• Nenhum resultado encontrado

3 SINAIS PARA UM NOVO FAZER PEDAGÓGICO

3.2 Buscando sentido das categorias a priori e emergentes

3.2.4 Resistência às TIC’s

Nesta categoria, estão expostos os fatores pelos quais a resistência é evidenciada, com destaque para a acomodação pedagógica - entendendo como acomodação a permanência no estado de comodidade. No registro abaixo, percebe- se que a prática é adotada conforme o perfil da turma. Fica subentendido que, por exemplo, se a turma é grande, permanece uma educação tradicional, por ser mais fácil e para que haja um controle maior sobre a turma, pois o espaço é bem conhecido pelo professor e ele é quem irá ditar as regras. Aqui se pode inferir certa comodidade, que pode ser evidenciada por já saberem como aplicar o conteúdo e,

devido à experiência, já conhecem algumas intervenções dos estudantes (previsibilidade).

Nas escolas que eu tive oportunidade de atuar, percebi que ainda se trabalha de maneira tradicional, na maior parte do tempo: no tratar com os alunos, na maneira de colocarem as classes em sala de aula, turmas grandes, o uso demasiado de livros didáticos (por alguns professores), sem utilizar muito o laboratório de informática. Eu acredito que se deve usar o melhor das duas práticas - tradicional e sociointeracionista, conforme a turma, sem deixar de ouvir o aluno e interagir com ele e seus conhecimentos (mesmo na maneira tradicional de ensino), ajudando-o a chegar de maneira mais rápida e segura ao conhecimento científico, que é o objetivo final (S4).

Pela análise do registro, não se percebe novas formas de atuação. Constata- se uma acomodação dos professores em relação à sua prática pedagógica, pois os métodos continuam atrelados ao passado. Nas entrelinhas desse registro, é possível deduzir que o sistema de ensino dominante percebido pelo professor-aluno é adotado por ele também e que, sem pares que se valham da tecnologia, não há utilização destes recursos. Quando o participante revela “chegar de maneira mais

rápida e segura ao conhecimento científico”, subliminarmente pode-se entender que

é o jeito “seguro” para o professor e não para o aluno. Consequentemente, as TIC’s entram aqui como algo que não transmite segurança e sim que pode mexer com alguns sentimentos do professor-aluno, colocando-o em situação de risco (exposição, imprevistos, erros), pelo medo de utilizar um recurso pouco conhecido por ele e que, em geral, é muito conhecido pelo estudante.

A análise mostra certa contrariedade dos docentes, haja vista que o curso oferecido está diretamente ligado à tecnologia e eles, no entanto, apresentam-se resistentes a essa realidade.

Ainda quando ocorre a manifestação sociointeracionista, fica claro que o exposto se refere ao presencial, sem adesão tecnológica. Nesse ponto, verifica-se que o docente se atualiza em teorias educacionais, mas não as aplica com os recursos tecnológicos. Aberto para discutir conceitos, mas não para integrá-los à tecnologia.

Quando do contato com registros cujos relatos indicam benefícios da tecnologia, porém com justificativas pelo não aproveitamento desses, percebe-se uma resistência atrelada à transferência de responsabilidades.

Ao usar a tecnologia, eu procuro sempre fugir do tradicional buscando as práticas sociointeracionistas, porém essa não é tarefa fácil, uma vez que o professor deve ser o intermediador e conhecedor das TIC’s. Para intermediar é necessário que aja a vontade e motivação do educando. Quando não há a necessidade de atravessar um rio uma ponte pouca importância tem. Em um mundo onde as ideias estão cada vez mais divergentes fica complicado centralizar o interesse e até mesmo motivar a aprender um determinado assunto que a princípios pode não ter qualquer relação com o que o aluno está interessado no momento. Nesse momento fica interessante sermos tradicionais e tratar o aluno como alguém que deve aprender. O AVA pode nos ajudar na motivação de nossos alunos, através de situações problemas que facilitem a aprendizagem, porém pode ser difícil devido a quantidade de alunos, muitas vezes prefiro não usar a tecnologia para ter um maior controle dentro do espaço de aula (S5).

