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A GEOGRAFIA DE BELO HORIZONTE

2.3. A NATUREZA DA CIDADE

2.3.1.0 RELEVO DE BELO HORIZONTE

"O que é ainda visualmente bonito em Belo Horizonte, mas que está acabando, é a Serra do Curral. Ela é o grande motivo, a grande moldura, o grande grifo da cidade. Sem dúvida alguma, ela é o grande referencial de Belo Horizonte".

(Humberto Serpa) 92

De um modo geral, como é o relevo de Belo Horizonte? Belo Horizonte é construída em cima de um relevo plano? baixo? montanhoso? acidentado? Como se formou o relevo no qual hoje se encontra (em crescimento) a cidade de Belo Horizonte?

A maior parte da cidade encontra-se numa grande área deprimida do embasamento cristalino (terrenos antigos) 93. A chamada depressão de Belo Horizonte, se caracteriza pela presença de colinas arredondadas e vales amplos e abertos. A altitude média é de 850 metros (800 metros nos vales e 907 nos topos de colinas).

Fundação Emílio Odebrecht. op. dt. p. 10

Terrenos formados basicamente por rochas granito-gnáissicas do embasamento cristalino, bastante intemperizadas e datadas do período pré-cambriano.

Nos limites sul e sudeste do município de Belo Horizonte o relevo é montanhoso e acidentado. As maiores altitudes do sítio urbano de Belo Horizonte encontram-se nessa região. As vertentes são íngremes e apresentam declives (inclinação do terreno) acentuados. Os vales são longos, estreitos e encaixados (em forma de "V"). O conjunto da Serra do Curral, inserido no domínio do Quadrilátero Ferrífero vem sofrendo um contínuo processo de descaracterização. Apesar de ter sido tombado (decreto federal de 1960) a atividade mineradora.é intensa e predatória. Além do mais, em vários trechos, a ocupação urbana demonstra-se pouco compatível com as características litológicas e geomorfológicas da região. É o caso dos bairros Santo Antônio, Sion, São Lucas, Anchieta, onde a Lei Municipal (1985) de uso e ocupação do solo permite (e de certa forma estimula) o processo de verticalização 94 e mesmo nos bairros Mangabeiras e São Bento, por exemplo, onde não se permite a construção de edificações com número superior a três pavimentos (zonas residenciais 1 e 2), os problemas sócio-ambientais são evidenciados tanto nas chamadas áreas nobres, quanto nas favelas.

Esta incompatibilidade é percebida principalmente durante a estação chuvosa (verão), pois a região de topografia acidentada - composta, na sua maioria, de vertentes íngremes desprovidas de vegetação95 - fica propensa a processos erosivos naturais, como os deslizamentos de grandes blocos de rochas

Bairros, que segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo Urbano, estão situados, genericamente, nas zonas residenciais 4A e 4B, configurando-se num espaço real e potencial de dominação de empresas imobiliárias que, de fato, constroem elevados edifícios residenciais (com taxas de ocupação e coeficientes de aproveitamento bastante permissíveis) para classes sociais mais privilegiadas. Ver MATOS, Ralfo E. Planejamento Urbano e Legislação Urbanística: o caso de Belo Horizonte. UFMG.

A vegetação original, cerrados, campos rupestres, matas ciliares e tropicais é encontrada em restritas áreas não ocupadas (como o Parque das Mangabeiras). Ressalta-se ainda, que no conjunto do Quadrilátero Ferrífero, encontram-se vários mananciais que são responsáveis por cerca de 50% do abastecimento de água da Região Metropolitana.

e terras causados pela saturação de água nos solos pouco profundos e impermeáveis. Vários trechos da região sul-sudeste da cidade são considerados áreas de risco96.

Em suma, Belo Horizonte (também conhecida como Cidade Anfiteatro) está assentada sobre duas unidades de relevo: a depressão de Belo Horizonte - em quase toda a sua extensão - e o Quadrilátero Ferrífero - porção sul e sudeste da cidade. O ponto culminante do município é o pico de Belo Horizonte (sul da cidade) com 1390 metros de altitude e as áreas mais baixas encontram-se na região da Pampulha: 800 metros de altitude (ver perfil).

