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Os reservatórios têm por finalidade controlar as cheias, a irrigação e suprimento de água para abastecimento público, sendo ambientes lênticos, em função da reduzida velocidade do fluxo de água (Agostinho, Gomes, & Pelicice, 2007).

A construção de um reservatório desencadeia uma série de processos biogeoquímicos, alterando as características do ambiente aquático, ocasionando a instabilidade física e química alterando as comunidades biológicas, refletindo diretamente sob o curso d’água e águas ribeirinhas (De Fillippo, Gomes, Lenz-César, Soares, & Menezes, 2007).

Reservatórios construídos em rios ocasionam a transição entre rios e lagos, devido as suas características hidráulicas, representando ambos os ambientes (lótico e lêntico). Nas proximidades da barragem, tornam-se semelhantes aos lagos, estando sujeitos à ação dos ventos, correntes de densidade e estratificação (Esteves, 1998; Rangel-Peraza, de Anda, Gonzalez- Farias, & Erickson, 2009).

Vários processos físicos resultam na estratificação de um reservatório. Em sua maioria esses processos atuam mediante efeitos da temperatura sobre a coluna d’água, gerando camadas no reservatório, com diferentes densidades, criando uma barreira física, que impede que se juntem.

A estratificação da coluna d’água dos reservatórios, em geral, divide-se em três camadas (Von Sperling, (2009):

• Epilímnio: É a camada d’água menos densa e superior, possui circulação e leve turbulência. É a camada mais quente entre as demais. Há produção de oxigênio (zona eufótica – presença de luz);

• Metalímnio: camada que faz transição entre o epilímnio e hipolímnio. Onde se localiza a termóclina (zona d’água em ambiente estratificado, onde a temperatura e a concentração de O2 decrescem rapidamente com a profundidade), caracterizando uma barreira física (dificultando a passagem de calor e gases), ocasionada pela divisão térmica entre os estratos superiores e inferiores.

• Hipolímnio: camada inferior, com aumento da densidade e estagnação, com menores temperaturas. Consumo de oxigênio para decomposição.

A estratificação ou a mistura podem ter relação com as condições meteorológicas e/ou com intervalos de tempo específicos. Em regiões de clima tropical e subtropical, os reservatórios rasos, são caracterizados pelas altas temperaturas de superfície. Essas diferenças

de temperatura entre a superfície e o fundo ocasionam a instabilidade destes ambientes. (Lamparelli, 2004).

2.3.1 As políticas públicas para preservação e recuperação dos mananciais

Por longos anos a questão ambiental não obteve a atenção necessária nos processos de crescimento e desenvolvimento das cidades. Logo no princípio do século XX, o desenvolvimento da urbanização requereu melhores condições de infraestrutura aos seus habitantes, diante disso, obras foram iniciadas para sanar tal necessidade, tais como: a represa Guarapiranga, linhas de bonde e estradas, refletindo-se na formação das cidades. Em tal processo, iniciaram-se os problemas com relação ao uso e ocupação do solo (Santoro, Whately, Ferrara, & Bajestero, 2008).

O aumento da oferta e procura por moradias resultou na grande valorização dos terrenos em regiões centrais, consequentemente, a população de baixa renda deslocou-se para regiões periféricas, sem infraestrutura. Em meados de 1940 surgiram os primeiros assentamentos urbanos informais que se multiplicaram e se espalharam (nas décadas de 1950 e 1960) para as regiões de mananciais (Santoro et al., 2008; SABESP, 2017).

Factualmente, somente a partir da década de 1960, houve a preocupação do poder público em controlar a urbanização das áreas ocupadas irregularmente, reconhecendo ser esse o fator de grande relevância para a baixa qualidade da água dos mananciais; dessa forma iniciaram-se várias políticas, estaduais e federais, com o propósito de retroceder esse quadro (Pompêo, 2015).

A ação pioneira foi à elaboração do Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado [PMDI], em 1969, cujo objetivo era a reorientação do crescimento urbano, distanciando-se dos mananciais. O PMDI foi amparado pelas Leis n. 898/1975 e n. 1.172/1976, por meio da proibição da instalação de moradias em áreas ambientalmente vulneráveis e de grande importância para produção de água. Assim, determinadas áreas eram restritas às pressões antrópicas, propiciando uso da água essencialmente ao abastecimento público (Whately et al., 2008).

Apesar dos instrumentos legais, a realidade evidenciava resultado contrário, com o aumento expressivo das ocupações irregulares e precárias, que contribuía cada vez mais para a degradação da qualidade da água nos mananciais (Santoro et al., 2008; PM, 2018).

A partir da década de 1980 percebeu-se o aumento das iniciativas políticas que buscavam a proteção do meio ambiente com a criação da Política Nacional do Meio Ambiente

(Lei n. 6.938/81), a nova Constituição Federal em 1988, a criação da Política Estadual de Recursos Hídricos (Lei n. 7.663/91) e principalmente o evento global Rio 92.

