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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Resíduos sólidos

O desenvolvimento acelerado da industrialização e da urbanização resultou em um lógico aumento do consumo de produtos e materiais diversos, uma vez que a geração de RSU é consequência da condição econômica de uma população e de seu modo de vida. Tal condição, associada às políticas públicas ineficientes que visem à educação ambiental com o objetivo de incentivar a população a minimizar a produção de resíduos por meio da reciclagem e reutilização de materiais faz com que os volumes gerados aumentem dia após dia, principalmente nas grandes cidades e regiões metropolitanas. O lixo gerado nas cidades tem despontado como o grande desafio da gestão pública, uma vez que sua má gestão significa enormes gastos do governo e severos impactos ambientais e à saúde pública (SANTOS e MOTA, 2010).

A quantidade acentuada de resíduos gerados é o primeiro problema a ser sanado nesse igualmente volumoso desafio. Segundo a ABRELPE, em 2014, foram produzidos no Brasil 78,6 milhões de toneladas de resíduos, mais de 215 mil toneladas por dia, 2,9% a mais que no ano anterior. Isso significa 387,63 kg/hab/ano, mais de um quilo ao dia por habitante. No Nordeste, o volume gerado por dia foi de 55.177 toneladas, 0,982 kg/hab/dia e no Ceará foi de 9.711 t/dia. Considerando estes números e conhecendo que o índice per capta de RSU coletados no Brasil é de 0,963 kg/hab/dia percebe–se a precariedade do serviço público de coleta. O índice é ainda mais preocupante no Nordeste, 0,771 kg/hab/dia, enquanto que no Ceará esse índice foi de 0,858 kg/hab/dia ou 7.588 t/dia (ABRELPE, 2014).

O art.3º, XVI, da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), define resíduos sólidos como sendo qualquer “material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”.

Já para Tahmoorian (2014), RSU é definido como resíduos provenientes de diferentes fontes, incluindo residencial, comercial, institucional e algumas fontes industriais. Portanto, é evidente que o tipo e a composição dos resíduos municipais podem variar de região para região e de época para época. Dessa forma, é necessário compreender as principais características dos RSU por suas propriedades específicas.

Do total de resíduos sólidos gerados no Brasil em 2014, 71,3 milhões de toneladas foram recolhidas, o que significa que 7,3 milhões de toneladas nem sequer tiveram destino. O volume de RSU destinados a locais inadequados totalizou 29.659.170 toneladas, 41,6%, uma vez que seguiram para lixões (espaços para onde se destina o lixo sem qualquer preparação do terreno ou tratamento do resíduo) ou aterros controlados (lixões com alguma configuração paliativa a fim de minimizar danos ambientais) (Figura 1), que, do ponto de vista ambiental pouco diferem dos lixões nas questões de controle e preservação ambiental, mesmo com o fim do prazo para as adequações dos municípios conforme a PNRS (ABRELPE, 2014).

Figura 1 – Destinação final de RSU no Brasil (t/dia), em 2014.

Fonte: ABRELPE, 2014.

Diante dos volumes coletados é estranho imaginar que 78 milhões de brasileiros, ou 38,5% da população, não têm acesso a serviços de tratamento e destinação adequados de RSU. O Sudeste teve a maior participação na coleta de resíduos, com 52,5% dos rejeitos coletados, seguido da região Nordeste, com 22,2%. A coleta seletiva, meio mais conveniente de reduzir os volumes destinados a aterros, é ainda uma distante realidade nos municípios brasileiros; apenas 3.608 de um total de 5.570 municípios tinham alguma iniciativa de coleta seletiva em 2014. No Nordeste, dos 1.794 municípios existentes nessa região, menos da metade deles, 767 municípios (42,8%), apresentavam alguma iniciativa de coleta seletiva (ABRELPE, 2014).

Problemas relacionados com a geração, coleta, destino e tratamento dos RSU ainda permanecem sem ter, por parte do poder público, a devida atenção, apesar do reconhecimento do problema (SANTOS e MOTA, 2010). A possibilidade de contaminação, associada à necessidade de grandes áreas para a disposição e tratamento, faz dos RSU uma das mais sérias dificuldades a ser enfrentada pelas administrações públicas municipais.

