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A relevância dos fatores de risco nas tipologias de agressores conjugais

Parte I Enquadramento teórico

Capitulo 3 – Tipologias de agressores conjugais

6. A relevância dos fatores de risco nas tipologias de agressores conjugais

Holtzworth-Munroe e Stuart (1994) salientaram a necessidade de se conhecer informações sobre os correlatos de violência dentro de cada um dos subtipos de agressores identificados para que os fatores de risco e causas de violência conjugal em cada um deles possam ser melhor compreendidos. Gondolf (1988, p. 198) já discutia a questão de que "cada tipo de agressor, nessa visão, ser[ia] suscetível de ser distinguido por um único conjunto de fatores causais”.

Uma crítica apresentada aos estudos tipológicos é o uso de medidas relativamente limitadas para obter as tipologias (por exemplo, gravidade e frequência da violência, transtorno de personalidade antissocial), e outros fatores de risco potencialmente importantes tendem a ser negligenciados (Capaldi & Kim, 2007).

Assim, há uma tentativa de analisar os fatores e risco e a relevância de cada um deles nas tipologias, pois alguns fatores estarão mais ligados a certos tipos de agressores que outros. Dixon e Browne (2003) consideram importante que nos estudos os autores não se limitem à diferenciação dos agressores, mas que procurem validar as tipologias recorrendo à comparação entre elas, nomeadamente, em termos de fatores de risco (distais e proximais) para a violência conjugal.

Holtzworth-Munroe e Stuart (1994) apresentaram um modelo teórico desenvolvimental da violência conjugal, identificando as variáveis com interesse e que

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poderiam ser discriminadoras dos diferentes subtipos de agressores conjugais, assumindo que estas interagem e aumentam o risco de várias formas de violência conjugal.

Holtzworth-Munroe et al., (2000) testaram esse modelo desenvolvimental recolhendo dados sobre fatores de risco distais42 e proximais43 como: ambiente e violência na família de origem, delinquência no grupo de pares, apego-dependência e ciúme, impulsividade, competências sociais (ao nível conjugal e não-conjugal), atitudes em relação à violência e atitudes em relação à mulher (Holtzworth-Munroe, 2000; Holtzworth-Munroe & Meehan, 2004; Saunders, 2004). Os autores consideraram também uma outra medida adicional sobre a desejabilidade social.

Segundo Stith et al. (2004) os fatores distais deveriam obter effect sizes menores que os proximais. Além disso, ter em conta quer os fatores distais, quer proximais presentes na vida do sujeito permitiria um trabalho mais integrador, complexo e completo para a compreensão das tipologias dos agressores conjugais (Saunders, 2004).

Quanto mais fatores de risco distais e experiências individuais deste tipo maior a probabilidade de ocorrer violência conjugal na idade adulta. A frequência da exposição a estes fatores e gravidade dos mesmos estaria diretamente ligada ao uso de formas de violência mais severas em adulto. O efeito cumulativo destes fatores, e o aumento da gravidade de cada um deles, aumenta o risco de uma violência mais generalizada e severa (e.g, grupo GVA). Isto não quer dizer que os fatores distais são fatores causais da violência conjugal, mas que estes têm influência no desenvolvimento dos fatores de risco proximais, num conjunto complexo e multifacetado de interações. Por exemplo, uma criança que tenha tido pares delinquentes, por exemplo (fator distal) terá reforçado as suas atitudes positivas face à violência e apresentará maiores déficits em termos de competências sociais, aumentando também o risco de desenvolver comportamentos desviantes (fatores proximais) que irão, por sua vez aumentar a probabilidade de recorrer à violência conjugal.

Apresenta-se, assim, o modelo desenvolvimental proposto por Holtzworth-Munroe e Stuart (1994) e as principais conclusões que outros estudos mais recentes têm apresentado.

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As variáveis distais são fatores que ocorrem na infância ou antes (por exemplo, fatores genéticos). Segundo, Flay e Petraitas (1994, cf. in Saunders, 2004) ao nível distal existem três grandes áreas: cultura e ambiente, situação social e biologia e personalidade.

