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Um novo mandamento lhes dou: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, vocês devem amar-se uns aos outros. João, in NVI. 13:34.

Atendendo a que os contos wildianos resultam da auto-construção do autor enquanto escritor irlandês, cuja obra emergiu na época vitoriana para uma audiência quase exclusivamente inglesa6, o facto de o amor sacrificial ser apresentado como tema central dos quatro contos aqui abordados (“The Happy Prince”, “The Nightingale and the Rose”, “The Fisherman and His Soul” e “The Star-Child ) constitui um aspecto muito interessante. Mas na verdade, acontece que, tal como afirma Jerusha McCormack no artigo “Wilde’s fiction” (McCormack 1997: 97), não houve nada de mais pungente para Oscar Wilde do que o sacrifício pessoal. Os seus contos de fadas reflectem este interesse no sacrifício pessoal, muito embora este género de sacrifício seja mais evidente nos contos da primeira colectânea (The

Happy Prince and Other Tales, 1888) do que nos da segunda (A House of Pomegranates,

1892). Por conseguinte, o tipo de sacrifício representado pelo príncipe feliz, pela andorinha, pelo rouxinol, pelo pescador, pela sereia, pela mulher pedinte e pela criança-estrela é ilustrativo do modo como Wilde representa o amor sacrificial. Esta representação remete para o sacrifício de Cristo, que consiste no principal exemplo de amor sacrificial, tema que será analisado neste capítulo.

O que significa então amor sacrificial? Na minha perspectiva, o amor enquanto sentimento é entendido e definido como a grande afeição, a ligação espiritual e o respeito, que são dedicados à pessoa amada, embora este sentimento nem sempre seja recíproco; mas também como aquele sentimento desmedido que não encaixa nas regras sociais da lógica e do senso comum, designado por paixão. Por seu turno, entendo o amor sacrificial como aquele que é desprovido de sentimentalidade, isto é, é espiritual, incondicional e demonstrado ao outro abnegadamente, nomeadamente através do sacrifício da própria vida. É aquele amor que transcende todas as barreiras físicas e espirituais, tal e qual o amor e o sacrifício de Jesus Cristo, sendo que, por vezes, e num sentido religioso, é elevado a mártir aquele que se

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Os seus contos consistem num produto literário híbrido, tal como afirma Jerusha McCormack: “What the reader has today in Wilde’s shorter fictions is, then, a hybrid: a literary fairy tale.” (1997:102)

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sacrifica em prol do bem-estar alheio, chegando ao ponto de dar a vida pelos seus semelhantes.

Deste modo, considero que o amor sacrificial se caracteriza pelo altruísmo, pela compaixão, pela incondicionalidade e pela transcendência; e recai geralmente numa transformação espiritual, embora esta nem sempre ocorra. Os quatro contos que irei analisar no presente capítulo, “The Happy Prince”, “The Nightingale and the Rose”, “The Fisherman and His Soul” e “The Star-Child”, são ilustrativos destas qualidades, sendo que as mesmas se correlacionam entre si. Ou seja, cada conto reúne duas ou mais destas qualidades, prova de que neles se encontra representado o amor sacrificial, sendo o tema central nos quatro contos. O que quer dizer que, entre si, estes quatro contos representam diferentes configurações do amor sacrificial.

Na verdade, o amor sacrificial define o conflito entre a auto-transcendência, que é demonstrada através das acções altruístas de alguém, e o amor-próprio, que é demonstrado quando essas atitudes são egoístas. Além disso, este tipo de amor requer uma grande capacidade de amar e de perdoar. Como Moshe Halbertal observa, na introdução de On

Sacrifice (2012), existe uma certa necessidade social do sacrifício pessoal, necessidade esta

que é inerente aos contos de Wilde aqui analisados: “self-sacrifice for another individual, value, or collective seems key to much ethical life and political organisation” (Halbertal 2012: 4). Porém, há a ter em conta a distinção, em termos judaicos, que Halbertal faz entre sacrifice

for e sacrifice to, sendo que, no caso dos contos de Wilde constituintes do corpus do meu

trabalho, se aplica o primeiro.