Com a criação da Política Nacional do Meio Ambiente [PNMA], o principal objetivo foi associar desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. Assim, proteger e restituir os recursos ambientais, gerando a imagem do poluidor-pagador, obrigando o usuário a recuperar ou indenizar pelos danos causados, fato que contribui para a utilização dos recursos ambientais, gerando fins econômicos.

Foram criadas várias instituições e leis com o intuito de envolver toda a problemática relacionada ao quesito: moradias irregulares X mananciais. Assim temos: o Sistema Nacional de Meio Ambiente [SISNAMA], o Conselho Nacional de Meio Ambiente [CONAMA]; a Secretaria de Meio Ambiente; o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis [IBAMA]; o capítulo de meio ambiente da Constituição Federal de 1988; Política Estadual de Recursos Hídricos [PERH], o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos [SIGRH]; o Conselho Estadual de Recursos Hídricos [CRH]; os Comitês de Bacias Hidrográficas [CBH]; o Fundo Estadual de Recursos Hídricos [Fehidro] e a Lei n. 7.663/91.

Diante do quadro de constatação da situação precária dos mananciais e a geração de políticas visando à proteção e a recuperação deste bem natural e essencial que é a água, foi proposto, em 1991, o Programa Guarapiranga, ao qual equacionou-se um conjunto de obras de saneamento e de infraestrutura urbana, visando uma grande redução das cargas poluidoras afluentes ao reservatório, provenientes de esgotos e processos erosivos (Baltrusis, & Ancona, 2006; EMPLASA, 2018).

Algumas áreas ocupadas irregularmente apresentaram melhorias urbanísticas com o redirecionamento do esgoto, que por sua vez prejudicava a saúde e a qualidade de vida da população local. Por outro lado, a falta de tratamento e coletas integrais fez com que o mesmo esgoto chegasse com volume e velocidade maiores nos rios e córregos que deságuam na Guarapiranga e também na própria represa, o que piorou a qualidade da água do manancial (Whately et al., 2008; Getirana, 2015). Como o cenário de degradação dos mananciais persistiu, o programa não prosperou devido aos altos custos de manutenção e a impossibilidade de conter o adensamento (Viveiros, 2004).

O Programa Guarapiranga foi finalizado em 2000 e em 2005 iniciou-se o Programa Mananciais [PM] que foi ampliado aos outros mananciais da RMSP (Pulhez, & Ferrara, 2018; PM, 2017). O PM viabilizou a implantação de medidas de proteção e de recuperação dos mananciais, principalmente nas áreas de maior vulnerabilidade urbana e ambiental, executando-

se atividades geradoras da melhoria na qualidade de vida da população residente e promovendo- se a educação ambiental (PM, 2012; Escobar, 2015).

Para atingir os objetivos determinados pelo PM foram criadas ações a serem executadas a curto, médio e longo prazo, a saber:

• Programa Guarapiranga Billings: integrou o Programa Manancial no período de 2008 a 2012. O projeto previa expansão de infraestrutura pública em loteamentos de baixa renda, urbanização dos assentamentos urbanos informais, construção de unidades habitacionais para reassentamento e regularização fundiária, beneficiando aproximadamente 55 mil famílias.

• Programa Córrego Limpo: realizado pela Prefeitura de SP e SABESP, visava corrigir as deficiências de esgotamento sanitário já existente, devido a alta urbanização desorganizada. Foi concluído em 2011, 70% do programa beneficiando as áreas de mananciais da Guarapiranga e Billings.

• Pró-Billings: é um dos principais programas da SABESP para a área da represa em São Bernardo do Campo, em parceria com a JICA (Japan International Cooperation Agency), teve ações voltadas para o município de São Bernardo do Campo, prevendo a expansão do sistema de esgotamento sanitário (Galvez, 2012).

• Projeto Orla Guarapiranga: foi uma das ações ligadas ao Programa Defesa das Águas, criado em 2008, que previa a preservação da represa e da vegetação do entorno através da implantação de parques lineares, inibindo ocupações irregulares além de ampliar as áreas de lazer, recreação, esportes e turismo para população (Galvez, 2012; Company Sul, 2012).

A lei específica da Guarapiranga: Lei Estadual n. 12.233/2006 – Área de Proteção e Recuperação de Mananciais da Guarapiranga [APRM-G] foi elaborada por um processo participativo seguindo as diretrizes da Lei n. 9.866/97; Lei Estadual n. 12.233/2006 – Área de Proteção e Recuperação de Mananciais da Guarapiranga [APRM-G] e Lei Estadual n. 13.579/2009 - Área de Proteção e Recuperação de Mananciais da Billings [APRM-B]. (Maricato, 2003; Whately, & Cunha, 2005; Whately, & Cunha, 2006; Alvim, 2008; Casazza, 2012; Cardoso-Silva, 2013; Alvim, 2015; Isa, 2019).

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