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CAPÍTULO 3 CONCEITUAÇÃO DO PONTO DE VISTA ANALÍTICO

4.2 Reportagens da Folha da Manhã (I)

Considerando-se a história de sentidos que permeia toda e qualquer palavra ou expressão de maneira geral, quando estas são tomadas em um acontecimento enunciativo, restringimos tal constatação à palavra São Paulo na cena enunciativa dos jornais tratados que produzem sobre o evento histórico de 32 para nos indagarmos ao que se segue: o que a palavra São Paulo designa em textos da imprensa jornalística em 32, se valendo esta de um espírito de paulistanidade

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Encontra-se especificamente no tópico 2.3.3 Cenas da enunciação e Agenciamento Enunciativo.

exacerbada para edificar suas construções simbólicas durante o movimento constitucionalista? Como é possível ‘ler’ São Paulo no Movimento pelo objeto histórico-político que toma forma pelo jornal impresso?

Para isso, observaremos os trechos seguintes51 que noticiam e consideram sobre o Movimento em 1932:

Ao verificarmos o embate específico de sentidos em torno da palavra São

Paulo, temos em 152 uma articulação por coordenação, em que o locutor relaciona elementos no enunciado na sequência nominal uno, indivizivel, coheso, erecto, configurando-se uma cena pela qual se instaura um memorável do caráter exclusivista sustentado à identidade paulista, o que possibilita e confere uma relação contraditória ao restante do Brasil ao se enunciar S.Paulo uno, ao mesmo tempo em que em prol do Brasil.

Da sequência acima considerada, é possível afirmar ainda que a mesma reescreve São Paulo pela definição por enumeração, em que se tem uma estrutura de definição que se sobrepõe à estrutura predicativa pela base São Paulo é, verificada em São Paulo é uno, São Paulo é indivizivel, São Paulo é coheso, São Paulo é erecto, ao passo que também se estabelece uma relação de sinonímia entre

51 Todo o material jornalístico utilizado nesse trabalho se dispõe em sua totalidade textual na seção

Anexo, na ordem em que aparece mencionado.

52 Retirado da reportagem denominada A Missão de São Paulo.

1-“São Paulo, uno, indivizivel, coheso, erecto, marcha para um só alvo: a reintegração do Brasil no regime da lei, a conquista de sua liberdade cívica (...)” (Folha da Manhã, 14 de julho de 1932, grifos nossos).

2- “Amanhã, quando se escrever a história dos momentos tremendos, que estamos vivendo, caberá a S. Paulo o papel glorioso de activador do espírito constitucional, de salvador, afinal, da própria alma brasileira, no que ella possu’e de idealismo e de civismo” (Folha da Manhã, 22 de julho de 1932, grifos nossos).

2 a) caberá a S. Paulo o papel glorioso de activador do espírito constitucional, de salvador, afinal, da própria alma brasileira

uno, indivisível, coheso e erecto para com São Paulo, determinando-a no sentido de

expor o sentimento de centralidade e poderio construídos por São Paulo, como algo próprio e irrevogável a uma existência histórica superior.

Observamos o trecho 253 em caráter de correspondência ao que tratamos, enquanto disparidade, entre o tempo do locutor e a temporalidade do acontecimento. Nota-se a menção nos enunciados que o compõe a uma história vindoura, como em

Amanhã, quando se escrever a história dos momentos tremendos, a ser ainda

escrita de acordo com o encadeamento dos fatos referente ao Movimento de 1932. Contudo, sob o nosso ponto de vista analítico, nos atemos à temporalidade do acontecimento como um dos elementos constituintes dos sentidos, tomando a língua em seu funcionamento ao analisarmos a textualidade de que nos valemos.

Assim, temos que a palavra S. Paulo é tomada em uma relação de articulação por incidência, em que o locutor relaciona sua enunciação com o enunciado, ou seja, é pelo advérbio afinal atuando como um articulador independente, que verificamos a palavra S. Paulo articulada a o papel glorioso de

activador do espírito constitucional, de salvador da própria alma brasileira.

Esse procedimento rememora, ao acontecimento enunciativo em questão, certa determinação a S. Paulo que potencializa o sentido do suposto, ao mesmo tempo em que convicto memorável da ideia da predestinação reservada aos paulistas sobre a causa de 32, o elemento ancestral e desbravador. Além disso, atentamos para a reescritura por especificação em que S. Paulo é determinado pela expressão papel glorioso, sendo esta articulada às predicações activador do espírito

constitucional e de salvador, que a reescrevem, ao mesmo tempo, sob o efeito da

enumeração produzido na enunciação.

