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Realizar um resgate histórico é preservar pela memória de um povo, que faz com que compreendamos diferenças e reconheçamos limites de períodos de nossa existência, recordando e refletindo valores e avaliando o que foi realmente relevante para a construção e consolidação da história do nosso país. Abordar-se-á, sucintamente, neste tópico, alguns movimentos identitários e culturais, de gênero e etnia, que ficaram marcados na memória do nosso país.

Isto analisado, imprescindíveis se fazem os ensinamentos de Gohn (2013, p. 301):

A construção de uma nova concepção de sociedade civil é resultado das lutas sociais empreendidas por movimentos e organizações sociais nas décadas anteriores, que reivindicaram direitos e espaços de participação social. Essa nova concepção constitui uma visão ampliada da relação Estado-sociedade, que reconhece como legítima a existência de um espaço ocupado por uma série de instituições situadas entre o mercado e o Estado, exercendo o papel de mediação entre coletivos de indivíduos organizados e as instituições do sistema governamental. Este espaço é trabalhado segundo princípios da ética e da solidariedade, enquanto valores motores de suas ações, resgatando as relações pessoais, diretas, e as estruturas comunitárias da sociedade, dadas pelos grupos de vizinhança, parentesco, religião, hobbies, lazeres, aspirações culturais, laços étnicos, afetivos etc [...].

Na sequência, analisam-se alguns dos principais movimentos sociais ocorridos no Brasil nos últimos anos.

2.2.1 MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

Movimento criado no ano de 1979, em Santa Catarina, organizado em acampamentos, lutava pela posse de terras em assentamentos criados pelo Governo, e se espalhou por todo o Brasil. Nos anos 70 associou-se à Comissão Pastoral da Terra (CPT); nos anos 80 contou com dirigentes da CUT e do PT. Já nos anos 90 o MST tornou seus assentamentos produtivos, voltados não apenas para o mercado externo, mas também para o consumo de subsistência. Neste mesmo ano centenas de trabalhadores foram mortos pela posse de terras, tornando o movimento no maior movimento popular do Brasil. Entre os anos de 1994 a 1997 o MST ampliou-se, tendo como bandeira de luta a reforma agrária (GOHN, 2011).

Faz-se importante o ensinamento de Sartori (2006, p. 126):

Desde seu surgimento o MST lutou intensamente pela reforma agrária no Brasil, inclusive com confrontos sangrentos que resultaram na morte de centenas de trabalhadores. Ainda atua intensamente, porém, com estratégias diferenciadas e evoluídas, no entanto, a invasão continua sendo utilizada como forma necessária de tomarem a atenção do Poder Púbico para a questão. O MST pode ser considerado o maior e mais organizado movimento social das últimas duas décadas, bem como do início deste século. Até não se resolver esta primitiva questão da distribuição de terra, continuará lutando pela reforma agrária, devendo contar com a sorte para não mais ser alvo de injustiças e fatalidades que em toda sua história são constantemente observadas.

Ainda, Comparato (2001) faz menção de que principal objetivo das manifestações nas cidades é conhecer as suas reivindicações, buscando o apoio da população urbana à causa da reforma agrária. O apoio do MST às lutas urbanas, diante de manifestações buscando o aumento salarial, as passeatas de professores ou servidores da saúde pela melhoria das condições de trabalho, as greves organizadas pelas centrais sindicais, bem como as passeatas feitas por policiais com o intuito de melhores salários, considera-se uma forma de solidariedade entre trabalhadores.

2.2.2 Movimento das mulheres

Dados sobre movimentos sociais e organizações da sociedade civil demonstram que as mulheres são as principais entre os que se mobilizam para a luta de questões coletivas no âmbito público. Note-se que as mulheres estão colocando os movimentos sociais novamente em cena, pois a partir do ano de 2000 vêm realizando marchas, sendo que no ano de 2001 participaram da Primeira Grande Marcha Mundial das Mulheres (MMM), com 20 mil participantes. Na Segunda Marcha calculou-se em 40 mil o número de participantes. Já em 2005, a Marcha das Mulheres lançou na cidade de São Paulo, a Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, contando com 30 mil mulheres na ocasião, vindas de 16 estados brasileiros.