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As variáveis proximais são características que se revelam na idade adulta e que parecem aumentar o risco de um homem perpetrar atos de violência conjugal. As crenças normativas, sentido de controlo sobre o comportamento e atitudes acerca da violência são alguns exemplos (Saunders, 2004). Comparativamente às variáveis distais, as variáveis proximais têm sido alvo de maior debate e investigação científica.

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Os agressores LF terão menores níveis e fatores de risco associados. A violência resultará mais da combinação de dificuldades (pessoais, conjugais ou ambas) e com a escalada dos conflitos conjugais estes indivíduos recorrerão à violência física. Contudo, os baixos níveis de psicopatologia e de problemas relacionados e as suas atitudes positivas em relação à mulher e contra o uso da violência levarão ao remorso e ajudarão a prevenir a escalada dos comportamentos violentos (Holtzworth-Munroe, 2000; Holtzwoth-Munroe & Meehan, 2004; Holtzworth-Munroe & Stuart, 1994; Holtzworth-Munoe et al., 2000).

Quanto ao tipo DB a violência neste grupo resultaria mais de uma tendência genética para a psicopatologia, impulsividade e agressão. Os autores colocam a hipótese de os agressores virem de um ambiente ligado à rejeição e ao abuso parental e, resultado disso, é a dificuldade em estabelecerem ligações seguras, estáveis e confiáveis com uma parceira, tornando-se extremamente dependentes dela, com medo da sua perda e muito ciumentos. Recorrem à violência por não terem aprendido repostas pró-sociais e interpretarem o conflito marital como possível sinal de abandono/rejeição pela companheira. Estes indivíduos tornam- se, por isso, impulsivos, com poucas competências conjugais e atitudes hostis face à mulher e de suporte à violência, o que também dificulta o remorso e aumenta a probabilidade de escalada da violência (Holtzworth-Munroe, 2000; Holtzwoth-Munroe & Meehan, 2004; Holtzworth-Munroe & Stuart, 1994; Holtzworth-Munoe et al., 2000).

Por último, em relação ao grupo de agressores GVA, há fatores genéticos de predisposição à violência, agressividade e antissocialidade. Segundo Holtzworth-Munroe (2000) viriam de ambientes familiares onde experienciaram elevados níveis de violência e haveria uma associação com pares desviantes. Estes indivíduos seriam impulsivos, narcisistas, com poucas competências de resolução de problemas e de relacionamento (conjugal ou não- conjugal), não investindo nas relações de intimidade, revelariam ainda falta de empatia com a vítima, atitudes hostis face à mulher e considerariam a violência como um comportamento aceitável. Assim, neste grupo, a violência conjugal faz parte do uso generalizado de violência e agressividade em relação aos outros (Holtzworth-Munroe, 2000; Holtzwoth-Munroe & Meehan, 2004; Holtzworth-Munroe & Stuart, 1994; Holtzworth-Munoe et al., 2000).

Waltz et al. (2000) testaram o modelo desenvolvimental de Holtzworth-Munroe e Stuart (1994), e referem ter encontrado evidência empírica suficiente que corrobora as hipóteses dos autores. Contudo, referem que quanto à personalidade e aos estilos de apego é necessário maior pesquisa na medida em que os resultados são menos claros na distinção das tipologias, particularmente, entre o grupo DB e GVA. Os resultados do estudo de Holtzworth-

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Munroe et al. (2003) vão no mesmo sentido que o anterior (Holtzworth-Munroe & Meehan, 2004).

Holtzworth-Munroe et al. (2000) ao testar empiricamente quer a tipologia quer o modelo desenvolvimental de Holtzworth-Munroe e Stuart (1994) encontraram muitas das diferenças que foram colocadas como hipótese no modelo teórico. No entanto, os autores salientam que os dados usados são de natureza transversal, e alguns acedidos retrospetivamente, podendo conter algumas imprecisões. Assim, sugerem que no futuro se desenvolvam estudos longitudinais que analisem os fatores que a literatura científica tem assumido como preditores da violência, entre amostras de adolescentes ou crianças e, posteriormente, a relação entre essas variáveis e a emergência da violência conjugal.

Parte II – Estudo empírico