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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: NOÇÕES CONCEITUAIS E LIGAÇÕES

4 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E A COMPREENSÃO

4.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: NOÇÕES CONCEITUAIS E LIGAÇÕES

A seguir, exporemos aspectos basilares nessa perspectiva teórica. Para Wagner (2000) a Teoria das Representações Sociais é um construto sobre a construção social em dois sentidos. O primeiro é que as representações são construídas socialmente por meio de discursos públicos nos grupos; o segundo aspecto, por sua vez, é que esse conhecimento é criado pelo grupo.

Jodelet (2015) relata que Moscovici alargou a dimensão da noção de representação social, ao integrar nos fenômenos por ela abrangidos os que revelam as formas expressivas da sensibilidade humana, incluindo a arte, a literatura e a ética na sua relação com a ação. Realçamos que a dimensão sensível está atrelada ao desenvolvimento da criatividade.

No que tange à relação entre representações sociais e o campo da arte, imbricado nessa tese, nos respaldamos em Jodelet (2014) a qual assinala que o nível da intenção criativa, a qual contempla a expressão da subjetividade do autor, está relacionado ao processo de objetivação das representações sociais. O produto artístico manifestado no conteúdo das expressões culturais corresponde ao campo de representação. Por seu turno, a recepção da obra de arte

envolve processos de percepção, apropriação e ancoragem, atrelados às condições sociais e históricas de pertença e de identidade de indivíduos e grupos, que orientam a leitura ou a tradução da mensagem transmitida pela obra de arte.

Para Marková (2015b), desde o início, a TRS tem sido muito dinâmica e repleta de ideias sobre como impulsionar as formas de inovação e invenção humanas, o que se coaduna com a discussão sobre criatividade docente na educação superior. Marková interroga Moscovici numa entrevista, e o autor afirma que ele frequentemente se referiu à pesquisa a respeito da criatividade e a importância da descoberta de novos fenômenos, situando-a como uma questão pessoal em sua biografia (MARKOVÁ; MOSCOVICI, 1998, tradução nossa).

Moscovici aborda que não basta estar ideologicamente certo, é preciso também agir criativamente. Um artista ou um cientista pode estar metodologicamente correto e não ser criativo, repetindo estudos já desenvolvidos ou acrescentando muito pouco às contribuições existentes. Ele admite que, quando tornou-se um pesquisador tinha o objetivo de ser criativo, criar noções, descobrir fenômenos, propor alternativas teóricas, cuja criação é, por si, um criticismo (MARKOVÁ; MOSCOVICI, 1998, tradução nossa).

Entendemos que os sentidos de criatividade na educação superior construídos pelos professores, consistem num objeto de pesquisa polêmico e polissêmico, passível de ser estudado pela teoria, porque diante do cenário educacional de apelos à inovação essa temática suscita as perguntas: O que é a criatividade? O que define uma aula criativa? Quais seriam as diferenças entre criatividade e inovação? Essas perguntas consistem em questionamentos com várias possibilidades de respostas e, por exemplo, a polissemia é inerente ao objeto em foco, posto que aquilo que é considerado criativo para um, pode não ser para outro.

No que tange ao desenvolvimento teórico da perspectiva em questão, uma das principais críticas que a TRS realiza é com relação às dicotomias, individual-coletivo, sujeito-objeto, cognição-emoção. Arruda (2000a) esclarece que Moscovici busca articular os processos subjetivos e cognitivos, pois visa superar a dicotomia entre psicológico e social, sujeito e objeto, de modo a integrá-los.

Refletindo sobre as dicotomias, Jovchelovitch (1996) pontua que as dissociações entre o psíquico, relacionado ao sujeito e a realidade, ligada ao social, não são uma invenção da Psicologia. A filosofia ocidental impôs de forma tão insistente o corte entre uma filosofia do sujeito puro e uma filosofia do objeto puro que, muitas vezes, a relação entre os dois é ignorada. As marcas deixadas por essa filosofia do sujeito puro ou do objeto puro, ainda estão muito

presentes na Psicologia, nos seus códigos e práticas. Entendemos que visões dicotômicas não permitem uma visão abrangente da realidade e produzem fragmentação da mesma.

Moscovici (1985) estuda as relações sobre alter-ego-objeto e oferece uma leitura ternária: sujeito individual, sujeito social, objeto, ou ego-alter-objeto, visando se afastar da díade sujeito-objeto, herdada da filosofia clássica. O sujeito social está relacionado ao outro, por exemplo, a pertença do indivíduo ao grupo, conferindo outra possibilidade de leitura, a relação entre indivíduo e sociedade. Jodelet (2011) anuncia que através dessa triangulação, a TRS propõe um novo olhar psicossocial no que concerne à relação entre sujeito e objeto, restituindo aos pensamentos e aos processos psíquicos seu caráter dialógico.

Para Graziela e Werba (2008), o elemento social na TRS é um elemento constitutivo e não algo separado. No que concerne ao conceito de RS, Trindade, Santos e Almeida (2011) assinalam que essas podem ser:

Entendidas como uma forma de conhecimento de senso comum e socialmente partilhado, tem em seu bojo, a ideia de um conhecimento construído por um sujeito ativo em íntima interação com um objeto culturalmente construído, que revela as marcas tanto do sujeito como do objeto, ambos inscritos social e historicamente (p. 102).

Oliveira e Werba (2008) anunciam que:

As representações sociais são ‘teorias’ sobre saberes populares e do senso comum, elaboradas e partilhadas coletivamente, com a finalidade de construir e interpretar o real. Por serem dinâmicas, levam os indivíduos a produzirem comportamentos e interações com o meio, ações que sem dúvida, modificam os dois (p. 105).

Os saberes do senso comum e do pensamento científico constroem os universos consensuais e reificados, conceitos importantes na TRS. Na visão de Moscovici (2015), os universos consensuais são locais onde todos querem sentir-se em casa, protegidos de qualquer atrito, risco ou conflito. Outrossim, tudo o que é dito ali confirma as crenças e interpretações adquiridas, corrobora mais do que contradiz a tradição, já os universos reificados são vistos pela sociedade como um sistema de diferentes papéis e categorias, há uma objetividade, um rigor lógico e metodológico e uma teorização abstrata que caracteriza as ciências e o pensamento erudito (SÁ, 1996).

Atentando sobre a complexidade das representações sociais e as funções que essas assumem, Arruda (2014) aponta a necessidade de compreender essas funções a partir de quem as elabora, como participa da ordenação do mundo para a pessoa, possibilitando a comunicação com os outros, convertendo-se em código para nomear e classificar os objetos do mundo e, ao mesmo tempo, expressar a identidade de quem fala e como se integra ao universo maior de valores, modelos e formas de sentir de uma determinada sociedade.

Debatendo as funções das representações sociais, Abric (1994) refere que essas contemplam a função de saber, pois permitem compreender e explicar a realidade, a função identitária, porquanto as representações sociais participam da formação da identidade e permitem salvaguardar a especificidade dos grupos. Existe a função de orientação, por meio da qual, as representações sociais guiam comportamentos e práticas e, por fim, mediante a função justificadora as representações sociais justificam as tomadas de posição e os comportamentos. Após termos introduzido alguns aspectos conceituais, seguidamente nos deteremos em como se formam as representações sociais.