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Renovação Educacional: à luz de novos ideários

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CAPITULO II FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROCESSOS

2.3 Renovação Educacional: à luz de novos ideários

Emergiu um novo cenário na educação a Escola Nova, movimento educacional criado pelo filosofo norte americano e pedagogo John Dewey (1859-1952) que sofreu influência do conhecimento de William James, tornando-se um grande filosofo da Escola Nova. Este movimento educacional surgiu no [...] final do século XIX justamente para propor novos caminhos à educação, em descompasso com o mundo no qual se achava inserida. “Representa

o esforço de superação da pedagogia da essência pela pedagogia da existência” (ARANHA, 2008, p. 225).

A Escola Nova foi o movimento que trouxe renovação ao ensino e fundamenta o ato pedagógico na ação e não na instrução. O indivíduo é considerado o próprio ator da sua experiência, como sujeito único que está em constante movimento com o mundo. John Dewey nomeava sua teoria como instrumentalismo ou funcionalismo, por acreditar que

[...] as idéias têm valor instrumental para resolver os problemas que resultam da experiência humana. O conhecimento é uma atividade dirigida e não tem um fim em si mesmo, mas está voltado para a experiência. Como hipóteses de ação, as idéias são verdadeiras na medida em que funcionam como orientadoras da ação (ARANHA, 2008, p. 227).

Desta forma, entende-se que a educação devia favorecer a capacidade de aprender com as experiências e interesses pessoais, contrariando o que previam os currículos uniformes da educação tradicional. Para o filosofo John Dewey, a

[...] vida, experiência e aprendizagem não se separam, por isso cabe à escola promover pela educação a retomada contínua dos conteúdos vitais. A educação

progressiva, na medida em que dá condições para a criança exercer controle sobre a própria vida, permite que ela enriqueça sua experiência (ARANHA, 2008, p. 227) (grifos do autor).

Neste âmbito, a experiência amplia o conhecimento por meio da construção, reconstrução, organização e reorganização das experiências. Entende-se que a capacidade humana de aprender é infinita, pois aprender é uma função permanente, contínua que ocorre durante toda a vida. Educação é viver, desenvolver e crescer. O filosofo e pedagogo John Dewey, afirma que há dois eixos que influenciam o processo de conhecimento, o

[...] sujeito que conhece e o objeto conhecido são igualmente importantes, já que “experiência consiste primariamente em relações ativas entre um ser humano e seu ambiente natural e social” e, conseqüentemente, “ a educação praticada intencionalmente (ou escolar) deveria apresentar um ambiente em que essa interação proporcionasse a aquisição daquelas significações que são tão importantes, que se tornam por sua vez instrumentos para a ulterior aquisição de conhecimentos (ARANHA, 2008, p. 228).

O pensamento escolanovista critica o tradicionalismo pedagógico que era hegemônico e marcado pela cultura educacional enciclopédica. Para os intelectuais da Escola Nova o “processo do conhecimento é mais importante do que o produto, o conteúdo precisa ser compreendido, não decorado” (ARANHA, 2008, p. 225).

Este movimento ganha projeção no Brasil, e teve inicio na década de 1920, propondo a introdução de novas técnicas e ideias pedagógicas na prática da educação escolar. No campo

político educacional, teve seu ápice durante a reforma educacional de 1928 ocorrida no Distrito Federal, promovida por Fernando de Azevedo com a criação da Escola Normal do Distrito Federal referência no Brasil e para os estudos superiores.