Nesse sentido, pelas relações de articulações e predicações mencionadas, pode-se dizer então que as expressões activador do espírito constitucional e

salvador da alma brasileira também reescrevem e determinam a palavra S. Paulo.

No que concerne à análise desses dois recortes jornalísticos temos o seguinte e primeiro DSD (1)54:

53 Retirado da reportagem denominada Amôr á Constituição. 54

Os símbolos ┬, ┴, ├ e ├ , em qualquer direção , significam “determina”; o traço ─ significa “sinonímia”; um traço maior em negrito, que divide o DSD, significa antonímia. Essa orientação deve ser também considerada aos demais DSDs.

1

uno ─ indivizivel ─ coheso ─ erecto

Salvador da alma brasileira

S. Paulo

activador do espírito constitucional

papel glorioso

Mediante a análise descrita acima, que longe está de encerrar em si a totalidade dos sentidos passíveis de serem apreendidos pelo percurso interpretativo- designativo que a palavra São Paulo apresenta na história de suas enunciações, permite-se inferir que pelo DSD1 disposto, tal palavra apresenta-se determinada de um lado, pelo memorável da predestinação, como se algum elemento místico ou divino sacramentasse a atuação dos paulistas sempre em posição de vanguarda, não sendo então diferente com a causa de 32, de modo que as predicações o papel

glorioso de activador do espírito constitucional e de salvador da própria alma brasileira produzem esse sentido ao determinarem São Paulo em uma projeção de

âmbito nacional, enquanto predicado por salvador.

Por outro lado, verifica-se que há o memorável da exclusividade, ou seja, do espírito da paulistanidade atuando na história dos sentidos sobre a palavra estudada, de modo que pela sequência nominal uno, indivizivel, coheso, erecto, que predica e determina São Paulo, pode-se interpretar o litígio instaurado entre os dizeres que se imbricam no acontecimento temporalizado por esse memorável da paulistanidade, em que se depreende a posição de superioridade, força e imponência da “locomotiva bandeirante”, frente aos vagões que impulsiona.

Figura-se de modo interessante verificar que há uma tentativa, no âmbito enunciativo, em tratar o Movimento de 32 como sendo orientado por uma luta pelos diretos legítimos a uma Constituição que venha a abranger a nação, contudo, o memorável da paulistanidade, entrecruzando esses dizeres ao somar em si variadas características de supervalorização da identidade paulista, acaba por totalizar, contraditoriamente às construções enunciativas que funcionam no acontecimento, a

unicidade de São Paulo, hierarquizando na disputa política dos dizeres na enunciação os sentidos que promovem tal posicionamento de destaque.

Considera-se então que, ao serem destacados tais memoráveis, dentre outros que fazem parte da espessura semântica reservada à designação da palavra

São Paulo, pode-se conceber uma futuridade produzida pelo acontecimento em

questão significada por dois eixos: pelas afirmações que compreendem a legitimidade de São Paulo em sua condição de histórica e ancestralmente amparado na constituição de uma identidade genuinamente paulista, assim como em reservar à causa constitucional um caráter nacional, ao mesmo tempo em que se opõe, entrecruzando memoráveis distintos, sobre esta ideia de nacionalidade, revestindo- se os sentidos contidos no ideário de paulistanidade por essa projeção de unicidade. Prosseguiremos a seguir com as análises sobre os recortes retirados do material jornalístico referente à Folha da Noite, para logo em seguida relacionarmos as determinações apreendidas nas textualidades em foco, e dessa forma considerarmos sobre os dois jornais nos atendo ao percurso analítico desenvolvido.

4.2.1 Reportagens da Folha da Noite (I)

Em sua edição correspondente à noite, o jornal da Folha mantém a sua função de divulgador e partidário da causa de 32, como pudemos notar nos recortes anteriores, mesmo que em certos momentos de modo velado, mantendo- se, para tanto, o enunciador em sua classificação universal, de maneira a produzir e veicular os seus dizeres sob uma enunciabilidade que se propõe figurar enquanto a ‘verdade’ dos fatos atrelados ao Movimento.

