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CAPÍTULO 6 – PESQUISA FINAL: OS MORADORES DOS

2. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA NATUREZA

As representações sociais da natureza são discutidas com base nos contextos elementares disponibilizados pelo ALCESTE. Assim mantém-se um campo consensual das representações que foram organizadas com base nas narrativas dos moradores.

No momento em que os entrevistados narram a natureza eles fornecem uma definição pessoal, logo se percebe uma unidade dentro do grupo. Os moradores, quando pensam sobre o que é a natureza, muitos conceitos surgem, mas se elaboram algumas ideias e quase todos possuem uma representação que distingue a natureza na perspectiva do senso comum como Carvalho (1991) apresenta. Isto é, os moradores separam a natureza artificial e a natural. A natureza para os morados é:

“Numa natureza como aquela água ali, com córregos bonitos, com água corrente é muito bonita. Tem mata fechada pra lá também é muito bonito também. Aqui a única paisagem bonita que tem é aquela ali próxima da barragem que tem aquela mata lá. É bom morar aqui próximo da água” (Participante 30).

Os moradores distinguem dentro de uma natureza artificializada, humanizada, o que é natural. O que chama atenção é a construção de uma realidade compartilhada pelos sujeitos sociais, segundo Berger & Luckmann (1985), que se incluem dentro dessa natureza, manifesta sensibilidade, harmonia entre si e o ambiente. Assim, demonstra o morador:

“Pra mim o que me sinto bem aqui é os morros que tem aqui, muitas plantas, tem rios que passa ali embaixo e a área verde que gosto, muito verde. Pelo menos, aqui tem uma natureza bonita, porque eu gostei desse loteamento, porque fica perto da barragem, já pra lá eu não vejo” (Participante 9).

Porém, pensam e relatam a situação dos que se beneficiam mais da água, da barragem. De acordo com Jodelet (1989), os seres humanos respondem ao seu ambiente como é percebido e interpretado através de experiências e conhecimentos filtrados pelos sentidos, como é armazenada e como é aceita, usada e representada.

Assim, os moradores demonstram um sentimento de exclusão, de abandono, de descaso, pois se sentem excluídos das benesses da natureza.

“O lago pra nós aqui não é muito importante não, não faz muita importância não. Lá pro DF sim, porque abastece o DF. Aqui não pode morar é uma área de natureza preservada” (Participante 30).

Ao mesmo tempo em que reconhecem o quanto a natureza é importante, boa, saudável e bela, já mudam de ideia quando consideram que quem mais se beneficia são os outros. Não conseguem visualizar as benesses da natureza quando pensam, precisamente, nos que concretamente se beneficiam da água. Nesse momento, é como se a natureza deixasse de ser importante para eles. Mais uma vez, a representação que sobressai é a que é visível e útil.

Portanto, ao mesmo tempo que afirmam que é bom, também manifestam insensibilidade quando se vêem excluídos do que eles chamam de natureza. Pois, apesar da barragem se tratar de uma natureza artificializada, eles a vêem como natural. Reforça o morador:

“Morar aqui perto da barragem é bom, porque eu acho que o ar fica mais fresco, tem uma vista muito bonita ali pra baixo, às vezes quer tomar um baiozinho ali vai lá e volta se for por esse lado. Aí é isso” (Participante 26).

Proliferam nos relatos sobre a chegada em Águas Lindas, como se admiraram com a visão do lago, e quase sem exceção, se espantaram com o “mato”, “ermo” nas cercanias do loteamento. Muitos moradores relatam descrições de paisagens naturais.

“Uma paisagem natural tem um jardim bonito, flores, árvores, água. Eu acho que a barragem é muito bonita, ela é uma paisagem natural daqui. Lá tem muitas árvores é o único lugar assim bonito. Tem a CAESB, lá tem bastantes árvores. Morar aqui perto da barragem é bom” (Participante 15).

Para os moradores na natureza ou na paisagem natural existindo pelo menos um elemento natural como a água, pois a barragem é uma paisagem artificial, mas o fato da presença de água do rio, para os moradores é suficiente para se referirem a uma natureza, a uma paisagem natural. No entanto, afirmam que:

“Olha aqui pra você ver uma natureza bonita da janela do meu quarto vem ver. Essa aqui é uma natureza bonita que vejo daqui da janela do meu quarto a barragem com muita água e árvores.” (Participante 3).

