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2.2 Condição socioeconômica

2.2.1 Renda pessoal e familiar

Rosemberg (2009, p. 33) defende que todas as pessoas vinculadas ao trabalho realizado nas creches e pré-escolas precisam ser “reconhecidas e tratadas como profissionais nos planos da formação educacional, do processo de seleção, do salário e dos direitos trabalhistas”. Todavia, como poderemos constatar na Tabela

2.5, nossa realidade distancia-se do defendido pela autora, indo ao encontro da avaliação de Ferreira (2008), para quem os baixos salários dessa categoria chegam a ser justificados, por se tratar de uma atividade com crianças pequenas.

Tabela 2.5 - Remuneração das professoras, por rede de ensino Salário mensal

Professoras

municipais Professoras estaduais

N % N %

Igual ou menor a 1 salário mínimo 5 5,0 46 76,6

1 a 3 salários mínimos 82 82,0 13 21,7

3 a 6 salários mínimos 13 13,0 1 1,7

Total 100 100,0 60 100,0

Fonte - Questionário II da pesquisa (2008/2009).

A remuneração das professoras, como pode ser visto, difere, conforme a rede de ensino. O maior rendimento está na rede municipal, em que 82% delas ganham entre um e três salários mínimos; 13% percebem entre três e seis salários, enquanto 5% ganham um ou menos.

A realidade salarial das professoras das creches e pré-escolas estaduais, como ressaltamos, no capítulo 1, está circunscrita ao salário mínimo ou a um valor abaixo desse - 76,6% delas estão aí incluídas. Correspondem a 21,7%, as professoras cujo salário varia de dois a três mínimos, ao passo que apenas uma recebe mais que três salários.

Esses dados indicam que o professorado, sobretudo da rede estadual, recebe baixos salários. Baseamo-nos em Odelius e Codo (1999, p. 193), para quem o salário será considerado baixo “[...] quando faltar algo à mesa ou à biblioteca do professor [...]”. É o que retratam as falas a seguir, ao tratarem das dificuldades pelas quais passa o professor da Educação Infantil:

Enfrento dificuldades com relação ao material, para sair e fazercursos, me aperfeiçoar. Falta oportunidade de aperfeiçoamento e experiência. A gente trabalha muito. No meu caso nem tenho tempo, nem condições financeiras para aperfeiçoar-me (P56M)21.

Tem o problema de você ter que se desdobrar os dois horários para poder se sustentar com aqueles dois salários e não ficar só em um para você poder produzir mais ainda. O ideal seria um salário digno, para você

21

Na sigla utilizada para diferenciar as professoras, sempre iniciada pela letra P, seguida de um número de identificação, a letra subsequente informa a rede de ensino de sua vinculação (M = municipal e E = estadual).

trabalhar só um horário e no outro ta se especializando mais. Um salário que você pudesse está lendo mais, está se especializando mais, está podendo ajudar essas crianças [...] (P106E).

Segundo o Informativo 534 da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), datado de 8 de junho de 2010, a falta de bons salários e de valorização profissional desestimula os estudantes a ingressarem na carreira docente. Nele, constam resultados de pesquisas realizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) sobre a remuneração dos docentes e computados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), que revelam que o professor com carga horária semanal de 40 horas, em instituições públicas ou privadas, percebe, em média, um salário bem menor do que outros profissionais tão importantes para a sociedade quanto ele. Registra ainda que, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), em 2008, o professor da Educação Infantil recebia, em média, R$1.700,00 (um mil e setecentos reais). Pelo que poderá ser visto na Tabela 2.6, este patamar não está só distante da renda pessoal das professoras das creches e pré-escolas campinenses, como sequer atinge a renda familiar da maioria delas.

Tabela 2.6 - Rendimento mensal familiar das professoras

Renda familiar Professoras municipais Professoras estaduais

N % N %

Abaixo de três salários mínimos 24 24,0 34 56,7

3 a 5 salários mínimos 61 61,0 20 33,3

6 a 10 salários mínimos 13 13,0 6 10,0

Acima de 10 salários mínimos 2 2,0 - -

Total 100 100,0 60 100,0

Fonte - Questionário II da pesquisa (2008/2009).

Como ilustrado, a maioria das professoras da rede municipal (61%) situa-se em grupos familiares com renda mensal variando de três a cinco salários mínimos. O percentual referente às que ganham abaixo de três salários mínimos é de 24%. Na rede estadual, a predominância é de grupos familiares que ganham abaixo de três salários mínimos (56,7%). Entre três e cinco estão 33,3% das famílias das professoras. São baixos os percentuais de famílias com renda acima de seis salários mínimos nos dois grupos: 13% M e 10% E. O teto são cinco salários mínimos (85% M e 90% E). Registramos ainda que, apenas entre as professoras municipais, há

casos de renda familiar acima de 10 salários mínimos, mas, em conseqüência dos rendimentos do cônjuge/companheiro ou de parentes integrantes do grupo familiar.

Quando identificamos a principal fonte mantenedora familiar, constatamos que o cônjuge se destaca: 50% M e 43,3% E (Tabela 2.7). No município, embora as professoras recebam salários mais elevados e tenham, com maior freqüência, rendimentos de outro vínculo empregatício, sua participação na renda familiar continua sendo menor que a dos cônjuges/companheiros. No estado, a participação das docentes é mais frequente.