É claro que a motivação do estudante pode ser fator de sucesso para alcançar os objetivos traçados nos planejamentos pedagógicos. No entanto é função do professor atuar como mediador e promover a motivação dos estudantes para que se consiga chegar ao sucesso. O entendimento de que a motivação deve partir do estudante é uma transferência de responsabilidade em que a não mudança se justifica por fatores que estão externos ao professor-aluno. Essa análise é provocante, à proporção que o professor-aluno se exime de qualquer culpa por uma não utilização tecnológica, não se dando conta de que ele é o agente transformador do ambiente de aprendizagem. Além desse fator, há outro, que da mesma forma, intensifica a resistência para o uso da tecnologia: a ideia centralizadora, típica da pedagogia tradicional. Ser tradicional é mais cômodo, não exige reflexões permanentes nem mesmo o aprendizado contínuo dos recursos tecnológicos.

Essa categoria traz a acomodação pedagógica, no sentido de comodidade, e da mesma forma identifica-se transferência de responsabilidades, ora repassada para as escolas que não promovem capacitações focadas no uso de recursos tecnológicos, ora repassadas aos estudantes que não se motivam para as práticas. A resistência para a utilização de recursos tecnológicos se dá mais por desculpas ou falta de entendimento de papeis do que pela limitação tecnológica.

Durante a análise, também se constatou que havia professores-alunos que demonstravam conhecimento da utilização das TIC’s, porém, alguns deles, não fizeram uso dessas tecnologias em sua atuação pedagógica no curso, como, abrir e- mails diariamente. Através desse recurso, seriam disponibilizadas tarefas para serem realizadas. Nesse aspecto, há amostras de contradições na utilização dos recursos tecnológicos. Esta evidência é reconhecida pela utilização das TIC’s no cotidiano dos participantes, mas que na prática da capacitação, não foram utilizadas.

Em manifestações verbais, os professores-alunos argumentaram que o ocorrido deve-se à falta do hábito de utilização, o que pode ser modificado através da convivência e do uso no dia a dia. Assim, a utilização tecnológica passa a ser uma possibilidade forte para a prática destes participantes.

Se há o domínio do uso das TIC’s, a utilização desses meios pode ser construída e usado de forma reflexiva com maior facilidade, possibilitando um significado para o contexto educativo. Essa reflexão é subsídio para a reconstrução da prática pedagógica, com vistas a adaptar as suas necessidades às realidades da escola.

Outra situação identificada na análise foi a evasão de 50% dos participantes após a metade do curso. As razões levantadas para justificar a ausência vão desde a falta de tempo, passando pelo desconhecimento da tecnologia e até por motivos de saúde. De fato, percebeu-se pelas conversas com os professores-alunos que houve uma fuga à prática proposta e que as razões vão além das argumentações dadas. Atribui-se para estes casos alguns fatores:

a) descomprometimento com a formação continuada;

b) domínio tecnológico inferior ou superior ao apresentado no curso; c) não valorização das tecnologias como instrumento pedagógico;

d) sistematização de encontros presenciais em horários de outras atividades;

e) medo de fracassar diante do estudante e da professora-pesquisadora. Enquanto alguns dos professores-alunos buscarem desculpas para não participarem das capacitações, fica clara sua resistência para modificar sua prática ou mesmo para refletir sobre sua atuação. Da mesma forma, evidencia-se uma fuga pedagógica, quando os participantes priorizam outras atividades em relação à formação proposta. Uma das explicações encontradas para esta evasão dos alunos é que os professores-alunos estavam habituados a trabalhar com oficinas de caráter mais instrumental e não com cursos, no formato de reflexão sobre o fazer pedagógico. Pode-se dizer que esse fator teve forte influência na não adesão de alguns participantes e num número reduzido de acessos daqueles sujeitos que permaneceram no curso. Em certos momentos do curso, falavam “parece que não aprendi nada até agora” ou “como é difícil utilizar as TIC’s mudando a maneira como trabalhei até agora”. As oficinas, além de instrumentais como citado, são mais rápidas e os sujeitos são mais passivos frente à formação. Enquanto que o formato

reflexivo e participativo exige mais do professor-aluno, requer tempo de dedicação, parada para reflexão, debates, argumentações e constatações, muitas vezes difíceis de assimilar e aceitar.

Como a limitação identificada através da evasão dos professores-alunos, considerou-se também que o próprio planejamento do curso levou em conta que os docentes estariam comprometidos, não só com a participação, mas também com a frequência. No entanto, ao se deter o olhar sobre o planejamento, verificou-se que os acessos dos participantes poderiam ocorrer em maior número.