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CAPÍTULO 2. Revisão da Literatura

2.6. Representações

2.6.1. Representações sociais

sobre as Competências Linguísticas de Alunos da 10ª Classe

_______________________________________________________________ padrão, e que ocorrem mais em contextos multilingues, como é o caso de Moçambique.

Segundo Mateus (2005: 11 - 12), as palavras estendem ou restringem o seu significado. As frases alteram a sua construção. O léxico acolhe novas entradas e esquece outras.

De geração para geração as palavras mudam de forma.

De acordo com esta autora, a mudança proveniente do contacto não se resume ao léxico nem a um número restrito de variações gramaticais ou fonéticas.

As causas da mudança não são apenas exteriores. A mudança interna, endógena, também se dá. Um exemplo disto são os fenómenos fonéticos de supressão de consoantes e vogais, ou mesmo de palavras inteiras com menor corpo fonético.

2.6. Representações

O estudo a desenvolver baseia-se nas representações que a população- alvo tem acerca das competências linguísticas dos alunos da 10ª classe.

Neste sentido, é útil definirmos o conceito tanto na dimensão social, como na linguística, para percebermos melhor os fenómenos, convictos de que as representações desempenham um papel preponderante na determinação das práticas pedagógicas, particularmente no ensino de Português.

2.6.1. Representações sociais

As representações sociais (RS) constituem um dos objectos de estudo dominantes na Psicologia Social europeia no seguimento do trabalho original de Moscovici.

Efectivamente a palavra representação social encontra-se amplamente difundida nas Ciências Sociais desde que, em 1961, Moscovici “descobriu” este “conceito esquecido” de Durkheim.

Representações de Professores de Português em Moçambique sobre as Competências Linguísticas de Alunos da 10ª Classe

_______________________________________________________________ sociológica, ao invés da grande maioria dos conceitos de Psicologia Social que são de origem americana e procedem da Psicologia Geral.

A noção de RS situa-se numa encruzilhada com múltiplos acessos. As RS apresentam-se sob formas variadas, mais ou menos complexas: imagens, sistemas de referência, categorias, teorias (Neto, 1998: 486).

Para Cuq (2003: 214 - 216), partilhando a ideia de Neto, esta noção de representação social é transversal e encontra-se em vários domínios no seio das Ciências Humanas e Sociais tendo adquirido, tanto na Sociolinguística como nas Didácticas das Línguas-Culturas, uma posição teórica de primeiro plano.

Em Psicologia Social, Moscovici (1961) definiu RS como:

“Um sistema de valores, de noções e de práticas relativas a objectos, aspectos ou dimensões do meio social que permite não só a estabilização do quadro de vida dos indivíduos e dos grupos, mas que constitui igualmente um instrumento de orientação da percepção das situações de elaboração das respostas” (Neto, 1998: 439).

Mais tarde, Moscovici (1981), citado por Vala (1993: 354), definiu as RS como: “Um conjunto de conceitos, proposições e explicações criado na vida quotidiana no decurso da comunicação inter individual. São o equivalente, na nossa sociedade, de mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem ainda ser vistas como a versão contemporânea do senso comum”.

Em ambas as definições apresentadas por Moscovici, podemos verificar que se destacam certos aspectos tais como o estabelecimento de relações sociais a vários níveis. Estas relações sociais propensiam deduções que podem representar o que o indivíduo, ou o grupo de indivíduos, entende sobre determinadas práticas sociais, facto que se mostra interessante para nós, tendo em conta os objectivos da nossa investigação.

Moscovici (1969) citado por Vala (1993: 354) afirma ainda que as RS podem ser entendidas, num primeiro ponto de vista, como um reflexo do mundo exterior, como “reflexo interno duma realidade externa, reprodução conforme no espírito do que se encontra fora do espírito ”.

A obra de Moscovici alimenta toda uma corrente muito produtiva da Psicologia, de acordo com dois eixos que podem ser considerados

Representações de Professores de Português em Moçambique sobre as Competências Linguísticas de Alunos da 10ª Classe

_______________________________________________________________ complementares: um eixo qualitativo, que se interessa pelos conteúdos da representação na base de inquéritos; um eixo experimental e formal, que se interessa pela maneira como se constituem e se modificam as representações.

Vala (1993) afirma que, com base em estudos realizados atravez de questionários e da análise de conteúdo da imprensa, Moscovici lançou uma problemática específica – como é consumida, transformada e utilizada pelo Homem comum uma teoria científica – e uma problemática geral – como o Homem constrói a realidade. É na sequência destes estudos que o autor propõe o conceito de RS.

O projecto de Moscovici propõe a análise dos processos atravez dos quais os indivíduos em interacção social constroem teorias sobre os objectos sociais, que tornam viável a comunicação e a organização dos comportamentos – sentido restrito.

As RS alimentam-se não só das teorias científicas, mas também dos grandes eixos culturais, das ideologias formalizadas, das experiências e das comunicações quotidianas.

Neste sentido, afirma Vala (1993: 354), citando Jodelet (1989a: 36), que a RS é:

“Uma modalidade de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objectivo prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”.

Por seu turno, e tendo em conta a visão traduzida por Moscovici, Neto (1998: 486) define o conceito de RS como aquele que “designa uma forma de conhecimento específico, o saber do senso comum”. E, acrescenta que, no seu sentido mais lato, designa “uma forma de pensamento social”.

Portanto, as RS são partilhadas pelos membros de uma sociedade ou colectividade. Estas estruturas consensuais são vistas como sendo criadas socialmente atravez da interacção e da comunicação social.