A depressão de Belo Horizonte, em comparação com a topografia do Quadrilátero Ferrífero é, sem dúvida, mais adequada à ocupação urbana, pois apresenta vertentes de menor declividade e vales abertos. Segundo Dirce Melo, a depressão de Belo Horizonte é um longo corredor topográfico que funciona como uma grande calha natural na qual a expansão urbana fica facilitada, ou seja, o crescimento urbano se faz sem grande inversão de capitais97. É uma área densamente urbanizada: suas características originais foram alteradas 98 e os problemas ambientais são intensos. Parte dessa depressão corresponde ao substrato onde hoje se situa o aglomerado metropolitano: conurbação de Betim, Contagem e Belo Horizonte na porção oeste.

Ver item 2.3.5. deste mesmo capítulo, com o subtítulo: "Principais Problemas Ambientais". MELO, Dirce. Diagnóstico Ambiental da Mata do Infemo e seu Entorno para Proposição de Uso Racional do Solo, Sabará - MG.

Vaie apenas então, caracterizar o solo, o padrão de drenagem, a cobertura vegetal, etc. somente quando se trabalha com os outros municípios menos urbanizados. Sobre estas informações ver SIM PÓSIO - Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região Metropolitana de Belo Horizonte - MG.

A Origem da Depressão Periférica de Belo Horizonte

A depressão de Belo Horizonte faz parte de uma depressão maior que circunda toda a Serra do Espinhaço. Ela é mais nítida e visível, porém, em Belo Horizonte e proximidades.

A formação da depressão, do buraco colinoso onde está e vem sendo construída Belo Horizonte, está relacionada a movimentos epirogenétícos" pós- cretácio100 que afetaram o Planalto Brasileiro. Assim a epirogênese positiva que atua de maneira irregular em todo o Planalto Brasileiro - no qual se insere o Planalto Oriental e, portanto, a região de Belo Horizonte - determinou a instalação de redes hidrográficas que começaram a modificar as superfícies situadas entre Maciços Antigos (no caso a Serra do Curral) e bacias sedimentares (ressaltando, então, a bacia sedimentar localizada na porção norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte). Este processo de entalhamento superficial chamado de circundesnudação101, implicou num intenso trabalho de escavação desta área situada entre um maciço e uma bacia sedimentar. Esta escavação, iniciou-se após a cessação do processo de sedimentação na área, haja vista que, em decorrência da mudança do nível de base (regressão marinha), a drenagem passou a erodir e transportar todo o material sedimentar para a periferia do buraco em fase de formação e aprofundamento.

São movimentos lentos de submersão ou levantamento da crosta produzidos pelo jogo de forças verticais (provenientes do manto da terra) que atingem as massas continentais. Data, portanto, do período Cenozóico (terciário - a aproximadamente 70 milhões de anos atrás).

Ver monografia de ANDRADE, Tarcísio. Depressão periférica de Belo Horizonte e Evolução de sua Ocupação. Monografia, 1974. O termo circundesnudação nada mais é do que a própria "depressão periférica”; o processo de erosão (desgaste, transporte e sedimentação) dos rios responsável pela sua formação alongada relaciona-se com as suas duas áreas de contato: o Maçico Antigo (Serra do Curral) e a Bacia Sedimentar (Karst de Lagoa Santa).

A cidade de Belo Horizonte, portanto, situa-se quase que exclusivamente dentro de um grande buraco cheio de altos e baixos, ou seja, uma depressão composta de colinas arredondadas e vales largos (predominantemente), onde a altitude média é de 850 metros. A formação desta depressão se explica pelos últimos levantamentos ocorridos na Serra do Curral (soerguida por forças da natureza provenientes do interior da terra) que fizeram com que os rios escoassem em direção a essa depressão, esculpindo-a. A drenagem, direcionada para o Rio das Velhas, passou a transportar os sedimentos para a periferia da depressão. A bacia sedimentar do São Francisco compõe o seu limite norte e a Serra do Curral constitui-se na sua espetacular fronteira sul e sudeste (ver mapa 11).

