• Nenhum resultado encontrado

5 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

5.2 Representações Sociais sobre a docência

“Nas sociedades contemporâneas, o prestígio de uma profissão mede-se em grande parte pela sua visibilidade social” (NÓVOA, 1999, p. 44).

Para Nóvoa (1999, p. 15), a profissão de professor “[...] continua muito próxima do modelo de padre”, o que influencia e interfere no processo de profissionalização.

Existem diferentes maneiras de descrever e compreender o trabalho do professor, que pode ser por meio de codificado e com atividades regidas por procedimentos, ou por flexível, envolvendo elementos informais, indeterminados, incertezas e imprevistos (TARDIF, 2009).

O professor, por vezes, está envolvido em um processo educacional que o leva a lidar com os aspectos formais e informais de seu trabalho. Assim, precisará de ter capacidade para mediar o controle e a autonomia das suas atividades que, como ressalta Tardif (2009), caracterizam-se como heterogêneas.

O professor deve ser aquele que, na sua realidade prática, precisa estar ciente do seu papel como educador, em um sistema educacional que busca na docência a autonomia profissional pautada no conhecimento e na experiência, mas também na relação com o outro. Assim, seu trabalho está permeado de valores, crenças, rituais, costumes, ideologias e representações, que estarão presentes no seu cotidiano e que devem ser consideradas, para que sua atuação seja eficiente e eficaz.

Para Sarmento (1994, p. 77), a ideologia é o sistema de ideias e representações que domina o espírito de um homem ou de um grupo social. As ideologias correspondem às condições do mundo e representam a “[...] relação imaginária dos indivíduos com as suas condições reais de existência”.

Na medida em que uma ideologia permite uma interpretação do mundo e constrói a base da ação, é preciso ter um olhar mais crítico sobre as representações sociais que se constroem. Desse modo, deve-se ter uma visão mais realista sobre os fatos, para agir de forma mais assertiva, principalmente o docente, que em seu papel de mediador, além de lidar com os discentes, lida também com os membros da escola e com a comunidade.

Nóvoa (1999, p. 31) destaca que o professor deve ter um compromisso social que vá além da sala de aula ou do contexto escolar: “[...]educar é conseguir ultrapassar as fronteiras que tantas vezes foram traçadas como destino pelo nascimento, pela família ou pela sociedade. Comunicar com o público, intervir no espaço público da educação, faz parte do ethos profissional docente”.

Sarmento (1994) ressalta que os professores, que constituem um grupo ocupacional, produzem (produzem-se em) uma ou várias culturas docentes, constituídas não apenas pelos saberes profissionais, mas também por normas, valores e crenças e artefatos, que são reforçados pelo inconsciente coletivo.

É comum que, na prática educacional, os docentes mais experientes e com mais tempo de “casa”, tenham a preferência, pois culturalmente se entende que adquiriram

melhor visão dos processos e normas da instituição e que já contribuíram muito com a unidade escolar.

Para ser professor, no entanto, não basta dominar um determinado conhecimento; é preciso compreendê-lo em todas as suas dimensões (NÓVOA, 1999, p. 35).

Os elementos da cultura dos professores por vezes geram conflitos e contradições que contribuem para uma cultura docente em crise. Ao mesmo tempo, essa crise é elaborada pelos próprios profissionais da educação, o que faz com que a dinâmica social dentro da realidade prática tenha continuidade (SARMENTO, 1994).

No cotidiano escolar, o professor enfrenta a diversidade e os desafios da profissão, com o dever de dar conta dos problemas educacionais e apresentar resultados positivos. Isso porque, culturalmente, as representações sociais coletivas ressaltam que é sua obrigação e vocação, mesmo sem suporte para suas angústias e sem apoio do Estado. Como resultado, muitas vezes, tem-se um trabalho fragmentado, uma aprendizagem delimitada, o que reforça uma cultura superficial de um ensino e aprendizagem inadequados.

Nóvoa (1999, p.24) ressalta que “[...] a aprendizagem ao longo da vida justifica-se como direito da pessoa e como necessidade da profissão, mas não como obrigação ou constrangimento”. Assim, é importante que o professor tenha uma visão crítica sobre a sua prática docente e sobre sua enfrentamentos, em seu cotidiano. Deve reformular seu pensamento diante do que lhe é oferecido, considerando-o como oportunidade de ação, no contexto educacional.

Para Morin (1999), “[...] o problema não está em que cada um perca a sua competência. Está em que se desenvolva o suficiente para articular com outras competências (disciplinas e conhecimentos) que, ligadas em cadeia, formariam o anel completo e dinâmico, o anel do conhecimento do conhecimento.”

Tardif (2009) aponta que os saberes brotam da experiência e são por ela validados e incorporados em experiências individuais e coletivas, sob a forma de habitus e habilidades, de saber fazer e de saber-ser, que são os saberes experiências e práticos.

O professor, portanto, deve ser um articulador das interações sociais construtivas no ambiente educacional, no sentido de colocar suas competências para avaliar, refletir e criticar as situações educacionais. Partindo desse processo de análise, deve planejar e avaliar sua prática, considerando o seu repertório de autoconhecimento, sua maturidade e equilíbrio diante dos fatos. Desse modo, a visão sobre a práticas pedagógicas, ao realizar

as trocas de informações com os demais, serão ampliadas e compartilhadas, e saberes significativos serão construídos.