Além disso, os moradores incluem um aspecto visual para definirem a natureza.

“Uma natureza é isso aqui que estou vendo cheio de mato, cheio de morro e a gente olhando assim a visão perde de vista. Esses morros isso pra mim é natureza”. (Participante 8).

Da mesma maneira, outros moradores se referem:

“A nossa vista aqui é bonita a gente avista a cidade do DF todinha, Ceilândia por ali, a barragem, aquela água ai, inclusive aqui é bem mais fresco do que lá no DF.” (Participante 11).

“Essa barragem ai é bonita, é natureza. Eu gosto de ficar olhando, vou pra li e fico. É bonito pra ver, aguou as plantas, gosto de cuidar das plantas, eu planto uma hortinha.”

Não somente a barragem é inserida numa paisagem natural ou natureza, mas também outros elementos que para os moradores compõem a paisagem, como praças, jardins, plantação e hortas.

“Na natureza tem que ter muitas árvores, uma praça assim com muitas árvores pra ficar um ambiente mais bonito. Eu acho que aqui tem uma natureza bonita, bem ali tem umas montanhas e de lá vem um vento tão bom assim, que tem aquela barragem todinha. É bonito aquele lugar.” (Participante 13).

“Tem muita plantação, tem manga, abacate, tem essas coisas, mas depende do local e da época, porque tem época que só ver poeira. E é bom morar aqui perto dessa natureza, é bom, é bom. Porque você olha pro lado e olha pro outro e você esta vendo, você tem uma vista boa, tá vendo a água, tá vendo o mato.” (Participante 10).

Chegam a comparar a natureza com uma cidade do interior.

“Muitas plantas frutíferas é como se fosse uma cidade do interior. Veja que moramos aqui próximo da barragem, o que é bom e gosto no sentido de alivio, de curtir, de olhar pro horizonte e ver aquela água, aquela beleza.” (Participante 4).

Portanto, a natureza para os moradores é a que transmite tranquilidade tanto sonora como visual e não necessariamente a que possui somente elementos que compõem a paisagem natural. Os entrevistados relacionam a tranquilidade com a presença da área de preservação da natureza quando dizem que:

“A natureza é tipo, uma vista como essa que temos aqui. Você ver o lago é tipo assim, eu nem sei explicar direito, mas é uma paisagem natural porque tem o lago, tem uma área lá ambiental na beira do lago que é proibido entrar lá, ninguém pode pescar e caçar, então é uma área de preservação ali”. (Participante 12).

Os moradores sabem que estão em uma área de preservação, no entanto falam da natureza como referências boas, agradáveis, porém reconhecem que existem outros problemas e pessoas que estão e podem interferir na natureza.

“Porque a natureza é ter árvores demais que eu gosto, os rios, os córregos, ou seja, proteger a fauna e a flora, que é o mais importante. Agora veja bem, você olha pra li aquele lago todo, está todo devastado você não vê uma árvore na beira do lago, isto quer dizer seca de nascente, se for abrir mais espaço pra lotes aqui aquilo ali vai acabar.” (Participante 4).

E acrescentam, ainda, problemas do loteamento que podem interferir na natureza como a questão do lixo:

“Jogam lixo. Agora aqui perto tem alguns lugares que fica com a natureza bonita, mas a maioria dos lugares não. A natureza aqui mesmo tem muito pouco porque olha aqui perto da barragem é muito bom você ver esses tipos ali, aquelas montanhas, aquela plantação, depois aquele campo e a água que forma a barragem”. (Participante 2).

“Aqui não, você vê um monte de lixo na rua, o pessoal não cuida, então vai acabar do jeito que está indo ai. Olha aqui na beira dessa água aqui tem umas matas”. (Participante 5).

O ambiente que é considerado como sócio-físico, segundo Stokols (1982) apud Jodelet (1989), e o comportamento se desenvolve como sócio histórico de acordo com Proshansky (1978) apud Jodelet (1989). Portanto, os moradores relacionam a natureza com aspectos físicos, e o comportamento, pode-se dizer que é resultante de aspectos sócio históricos.