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SILVA, Lenyra, Op cit p 27 43 Ibidem p 26.

1 3 0 ESPAÇO URBANO E GEOGRÁFICO

42 SILVA, Lenyra, Op cit p 27 43 Ibidem p 26.

utiliza de tais diversidades. O processo de globalização do espaço geográfico nada mais é do que uma manifestação concreta da internacionalização da economia e da explícita e global massificação cultural. Um espaço visto apenas na sua individualidade, concebido com matéria inerte e trabalhado isoladamente dentro de seus limites administrativos, étnicos ou naturais contraria a realidade espacial da sociedade contemporânea. As diversas e diferentes regiões da atualidade são, na verdade, partes integrantes de um todo geográfico, de uma totalidade social e espacial que, através da produção do telefone, do automóvel, do avião, da televisão, do computador, etc., universaliza as informações, as imagens, o som, a produção, o consumo (o jeans, a coca-cola, o café, etc), as guerras, a fome, a ideologia burguesa de

viver, o domínio e a dependência política e econômica.

Por mais distante e diferente que pareça, um pobre proletário rural trabalhando num município situado numa região economicamente deprimida, longe de tudo e de todos, este trabalhador sofre, de uma maneira ou de outra, interferências culturais e econômicas de outros lugares. Essas interferências podem se dar por intermédio dos meios de comunicação, por meio de qualquer mercadoria (exógena) consumida ou, por exemplo, através de um decreto federal que congela o salário mínimo. É de se pensar ainda que uma crise mundial do capitalismo (como a de 1929), manifestada explicitadamente com a quebra da Bolsa de Nova York afetará direta ou indiretamente a vida deste trabalhador rural. Entender o porquê dessa dependência, o porquê de sua condição de proletário (sem-terra) miserável, o porquê de sua região encontrar- se economicamente estagnada no contexto nacional, entre outros porquês implica estudar esse município não somente no seu conjunto regional e nacional, mas obrigatoriamente numa dimensão capitalista global.

Pode-se conceber ainda o espaço como uma "aldeia global" diversificada. Em São Paulo, Cidade do México, Tóquio e Paris, por exemplo, a concentração econômica e urbana é expressiva. A dinâmica produtiva nessas megalópoles se assemelha em vários aspectos; porém, os problemas infra- estruturais de ordem social (como défíct de moradia, transporte de massa, etc) ou, mesmo, a questão da violência urbana apresentam algumas diferenciações - de um modo geral,a qualidade de vida urbana se diferencia, mas o estilo de vida urbano se assemelha. Essas megalópoles, por outro lado, diferem espacialmente de cidades de pequeno porte ou de uma zona rural qualquer baseada num sistema de produção do tipo "plantation" (mão-de-obra assalariada). E é evidente que o espaço também apresenta diferenças temporais. Na Inglaterra, o espaço na sociedade feudal não era o mesmo que na Revolução Industrial, assim como a porção nordeste dos USA (área de grande concentração urbana e industrial) apresentava uma outra configuração espacial antes do processo de conquista colonial inglesa.

Conceber o espaço geográfico como uma unidade da diversidade nos induz a estudar o sistema capitalista mundial (enquanto um produto histórico da humanidade) e sua expansão imperialista que vem absorvendo vários povos e nações e, portanto, gerando vários desdobramentos no espaço geográfico. A alienação do trabalho humano (e portanto do próprio homem) está vinculada à alienação e à fetichização do espaço geográfico, que não deve ser analisado de forma alienada. A produção-reprodução das desigualdades sociais se manifesta, dialeticamente, de maneira heterogênea e homogênea no espaço e no tempo (não-linear). A divisão internacional do trabalho se desenvolve e se estende também vinculada, estrategicamente, às diversidades naturais e às heterogeneidades sociais (muitas vezes regionalizadas em ambos

os casos), ou seja, a intemacionalização-globalização do espaço implica sua homogeneização e o desenvolvimento em maior grau de suas diferenciações.

A estruturação do espaço não é aleatória. O espaço geográfico no seu aspecto geral e na sua essência, vem sendo (principalmente nesse final de século) organizado e monopolizado pelos grandes aparelhos capitalistas. Mas, o espaço geográfico é também um produto de exploração de trabalho e de lutas de classe. A produção de mais-valia e a reprodução de capital se dão sob várias esferas do circuito de dominação espacial ocorrendo, necessariamente, o rompimento das fronteiras nacionais e, portanto, a expansão do capitalismo no âmbito da escala mundial.

E nessa unidade da diversidade, inerente à universalização capitalista do espaço, verifica-se um processo de diferenciação geográfica em nível social (classe) e espacial: países de primeiro, terceiro, quarto mundo, etc; não perdendo de vista que as desigualdades sociais se manifestam localmente ou regionalmente no interior de uma nação desenvolvida ou subdsenvolvida.

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"E necessário, enfim, que as pessoas estejam à altura de compreender as formas tão diversas que a crise dialética global torna consoante os locais, no seu desenvolvimento histórico e a sua diferenciação espacial a nível planetário nacional e regional"44

Helena Callai afirma que o conhecimento espacial a ser adquirido pelo aluno de forma crítica e utilitária (ensino de Estudos Sociais voltado para a compreensão e transformação da sociedade), deve estar atrelado a um

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LACOSTE, Yves. A Geografia. Isto Serve, em Primeiro Luaar para Fazer a Guerra, p. 194.

método capaz de recuperar a história de construção do espaço, ou seja, toma- se necessário partir do CONCRETO (conhecimento do espaço local) e então correlacionar a produção desse espaço (no qual o aluno está diretamente convivendo) com o espaço ABSTRATO (conhecimento em nível regional, nacional e internacional)45 Segundo Jaeme Luiz Callai, o município (e seu estudo) constitui-se no exemplo concreto de como funciona a sociedade, de como nele se reconstrói a história e o espaço :

"O município constitui-se em microcosmo do nacional e mesmo do planetário. A par de acontecimentos de cunho eminentemente local (particular), manifestam-se outros tantos de natureza mais geral (universal). As relações de ordem econômica, política e social que se manifestam no município expressam um ordenamento mais geral. É o universal que se revela no concreto."46

Estudar o município de forma isolada, observando somente a sua morfologia (espaço visível) e funcionalidade interna sem estabelecer relações com os "outros espaços" e com a lógica capitalista de determinar socialmente o "viver" significa seccionar a própria realidade, impossibilitando o entendimento da dinâmica sócio-espacial de como é produzido o espaço geográfico municipal.

Para Jaeme Callai, o objeto de estudo é o município; entretanto, o objetivo é a compreensão da dinâmica social através da história e da