Efectivamente, no imaginário ocidental cristão, a referência ao amor sacrificial remete inevitavelmente para o sacrifício de Cristo, não fosse este o exemplo mais imediato deste tipo de amor na cultura ocidental. Contudo, ao basear-se no exemplo de Cristo na composição dos seus contos, Wilde transformou certos motivos bíblicos em metáforas artísticas e ao subverter o sentido do final feliz habitual dos contos de fadas, o autor introduziu a noção de que os mesmos não têm de acabar sempre bem. Nestes quatro contos (“The Happy Prince”, “The Nightingale and the Rose”, “The Fisherman and His Soul” e “The Star-Child”), o enfoque no sacrifício é tão pungente que não deixa margem para dúvidas quanto ao seu intuito, apesar de toda a carga simbólica que estes contos carregam: só através do sacrifício abnegado e individual, da tolerância e da compaixão para com o outro poderia ser possível alcançar a utopia de uma sociedade livre de injustiça e desigualdades.

Conjugam-se pois aqui diversas facetas do amor sacrificial – pelo outro individualmente, mas também por um valor (a justiça) e um colectivo (a humanidade). Tal

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está, porém, longe de acontecer, em tempo algum, sendo, talvez, uma simples projecção artística na qual o autor explora as correlações entre a arte, o amor e o sacrifício, como sugere Jack Zipes no posfácio de Complete Fairy Tales of Oscar Wilde (2008), quando afirma:

Through the stories in The Happy Prince and Other Tales there is a sense of impending doom. All the protagonists, the prince, the Nightingale, the giant, Hans, and the Rocket die through a sacrifice either out of love for humanity or love for art. The tales in A

House of Pomegranates continue to explore the connections between love, art and

sacrifice, but Wilde abandoned the naïve quality of the earlier tales as though he had become more painfully aware of the difficulties a “deviate” artist would encounter in British society, and his tales become more grave and less child-like than the earlier ones. […] As in The Happy Prince and Other Tales, the stories in A House of

Pomegranates end on an unresolved or tragic note. The Star-Child, the dwarf, the

fisherman all die because their love and sacrifices go against the grain of their societies. Only the young king survives, but it is evident that his future reign, based on humility and material equality, will encounter great obstacles. (Zipes 2008: 211-213)

Em concordância com as ideias avançadas por Zipes, Jalarth Killeen, autor de The Fairy Tales

of Oscar Wilde (2007), afirma que estes contos assentam numa simbologia com significados

irlandeses e católico-populares, são multifacetados e operam num nível elevado, tanto no simbolismo oculto como na inflexão alegórica, sendo simultaneamente subversivos e conservadores (Killeen 2007:12). São-no invariavelmente, mas são também um curioso puzzle artístico, construído através de palavras meticulosamente escolhidas para alcançar o efeito pretendido: a visão utópica do amor incondicional como possível meio de alcançar uma solução para os problemas sociais, ao qual só se chega através do sacrifício pessoal.

É este sacrifício individual em nome do amor a outrem ou a uma causa, que marca tão profundamente os contos de fadas de Oscar Wilde. Acresce que a par do amor sacrificial representado nestes contos, nos deparamos também com o sofrimento, o orgulho, o arrependimento, a ingenuidade e a esperança, etc.; sendo que estes estágios ou atitudes permitem antever o desfecho triste, resignado e insatisfatório destes contos. Ou seja, é através da consciencialização e percepção destes mesmos estágios por que passam os protagonistas, que o autor pretende instigar o leitor ou ouvinte a reflectir sobre a realidade que o rodeia e trazê-lo para fora da sua zona de conforto. É também tendo em conta esta consciencialização daquilo que a representação do amor sacrificial acarreta para o objectivo destes contos que procedo de seguida à análise de cada um deles, começando por “The Happy Prince”.

