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Para compreender as Ciências das Religiões, o que se verá adiante, é necessário entender tanto o significado de Ciência quanto de religião.

A religião tem sido objeto de inúmeros estudos que buscam defini-la, compreendê-la e verificar como esta influencia a sociedade.

Pensadores clássicos e contemporâneos tentaram defini-la.

Historicamente o termo religião não é recente. Do ponto de vista de Hinnells (1995), a palavra religião é de origem latina, religio. Definição vinculada à crença na existência de uma força ou forças sobrenaturais consideradas criadoras do Universo e como tais, devem ser adoradas e obedecidas. Ferreira (2000), no entanto, informa que Lactâncio, escritor cristão (m. 330 d.C.), diz que o termo significa ligar ou prender, tendo origem latina em religare.

Um dos caminhos para se compreender o fenômeno religioso é compreendendo o fenômeno social. Pensadores clássicos tais como Auguste Comte, Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber e outros empreenderam esforços no sentido de compreender a sociedade, utilizando como lente o estudo da religião.

Auguste Comte (2004), conhecido como o “pai do positivismo”, apesar de não ter definido religião cria um sistema denominado “religião da humanidade”. Procura estabelecer as bases de uma completa espiritualidade humana, sem elementos extra-humanos ou sobrenaturais, mais conhecida como “positivismo religioso”. Comte (2004, p. 105) fundamenta seus dogmas na Ciência e em seu espírito positivo, caracteriza-se por ser “real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático”. Suas ideias influenciam significativamente a sociedade brasileira, a lembrar o emblema “ordem e progresso” da bandeira nacional. Daí que a religião também deve ter um objetivo real, preciso e ser útil, organizado para que contribua com o progresso da sociedade.

Karl Marx (2002, p. 8) afirmava em seus manuscritos que “a religião é o suspiro da criatura aflita, o estado de ânimo de um mundo sem coração, porque é o espírito da situação sem espírito, [...] ou seja, [...] a religião é o ópio do povo” . “A religião não aliena as pessoas, porque a religião é criada pelas pessoas, por isso as pessoas se alienam”, afirma Marx (2002), ao criticar os trabalhadores que deixavam

de lutar por melhores condições de vida, resignados com a esperança de vida melhor após a morte.

Durkheim (1989, p. 538) buscou compreender a religião e a sociedade de sua época e concluiu, observando o sistema totêmico da Austrália, que a religião era importante exemplo de representações coletivas compartilhadas, não uma prova da existência de Deus. Ele via a religião como um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a coisas sagradas, as quais unem, em uma mesma comunidade moral, denominada instituição religiosa, todos aqueles que a elas aderem. A ideia de religião é inseparável da ideia de igreja porque religião é uma forma eminentemente coletiva. O papel da religião, portanto, é unir as pessoas numa única comunidade com um núcleo comum de crenças.

Weber (1999, p.20), por sua vez, afirma que “a ação religiosa ou magicamente motivada, em sua existência primordial, está orientada para este mundo” e [...] “deve ser realizada para que se viva muito bem e muitos e muitos anos sob a face da Terra”. Ou seja, Weber compreende religião como um modo de viver.

Crawford (1927, p. 220), que se baseou no estudo de seis religiões distintas, ofereceu uma definição sucinta de religião como sendo “uma crença em Deus, que é o fundamento incondicionado de todas as coisas, e em seres espirituais, resultando em experiência pessoal de salvação ou iluminação, comunidades, escrituras, rituais e um estilo de vida”.

Evidente que essa crença que resulta em estilo de vida é compartilhada por grupos, os quais se reúnem em instituições com o fim de manter a unidade dessas experiências. Ao se considerar este aspecto coletivo, as religiões são muitas e diversificadas.

Segundo Berger (1985, p. 38), o homem enfrenta o sagrado como uma realidade imensamente poderosa e distinta dele. Essa realidade a ele se dirige e coloca a sua vida numa ordem, dotada de significado. Também para Berger (1985, p. 39) todas as construções nômicas destinam-se a afastar o terror à anomia, isto é à falta de significado. No cosmos sagrado, porém, essas construções alcançam sua culminância, isto é a sua apoteose. Diferente do que considera Derrida (2000, p.11) que questiona “se devemos nos salvar pela abstração ou nos salvar da abstração? Mas onde está a salvação?”.