A falta de programas de educação ambiental que conscientize a população da necessidade real da reciclagem e reaproveitamento de resíduos, além da redução no consumo, a falta de um sistema integrado de gerenciamento de resíduos que compreenda a sua coleta, transporte, tratamento e a correta disposição final, podem causar uma série de problemas ambientais e de saúde pública (SANTOS e MOTA, 2010).

Os resíduos sólidos constituem um problema sanitário de suma importância, quando não recebem os cuidados convenientes. As medidas tomadas para a solução adequada dos RSU têm, sob o aspecto sanitário, o objetivo de prevenir e controlar doenças a eles relacionadas (FUNASA, 2007).

A falta de gestão ou medidas de controle pode contribuir com a contaminação da população pelo contato com bactérias, microrganismos, substâncias e objetos infectantes, como seringas por exemplo. A proliferação de vetores, que em condições favoráveis encontram um ambiente propício para alimentação, abrigo e proliferação, contribuem para o surgimento de organismos transmissores de doenças, como ratos, insetos e aves (FUNASA, 2007).

A catação é uma realidade vivida em grande parte dos aterros sanitários do país e, portanto, é algo a ser considerada na gestão e tomada de decisões nas políticas públicas. A disposição inadequada dos resíduos, como em lixões a céu aberto, leva algumas pessoas à atividade da catação sem qualquer cuidado com higiene e segurança, resultando em subempregos e má qualidade de vida; essa disposição inadequada dos resíduos leva também à poluição do solo, pois, quando dispostos inadequadamente, causam várias alterações em suas características, tornando–se um poluidor potencial, principalmente de águas subterrâneas (FUNASA, 2007).

A poluição das águas é agravada pela infiltração de material lixiviado ou por substâncias carreadas pelas águas das chuvas, causando impacto nas águas

superficiais e subterrâneas devido a sua composição altamente tóxica e poluidora. Os resíduos expostos, por serem fontes contínuas de microrganismos patogênicos, tornam– se uma ameaça real à sobrevivência do catador de resíduos recicláveis. Além desses, a poluição do ar também é consequência da má disposição de resíduos. Partículas emitidas para a atmosfera, gases e odores podem produzir efeitos nocivos ao homem (intoxicação) e ao meio ambiente (FUNASA, 2007).

As origens dos resíduos são as mais diversas, algumas mais intensas e poluidoras, outras potencialmente recicláveis, porém, na maioria dos casos, são igualmente dispostos em aterros sanitários. Os resíduos podem ser oriundos de domicílios, comércios, indústrias, serviços de saúde, portos, aeroportos, terminais ferroviários e terminais rodoviários, agricultura, construção civil, limpeza pública, abatedouros, matadouros e estábulos, além de outras fontes menos comuns (FUNASA, 2007). Na PNRS, Lei 12.305/2010, as origens dos resíduos são:

a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências urbanas;

b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;

c) resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”;

d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas “b”, “e”, “g”, “h” e “j”;

e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos na alínea “c”;

f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações industriais;

g) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária – SNVS;

h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis;

i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades;

j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;

k) resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios;

Alguns materiais são mais volumosos e inertes, causando um problema de alocação nos aterros sanitários. Os Resíduos da Construção Civil (RCC) ou Resíduos de Construção e Demolição (RCD) são um exemplo. Em 2014, cerca de 45 milhões de toneladas de RCD foram gerados oficialmente no Brasil, um aumento de 4,1% em relação a 2013; no Nordeste, significou um aumento de mais de 7%. Esta situação, também observada em anos anteriores, exige atenção especial quanto ao destino final dado aos RCD, visto que a quantidade total desses resíduos pode ser ainda maior, uma vez que os municípios, via de regra, coletam apenas os resíduos lançados nos logradouros públicos. Esses números então ignoram os resíduos gerados e destinados clandestinamente em aterramentos, terrenos baldios e outras áreas negligenciadas pela coleta pública (ABRELPE, 2014).