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REMESSA OFICIAL DECRETO-LEI N 779/69 LEI N 10.352/2001 ART 475, § 2º DO CPC LIMITAÇÃO A 60 (SESSENTA) SALÁRIOS MÍNIMOS APLICABILIDADE AO PROCESSO DO

No documento Apostila 01 - HISTÓRIA E PRINCÍPIOS (páginas 32-34)

TRABALHO. Aplica-se ao processo do trabalho as disposições constantes do § 2º do art. 475 do CPC, inseridas pela Lei n. 10.352/2001, que dispensa a remessa oficial nas condenações de valor não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, tendo em vista a omissão existente na legislação processual trabalhista, que não contém limitação relacionada ao valor da condenação e, também, em face da compatibilidade com o processo laboral. Registre-se, ainda, que tal aplicabilidade vem ao encontro dos princípios que influenciam ou orientam o processo do trabalho, principalmente os princípios da proteção ao hipossuficiente, da razoabilidade, da celeridade e da economia processual. Remessa oficial não conhecida. (TRT 23ª R., AI e Recurso Ordinário de Ofício n. 01284.2002.003.23.00-5, Rei. Juiz Maria Berenice, j. 02.12.2003, publ. 27.01.2004.)

Todas essas considerações são aplicáveis na hipótese em que o processo do trabalho se apresenta como instrumento de realização do direito material do trabalho. Todavia, a ampliação da competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar outras relações de trabalho (EC n. 45/2004), em como para cobranças de multas administrativas e contribuições previdenciárias, certamente exercerão influência na aplicação do princípio da proteção, pois nas ações em que figurarem trabalhadores autônomos, o INSS, sindicatos e a União, indaga-se: quem é o hipossuficiente? Quem será o destinatário do princípio da proteção?

3.6.2 Princípio da Finalidade Social

Segundo Humberto Theodoro Júnior35,

[...] o primeiro e mais importante principio que informa o processo trabalhista, distinguindo-o do processo civil comum, é o da finalidade social, de cuja observância decorre uma quebra do princípio da isonomia entre as partes, pelo menos em relação à sistemática tradicional do direito formal.

Theodoro Júnior inspira-se no juslaboralista mexicano Néstor de Buen36, para quem há perfeita comunhão entre o direito material e o direito processual do trabalho:

Em primeiro lugar, é óbvio que tanto o direito substantivo como o processual intentam a realização da justiça social. Para esse efeito, ambos estimam que existe uma evidente desigualdade entre as partes, substancialmente derivada da diferença econômica e, como consequência, cultural, em que se encontram. Em virtude disso a procura da igualdade como meta. O direito substantivo, estabelecendo de maneira impositiva, inclusive acima da vontade

34 GIGLlO, Wagner D. Direito processual do trabalho, cit., p. 67.

35 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Os princípios do direito processual civil e o processo do trabalho. In: BARROS, Alice Monteiro

de (Coord.). Compêndio de direito processual do trabalho ... , cit., p. 62.

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do trabalhador, determinados direitos mínimos e certas obrigações máximas. O direito processual, reconhecendo que o trabalhador deve ser auxiliado durante o processo pela própria autoridade julgadora, de maneira que, no momento de chegar o procedimento ao estado de solução, a aportação processual das partes permita uma solução justa.

A diferença básica entre o princípio da proteção, acima referido, e o princípio da finalidade social é que, no primeiro, a própria lei confere a desigualdade no plano processual; no segundo, permite-se que o juiz tenha uma atuação mais ativa, na medida em que auxilia o trabalhador, em busca de uma solução justa, até chegar o momento de proferir a sentença.

Parece-nos, contudo, que os dois princípios - proteção e finalidade social - se harmonizam e, pelo menos em nosso ordenamento jurídico, permitem que o juiz, na aplicação da lei, possa corrigir uma injustiça da própria lei. É o que prescreve o art. 5º do Decreto-Lei n. 4.657/1942 (LICC), segundo o qual, "na

aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum".

Quanto a essa possibilidade conferida ao magistrado no exercício da prestação jurisdicional, convém colacionar a lúcida observação de José Eduardo Faria37, relativa

[...] ao problema do alcance e do sentido das expressões 'fins sociais' e 'bem comum', dois princípios gerais do direito sempre presentes nas exposições de motivos dos legisladores ( ... ) Num contexto socioeconômico como o do Brasil em que os 20% mais pobres do País detêm apenas 2% da riqueza nacional, enquanto os 20% mais ricos ficam com 66%, 'sociais' e 'comum' na perspectiva de quem? Longe de possuírem um significado evidente, tais conceitos expressam várias representações conflitantes entre si; em vez de propiciarem uma visão precisa do sistema jurídico, eles funcionam como barreiras ideológicas mascarando contradições sociais profundas e antagonismos inconciliáveis. Assim, em que medida todos os grupos e classes podem ter realmente os mesmos interesses 'comuns' e anseios pelos mesmos 'fins'?

Até que ponto todos os homens situados numa formação social como a brasileira, em que a miséria e a pobreza atingem 64% da população, podem ser tomados como cidadãos efetivamente iguais entre si em seus direitos, seus deveres e em suas capacidades tanto subjetivas quanto objetivas de fazê-los prevalecer.

Para enfrentar tais indagações, o referido jurista e sociólogo propõe que o direito seja uma atividade crítica e especulativa, calcada na experiência vivida e, como tal, incorporada à própria percepção da realidade por parte dos atores jurídicos. Daí por que, diz ele,

[...] a proposta de uma ciência do direito reflexiva, consciente das contradições do direito positivo, nega-se a reduzir a análise das leis e dos códigos apenas nos seus aspectos lóqico- formais.

Dessa nova função prospectiva do direito, que irradia seus efeitos no direito processual, segundo o mesmo autor,

[...] pode emergir um direito original e legítimo, voltado mais à questão da justiça do que aos problemas de legalidade, cabe a uma magistratura com um conhecimento multidisciplinar e poderes decisórios ampliados a responsabilidade de reformular a partir das próprias contradições sociais os conceitos fechados e tipificantes dos sistemas legais vigentes. Sob pena de a magistratura ver progressivamente esgotada tanto a operacionalidade quanto o acatamento de suas decisões face à expansão de conflitos coletivos38.

Com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho para outras lides diversas da relação de emprego, como as oriundas da relação de trabalho autônomo, as ações para cobranças de multas

37

Ordem legal X mudança social: a crise do Judiciário e a formação do magistrado. In: FARIA, José Eduardo (org.). Direito e justiça: a função social do Judiciário. São Paulo: Ática, 1997. p. 101-102.

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administrativas e as ações sobre representações sindicais, o princípio da finalidade social, bem como o princípio da proteção, acabarão sofrendo grandes transformações, como já alertado na epígrafe anterior.

3.6.3 Princípio da Busca da Verdade Real

Este princípio processual deriva do princípio do direito material do trabalho, conhecido como princípio da primazia da realidade. Embora haja divergência sobre a singularidade deste princípio no sítio do direito processual do trabalho, parece-nos inegável que ele é aplicado com maior ênfase neste setor da processualística do que no processo civil.

Corrobora tal assertiva o disposto no art. 765 da CLT, que confere aos Juízos e Tribunais do Trabalho ampla liberdade na direção do processo. Para tanto, os magistrados do trabalho "velarão pelo

andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas".

A jurisprudência tem acolhido o princípio em tela no campo da prova, mas sob a roupagem do princípio da primazia da realidade:

SALÁRIO EXTRA FOLHA. INVALIDADE DA PROVA DOCUMENTAL. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA

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