Fizeram-se notadas as motivações que direcionaram positivamente São Paulo à causa contra o governo provisório de Getúlio Vargas. Nesse sentido, valeu- se de uma produção escrita que dialoga com o estilo do historiador Alfredo Ellis Júnior55, sobretudo em termos de uma escrita fortemente marcada pelo estilo passional, grandiloquente, caracterizada pelo teor sensacionalista que abarcava não só a imprensa, mas também o povo paulista. Enunciativamente falando, é

55

Ver mais sobre o estilo e veemência da escrita desse autor ao tratar sobre o Movimento de 1932 no livro A Nossa Guerra. São Paulo, Piratininga, 1933.

possível apreender esse enunciador que procura legitimar os seus dizeres por meio desse recurso de extrema valorização de São Paulo no movimento.

Para termos uma ideia do teor das elevações que se voltavam para São Paulo, ao ler a obra do historiador citado, caracterizando-o como memorialista, nos deparamos, por exemplo, com construções do tipo: “Foram os paulistas que fizeram as fronteiras do Brasil, para o dirigir em todos os grandes movimentos de seu passado” (ELLIS JR, 1933, p. 67), ou quando o mesmo estabelece comparações com grandes acontecimentos da história mundial, como é o caso da Revolução Francesa, ao dizer que

S. Paulo, pensou que para poder viver, seria preciso arriscar a morrer. E portanto, marchou para a guerra. Suas energias se multiplicaram. A revolução franceza do fim do seculo XVIII, não deu ao mundo exemplo mais grandioso (...) A França, ou outra qualquer nação, jamais conheceram povos mais agigantados na guerra que o paulista nesses dias memoráveis de 1932. A palavra ‘epopeia’, se faz pallida para traduzir pelo verbo o que foi realisado por S. Paulo (op. cit. p.134-135).

Podemos então, a partir dos trechos citados, estabelecermos uma correlação entre a escrita de Ellis Júnior (1933) e os enunciadores universais dos jornais trabalhados no que tange ao modo como constroem simbolicamente seus enunciados tendo como foco São Paulo atuante no movimento. Vejamos então a maneira pela qual a Folha da Noite mobiliza São Paulo enunciativamente ao noticiá- lo em razão do movimento armado de 32, presente nos dois recortes dispostos a seguir:

No trecho 3 encontramos a princípio a palavra S. Paulo iniciando o enunciado e fazendo-se reescriturada ao longo do recorte por repetição, em que se verifica um trabalho semântico de relevância ao próprio título56 da reportagem de que fazem parte esses enunciados, ou seja, um reforço ao que de fato São Paulo se dispõe a realizar pelo Brasil quanto aos serviços prestados.

Na enunciação em questão, o enunciador afirma uma série de ações para que se legitime o posicionamento de São Paulo mediante o Movimento, sob o efeito de sentido provocado na enunciação do que conhecemos como reescrituração por enumeração. Sendo assim, S. Paulo é enumerado pelas ações desencadeadas pelos verbos nas seguintes especificações: no futuro do presente do modo indicativo em recuará, (antecedido pelo advérbio de negação não), levará e viverá; no presente do indicativo em combate e no pretérito perfeito simples do indicativo em

poz/pôs.

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Retirado da reportagem que se denomina São Paulo a serviço do Brasil!

3 - “S. Paulo não recuará! S. Paulo levará todos os paulistas aos campos de batalha, S. Paulo viverá nas trincheiras o tempo que fôr preciso para que o Brasil seja livre! O Brasil sabe que é por elle que S. Paulo combate. A dictadura que é a representante da mentira, continua a mentir quando assoalha que são sentimentos separatistas que movem a gente bandeirante. Nunca S. Paulo foi tão brasileiro. S. Paulo poz a serviço do Brasil sua fortuna, sua força, suas armas e sua mocidade!” (Folha da Noite, 14 de julho de 1932, grifos nossos).

4 - “São Paulo é hoje um só Soldado. Levantou-se em nome da lei, contra a ditadura. ─ Terra sem liberdade, é lar sem honra. Anima-nos, a nós ─ Sete milhões de consciências ─ o amplo sentido brasileiro da nacionalidade. ─ São Paulo não destróe. ─ E´ constructor por índole, por finalidade, por predestino. ─ Não há nem um passo da nossa História e nem um Trecho da nossa Geographia, em que São Paulo não affirmasse a sua fraterna Fé!” (3ª Folha da Noite, 14 de Julho de 1932, grifos nossos).