A Sena do Curral Del Rey:

"Belo Horizonte é o contorno da Serra do Curral. Pensando em Belo Horizonte, a idéia visual que me vem é aquele contorno de montanhas". (Pedro N ava)102

A serra do Curral constitui um importante marco geográfico da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Apresenta inegável beleza cênica e corresponde a um grande divisor de águas, de clima, de vegetação, de relevo e de geologia. Trata-se, ainda, de um monumento vivo integrante da história de Minas Gerais.

Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Tombamento da Serra do Curral. Documento preliminar (Cadernos do Meio Ambiente).

A serra do Curral é um produto de ocorrências geológicas datadas da Era Pré-Cambriana Média103. O soerguimento deste conjunto montanhoso, situado na porção sul do Quadrilátero Ferrífero, coincidiu com os movimentos tectônicos que reformaram a Serra da Canastra e a Serra do Espinhaço.

Segundo o historiador Abílio Barreto, a denominação Serra do Curral Del Rey tem origem com a instalação da Fazendo do Cercado, onde o bandeirante 104 paulista João Leite da Silva Ortiz dedicou-se à lavoura e à criação de gado (1711). Em tomo destas atividades cresceu a povoação denominada Curral Del Rey, assim chamada porque aí se encurralava o gado vindo dos sertões da Bahia e do São Francisco, depois de contado no vizinho registro das Abóboras (Contagem) para pagar tributos ao Rei em Sabará105.

Assim, a Serra anteriormente intitulada Serra das Congonhas106, tomou-se Serra do Curral Del Rey em função do curral natural que ela ajudava a formar e que também denominou o arraial que surgiu em suas encostas107.

Aproximadamente há 1 bilhão e SOO milhões de anos.

É possivel que a Serra tenha sido fator de orientação dos bandeirantes na época da exploração do ouro.

Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Tombamento da Serra do Curral. Versão preliminar, p. 16.

Esta denominação relacionava-se ao distrito de Congonhas de Sabará (antes Congonhas das Minas do Ouro) que, segundo Abílio Barreto, corresponde hoje ao municipio de Nova Lima. Secretaria Municipal de Meio Ambiente, op. dt. p. 13.

Uma outra versão sobre o nome da Serra relaciona-se à chegada na região de um piloto da nau Nossa Senhora da Boa Viagem, que possuía o sobrenome "Del Rei" e também pelo fato de existir no local, um curral de aluguel onde pernoitava o gado sobre o qual pagava imposto no Registro de Contagem. Idem p. 16.

Além de seus aspectos histórico, paisagístico e natural - ressaltando que em alguns locais ainda resistem formações vegetais do tipo cerrado (predominante), mata galeria, campos de altitude e manchas de floresta tropical acompanhada por uma fauna também diversificada108 - é necessário pensar a Serra do Curral no seu aspecto econômico. A Serra hoje faz parte de um contexto mais amplo, haja vista que a exploração do minério de ferro iniciada de maneira efetiva nos anos 40, magnesita, entre outros minerais, vincula-se diretamente à ação de mineradoras nacionais, como a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) e internacionais como Mannesmann. A atividade mineradora, voltada eminentemente para a exportação, não tem nada de compatível com a preservação de seus elementos. Ao contrário, o seu corpo vem sendo mutilado e transferido em pedaços selecionados para outros países. Algumas poucas pessoas se beneficiam, a cidade perde parte de sua alma, e a população trabalhadora não recebe nada em troca.

O processo de descaracterização da Serra do Curral ocorre também devido á atuação das imobiliárias que invadem os seus limites, apropriando-se de seus atributos físicos, modificando-os e degradando-os drasticamente.

"Como é bonita a Serra do Curral, à distância ela tem um aspecto suave, mas a gente chegando mais perto ela mostra a sua essência, como é um solo furioso, seu aspecto brutal, olha aí, quanto mais perto a gente vai chegando, mais áspera fica essa serra. É uma beleza (...).

Hoje é proibido subir a Serra, não é? A MBR proibiu, me disseram. Pois andamos muito por ai, era passeio quase semanal para o pessoal do ginásio; fazíamos pic-nic por aí afora (...)". Pedro Nava109.

Coelho do mato, gambá, sabiá laranjeira, bem-te-vi, cobra coral, etc. Ver Secretaria Municipal do Meio Ambiente, op. cit. p. 9-10.

2.3.2.CLEMA DE BELO HORIZONTE