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1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.2. Envelhecimento

1.2.1. Envelhecimento biológico

1.2.1.1. Repercussões do envelhecimento na saúde das pessoas

A saúde é um conceito que tem sido debatido e definido de inúmeras formas, sendo que a OMS (1948) apresenta-a como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e, não apenas a ausência da doença ou enfermidade.

A promoção de um envelhecimento saudável implica múltiplos sectores que envolvem a saúde, a educação, a segurança social e o trabalho, os aspectos económicos, a justiça, o planeamento e desenvolvimento rural e urbano, a habitação, os transportes, o turismo, as novas tecnologias, a cultura e os valores que cada sociedade defende e que cada cidadão tem como seus (DGS, 2004).

Segundo Fernandez-Ballesteros (2009), o envelhecimento pode ser normal ou patológico. Por envelhecimento normal entende-se aquele que se desenvolve sem patologias, por envelhecimento patológico entende-se aquele que está associado a várias patologias, frequentemente crónicas.

Assim, o envelhecimento deve ser tido em conta como um processo que poderá dar origem ao Envelhecimento Bem-Sucedido/Activo ou ao Envelhecimento Patológico. Simões (2006) mostra o Modelo do envelhecimento bem sucedido, baseado nos seus criadores Rowe e Kahn no estudo da Fundação Mac Arthur sobre o envelhecimento na América, em 1999, que consideram o envelhecimento bem sucedido como o conjunto de factores que permitem ao indivíduo continuar a funcionar eficazmente, tanto do ponto de vista físico, como mental.

Para Rowe e Kahn, citados por Rocio Fernandez-Ballesteros (2009, p. 41) o envelhecimento bem-sucedido comporta uma probabilidade mínima de doença e incapacidade e, está associado a um bom funcionamento cognitivo, capacidade física funcional e compromisso activo com a vida.

Na perspectiva da OMS, o Envelhecimento Bem-Sucedido pode ser entendido como o processo de optimização das oportunidades para a saúde, a participação e a

segurança, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem (2002, p. 14).

Para se minimizar o impacto das possíveis limitações decorrentes do envelhecimento nasce em 2004 o Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas, que deve ser respeitado por todas as entidades que dão apoio às pessoas idosas de forma a que se alcancem os objectivos de promover autonomia e bem-estar nas pessoas idosas.

Com base na sua duração, costumam distinguir-se dois tipos de doenças: as crónicas e as agudas. Sendo que as últimas são doenças de início súbito e passageiro. A incidência de doenças agudas diminui com a idade, porém, os efeitos secundários são mais evidentes e duradouros entre os idosos (Simões, 2006).

As doenças crónicas são doenças duradouras, a longo prazo ou permanentes. Figuram entre elas as doenças do coração, as tromboses, a hipertensão, o cancro, a diabetes mellitus e a artrite. Não só a sua prevalência aumenta com a idade, como são causa de elevada mortalidade ou de sequelas mais ou menos graves (Simões, 2006).

Squire (2005) destaca que a saúde da população é medida através de taxas de mortalidade. As taxas de mortalidade das pessoas idosas reflectem padrões semelhantes às do resto da população e mostram as quatro principais causas de morte nas pessoas com mais de 64 anos: doenças cardíacas, doenças respiratórias, cancro e doenças cerebro-vasculares, nomeadamente os acidentes vasculares cerebrais (AVC).

A DGS (2004) realça que em Portugal as principais causas de mortalidade a partir dos 64 anos, tanto para homens como para mulheres, são as doenças do aparelho circulatório e os tumores malignos, sendo que estes têm um peso particularmente grave na mortalidade masculina. A morte consequente de doenças do aparelho respiratório está também a aumentar em ambos os géneros. É de realçar o facto de Portugal ser o país da União Europeia com a mais elevada mortalidade masculina e feminina, acima dos 65 anos.

Sousa, Mendes e Relvas (2007), destacam que a doença crónica atinge milhões de pessoas de todas as idades, apesar de a maior incidência e prevalência se verificar entre os mais idosos, limitando-as no seu funcionamento físico e/ou mental.