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3.1 - “The Happy Prince”

Este primeiro conto, da primeira colectânea (The Happy Prince and Other Tales, 1888) ilustra o amor sacrificial baseado no altruísmo e na compaixão. Este caracteriza-se por ser incondicional e abnegado, sendo consideravelmente comum na tradição dos fairy tales, como por exemplo, no conto “A Rainha da Neve” (1844), de Hans Christian Andersen, no qual a pequena Gerda empreende uma perigosa jornada para salvar o seu melhor amigo, Kay, descurando o seu próprio bem-estar, isto tendo em conta que a amizade é considerada uma forma primária de amor. Este amor altruísta e compassivo é geralmente recíproco e pode eventualmente levar ao sacrifício da vida. Neste caso, o sacrifício presente neste conto desenrola-se com base na simpatia e na compaixão, existe reciprocidade e conduz à morte.

Com efeito, “The Happy Prince” narra a história de uma cidade, onde são muitos os que sofrem de pobreza, e uma andorinha que, ao ser deixada para trás pelo seu bando, que voou para o Egipto para passar o Inverno, encontra a estátua do falecido príncipe feliz. Observando o sofrimento causado pela pobreza a partir do seu alto pedestal sobre a cidade, o príncipe feliz pede à andorinha para tirar o rubi do cabo da sua espada, as safiras dos seus olhos e as folhas de ouro que cobrem o seu corpo para dar às crianças pobres para poderem comer: «“We have bread now!”» (Wilde 2008: 20). Aquando da chegada do inverno, o príncipe encontra-se despojado da sua riqueza, isto é, reduzido ao metal que o compõe e a andorinha morre em resultado do frio intenso e, consequentemente, o coração de chumbo da estátua quebra-se. A estátua é então derrubada e derretida para ser feita uma nova estátua, por decisão do presidente da câmara, deixando para trás o coração partido e a andorinha morta. A pedido de Deus, são ambos levados para o céu por um anjo, que os considerou as duas coisas mais preciosas na cidade, para que pudessem viver eternamente na sua cidade de ouro e no jardim do paraíso.

Este pequeno conto, triste e encantador, inicia a primeira colectânea de contos de fadas de Oscar Wilde, publicada em 1888. Sendo Wilde um escritor de classe média com pretensões aristocráticas, encontrava-se numa posição privilegiada em termos de perspectiva sobre a sociedade, mas poupada à experiência directa da pobreza; uma posição que lhe permitia contemplar directamente as questões socio-económicas e políticas, presentes neste e noutros contos de modo figurativo, análoga à posição em que se encontra o príncipe enquanto estátua. Jarlath Killeen considera “The Happy Prince” um produto híbrido decorrente de ocorrências vitorianas alusivas à pobreza londrina, no qual Wilde apresenta uma distorção da Londres real, no intuito de facilitar uma interrogação que possibilite a procura de uma

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resposta para as questões que coloca; é por este motivo que para alcançar o novo reino, o príncipe se conforma com um ritual de auto-sacrifício (sendo privado da beleza) e amor (ilustrado pela lealdade da andorinha), à semelhança do que acontece no advento de Cristo, inaugurado em termos bíblicos e da história da salvação (Killeen 2007: 24-25).

O conto encontra-se estruturado em oito sequências ou momentos, que organizam as diferentes situações narradas. A primeira sequência narra a descrição da estátua do príncipe feliz e as considerações sobre a mesma, neste caso tecidas por “one of the Town Councillors”: «“He is as beautiful as a weathercock […] only not quite so useful”», “a sensible mother”: «“The Happy Prince never dreams of crying for anything”», “a disappointed man”: «“I am glad there is someone in the world who is quite happy”» e “the Charity Children”: «“He looks just like an angel”» (Wilde 2008: 9-10). Na segunda sequência é descrito o enamoramento da andorinha por um junco, a partida do bando para o Egipto e o desapontamento da andorinha; a terceira narra a chegada da andorinha à cidade e o seu encontro com o príncipe-estátua. A quarta narra o pedido de ajuda que o príncipe faz à andorinha, a relutância e a cedência da mesma em ajudá-lo, e a quinta incide no desenvolvimento da amizade de ambos, na continuação das boas acções e na partilha de histórias. A sexta incide na decisão da andorinha de ficar com o príncipe-estátua, tornando-se nos seus olhos uma vez que este se encontra cego, e na continuação da sua ajuda ao distribuir a folha de ouro que reveste a estátua pelos pobres; a sétima narra a morte da andorinha em consequência do frio extremo e o quebrar do coração de chumbo da estátua; e a oitava conclui o conto com a persistente futilidade dos dirigentes da cidade, face à sua crença de que a estátua perdeu qualquer utilidade sem a riqueza que a revestia e deve ser substituída, e com a aprovação divina do príncipe feliz e da andorinha.

