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O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ousou financiar al-guns dos itens mais complexos e relevantes do universo de defasagens de infraestrutura no Brasil, como o saneamento básico, a regularização fundiária, a prevenção de riscos e a habitação de interesse social.

Ocorre que esta opção corajosa implicou em um maior risco de contra-tempos nas obras, como pode ser exemplificado na avaliação do avanço de contratos da concessionária local junto à Funasa para a instalação de sistemas de abastecimento de água e drenagem, contratados em 2007, sendo que, de um total de 13 contratos, apenas cinco estão com mais de 65% de evolução após mais de quatro anos, e a média está em 31%.

Quanto às operações contratadas também para água e drenagem entre 2008 e 2012, de um universo de 37 obras, três estão com avanço em 50%, outras três estão iniciadas, e o restante permanece sem execução, totalizando uma média de 6% de evolução.

Quanto à Secretaria de Habitação de Interesse Social (Sehab), dos 21 contratos de 2007 e 2008, 12 estão concluídos, e os demais se encontram com uma média de 77% de execução, todos reprogramados e relicitados nos casos em que houve necessidade, com conclusão prevista para o próximo semestre.

Estes últimos se referem às Zonas de Atendimento Prioritário (ZAP), uma proposta de política pública para que as áreas mais necessitadas do estado se-jam beneficiadas com serviços básicos, infraestrutura, urbanização e habitação de interesse social através de recursos do PAC. Destas, cinco localizam-se no

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acre 2000-2013

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município de Rio Branco e uma no município de Sena Madureira: ZAP 1:

bairros Chico Mendes e Eldorado – Rio Branco; ZAP 2: bairro Conquista – Rio Branco; ZAP 3: bairro Estação Experimental – Rio Branco; ZAP 4: bairro Palheiral – Rio Branco; ZAP 5: bairros Santa Inês e Mauri Sérgio – Rio Branco;

ZAP 6: bairro Miritizal – Sena Madureira.

Todas essas zonas apresentavam um problema em comum: ocupação irregular nas áreas de preservação permanente e infraestrutura precária. Dessa forma, o foco principal dos projetos era a remoção de famílias das áreas de risco e urbanização dos assentamentos precários, além da recuperação am-biental da APP e a implantação de rede de infraestrutura em toda a área de intervenção. Nas ZAP 1, 3 e 4, além da recuperação ambiental, está prevista a sua utilização como área verde urbana, contando com espaços de lazer como forma de evitar ocupações futuras.

Destas obras, que foram iniciadas em 2008, apenas duas foram conclu-ídas em dezembro de 2010: a ZAP 1 e a ZAP 5, as quais foram inauguradas como Parque Urbano Vale do Açaí e Loteamento Recanto dos Buritis, respec-tivamente. As demais obras, apesar da previsão inicial de entrega em 2010, ainda seguem em andamento.

Além das obras de urbanização, foi iniciado em 2012 o projeto de re-gularização fundiária nas áreas de intervenção das seis ZAP, com previsão de início em 2013.

Quanto aos quatro contratos de saneamento integrado da Seop, celebra-dos em 2011, encontram-se em obras e com cerca de 10% de execução, com características semelhantes aos parques urbanos e às ZAP: bairros Placas e Ouricuri (Igarapé Fidêncio) – Rio Branco; bairros João Eduardo, Glória e Pista (Igarapé Ingá) – Rio Branco.

Assim, o PAC I está com uma média de 67% de evolução geral, enquanto o PAC II apresenta média próxima dos 37%. As dificuldades mais recorrentes se referem a discrepâncias de projeto, contingente imprevisto de desapropria-ções e indenizadesapropria-ções, além de desinteresse das empresas nas obras de logística mais complexa.

A avaliação neste caso é de que outras obras com menor ambição, ainda que com a mesma envergadura financeira, também classificadas como PAC – como é o caso de urbanizações realizadas pela prefeitura de Rio Bran-co em cinBran-co bairros perifériBran-cos da capital –, tiveram desenvolvimento e conclusão mais ágeis, e sem grandes contratempos. Isso demonstra que o problema de atraso nas obras das ZAP decorre, além do histórico de falta de projetos executivos, de uma decisão de mérito inquestionável: priorizar as áreas mais carentes, que, no caso de Rio Branco, se referem àquelas onde

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houve invasões de áreas públicas e privadas nos leitos de igarapés e locais alagadiços.

O planejamento executivo de uma intervenção deste porte, com reas-sentamento de centenas ou até milhares de famílias, demandaria meses e até anos de estudo socioeconômico, urbanístico e ambiental para se chegar a um produto seguro, minimizando a margem de erros e aditivos.

No exemplo das obras da prefeitura, ocorreu que, como estas eram fi-nanciadas pelo BNDES (o qual exigia regularidade de domínio), os bairros selecionados foram os decorrentes de loteamentos inconclusos e, portanto, em melhores condições, inclusive acima da base da pirâmide social do município, apesar de carentes.

Assim, na avaliação da “produtividade” das obras do PAC, deve-se levar em conta a “ambição” da proposta, já que mudar radicalmente realidades mi-seráveis, transformando esgotos a céu aberto em ambientes urbanos centrais da comunidade, e regularizando invasões, é muito mais difícil do que apenas complementar a infraestrutura de bairros inconclusos, ainda que de baixa renda.

O erro está justamente na lógica administrativa brasileira, que considera a conceituação, o projeto e a construção de empreendimentos no universo de apenas um mandato, enquanto os projetos mais importantes, verdadeiramen-te revolucionários e com poverdadeiramen-tencial para redirecionar a lógica social, são justa-mente aqueles que mereceriam anos, ou até um mandato inteiro, em alguns casos, apenas para o adequado planejamento.

Os estados e municípios estão esgotados financeiramente, sendo pro-gressivamente penalizados no âmbito financeiro, razão pela qual a solução para agilizar o acesso aos investimentos do governo federal, incluindo o PAC, é a implantação de um amplo programa federal de financiamento de projetos básicos, que subsidiem a aprovação dos recursos pelos Ministérios, e não ape-nas os Executivos, que são posteriores.

programa de aceleração do crescimento (pac)

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