Tabela 2.7 - Quem mais contribui com a renda familiar das professoras, por rede de ensino Quem mais contribui com a renda familiar

Professoras municipais N = 100 Professoras estaduais N = 60 N % N % Cônjuge 50 50,0 26 43,3 A própria professora 43 43,0 30 50,0 Mãe 15 15,0 9 15,0 Pai 8 8,0 12 20,0 Filhos 3 3,0 5 8,3 Irmã/irmão 4 4,0 2 3,3 Tio 1 1,0 - - Amiga - - 1 1,7

Fonte - Questionário II da pesquisa (2008/2009).

Na Tabela 2.7, os dados não são mutuamente excludentes, porque há participação de mais de um parente na composição da renda familiar, além do cônjuge/companheiro. Verificamos, então, que 21% das professoras na rede municipal e 28,3% na estadual contribuem com a renda familiar em condições de igualdade com outros parentes. Acrescentemos que há professoras que exercem outras atividades laborais, embora de modo menos expressivo, cujas profissões e ocupações foram agrupadas de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2006), como feito antes. É o que ilustraremos na Tabela 2.8.

Como poderemos ver na Tabela 2.8, são elevados os percentuais das que não desenvolvem outra atividade remunerada (67% M e 76,7% E). Todavia, isso não ocorre com 33% das professoras do município e com 23,3% no estado. Com um diferencial: enquanto 24% das professoras da rede municipal estão em profissões

que exigem uma formação superior – GG2, 15% das professoras do estado estão inseridas no GG5 de trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados.

Tabela 2.8 - Profissão exercida pelas professoras em concomitância com sua atividade docente

Profissão que exerce concomitantemente à docência Professoras municipais Professoras estaduais N % N %

Não exercem outra profissão 67 67,0 46 76,7

CG2 - Profissionais das ciências e das artes (Professora do ensino médio, do ensino

fundamental, de história, de Educação Infantil particular, Professora Universitária, Assistente Social, Psicóloga, Enfermeira, Assessora

pedagógica, diretora de escola de ensino médio e fundamental)

24 24,0 5 8,3

CG3 - Técnicos de nível médio (agente administrativo, estagiária em escritório de contabilidade, escriturária)

2 2,0 - -

CG5 - Trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados (comerciante, secretária, bordadeira, copeira, produtora de eventos, prestadora de serviços, artesã, costureira)

7 7,0 9 15,0

Total 100 100,0 60 100,0

Fonte - Questionário II da pesquisa (2008/2009).

Para concluir esta seção, estabeleceremos um confronto entre os níveis de renda do nosso professorado com os padrões nacionais atuais, em particular por estar em discussão a emergência de uma “nova classe média” no país, responsável pelo aquecimento do consumo. Souza e Lamounier (2010)22 defendem que esse fenômeno decorre da rápida transformação da chamada classe C em numerosos estratos de nível mais alto, situados ao lado ou logo abaixo da classe média tradicional. Nos países em desenvolvimento, “[...] estima-se que 400 milhões de pessoas pertençam a essa nova „classe média global‟ e projeta-se que outros 2 bilhões se incorporarão a ela até 2030” (SOUZA; LAMOUNIER, 2010, p. 1).

O Brasil, ressaltam os autores, é parte expressiva desse megaprocesso de mobilidade social e estima-se que a classe média brasileira corresponda a 30% da

22

O estudo baseia-se em pesquisas históricas sobre a evolução da estratificação ocupacional brasileira, e em pesquisas de opinião quantitativas e qualitativas. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, de 1997 a 2007, apóiam aanálise das transformações socioeconômicas que deram origem à nova classe média.

população do país. Proporção comparável à de países com renda per capita similar, como a China (31%), México (29%), Argentina (34%) e Chile (45%). As pesquisas sobre essa nova classe média, realizadas pelos autores citados, tomaram como parâmetro, em 2008, os seguintes níveis de renda, em reais: classe de renda média alta (ou A/B), a partir de R$ 4.807 de renda familiar mensal; a classe de renda média C, pela faixa entre R$ 1.115 e 4.807; a classe de renda média baixa (ou D), entre R$ 768 e R$ 1.115; e a classe de renda baixa (E), por rendimentos mensais de até R$ 768 (ibid., p. 33).

Dizem ainda Souza e Lamounier (2010, p. 2): se considerarmos o conjunto de famílias que ganham, em termos reais, “entre R$ 1.115 e 4.807 por mês, essa nova classe média brasileira [...] passou de 44% da população em 2002 para 52% em 2008”.

Ao situar o professorado entre os mencionados níveis de renda, identificamos que a renda familiar de 24% das professoras do município e 56,7% do estado encontra-se nos níveis iniciais da classe de renda média (C), isto é, entre R$ 1.115 e menos de R$ 1.53023.

Por sua vez, 61% da renda familiar das professoras do município e 33,3% do estado estão, no máximo, entre os segmentos que ganham um pouco acima da metade do rendimento dessa classe, ou seja, entre R$ 1.530 e 2.550; e 13% M e 10% E vão mais além: ficam incluídos entre a classe C e até acima dos níveis de A/B. Podemos dizer, então, com segurança, que 61% das famílias das professoras do município e 33,3% do estado fazem parte da classe de renda média C. A faixa de renda “abaixo de três salários mínimos” (24% M e 56,7% E) deve também conter segmentos que aí se incluem, mas não podemos precisar os dados, para efeito de ilustração.

Após identificarmos as classes de renda do professorado, na sequência, conheceremos suas condições de moradia.