A construção deste conto assenta nas dicotomias entre egoísmo e altruísmo, materialidade e espiritualidade, simpatia e hostilidade, vaidade e humildade, cujo contraste deixa transparecer quão espiritualmente superiores se tornam o príncipe feliz e a andorinha, porque enquanto cresce a empatia entre eles, tal como demonstra o uso dos termos “little” e “dear”, cresce também a futilidade ou materialidade dos conselheiros da cidade ou da dama- de-companhia da rainha que deseja apenas ter o vestido pronto a tempo do baile. Note-se, por exemplo, a seguinte passagem: “A beautiful girl came out on the balcony with her lover. “How beautiful the stars are,” he said to her, “and how wonderful is the power of love!” “I hope my dress will be ready in time for the State-ball,” she answered” (Wilde 2008: 14); este diálogo indica que estamos perante o principal contraste do conto: egoísmo versus altruísmo. Ou seja, enquanto o jovem apaixonado preza tanto o amor pela beleza natural como o ideal de

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amor, a rapariga valoriza somente os valores mundanos e materiais, como o facto de ter o vestido pronto a tempo do baile.

Contudo, a afirmação do professor de letras da Universidade, já perto do fim do texto, é a mais contundente prova da futilidade que é aqui representada: «“As he is no longer beautiful he is no longer useful”» (Wilde 2008: 21); esta comparação opõe aqui a questão da utilidade da arte e a teoria da arte pela arte; para além disso algo belo não é necessariamente prático e vice-versa. Importa também referir que o Egipto adquire aqui a conotação de paraíso: “Egypt” = “Paradise”; facto que remete para o contexto bíblico do episódio da fuga para o Egipto. Porém, esta não se trata da única referência ao imaginário cristão, pois o texto é também marcado por expressões como: “he looks like an angel” (Wilde 2008: 10), “[I am] waited for in Egypt” (13), “There is no Mystery greater as Misery” (19), “House of Death” (20), “garden of Paradise” (22), “city of gold” (22); expressões estas que remetem para o exemplo de Cristo, precisamente porque, simbolicamente, o altruísmo do príncipe e da andorinha se torna semelhante ao de Jesus.

Concordando com Killeen sobre o facto de este conto reflectir alegoricamente a situação de pobreza que se fazia sentir na Londres do século XIX, é de referir que a dimensão alegórica do conto permite tanto uma leitura historicamente contextualizada, como uma leitura susceptível de transcender esse contexto. Esta dimensão alegórica pode pois ser vista como uma actualização do exemplo de Cristo. Por um lado, considero que este é um conto sobre o amor sacrificial com base no altruísmo e na compaixão, tal como mencionei inicialmente. Este altruísmo compassivo surge sequencialmente no texto e traduz-se na transformação espiritual da andorinha e do príncipe feliz. Ou seja, a representação do amor sacrificial consiste na passagem do amor-próprio (self) para o altruísmo e para a compaixão (selflessness), que são constituintes significativos do amor sacrificial.