Enquanto Saviani (2010, p. 177) esclarece que na década de 1920, no Brasil abriu-se “um novo ciclo marcado pela introdução mais sistemática das idéias renovadoras” é Brzezinski (1986) faz um relato circunstanciado do movimento, iniciando pelo ano de 1917 que foi

o marco inicial das reformas, com Afrânio Peixoto, ocupando o cargo de Diretor da Instrução no Distrito Federal. Outras se sucederam: em São Paulo com Sampaio Dória e depois com Fernando de Azevedo; na Bahia com Anísio Teixeira; em Pernambuco com Carneiro Leão; outra no Distrito Federal com Fernando de Azevedo; em Minas Gerais com Francisco de Campos e Mário Casassanta; em Santa Catarina com Luis Trindade; no Paraná com Lysímaco da Costa; no Rio Grande do Sul com Coelho de Souza; e em Goiás com José Gumercindo Marques Otero (BRZEZINSKI, 1986, p. 54-55).

Essa mobilização nacional favoreceu o desenvolvimento de idéias e práticas pedagógicas criando as bases para a futura instalação na Universidade dos estudos superiores para a formação de professores que ocorreu em 1939, ano de criação do curso de Pedagogia em nosso País.

Esse grupo de educadores e intelectuais no Brasil, sob a influência de John Dewey, em defesa da Escola Nova, provocou transformações nas políticas educacionais inspirados no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova lançado ao povo e à Nação brasileira em 1932. Seus principais seguidores foram

[...] Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho. Esse Manifesto foi muito importante na história da pedagogia brasileira, porque representou a tomada de consciência da defasagem existente entre a educação e as exigências do desenvolvimento (ARANHA, 2008, p. 228).

O Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova foi um documento organizado por Fernando Azevedo e, representou no âmbito educacional a sistematização de um grandioso e amplo debate em defesa da escola pública, laica e gratuita no Brasil

[...] como situação ideal, justamente com vistas ao atendimento das aspirações individuais e sociais, o que equivale ao contrário de qualquer imposição orientadora, quer seja de ordem religiosa, quer imposição orientadora, quer seja de ordem religiosa, quer seja de ordem política (RIBEIRO, 2000, p. 112).

A década de 1930 foi relevante para o campo educacional. O Manifesto de 1932 representa o marco transformador quando propõe a elaboração de um Plano Geral de

Educação voltado para uma escola laica, pública, gratuita, propondo a descentralização do ensino e uma educação para todos, sem distinção de classe social.

Brzezinski (2012) ressalta que para os pioneiros a formação dos professores de todos os graus de ensino deveria

[...] assentar-se no princípio da unificação. Segundo esse princípio, toda a formação dos professores primários e secundários deve ser efetivada em escolas ou cursos universitários, sobre a base de uma educação geral comum, dada em estabelecimentos secundários (BRZEZINSKI, 2012, p. 31).

Os Pioneiros levantaram a bandeira contra a escola elitista e o modelo tradicional assumido pela igreja que monopolizava, os pioneiros e representa uma ação vigorosa e corajosa. O principal protagonista foi Anísio Teixeira, que para Brzezinski (2012) reforçou o

[...] papel social da educação escolar, exacerbando-se a crença de que seria possível reformar a sociedade pela reforma do homem. À escola atribuiu-se o papel de transformar a sociedade, e a escolarização passou a ser interpretada como o mais decisivo instrumento de aceleração histórica (BRZEZINSKI, 2012, p. 27).

No início do século XX, algumas reformas educacionais foram articuladas, como as reformas do ensino primário e da Escola Normal, nas quais o professor era a figura principal para a organização da educação e o Ensino Normal passava a ser um curso necessário para o exercício da formação docente.

Brzezinski (2012) explicita que a Escola Normal foi “[...] por quase um século, o lócus formal e obrigatório como escola de formação de professores para atuar na escola fundamental, na escola complementar e na própria Escola Normal” (BRZEZINSKI, 2012, p. 19).

