sem destaque. Sem arbustos ou arvoretas, somente em terrenos bem drenados.

Clima - é subúmido seco com moderada deficiência hídrica (CldA’a’). A precipitação média anual da área está em torno de 1500 a 1600 mm. A temperatura média da região entre 27 e 28ºC (TOCANTINS, 2005). As temperaturas máximas anuais do PEJ são próximas a 30º e 32ºC, no período de agosto e novembro, devido, em parte, ao fim da seca, quando a fumaça das queimadas no cerrado contribui para o aumento da temperatura, e mínimas de 18º a 19ºC nos meses de junho e julho. Durante o ano, existem duas estações bem definidas: a chuvosa (outubro e abril) e a seca (maio a setembro).

Mapa 8: Geologia, geomorfologia, solos e cobertura vegetal do Parque Estadual do