• Nenhum resultado encontrado

Como uma parte das repostas ao problema de pesquisa proposto, nosso primeiro tópico emerge evidenciando os dois poderes do acontecimento beijo gay: seu

Considerações Finais

1) Como uma parte das repostas ao problema de pesquisa proposto, nosso primeiro tópico emerge evidenciando os dois poderes do acontecimento beijo gay: seu

buscamos apreender como se deu essa afetação. Para tanto, localizamos as nomeações atribuídas pelos sujeitos ao beijo gay e assim foi possível entender quais esferas de sentido eles convocaram ao interpretarem esse fragmento da narrativa ficcional. Concedendo-nos, assim, a resposta sobre qual campo de sentido da vida desse sujeito foi afetado por essa cena.

De forma complementar, nesse mesmo eixo, evidenciamos, ainda, como esses sujeitos se autonomearam ao entrar no debate sobre a cena e, assim, identificamos qual papel social eles assumiram no processo de interpretação da cena. Esse papel se tornou uma evidência importante para entender o sistema de relevância destes sujeitos, ou seja, a hierarquia e o grau de adesão desse sujeito aos valores que subsidiam seus argumentos.

Assim, nossa análise revelou que a cena afetou os públicos (em esferas diferentes, variando de acordo com cada sujeito) e, assim, convocou os sujeitos a um espaço de debate, sendo, portanto constituidora de público. Esse público manteve vínculos em dois níveis: o primeiro se desenrolou de forma não homogênea, consistiu no interesse primário dos sujeitos pela cena. Mas, não necessariamente, mantinham uma mesma linha de reflexão e concordância. O segundo nível consistiu na polarização dos públicos já agenciados pela cena. Uma vez estabelecido o interesse de todos que foram convocados e se apresentaram para o debate, foi perceptível que os discursos se polarizaram em torno de algumas representações sociais (estigmatizada ou positiva) e valores. Neste segundo nível, não houve, necessariamente, uma aproximação física dos sujeitos (semelhante ao primeiro nível), mas a convocação de conteúdo simbólico semelhante.

E assim, para fins analíticos, quando um tipo de enquadramento da cena era evidenciado de forma recorrente em diversos discursos (mesmo que proferidos por sujeitos desconhecidos entre si), entendíamos que ali estava um ponto polarizante. Localizamos, então, os seguintes quadros de sentidos, que serviam como aglutinadores dos públicos: o quadro cultural, que agregou sujeitos que nutriram avaliações críticas (positivas e negativas) sobre a cena, abordando uma dimensão qualitativa e estética. As críticas se dirigiam ao produto.

O segundo quadro localizado foi o político social, no qual os sujeitos se agruparam pela emissão de opiniões que tangenciavam práticas políticas institucionais, bem como a legislação brasileira. Esse público se formou a partir da relativização das leis e das possibilidades futuras de manutenção ou alterações dessas, em prol da (ou

contra a) comunidade LGBT e, também, da (in)visibilização da comunidade LGBT como estratégia de manutenção de valores pessoais.

O terceiro quadro que emergiu em nossa análise foi o ético-moral. Neste quadro, os sujeitos apresentavam discursos que os posicionavam como reguladores, vigilantes e mantenedores dos valores da sociedade brasileira. Por meio de seus discursos, os sujeitos se polarizaram pela reivindicação da (não) exposição do relacionamento homossexual. A tensão dentro do grupo pareceu-nos evidenciar a exigência pela manutenção do acordo tácito da não exposição de carícias entre os homossexuais, por medo de igualá-los ao relacionamento hétero e, assim, aqueles teriam o mesmo sentido destes.

Assim, filiando-nos à perspectiva pragmatista, acreditamos que nosso primeiro eixo de análise permitiu que evidenciássemos como o acontecimento estabeleceu públicos (no plural) como uma modalidade de experiência, a partir da afetação destes públicos.

Observando mais de perto essas polarizações, foi que emergiu nosso segundo eixo de análise: o poder de revelação desse acontecimento. Nesse eixo, nossa empreitada foi a de mostrar como a reação dos sujeitos evidenciava questões diversas da sociedade. Ainda que nosso recorte seja limitado a alguns portais e determinados fragmentos discursivos, entendemos que esse material foi capaz de elucidar questões configuradoras do contexto social em que vivemos. Conforme tratamos anteriormente, a reflexão sobre o processo de interpretação desse acontecimento elucidou que os sujeitos se colocam em um ambiente comum de debate, embasado pelo acontecimento que os agenciou. No entanto, os posicionamentos dos sujeitos não foram homogêneos e, ao apresentarem seus argumentos, eles indicavam em seus discursos os repertórios que estavam sendo movimentados e se polarizavam a partir desse repertório simbólico. Nessa constante ressignificação do acontecimento, os sujeitos o utilizavam para tematizarem a própria vida e/ou inscrevem o fenômeno em um campo social.

As (re)significações que ocorreram em um âmbito privado atribuíram à cena o sentido de: um momento catártico, facilitador do processo de autoaceitação do sujeito

LGBT e como fonte de informação necessária no seio do ambiente familiar. Os sujeitos

que se vincularam nessas atribuições evidenciaram a necessidade de representatividade e de constituições de memórias alternativas que dialoguem com a realidade. Ao continuarem o processo de res(significação), a cena foi inscrita também em um campo problemático público, onde não apenas os interesses dos diretamente envolvidos em seu

desenrolar foram revelados, mas da sociedade. Assim, em nosso corpus, localizamos quatro enquadramentos que revelaram os seguintes problemas públicos: o desrespeito

às minorias (na vida social e nas representações), a falta de regulamentação dos direitos civis LGBT, a invisibilização e o preconceito.

Foi a partir da observação dessa dinâmica que ora inscrevia a ocorrência em uma esfera pessoal, ora em uma esfera pública, que nos foi possível constatar que as dinâmicas dos públicos promoviam um encontro entre dramas íntimos e coletivos, revelando questões pessoais e sociais. Chamou-nos atenção, ainda, o fato de que todos esses eixos, apareceram subsidiados pelos mesmos fatores, os quais trataremos em nosso próximo tópico.

2) A dinâmica de polarização dos públicos revelou-nos que havia uma tríade