Tardif (2012, p. 36) diz que:

[...] a relação dos docentes com os saberes não se reduz a uma função de transmissão dos conhecimentos, já constituídos. Sua prática, integra diferentes saberes, com os quais o corpo docente mantém diferentes relações. Pode-se definir o saber docentes como um saber plural, formador pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.

Para Marcelo Garcia (1999), há grande insatisfação dos professores e de instâncias políticas em relação às respostas das atuais instituições de formação às necessidades da profissão docente, devido à organização ser burocratizada e também devido ao divórcio existente entre a teoria e a prática. Segundo esse autor, as etapas de formação inicial, a inserção e o desenvolvimento profissional dos docentes deveriam estar mais inter-relacionados, de forma a criar aprendizagens coerentes e um sistema de desenvolvimento da profissão docente.

Segundo Nóvoa (1999, p. 28), para a formação de professores “[...] o essencial reside na aquisição de uma capacidade intelectual de aprendizagem e desenvolvimento”, para suprir uma “nova pedagogia”, com desafios colocados pelas tecnologias que revolucionam o dia a dia das sociedades e das escolas.

Na prática educacional o professor tem que lidar com a diversidade individual e coletiva, além do modelo único e unificado de ensino, contrastes que estão presentes na escola e que precisam ser considerados, o que exige novas posturas profissionais do docente e novas pedagogias, para amenizar os impactos e superar os desafios no ensino-aprendizagem dos discentes.

Segundo Marcelo Garcia (1999), as escolas e docentes devem avaliar suas necessidades, crenças e práticas culturais, para decidir qual modelo de desenvolvimento profissional lhes parece mais benéfico.

É preciso validar uma formação profissional que atenda às necessidades da realidade prática e que garanta à profissão de professor seu espaço e valorização social.

Para Marcelo Garcia (1999), é por meio da identidade que nós nos percebemos, nos vemos e queremos que nos vejam. A identidade profissional é a forma como os professores se definem e como definem os outros. O autor destaca que as identidades

profissionais configuram um complexo emaranhado de histórias, conhecimentos, processos e rituais.

Portanto, para se construir uma identidade social, a profissão docente tem que estar pautada em pilares que sustentem a profissionalização da docência e que validem sua ação prática, de modo a trazer resultados significativos à educação e, consequentemente, à sociedade. Assim, poderá de fato ser reconhecida profissão.

A variedade de fatores que envolvem a educação, o processo de ensino-aprendizagem e a própria formação dos docentes acabam, por vezes, comprometendo a identidade dos professores. Como observa David Labaree (2000, apud Nóvoa, 1999, p. 34), “[...] as práticas docentes são extremamente difíceis e complexas, mas, por vezes, alimente-se publicamente a ideia de que ensinar é muito simples, contribuindo assim para um desprestígio da profissão”. Marcelo Garcia (1999) observa que quando os professores se restringem muito mais à aula do que à instituição em que trabalham, surgem complicações no desenvolvimento de propostas organizacionais, que não conseguem suplantar essa realidade cultural tão arraigada na docência.

Além disso, quando não se dá voz aos professores e não se reconhece seu trabalho, a motivação e a autoestima do profissional acabam acaba por se perder, e muitas vezes ele toma a atitude de simplesmente transmitir conteúdos e de não se importar de fato com seus alunos e suas aprendizagens. Não pensa em sua contribuição para com a escola e a sociedade e, menos ainda, com sua identidade profissional.

Para Nóvoa (1999), o trabalho docente não se traduz em uma mera transposição do saber, mas em uma transformação dele, o que define que é preciso oferecer uma resposta a dilemas pessoais, sociais e culturais. Esse autor ressalta que a educação deve ser um compromisso social, e que pode ser chamada de “[...] diferentes nomes, mas todos convergem no sentido dos princípios, dos valores, da inclusão social, da diversidade cultural.”

Para Marcelo Garcia (1999), à docência representa um período de tensões e aprendizagens intensivas em contextos geralmente desconhecidos.

Não se deve perder de vista que, no Brasil, a profissão docente é ainda extremamente desmerecida, mal remunerada. O resultado disso são profissionais que não cuidam de si mesmos, e como vão conseguir cuidar dos demais? (NÓVOA, 1999).

É importante ressaltar que o professor, antes de tudo, é uma pessoa, portanto é impossível separar dimensões pessoais das profissionais. Além disso, “[...] ensinamos

aquilo que somos e que, naquilo que somos, se encontra muito daquilo que ensinamos.” (NÓVOA, 1999, p. 39).

É inegável a pluralidade cultural do mundo e que se manifesta de forma impetuosa em todos os espaços sociais, frequentemente acarretando confrontos e conflitos, tornando cada vez mais agudos os desafios a serem enfrentados pelos profissionais da educação. No entanto, essa mesma pluralidade pode propiciar enriquecimento e renovação das possibilidades de atuação pedagógica. (MOREIRA E CANDAU, 2003). Portanto, o movimento de oportunidades, desafios e contradições fazem parte do contexto escolar e da profissão docente, que por vezes isola o professor diante da sua realidade prática, mas que exige dele, ao mesmo tempo, integração e interação com os demais, para exercício da sua profissão, seja na visão micro da sala de aula, seja na visão macro da sociedade.

Embora, o contexto escolar gere inseguranças, ansiedades, medos e instabilidades, também contribui para a inovação, o acolhimento e a partilha, para construir uma educação com qualidade e equidade. Assim, o professor não deve perder suas esperanças; deve persistir e investir cada vez mais no desenvolvimento e reconhecimento da sua profissão.