Constata-se, também, a presença das mulheres em várias edições do Fórum Mundial Social (FSM), visto que o dia 8 de março de 2007 celebrou-se no Brasil com marchas e manifestações envolvendo as mulheres contra o presidente norte- americano George Bush que estava no Brasil naquela ocasião. Já em 2009, no Fórum Social Mundial, as mulheres dos mais diferentes países, fizeram um manifesto especialmente contra a crise econômica financeira mundial (GOHN, 2013).

2.2.3 Movimentos dos homossexuais

O movimento dos homossexuais também cresceu nas últimas décadas no Brasil, ganhando força nas ruas. Gays, lésbicas e transexuais, além de serem

discriminados e criminalizados em nossa sociedade, sofrem atentados e perseguições, gerando até a morte por meio de grupos fascistas e nazistas.

O início da luta dos homossexuais no Brasil iniciou-se com o grupo Somos, em 1978, e a criação na cidade de São Paulo, do jornal denominado como “Lampião da Esquina”. No ano de 1995 criou-se a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT), e a partir de então, o movimento cresceu. Desde 1996 realiza-se a Parada Nacional do Orgulho GLBT – Gays, Lésbicas, Bi e Transexuais, sendo considerada a maior do mundo. Em 1997 foram dois mil participantes; em 2005 reuniram-se 2 milhões; em 2006 foram 2 milhões e 300 mil participantes, reunidos na Av. Paulista, caminhando até o centro da cidade de São Paulo, tendo como tema “Homofobia é Crime”, com ampla cobertura na mídia. No ano de 2007, a parada contou com 3 milhões e meio de participantes; em 2008 e 2009, o movimento não teve tanta repercussão na mídia como em anos anteriores.

Na Primeira Conferência Nacional de Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, realizada no ano de 2008, em Brasília, a sigla do movimento foi modificada de GLBT para LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, seguindo o padrão internacional. A ocasião destacou-se pelo movimento entrar no circuito de políticas públicas do país, propondo um plano a nível nacional para a comunidade LGBT, criando um conselho nacional e uma subsecretaria a nível federal subordinada à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (GOHN, 2013).

2.2.4 Movimentos indígenas

No Brasil, grande parte da população indígena foi eliminada ou confinada para áreas não urbanizadas/industrializadas, aumentando suas organizações nos últimos anos, mas a maioria de suas demandas ainda está concentradas na questão de terras. Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, a demarcação de suas terras, o direito de alfabetização e a busca da venda de seus produtos, foram grandes conquistas obtidas por esta categoria.

A CF/88 reconheceu aos índios “sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições”, na qual o Estado tem o dever de proteger as manifestações culturais destes povos. Destaca-se que o Estatuto do Índio diferencia-o por sua cultura, buscando corrigir distorções e concepções atrasadas, tratando o índio como um cidadão.

Destaca-se que na região de Palheiros, no Estado de São Paulo, vive grande grupo de índios que lutam pela demarcação de suas terras. Há registros de que no litoral brasileiro há conflito entre indígenas e proprietários de terras, que buscam vender estas terras para empreendedores internacionais construírem hotéis e rede de resorts. No Pará, no ano de 2006, o conflito entre índios Xincrins e a Companhia Vale do Rio Doce gerou a invasão da mina por 200 índios, após a empresa financeira suspender a ajuda financeira aos índios. Em Roraima, a demarcação da Reserva Raposa do Sol, gerou uma das mais conflituosas manifestações, promulgada em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal, resultando na vitória dos índios. Também em 2009, em Belém, no Fórum Social, dezenas de organizações indígenas estiveram presentes e se destacaram na mídia internacional (GOHN, 2013).

Inúmeros movimentos sociais originaram-se em virtude da busca de novos conhecimentos e reconhecimentos daquilo que se reivindica, sendo estes uma constante na história política do Brasil, caracterizados como elementos fundamentais de uma sociedade moderna.

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