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5 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

5.3 Representações Sociais sobre a família brasileira

A sociedade sempre tem delegado à família a função educativa com relação às crianças, o que também reflete em diferentes instituições sociais, incluindo a escola (SZYMANSKI, 2004).

Essa família aparece representada, na grande maioria das vezes, como sendo branca, de classe média, composta de pai, mãe, filhos (dois) e avós; pai provedor, ocupando a posição mais alta na hierarquia do poder, e mãe doméstica, responsável pelo bem-estar e educação da prole. É a família pensada o modelo de família ideal oferecido por nossa sociedade. Pensada porque permanece subjacente ao projeto de construção de uma família, apresenta-se como parâmetro para avaliação e promete construir-se em passaporte para a felicidade (SZYMANSKI, 2004, p.6).

Segundo Szymanski (2004), esse modo de pensar está associado à figura feminina e a sua relação com o cuidar e educar as crianças ao longo do seu percurso de desenvolvimento.

A representação social de que as funções reprodutoras diferentes entre homens e mulheres, associada a papéis de comportamentos também diferentes entre a figura

materna e paterna, sustenta socialmente a responsabilidade da mulher em relação à criança pequena.

Contudo, a responsabilidade que recai sobre a figura da mãe/mulher faz com que a sociedade exija que ela a cumpra, porém a mesma sociedade muitas vezes não oferece à mãe/mulher o suporte necessário para que desempenhe com assertividade essa atribuição. As famílias por vezes estão vulneráveis com relação a sua própria educação, e as situações socioeconômicas em que se encontram contribuem para o estabelecimento desse contexto desfavorável, o que impacta diretamente na construção de uma educação formal para suas crianças, também com déficit.

Se as famílias não têm uma educação formal adequada, terá dificuldade para proporcioná-la aos seus filhos. Em outras palavras, é no convívio no cotidiano que as famílias transmitem valores, crenças, hábitos e conhecimentos que consideram necessários para inserir seus descendentes na sociedade.

Essa transmissão de cultura social familiar acaba por proporcionar uma repetição de padrões já vivenciados, que sustentam as representações de figuras paternas de gerações anteriores, assim como justificativas: “a família sempre foi assim” (SZYMANSKI, 2004)

É importante destacar que é no núcleo familiar que a criança pode efetuar trocas intersubjetivas, pois situações de apoio mútuo oferecem oportunidades de desenvolvimento, não só para a criança, mas para todos os familiares.

Para Maurício (2009), entre as funções dos pais, estaria a de desenvolver valores à produção do saber.

Szymanski, apud Olson (1986), define a funcionalidade da família segundo duas dimensões: a adaptabilidade e a coesão.

A adaptabilidade seria a habilidade do sistema familiar para mudar sua estrutura de poder, relações de papéis e regras de relacionamento, em resposta a exigências situacionais ou de desenvolvimento, ou caóticas (muitas mudanças).

A coesão, ligação emocional entre os membros da família, distribui-se num

continuum, desde o desligamento entre os membros até o superenvolvimento de uns em relação aos outros.

As famílias, portanto, devem buscar o equilíbrio, de modo a se tornarem estruturadas e flexíveis, proporcionando o desenvolvimento social e emocional adequado a seus membros, no ambiente familiar e também fora dele.

O equilíbrio também deve estar presente nas comunicações estabelecidas pelos membros familiares. A comunicação verbal e a não verbal devem ser congruentes, ou seja, caminharem na mesma direção, apresentando transparência entre a comunicação de intenção e o respeito à autonomia do outro (SZYMANSKI, apud SATIR, 1980).

Buscando o equilíbrio, as famílias estruturarão um ambiente adequado, ou seja, o espaço necessário onde todos possam estabelecer um diálogo, com reflexões assertivas, entre os todos os membros da família. Assim serão fortalecidas as relações e serão compartilhados os valores, crenças e hábitos pertinentes a uma boa adaptação ao mundo, seja ele dentro do núcleo familiar, seja dentro de outras instâncias sociais a que terão acesso.

Como destaca Szymanski (2004), a sociedade por vezes leva as famílias a aceitarem suas condições (menos favorecidas), ao mesmo tempo que as leva a se culparem pela não superação de suas falhas e faltas, que elas trazem ao longo das gerações. Porém, essa mesma sociedade, ao transferir toda a culpa para as famílias, está ao mesmo tempo se ausentando das suas próprias falhas e faltas, e isso inclui a instituição social, a escola.

A escola, uma instituição para atendimento à criança e para inserir o sujeito na sociedade, tem também a responsabilidade ética de alertar as famílias, principalmente as que são economicamente menos favorecidas, sobre o processo de exclusão de seus filhos, decorrente de faltas e falhas que precisam ser supridas com práticas educativas que possibilitem a uma continuidade do processo socializador da criança (SZYMANSKI, 2004)

Dessa forma, a escola contribui de fato, ao apoiar as famílias e não responsabilizá-las exclusivamente pelo de seus filhos. Apoia as famílias também ao promover-lhes reflexões e, posteriormente, abrir horizontes para a busca de novos caminhos para a educação no contexto familiar.

A reflexão também possibilita que as famílias compreendam que no meio social há diferentes contextos educacionais e que, em cada um deles, expectativas sobre seus filhos. Assim, as famílias precisam rever suas contribuições em relação à educação deles.

É necessário lembrar que, embora seja preciso respeitar as opções educacionais familiares, que são fundamentais para o desenvolvimento e formação da criança, dependendo das práticas adotadas elas também podem trazer danos, por exemplo, a violência física e psicológica (SZYMANSKI, 2004).

Neste sentido, o apoio social para as famílias torna-se mais evidenciado, pois comportamentos que afetam as relações de afeto, respeito e autonomia dos sujeitos precisam ser trabalhados, e por vezes as famílias não buscam recursos de ajuda social, porque não têm informações necessárias para apresentar solicitações a esse respeito.

Sendo assim, é importante que haja um movimento social de atendimento às famílias, envolvendo toda a rede necessária, para a ajudá-las e direcioná-las para o equilíbrio e a autonomia, para que tomem decisões conscientes em relação à educação dos filhos, sempre com responsabilidade, para que venham a obter resultados significativos e eficientes.

Para Nunes (1994), para atendimento às expectativas sociais os pais precisam oferecer aos seus filhos uma condição de desenvolvimento favorável, tanto no ambiente físico como no tipo de ações que criam para oferecer oportunidades aos filhos. Precisam, também, estabelecer objetivos e estratégias para que possam cumprir essa tarefa.

As famílias precisam pensar sobre suas ações e sobre os resultados obtidos quanto à educação dos filhos, mas também precisam considerar que não estão sozinhas: há uma rede social que pode auxiliá-las a fazer boas escolhas e a adotar práticas educacionais que contribuam para o desenvolvimento integral de seus filhos.