Por outro lado, o conto é profundamente irónico, sendo que a ironia presente no mesmo recai, sobretudo, na crítica social apontada por Killeen, porque o príncipe apenas foi feliz enquanto viveu na ignorância e no conforto conferidos pelos muros do palácio de Sans-

Souci,que significa “sem preocupações”, e ao mesmo tempo alude ao antigo Palácio de Verão de Frederico, o Grande, em Potsdam, perto de Berlim. Os muros do palácio marcam então a divisão entre o conhecimento e a ignorância do príncipe-estátua sobre o que é realidade e o que é fantasia; posteriormente enquanto estátua, o príncipe depara-se com a crua verdade acerca do que se passa na cidade, onde predominam a hipocrisia, a injustiça e a pobreza, sentindo-se impotente para corrigir a situação definitivamente:

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When I was alive and had a human heart, […] I did not know what tears were, for I lived in the Palace of Sans-Souci, where sorrow is not allowed to enter. […] And now that I am dead they have set me up here so high that I can see all the ugliness and all the misery of my city, and though my heart is made of lead yet I cannot choose but weep. (Wilde 2008: 12)

Este é o primeiro momento de altruísmo que o conto nos apresenta e surge na terceira sequência. Mas precisamente porque o príncipe-estátua é impotente para realizar qualquer acção por si próprio (os seus pés encontram-se fixos no pedestal), solicita a ajuda da andorinha para levar aos desfavorecidos primeiro as jóias e depois as folhas de ouro que o cobrem: «“Swallow, Swallow, little Swallow, will you not bring her the ruby out of my sword-hilt?”» (Wilde 2008: 13). A andorinha começa por se mostrar relutante, isto é, mostra um certo egoísmo por recear não ter tempo de chegar ao Egipto, mas acaba por aceitar, porque sente pena do príncipe (sendo este sentimento de pena = compaixão para com o outro que determina as decisões de ambos) e, posteriormente e de forma inesperada, sente-se realizada com a sua boa acção, tal como demonstra a seguinte passagem:

“I am waited for in Egypt,” said the Swallow. […] I don’t think I like boys,” answered the Swallow.

[...] But the Happy Prince looked so sad that the little swallow was sorry. “It is very cold here,” he said; but I will stay with you for one night, and be your messenger.” […] “It is curious,” he remarked, “but I feel quite warm now, although it is so cold.” “That is because you have done a good action”, said the Prince. (Wilde 2008: 13-15) A transformação acima mencionada ocorre gradualmente ao longo das sequências quatro e cinco, dando-se o segundo momento altruísta quando o príncipe-estátua pede à andorinha para arrancar um dos seus olhos e ela recusa: «“Dear Prince,” said the swallow, “I cannot do that”; and he began to weep. » (Wilde 2008: 16); mas obedece-lhe. Neste ponto, a andorinha ainda deseja ir para o Egipto, como demonstra a passagem: «“Dear Prince, I must leave you, but I will never forget you, and next spring I will bring you back two beautiful jewels in place of those you have given away”» (Wilde 2008: 17). Porém, a andorinha é incapaz de recusar quando o príncipe-estátua lhe suplica ajuda uma terceira vez, devido (como mencionei anteriormente) à compaixão que sente por ele.

A sexta sequência incide no momento fulcral da alteração espiritual da andorinha: o derradeiro sacrifício altruísta e a conversão da compaixão em altruísmo, quando esta decide ficar com o príncipe-estátua contra a sua própria natureza de partir. Este momento é elucidado pela seguinte passagem: «“Then the Swallow came back to the Prince. “You are blind now,” he said, “so I will stay with you always” “No, little Swallow,” said the poor Prince, “you must

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go away to Egypt.” “I will stay with you always,” said the Swallow, and he slept at the Prince’s feet”» (Wilde 2008: 18). Por outras palavras, a andorinha sacrifica-se pelo príncipe- estátua, porque se compadece da sua impotência e respeita a sua determinação.

De igual modo, o príncipe passa por uma alteração semelhante, embora menos profunda. Desde o início que demonstra altruísmo e compaixão pelos desfavorecidos da cidade, chamando-lhes “seus”, e, por isso, concretiza apenas a transição do carácter altruísta das suas acções, baseadas na compaixão, para um carácter sacrificial. O seu sacrifício é salientado pelo facto de, numa última tentativa de redenção e de ajudar os necessitados, renunciar ao ouro que o reveste: «“I am covered with fine gold,” said the Prince, “you must

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