Na década de 1930, as reformas de caráter nacional, implantadas pelo governo federal por meio do Ministério da Educação e Saúde, têm como proposta unificar o sistema de ensino brasileiro liderado pelo Francisco Campos. Esta reforma promoveu uma modernização do ensino brasileiro, por meio de sete decretos, conhecidos em seu conjunto como Reforma Francisco Campos, a saber:

a) Decreto n. 19.850, de 11 de abril de 1931: cria o Conselho Nacional de Educação;

b) Decreto n.19.851, de 11 de abril de 1931: dispõe sobre a organização do ensino superior no Brasil e adota o regime universitário;

c) Decreto n. 19.852, de 11 de abril de 1931: dispõe sobre a organização da Universidade do Rio de Janeiro;

d) Decreto n.19.890, de 18 de abril de 1931: dispõe sobre a organização do ensino secundário;

e) Decreto n. 19.941, de 30 de abril de 1931, que restabeleceu o ensino religioso nas escolas públicas;

f) Decreto n. 19.941, de 30 de junho de 1931: organiza o ensino comercial, regulamenta a profissão de contador e dá outras providências;

g) Decreto n. 21.241, de 14 de abril de 1932: consolida as disposições sobre a organização do ensino secundário (SAVIANI, 2010, p. 196-197).

Destaca-se os itens “b” e “d”, que tratam do ensino superior e do ensino secundário no Brasil. Consta no Decreto do ensino superior que deveria obedecer ao sistema universitário, podendo ser ministrado em institutos isolados. Essa medida foi legalizada por meio do Decreto nº 19.851, de 18/4/1931. No que se refere ao item “d” o Decreto determinava a organização do ensino secundário, dividido em duas etapas o curso fundamental e complementar pelo Decreto nº 19.890, de 18/4/ 1931.

A Reforma Francisco Campos sofreu críticas quanto ao

[...] teor enciclopédico e elitizante da proposta curricular do ensino secundário, que embora tenha lhe conferido certa organicidade, acaba por criar um ponto de estrangulamento ao descuidar dos cursos profissionalizantes, exceto o ensino comercial. Tal medida gera uma desvalorização dessa formação e o aumento da demanda pelo ensino acadêmico (VIEIRA; FARIAS, 2007, p. 93).

A Reforma Francisco Campos encarna a ideologia estatal. A reforma se caracteriza pelo “aumento dos mecanismos de repressão e maior restrição aos direitos e garantias individuais” (SAVIANI, 2010, p. 268), expressado no poder do Estado o controle total da ordem e progresso da sociedade.

Getulio Vargas enquanto simpatizante do regime fascista pulveriza “o dualismo escolar (separação entre formação humanista e escola profissionalizante” (ARANHA, 1996, p. 182). Isso representa um retrocesso na tentativa de universalização da escola pública de qualidade desprezando as atividades intelectuais, mas sim

[...] doutrinação e adestramento, cujos efeitos nefastos atingem o movimento da

escola nova. [...] Pensadores como Hannah Arendt, bem como os filósofos da Escola de Frankfurt, entre outros,têm se demorado na reflexão sobre as causas do totalitarismo, na tentativa de compreendê-lo e evitar que a humanidade passe de novo por esse horror (ARANHA,1996, p. 182).

A educação é relevante para humanidade e não chega a exercer um papel decisivo, porém é de suma importância para o processo de aquisição do conhecimento que valorize a experiência enquanto condição humana. “Por isso, toda escola precisa dar condições para a discussão dos valores que levem à conscientização e à auto-reflexão-crítica” (ARANHA, 1996, p. 183).

Em 1934 foi promulgada a primeira Constituição do Governo de Getúlio Vargas. Nela foi destinado, pela primeira vez no Brasil, um capítulo à educação e à cultura que, segundo Vieira e Farias (2007) representa

[...] uma tomada de posição face ao contexto do período, com repercussões sobre as idéias pedagógicas que se forjaram a partir de então, de modo especifico, a Constituição de 1934. Traduz, sobretudo, um contraponto ao pensamento conservador, consagrado na visão representada pelo pensamento católico associado ao governo autoritário, defensor da “liberdade de ensino” e opositor da laicidade e da co-educação (VIEIRA; FARIAS, 2007, p. 93).

