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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.6 Relevância do preço e de aspectos financeiros

Para apreender o significado do preço e do prêmio – ou prêmio social – no Comércio Justo, partiu-se do pressuposto de que é primordial compreender a relevância dos fatores econômicos em detrimento aos demais – social e ambiental. O fator econômico, ou financeiro, é compreendido como o aspecto em que os maiores desafios do Comércio Justo estão situados. Entretanto, o preço superior, adição do prêmio, é também o fator motivador para a adesão dos grupos na certificação.

Há o destaque para interdependência entre as dimensões da sustentabilidade, mas com a contrapartida de que as questões financeiras exercem influência superior na sociedade. Portanto, relações no Comércio Justo são influenciadas e desafiadas pela dimensão financeira/econômica. A intenção é de que o valor pago atenda as necessidades do pequeno produtor, mas para assumir o caráter diferenciado devem ser considerados aspectos sociais e ambientais.

O entendimento da relevância de cada dimensão da sustentabilidade varia. Entretanto, para a maioria dos produtores o primeiro aspecto para a caracterização de uma relação justa está no retorno econômico. Renda e desenvolvimento econômico são percebidos como influenciadores das melhorias sociais como a elevação da autoestima, conforto e segurança. Entre grupos apoiadores o retorno pode ser medido em termos de impactos sociais e

ambientais; tendo a questão econômica como consequência da melhoria de questões ambientais.

O entrelaçamento das dimensões da sustentabilidade é destacado pelo fato de que transações são dependentes das comunidades, da existência de matéria-prima ou condições ambientais. Pedidos são condicionados às possibilidades e interesses dos grupos produtivos de atender as demandas. Volumes de produção não podem ser impostos em decorrência de interesses financeiros. Existem condicionantes nas normas de produção, limitações ambientais e sociais, que inviabilizam a sustentabilidade da produção. Logo, o maior desafio é fazer com que fatores econômicos não se destaquem, ou que ocorra a dissociação das três dimensões.

4.6.1 O papel do preço nas transações

Na indústria produtora de alimentos as oscilações de preços ao longo do ano são frequentes. Nas transações de Comércio Justo o papel do preço, em primeira instância, é de prover um valor mínimo previamente fixado. O valor geralmente superior ao de mercado é atrelado a argumentos de potenciais impactos e contribuições ao desenvolvimento.

Preços devem ser calculados com base nos custos de produção e comercialização, considerando os valores mínimos para a manutenção das condições de vida dos produtores. O preço justo deve permitir que produtores não recebam aquém do custo de produção -

caracterizado de “pagar para vender”. Entretanto, o primeiro conflito da fixação de preços está

na oscilação de valores da indústria ao longo do ano. Esse aspecto é de difícil assimilação para os produtores, que frequentemente atuam numa lógica de imediatismo.

Determinação de preços

Na certificação FLO todos os produtos precisam ter um preço mínimo definido, previamente à certificação, que deve cobrir os custos de produção. Produtos considerados exóticos - como frutas amazônicas - não podem ser certificados até que ocorra uma pesquisa de preços. Nas certificações Ecocert e IMO existem parâmetros genéricos, que são utilizados para todos tipos

de produtos, acompanhando valores de mercado – para determinar um valor superior - e que viabiliza a certificação de qualquer produto.

Certificações conferem diferentes possibilidades de arranjos, mais ou menos independentes, em decorrência da caracterização dos produtos – exóticos ou não. Diante das exigências de certificação, situações distintas ocorrem. A Ecocert possibilita a certificação de produtos caracterizados exóticos, como guaraná e açaí. Na FLO produtos exóticos necessitam estar atrelados a outros produtos certificados. Um exemplo é o doce de Umbu vinculado ao açúcar paraguaio certificado, cujo prêmio social é pago ao portador do selo.

Produtores contestam a determinação do preço mínimo, afirmando que o valor acima do praticado é um discurso que não corresponde à realidade. Para sustentar as atividades, produtores realizam constantes exercícios de redução de custos, considerando que investimentos de longo prazo foram realizados, sendo necessário aguardar por momentos de alta de preços.

Prêmio social

Na FLO, o prêmio - ou prêmio social – tem por função ser uma garantia de que o produtor está sendo “bem pago”; que as relações comerciais são justas; e representa contrapartida ao esforço de certificação. O valor deve ser investido em trabalho comunitário, cuja alocação de recursos resulta de decisão coletiva na organização produtora, com o intuito de gerar um ciclo virtuoso. Na Ecocert, o prêmio representa o aspecto da transação justa, refletindo a adequação de práticas às dimensões social e ambiental, relacionando o preço mínimo a um fundo de desenvolvimento.

Entre atores de comercialização o preço prêmio é entendido como um elemento de caráter educativo, estimulador da produção e auxiliar no desenvolvimento. O caráter educativo demonstra que parcela dos lucros deve ser revertida para a comunidade e para o benefício coletivo. O retorno do prêmio aos produtores ocorre por intermédio de melhorias no seu entorno, por processo decisório coletivo, em prol da cooperativa ou da comunidade local.

A alocação do prêmio deve beneficiar a comunidade de produtores – ex. construção de creches, realização de palestras para crianças e adolescentes. Somente há possibilidade de alocação na organização produtiva se decidido por assembleia. O impacto esperado é de mudanças no cotidiano das comunidades. A utilização de recursos deve constar de prestação de contas para produtores e certificadora, em relatório apresentando resultados da cooperativa.

O prêmio contribui para as melhorias e desenvolvimento. Entretanto, a parcela de produto comercializado dentre do Comércio Justo pelos produtores, especialmente beneficiado, não é determinante para a renda do produtor – que segue dependendo do mercado tradicional.

Porém, mesmo com a determinação de preço mínimo e as benesses do prêmio social, existem questionamentos sobre práticas de grupos certificados, que vislumbrando a competição: 1. forçam a redução de preço; 2. não distribuem o prêmio social; 3. o prêmio é distribuído entre os cooperados da beneficiadora, ao invés de produtores.

Em termos de custo final, relata-se que os importadores requisitam informações como entidade certificadora e respaldo internacional. Em algumas situações a transação somente é viável em decorrência das parcerias construídas. Frequentemente as transações são inviabilizadas, tendo as certificações como tornem fatores excludentes e, consequentes barreiras para escoamento da produção. Os custos de exportação elevam o preço final, tornando o mercado exterior uma opção de maior viabilidade para aqueles que têm volumes superiores.