Na medida em que é enumerada por esses predicados, a palavra S. Paulo também as determina, trazendo para esse acontecimento enunciativo o memorável da dianteira, do pioneirismo tomado por São Paulo em seus feitos históricos no que corresponde à história de colonização e ao ciclo de café no Brasil.

Diante dessa considerações, é possível inferir um futuro interpretativo que situa São Paulo no lugar de Estado apto a gerenciar, governar o país.

S. Paulo é também nesse trecho reescriturada por elipse nos casos em que

é omitida nos enunciados como em sua força, suas armas e sua mocidade, expressões estas antecedidas pelo enunciado S. Paulo poz a serviço do Brasil sua

fortuna, que permite à elipse sua constituição na enunciação em questão. Há

também em sua mocidade a construção do sentido que implica em inferir uma personificação à palavra S. Paulo.

No enunciado A dictadura que é a representante da mentira, temos que a palavra ditadura é reescrita por definição, ou seja, faz-se determinada pelo GN

representante da mentira, de modo que estabelece uma relação opositiva ao termo São Paulo no acontecimento de linguagem tomado. Adiante discorreremos mais

sobre o funcionamento correspondente ao domínio da antonímia, que se fará presente nas próximas análises que recorrerão a essa demonstração nos DSDs.

Há que se mencionar ainda o sintagma nominal gente bandeirante, que em si constitui-se pelo procedimento de articulação por dependência, ou seja, o termo

bandeirante determinando gente, ao ser atribuído a esse último no acontecimento

em específico, enquanto uma operação de caracterização.

A expressão gente bandeirante atua enquanto uma metonímia em relação a S. Paulo, reescrevendo-a, o que acaba construindo um efeito de sentido na cena

enunciativa, em que se estabelece uma igualdade de sentido entre a palavra S.

Paulo e a expressão gente bandeirante, estabelecendo, portanto, uma relação

metonímica.

Nesse sentido temos que tal determinação recorta enquanto memorável a este acontecimento da enunciação os sentidos difundidos pelo discurso histórico/ fundador, rememorando a supremacia e elevação simbólico-histórica da bravura do homem paulista situada na história nacional.

No enunciado Nunca S. Paulo foi tão brasileiro atentamos para uma construção específica que se figura na esfera enunciativa em relação ao enunciado em questão pelo o que denominamos de articulação por incidência. Operam-se os

elementos no enunciado de modo independente, porém incidindo na enunciação e desestabilizando de certa maneira a cena enunciativa em que se figura o enunciador. Desse modo, as palavras nunca e tão, ambas desempenhando a função de advérbio de negação e intensidade respectivamente, atuam na construção dessa articulação por incidência.

Façamos as seguintes paráfrases para entendermos a linha interpretativa e também as relações de determinação depreendidas pela análise feita sobre a articulação, tomando as palavras destacadas acima no sentido de deslocá-las e assim melhor visualizar a relevante atuação dos elementos incidentes que atuam de modo significativo na enunciação em relação a outro elemento, formando-se outros enunciados na textualidade apreendida.

(3.1) S. Paulo foi tão brasileiro (3.2) S. Paulo foi brasileiro

Antes de qualquer consideração sobre o enunciado e às paráfrases constituídas a partir do mesmo, é inquestionável a relação entre as palavras S.

Paulo e brasileiro, de modo que o que nos interessa é compreender por quais vias

interpretativas essa mesma relação é particularizada pelas palavras que se colocam em destaque nesta análise (no caso, os advérbios nunca e tão).

Dessa forma, ao considerarmos 3.1 e 3.2, observamos que em cada caso produziu-se um sentido distinto ao enunciado original, ao passo que em 3.1 elimina- se o advérbio nunca, obtendo nessa formulação certa situação em sua particularidade, inferindo-se um acréscimo no sentido de que S. Paulo foi tão brasileiro “neste caso”, ou seja, em relação a outros que o precede sem, contudo, soar exclusivo ou superior às possíveis situações anteriormente existentes; em 3.2 permite-se um enunciado sem os dois advérbios, construindo-se um posicionamento constatado e afirmativo, sem margem comparativa ou superlativa a outras situações e posicionamentos pelos quais São Paulo tivesse passado.

Ao reiterarmos a função da articulação por incidência, relacionando-a aos termos nunca e tão, é possível afirmar que ambos incidem respectivamente sobre S.