Esta Constituição em seus onze artigos (Art.148 a 158) determinou à União a tarefa de “manter o ensino secundário e superior no Distrito Federal, sendo-lhe atribuída “ação supletiva” na obra “educativa em todo o País” (Art.150, “d” e “e”) (VIEIRA; FARIAS 2007, p. 94).

A Constituição de 1937, outorgada no Governo do Estado Novo de Getúlio Vargas foi “imposta ao país como ordenamento legal do Estado Novo. Em termos educacionais a Carta de 37 inverteu as tendências democratizantes da Carta de 34” (GHIRALDELLI, 2000, p. 81). No campo da educação, é ampliada a

[...] competência da União para, não apenas “traçar as diretrizes”, como estabelecia a Carta de 1934, mas “fixar as bases e determinar os quadros da educação nacional, traçando as diretrizes a que deve obedecer a formação física, intelectual e moral da infância e da juventude” (Art.15, IX) (VIEIRA; FARIAS 2007, 96).

Neste sentido, o Estado Novo se eximiu da educação pública através de sua

[...] legislação máxima, assumindo apenas um papel subsidiário. O ordenamento relativamente progressista alcançado em 34, quando a letra da lei determinou a educação como direito de todos e obrigação dos poderes públicos, foi substituído por um texto que desobrigou o Estado de manter e expandir o ensino público (GHIRALDELLI, 2000, p.81)

Com isso a Constituição não determinou ao Estado a obrigatoriedade de oferecer a população uma educação laica e gratuita, pelo contrário, provocou o dualismo educacional. Assim,

[...] os ricos proveriam seus estudos através do ensino público ou particular e os pobres, sem usufruir esse sistema, deveriam se destinar às escolas profissionais [...] com isso o texto constitucional reconheceu e cristalizou a divisão de classes e, oficialmente, extinguiu a igualdade dos cidadãos perante a lei (GHIRALDELLI, 2000, p. 82).

A década de 1940 foi marcada nos primeiros anos com o fechamento político das liberdades civis e o país passou por momentos de debates em torno de propostas para a

educação. Em 1946, a partir da Reforma Gustavo Capanema e da Leis Orgânicas que integram um [...] conjunto de medidas voltadas para a formação técnico profissional durante o estado getulista. O ensino técnico profissional, organizado em dois ciclos – o fundamental e o técnico, compreendia em média entre 7 e 8 anos (VIEIRA; FARIAS, 2007, p. 99-100).

Foram estabelecidas Diretrizes gerais para o Magistério Primário para as classes populares. As reformas “empreendidas nesse período tratam de reafirmar e, principalmente, naturalizar as diferenças sociais ao destinar o ensino secundário às elites e o ensino profissional às massas” (VIEIRA; FARIAS, 2007, p. 100).

A década de 1940 até 1960, o “pensamento progressista de vários matizes do socialismo conquistou boa parte da intelectualidade” (GHIRALDELLI, 2000, p. 109). Neste período se “apostava fortemente no desenvolvimento educacional para fazer o Brasil crescer e atingir, a qualquer preço, as portas da modernização com substancial avanço tecnológico (BRZEZINSKI, 2012, p. 47).

Com a reconstituição histórica da educação brasileira feita até aqui se constatou que nas primeiras décadas republicanas os governantes pouco se dedicaram às questões educacionais. No entanto, as décadas 1920-1930 foram marcadas por diversas reformas educacionais tanto no âmbito da União quanto dos estados da República Federativa do Brasil, sustentadas, particularmente, em ideais liberais. Essa tendência adotada pelos Pioneiros da Escola Nova, perdurou até a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 4.024, de 20/12/1961 e propulsora da criação da universidade brasileira. A universidade foi configurada com diversas áreas do saber, entre elas a do campo educacional, com a formação de professores, em que o curso de Pedagogia assumiu papel significativo.

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