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2 DIAGNÓSTICO DA REPROVAÇÃO NA ESCOLA ESTADUAL ALFA DO

2.2 Reprovação: um problema crônico na educação brasileira

A reprovação é um problema recorrente na educação brasileira, mesmo com adoção de mecanismo de progressão automática, como os praticados nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A defasagem na aprendizagem quando os alunos chegam aos anos finais do Ensino Fundamental geram índices altos de reprovação e essa realidade é ainda mais crítica no Ensino Médio, sobretudo, no 1º ano. Mesmo com a adoção da progressão parcial nos anos finais e no Ensino Médio, esses índices não têm melhorado significativamente. Ribeiro (1991) aponta que existe uma pedagogia da repetência instalada na educação brasileira:

Parece que a prática da repetência está contida na pedagogia do sistema como um todo. É como se fizesse parte integral da pedagogia, aceita por todos os agentes do processo de forma natural. A persistência desta prática e da proporção desta taxa nos induz a pensar numa verdadeira metodologia pedagógica que subsiste no sistema, apesar de todos os esforços no sentido de universalizar a educação básica no Brasil. (RIBEIRO, 1991, p. 12).

Essa prática apontada por Ribeiro (1991) persiste mesmo com todos os mecanismos adotados pelos sistemas de ensino para coibir a prática da reprovação. Conforme Barros, (2017):

Apesar de não declararem explicitamente, muitos professores da educação básica no Brasil ainda acreditam significativamente no poder da reprovação escolar como elemento de instauração de uma justiça do mérito dentro do ambiente escolar, alicerçada em avaliações de caráter normativo. (BARROS, 2017, p. 01).

Essa percepção é observada no cotidiano escolar, em diversas situações do processo de avaliação dos alunos, segundo Barros (2017), dados levantados pela pesquisa “Crenças de professores sobre reprovação escolar”, 12,8% são contrários à reprovação, 9,4% favoráveis e a maioria, 77,8% não apresenta posicionamento

claro sobre o tema. Esse percentual tão alto de falta de posicionamento sobre a reprovação pode apontar que o sistema apresenta muitos mecanismos para barrar a reprovação, mas os docentes ainda permanecem resistentes a esses mecanismos, que pode ser por falta de preparo para lidar com as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos e a falta de recursos para solucionar o problema ou mesmo por ser a reprovação uma crença arraigada, por boa parte dos professores, que têm na reprovação uma solução para processo de ensino-aprendizagem.

A reprovação, apesar de ser defendida como forma de reforçar o mérito por parte do aluno, usado na avaliação quantitativa, não determina melhor aprendizagem no ano seguinte. Klein (2006, p. 156) destaca que “o desempenho cai com o número de repetências. Essa constatação mostra, que ao contrário do que o sistema educacional acredita a repetência não ajuda. Pelo contrário, só prejudica. Isso é verdade, também, quando se controla pelo nível socioeconômico.” Essa realidade mostra que os sistemas de ensino devem criar mecanismos, para diminuir a repetência, buscando realizar uma avaliação processual para detectar as falhas na aprendizagem durante o ano letivo. Buscando mecanismos para fazer a recuperação durante todo percurso avaliativo, procurando um ensino-aprendizagem qualitativo, ou seja, evitando que seja prorrogada para o final do ano, aplicando uma avaliação quantitativa com o intuito de promover ou reter o aluno, o que acaba responsabilizando somente o discente pelo fracasso.

Em qualquer sistema de ensino a reprovação deve ser evitada, mas é imprescindível também, que o aluno adquira as competências necessárias para avançar para série seguinte com proficiência suficiente para prosseguir nos estudos. Avançar dentro do fluxo normal de idade/série deve ser perseguido pelos sistemas de ensino, gerando ganho social e econômico tanto para os mantenedores do sistema, quanto para o aluno, que poderá seguir os estudos ou buscar o mercado de trabalho sem prejuízo de tempo. Segundo Barros (2017, p. 12), pesquisas internacionais apontam que “a reprovação escolar é preditor do abandono escolar, conturba a trajetória escolar, é prática financeiramente dispendiosa e gera resultados contestáveis.” Barros (2017) analisa que através da pesquisa realizada pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação Comunitária, o Cenpec, existem duas linhas de coerência entre as noções de reprovação, avaliação e justiça: os que defendem a reprovação visam ao mérito, defendem e praticam a avaliação normativa, tradicional e defendem que a reprovação deve acontecer, o mais cedo

possível, para corrigir as falhas do processo. Os que são contra a reprovação costumam ter mais conhecimento sobre o tema, prezam pela noção de justiça voltada para correção, aplicando avaliações somativas ou formativa, buscando a equidade entre os discentes. Segundo Barros (2017, s.p.):

o estudo também permite estabelecer uma associação entre aqueles que fizeram pós-graduação stricto sensu ou que têm mais tempo de docência e a não adesão à reprovação. Ou seja, pode-se inferir que as pesquisas nacionais e internacionais sobre os efeitos ruins da reprovação circulam mais nesse estágio de formação.

Os sistemas de ensino têm apresentado alternativas para diminuir a reprovação, tais como a progressão continuada e a progressão parcial, ambas podem surtir efeitos positivos quando bem implementadas, mas também podem ser devastadoras se mal aplicadas. A progressão continuada, muitas vezes, é vista com progressão automática, gerando muitos prejuízos ao processo de ensino- aprendizagem. Já a progressão parcial, muitas vezes, é aplicada somente para diminuir a reprovação, não gerando no ano seguinte ganho de aprendizagem ao aluno, potencializando ainda mais suas chances de ser reprovado na série atual. Portanto precisa de mais planejamento e investimento dos sistemas de ensino em preparar as escolas e os profissionais de educação para aplicar esses mecanismos. Nesse sentido Paro (2001) destaca como são tratados os alunos reprovados no ano seguinte:

[...] os que são reprovados devem repetir o mesmo processo no ano seguinte, em geral com o mesmo professor (ou professores) e com a utilização dos mesmos recursos e métodos do ano anterior. Para os reprovados, o absurdo da situação não é apenas que se espera todo um ano para se verificar que o processo não deu certo (o que já não é de pouca gravidade); o absurdo consiste também em que nada se faz para identificar e corrigir o que andou errado. Não se trata propriamente de uma avaliação, mas de uma condenação do aluno, como se só ele fosse culpado pelo fracasso. Como se o processo não fizesse parte do aluno, o professor (ou professores) e todas as condições em que se dá o ensino na escola (PARO, 2001, p. 41-42).

As afirmações de Paro reforçam que os efeitos da reprovação são devastadores para o aluno, que acaba se sentindo o único responsável pelo seu fracasso, levando ao desânimo e à sensação de incapacidade de aprender, visto que não são criados mecanismos novos, que possam melhorar a sua proficiência no ano seguinte. Portanto, a reprovação traz prejuízos que podem ser irreversíveis e

colaboram para um novo fracasso ou mesmo pode levar o aluno a deixar de frequentar a escola.