Paulo e brasileiro, de forma que ao operarem na enunciação sob seus

agenciamentos específicos, permitem os seguintes argumentos: o advérbio nunca, ao incidir sobre S. Paulo produz um argumento de particularidade à atuação de São

Paulo, eliminando por sua vez as possibilidades de aproximação com outros momentos históricos em que se verificou um posicionamento similar, em que nunca, atua eliminando alternativas, hipóteses, situações outras.

Já o elemento tão, incidindo sobre brasileiro atua como um elemento intensificador ao significado produzido por nunca, reforçando a afirmação de atuação única e jamais realizada na esteira histórica dos feitos paulistas.

Por fim, temos que pelos movimentos de articulação e reescritura, podemos aproximar semanticamente S. Paulo e brasileiro, em que o segundo termo determina

S. Paulo no enunciado tratado.

Mostra-se válido abrir um pequeno parêntese nessa primeira parte da análise, em razão da menção feita acima dos termos agenciamentos e argumentos, estabelecendo entre os mesmos uma relação contígua, de modo que mais uma vez devemos situar a noção de agenciamento enunciativo, contudo, sob uma perspectiva argumentativa.

Apesar do presente trabalho não percorrer (teórica e analiticamente) o funcionamento argumentativo de palavras ou expressões, faz-se interessante pensar que, ao tomarmos os enunciados enquanto unidade de análise que se projeta/figura por uma dimensão textual ─ em que se têm relações de proximidade, articulação e reescrituração, perpassando-se, para tal, a tomada dos agenciamentos enunciativos sobre os sujeitos do dizer ─, não há como desconsiderar o caráter eminentemente argumentativo que constitui a textualidade, assim como as formas linguísticas apreendidas em seus funcionamentos enunciativos, possibilitando caminhos analíticos e a produção de sentidos.

Para corroborarmos a essa reflexão, temos em Guimarães (2008) que:

A análise das articulações dos enunciados e nos enunciados é o estudo da orientação argumentativa produzida pelos enunciados; a análise do modo como os enunciados se integram nos textos nos leva ao processo de argumentação de um texto (...) (GUIMARÃES, 2008, p. 89).

Assim, nos momentos em que nos utilizamos do termo argumento (s), o mesmo deverá ser compreendido pela reflexão exposta acima, considerando para tanto a atuação específica de cada agenciamento na enunciação.

Para finalizar as considerações pelo viés analítico voltado ao recorte 3, tomamos o último enunciado em que verificamos uma reescritura por substituição

por enumeração, em que temos o pronome demonstrativo sua em relação anafórica, reescriturando ao mesmo tempo em que articula S. Paulo como se verifica nos sintagmas nominais sua fortuna, sua força, suas armas e sua mocidade, ao passo que a repetição desse elemento anafórico se faz acompanhada, em cada caso, por uma predicação que as determinam, como fortuna, força, armas e mocidade. A expressão sua mocidade, articulando-se à palavra S. Paulo implica na construção de uma personificação na cena enunciativa. Essas predicações acabam por mobilizar sentidos que determinam, por sua vez, S. Paulo, remetendo ao memorável do discurso da proeminência histórico-fundadora reservado a São Paulo.

Adentrando-nos nesse ponto à cena enunciativa que compõe o recorte 457 da Folha da Noite, temos logo no início do parágrafo a palavra São Paulo sendo reescrita por definição pelo verbo é que a segue, ligando-se a essa relação um elemento dêitico que permite acentuar ao acontecimento dessa enunciação certa aproximação ao fervor e passionalidade evidenciados nos discursos produzidos pelo jornal na referida época, em que a palavra hoje se posiciona de modo a conter e marcar a sua representatividade semântica ao desenrolar do Movimento Constitucional.

Contudo, é preciso reforçar a distinção entre o tempo do locutor ao enunciar, e a temporalidade do acontecimento que atua especificamente no modo como os sentidos irão se figurar, a partir dos memoráveis mobilizados, de modo que esse

hoje deve ser entendido em sua figuração enunciativa e não à cronologia do tempo

demarcado.

Assim, um só soldado reescreve e determina São Paulo por definição pela expressão S. Paulo é, resgatando dessa forma o memorável anteriormente trabalhado no DSD 1 sobre o pioneirismo alavancado por São Paulo, estabelecendo uma intertextualidade com o recorte anterior. Um só soldado também permite inferir