Para Terrin (1998, p. 149), é bem sabido que se o homem não precisasse de “salvação” as religiões seriam inúteis, no entanto, elas têm se tornado supérfluas porque não são mais capazes de sanar as doenças e os incômodos físicos e psicológicos cotidianos do homem.

Discordamos de Berger, Derrida e de Terrim ao compreender que a religião possui um papel significativamente mais amplo que simplesmente afastar o homem da anomia, salvá-lo pela abstração ou sanar as doenças. A religião é também um objeto de estudo que pode representar as características de um povo. Características essas que se confundem com sua própria história. Individualmente a religião reflete o inconsciente e eclode como símbolo da sociabilidade. As experiências religiosas e espirituais com o sagrado são únicas e variam de indivíduo para indivíduo.

Nesse sentido, as concepções de religião, tanto para Berger quanto para Derrida e Terrin, estão relacionadas à busca de significado, de salvação e de neutralização dos sofrimentos advindos da sociedade, mas não resolvem o problema da mercantilização da religião.

Zygmunt Bauman (1925, p. 205) lembra que “a religião pertence a uma família de curiosos e às vezes embaraçantes conceitos que a gente compreende perfeitamente até querer defini-los”.

A busca por conhecer o desconhecido é importante para a relação com o “sagrado”, o “transcendental”, o “encantado” ou mesmo, nas versões de Rudolf Otto, o “tremendo”.

Não é o que pensa Geertz (1989, p.95) assevera: “a religião é uma espécie de ciência prática, que produz valor a partir de um fato”. Na visão de Geertz a religião é objeto de estudo e, portanto, pode ser estudada por meio dos fenômenos a ela relacionados desde que um fato seja produzido e mensurável.

Para Siqueira e Lima (2003, p. 45), à medida que a religião e a religiosidade vêm-se concentrando na esfera do privado, adquirem características cada vez mais íntimas e emocionais. A vivência ou a experiência do sagrado e do religioso concentram-se no indivíduo. É ele quem se constitui centro da nova religiosidade, assim como é símbolo da sociabilidade na modernidade. Essa autonomia individual, essa livre composição de elementos simbólicos, de doutrinas, de práticas e de rituais indicaria, por sua vez, uma mercantilização da religião. Mas se trata da criação de

uma “certa cidadania religiosa” e não meramente clientes ou consumidores religiosos.

Ortiz (2006) não vê nesse processo qualquer novidade e considera a problemática das divergências em torno do tema ‘religião’ algo “antigo” no debate intelectual, uma vez que as mudanças ocorridas na esfera da cultura afetam diretamente o universo religioso.

As Ciências da Religião empregam uma definição funcional (do funcionalismo) definindo religião como um “sistema de crenças e práticas por meio das quais um grupo de pessoas luta com os problemas básicos da vida humana” (HINNELLS, 1987, p. 217).

Há diversas definições de religião elaboradas no decorrer da história, tanto na vertente clássica quanto moderna. Todas elas, no entanto, elaboradas na tentativa de compreender a realidade da religião individual ou coletiva.

Mesmo com toda a dificuldade em encontrar uma definição consensual sobre religião, ela é um fato social e continua movimentando a vida de milhares de pessoas. Fica evidenciado que a religião ocupa um lugar significativo no cotidiano do indivíduo e da coletividade. Isto por fornecer significado, estabelecer crenças, símbolos, relações que conduzem ou não à democracia. Essas crenças e relações são importantes na sociedade e na escola e por isto devem ser analisados à luz da Ciência e considerados como instrumentos partícipes da coletividade. Dentro desse raciocínio, a religião é um objeto de estudo, uma instância e, como tal, não é única, ao contrário são diversas as suas formas de manifestações.

Observa-se, portanto, que a religião tem sido objeto de estudo de inúmeros pesquisadores, os quais a utilizam ao mesmo tempo como lente para compreender a sociedade, como uma forma para entender as manifestações humanas. Também não se trata de incorrer no erro de não perceber suas especificidades e de discutir interminavelmente se é a religião ou a Ciência o pórtico de maior razão.

Entende-se, também, que nem sempre a Ciência é um principio explicador de todas as coisas. Ao se buscar compreender que nomenclatura seria ideal para implementar o ensino religioso, surgem diferentes maneiras de se estudar cientificamente o fenômeno religioso. Vejamos como é definida a Ciência da Religião.