Fonseca (2005) destaca que a importância da variável saúde/doença no envelhecimento é de tal forma relevante que está na origem da distinção entre o envelhecimento normal/primário (que não implica a ocorrência de doença) e o envelhecimento patológico/secundário (aquele em que há doença e esta se torna a causa mais próxima da dependência e da morte).

A preocupação com a saúde dos idosos torna-se ainda maior quando pensamos não apenas na necessidade de promover um envelhecimento normal, mas sobretudo em potenciar um envelhecimento óptimo, o qual se fundamenta numa base funcional e é sinónimo de um envelhecimento saudável, competente e bem sucedido, genericamente conceptualizado em termos de uma baixa probabilidade de doença e incapacidade, associada a um elevado funcionamento cognitivo e a um compromisso activo para com a vida (Fernandez-Ballesteros, 2009).

A saúde dos idosos é uma preocupação prioritária, pois é uma variável determinante na satisfação das suas vidas. Se a saúde não é por si só condição de felicidade, a sua ausência provoca sofrimento (físico e psicológico) e quebra no bem-estar, através de interacções complexas – directas ou indirectas - com outros factores da qualidade de vida. A doença mobiliza as capacidades de coping dos indivíduos para a recuperação, focaliza toda a sua actividade e recursos nesse problema e pode, ainda, fazer com que haja diminuição do poder económico (gastos elevados com a saúde), perda de autonomia, alteração das actividades diárias e das relações sociais, desconforto generalizado e, por vezes, medo da morte (Fonseca, 2005).

Falar de idosos obriga a que se atenda sempre à sua condição de saúde, um dos aspectos chave no seu bem-estar geral, por isso mesmo, é um dos aspectos a ter em conta em qualquer intervenção que tenha por objectivo a promoção de um envelhecimento óptimo.

O estado de saúde das pessoas deteriorara-se gradualmente a partir dos quarenta e cinco anos e é na idade adulta (entre os 45 e os 64 anos) que as consequências da dinâmica bio-psico-social, a que o indivíduo esteve sujeito, se fazem sentir (Berger & Mailloux- Poirier, 1995).

A perda da função nos idosos representa a principal manifestação de uma patologia (Fernandez-Ballesteros, 2000). Não são apenas as patologias que afectam o aparelho locomotor (osteoartrites, artrites, fracturas), também as patologias sistémicas muito prevalentes, como a insuficiência cardíaca, a pneumonia, a depressão, a demência, a cardiopatia isquémica, o acidente vascular cerebral, a diabetes mellitus se manifestam como perda de função (Fernandez-Ballesteros, 2000). Esta perda de função vai provocar perda de autonomia e a dependência que, pouco a pouco, limitam a qualidade de vida das pessoas idosas.

Várias são as doenças crónicas que estão associadas ao envelhecimento, nomeadamente, as doenças do aparelho circulatório, a artrite, os reumatismos, as doenças da coluna, os tumores, as alterações do sistema digestivo e as perturbações mentais que afectam, quer a duração de vida, quer a sua qualidade, ou ambas (Berger & Mailloux-Poirier, 1995).

Netto (2002) acrescenta que a função cardíaca do idoso é suficiente para as necessidades orgânicas básicas, porém, em condições de sobrecarga como esforços excessivos, emoções, febre, anemias, infecções, hipertiroidismo, podem-se desencadear descompensações cardíacas.

O aparecimento de doenças acontece, e sendo mais frequente nesta fase do ciclo vital, torna-se fundamental a adequação de intervenção médica, mas também que o idoso/instituição e familiares saibam incorporar na sua vida, de modo adequado, esta nova circunstância. Desta forma, emerge o reconhecimento e a importância de integrar aspectos sociais, biológicos, psicológicos, familiares e individuais no acompanhamento e tratamento de doentes e suas famílias (Sousa, Mendes & Relvas, 2007). Como resposta a estas necessidades, é fundamental investir em programas educativos que incluem componentes bio-psico-sociais e espirituais, de interesse para a pessoa idosa/instituição e suas famílias.